• Nenhum resultado encontrado

MULHERES NA ENGENHARIA

No documento Anais do evento (4.053Mb) (páginas 128-130)

Historicamente, ao longo dos anos 80 e 90, segundo Lombardi (2006), três ordens de fatores contribuíram para as transformações que aconteceram no campo profissional da engenharia: a consolidação do aumento da escolaridade das brasileiras e sua repercussão na ampliação do leque de escolhas profissionais femininas; a expansão do número de escolas e de cursos de engenharia; e, finalmente, as mudanças que afetaram profundamente a economia e o mercado de trabalho nacionais, naquelas duas décadas, e seus reflexos nos empregos e nos rendimentos dos engenheiros.

A maior presença de mulheres nas engenharias vem trazendo modificações para a autoimagem do próprio grupo e contribuindo para amenizar arraigados padrões de gênero presentes nas escolas de engenharia e nos ambientes de trabalho. Apesar disso, o grupo ainda minoritário de mulheres sofre estigmatização por parte do grupo masculino majoritário (LOMBARDI, 2006).

Lombardi (2006) entende que as relações sociais de sexo que transpõe o âmbito profissional da engenharia se amparam sobre uma relação hierarquizada entre homens e mulheres, na qual o grupo de engenheiros mantém uma relação de dominação e poder sobre o grupo de engenheiras.

Se o aumento de mulheres nos cursos de engenharia tem colaborado para amenizar as reações do grupo de rapazes à sua presença, e para diminuir a sensação que elas têm de serem alheias ao grupo, em contrapartida, os mecanismos de controle social destinados a garantir a masculinidade das engenharias de um modo geral e de determinadas especialidades, em particular, continuam em ação, como é o caso das brincadeiras e piadinhas (LOMBARDI, 2006).

Lombardi (2006), em sua pesquisa sobre as contribuições das mulheres nas mudanças do campo profissional da engenharia brasileira, aponta a utilização de piadas ou mexericos depreciativos, pelo grupo masculino tradicionalmente estabelecido na engenharia, para atemorizar ou afastar o grupo minoritário das mulheres ao longo dos estudos e no campo de trabalho.

Conforme Elias e Scotson, 2000 (apud LOMBARDI, 2006), as piadinhas, as fofocas, os mexericos são mecanismos de defesa utilizados por grupos que se sentem inseguros ou ameaçados, mesmo que essa ameaça seja apenas ilusória. Mesmo que as mulheres não representem uma ameaça concreta, essas piadas também cumprem a função de alimentar o carisma grupal do grupo estabelecido e a desonra grupal atribuída, no caso, ao grupo de mulheres.

Segundo Lombardi (2006), não há dúvida que, mesmo sendo engenheiras formadas e atuantes profissionalmente, as mulheres constituem uma parcela mais vulnerável inserida no grupo de engenheiros. No que diz respeito ao ambiente profissional, apesar da disseminação feminina em diversas especialidades, continuam delimitados os locais de atuação, em termos de área, atividades, posição hierárquica.

Para Lombardi (2006), mesmo que ao longo desta transformação dos estereótipos de gênero presentes na engenharia caiam algumas barreiras tradicionais de ingresso das mulheres nos campos de conhecimento e de trabalho e, concomitante, se reproduza uma nova divisão sexual do trabalho internamente às especialidades, a configuração das relações de sexo dentro do grupo profissional está em movimento e aparenta estar favorável às mulheres. Neste sentido, pode-se considerar que as próprias mulheres têm contribuído, através de suas ações, para modificar essa configuração que favorece o sexo masculino, ocupando espaços dentro da área de conhecimento e da profissão e alterando a divisão sexual do trabalho presente na área. Enfim, para as estudantes e profissionais, a perseverança e a resistência parecem ser a regra para a sua inclusão e permanência na engenharia.

Lombardi (2006) afirma que, concomitantemente ao processo de democratização da educação, ampliou-se o leque de especialidades no campo das engenharias. Este fato possibilitou a diversificação das escolhas de homens e mulheres. Até meados dos anos 90, estas se concentravam, sobretudo, nas engenharias civil e química. As mulheres passaram, então, a optar por outras engenharias, como de alimentos, elétrica, florestal, de produção, mecânica, entre outras.

PROFISSIONAL E TECCOLÓGICA

A PESQUISA

O presente trabalho consistiu em uma pesquisa de campo. Considerando a complexidade da temática gênero e profissão, optou-se por desenvolver uma pesquisa qualitativa. Minayo (1994) apresenta como sendo objetivo da pesquisa qualitativa a apreensão da realidade social do ser humano. Assim, através desse direcionamento, buscou-se compreender a questão de gênero nos cursos e no exercício da profissão em engenharia, sob a ótica de estudantes do sexo feminino.

 Contextualizando o ambiente

Os Institutos Federais foram criados a partir da Lei nº. 11.892, de 29 de dezembro de 2008. Integrando o quadro dos Institutos Federais, encontra-se o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG). O IFMG é composto por dez campi, entre os quais se contempla o campus Formiga. O IFMG Campus Formiga iniciou suas atividades educacionais em março de 2007, como unidade descentralizada (UNED Formiga) do Centro Federal de Educação Tecnológica de Bambuí (CEFET – Bambuí) e, atualmente, oferece os cursos técnicos concomitantes em Administração, Eletrotécnica e Informática, tecnológico em Gestão Financeira, licenciatura em Matemática, bacharelados em Administração, Ciência da Computação e Engenharia Elétrica.

Focando neste último, o curso de Engenharia Elétrica do IFMG Campus Formiga se organiza em dez semestres e objetiva atender as especificidades do mercado regional nacional e internacional. O engenheiro formado deverá possuir capacitação para atuar em níveis organizacionais distintos, perfil versátil para atuar em áreas correlatas e interdisciplinares da Engenharia Elétrica, compreendendo uma sólida formação técnico-científica e capacitando-o profissionalmente a absorver, desenvolver e aplicar novas tecnologias e soluções em atendimento às demandas da sociedade, com visão ética e humanística. Neste cenário se desenvolveu o presente estudo.

 Instrumento de coleta e análise dos dados

O instrumento utilizado para a coleta de informações foi um questionário estruturado e a análise dos dados consistiu, sobretudo, em estabelecer paralelos entre o conteúdo das entrevistas e os dados levantados previamente e descritos no Referencial Teórico.

 Os sujeitos

Fizeram parte da população deste estudo alunas do curso de Engenharia Elétrica do IFMG Campus Formiga. Foram distribuídos cerca de 20 questionários, aleatoriamente, entre as 28 alunas do 2º, 4º e 6º períodos, mas apenas 06 entregaram os questionários preenchidos.

No documento Anais do evento (4.053Mb) (páginas 128-130)