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OS ACHADOS DA PESQUISA

No documento Anais do evento (4.053Mb) (páginas 130-135)

 Visão da presença feminina nas engenharias

Quando questionadas sobre sua visão, pretérita e atual, da presença feminina nos cursos

engenharia”, ressaltando itens como tendência a ampliar este número, existência de uma maior

visibilidade feminina na engenharia e redução do preconceito de gênero. Observa-se, conforme elucida Lombardi (2006), que a maior presença de mulheres nas engenharias traz modificações para a autoimagem do próprio grupo e contribui para amenizar arraigados padrões de gênero presentes nas escolas de engenharia.

A autora complementa que, no entanto, o grupo ainda minoritário de mulheres sofre estigmatização por parte do grupo masculino majoritário. Uma das alunas enfatizou o fato de as mulheres ainda serem minoria neste curso:

Atualmente, a presença das mulheres na engenharia é bastante reduzida. Apesar de todos os “direitos adquiridos” e do novo contexto, do novo papel da mulher na sociedade moderna, ainda há uma grande barreira social, bem menor que há anos atrás, separando a mulher dos cursos de engenharia.

 Opção pela engenharia

No que diz respeito à influência de ser mulher na escolha do curso de graduação, a maioria das estudantes apontou que não houve influência e destacaram que a opção pela engenharia se deu a partir da afinidade com a área de exatas. Segundo Heilborn, Araújo e Barreto (2010a), diversos autores ponderam que ainda persiste uma bipolarização de sexo nos cursos humanas-exatas. Todavia, é visível o avanço feminino rumo às carreiras consideradas de maior dificuldade e prestígio social, como é o caso da área de exatas.

Duas alunas consideraram o fato de ser mulher ao optar pelo curso. Uma delas observou a maior abertura do mercado de trabalho para o público feminino e a outra fez o seguinte apontamento: “Apesar de saber que esse era o curso que eu queria fazer, fiquei meio

receosa por ser um curso mais masculino perante a sociedade, gerando um enorme preconceito”.

Ao serem perguntadas sobre possíveis atitudes preconceituosas decorrentes da opção pelo curso de Engenharia Elétrica, a maioria respondeu positivamente. Uma aluna descreveu a seguinte situação: “meus professores disseram que Engenharia Elétrica é um curso muito

„masculino‟ e que eu deveria optar pro Engenharia Civil; em casa, vivenciei preconceito ligado à dificuldade do curso”. Lombardi (2006) pontua que, até meados dos anos 90, as

mulheres se concentravam, sobretudo, nas engenharias civil e química. Considerando que a Engenharia Civil foi uma das primeiras a ser ocupada pelo público feminino, compreende-se essa distinção (masculino-feminino) dentro das engenharias.

Outra aluna relatou: “o diretor da escola me disse que se fosse o meu pai fazendo

Engenharia Elétrica, ele até entenderia e que meu pai seria muito bem sucedido. Mas esse fato só me deu mais força de vontade para seguir em frente e mostrar para ele que posso ser tão boa quanto meu pai”.

Uma das alunas reiterou: “Sempre se ouve, na sociedade em geral, que os cursos de

Engenharia Elétrica são, assim como o mercado de trabalho, dominados por homens e que o fato de eu ser mulher não seria adequado”. Uma única aluna negou a ocorrência de atitudes

preconceituosas, no entanto ressaltou a preocupação da família acerca da presença dominante de homens no curso. Retomando Lombardi (2006), o grupo minoritário feminino ainda se apresenta mais vulnerável e sofre estigmatização por parte do grupo dominante.

PROFISSIONAL E TECCOLÓGICA

 Vivência de episódios preconceituosos no curso

A maioria das garotas disse não ter se sentido prejudicada, ao longo do curso, pelo fato de ser mulher. Uma delas ressaltou que sempre se sentiu “muito respeitada”. Os apontamentos positivos diziam respeito aos colegas que, “às vezes, não me deixam fazer algumas coisas por

ser mulher” ou à preferência pelos homens para desenvolvimento de determinados projetos.

Esta questão da participação de mulheres na produção do conhecimento científico é tratada por Cabral e Bazzo (2005), que afirmam a inexistência de aparentes restrições para o acesso feminino à educação, mas surgem obstáculos que limitam sua participação na produção do conhecimento científico e tecnológico, hierárquica e territorialmente, num contexto predominantemente masculino de pesquisa e trabalho.

 Postura profissional

No que concerne à postura adequada para que uma engenheira eletricista seja respeitada na profissão, uma das alunas discorreu: “Primeiramente, respeito para com os

outros, bem como para si mesma. Manter um relacionamento de cordialidade e deixar bem claro que são todos profissionais e assim devem ser tratados”. As garotas consideraram que é

importante “[...] mostrar para os colegas que, apesar de ser mulher, pode-se fazer tudo que

eles fazem e até melhor” e “[...] ter pulso forte e ser segura de si mesma e das coisas que se faz, pois assim passará segurança e conseguirá o respeito de todos”.

Quando o grupo é composto, em sua maioria, por homens, a profissional necessita ter uma postura diferenciada, jamais usando de artifícios femininos, como fragilidade ou sensualidade, discrição no vestuário, nos acessórios, na maneira de tratar as pessoas. Pode ser preciso assumir uma postura impositiva, mostrando capacidade para desenvolver o trabalho com excelência até que se conquiste o respeito profissional e pessoal.

É necessário assumir uma “postura de mulher independente” e “uma postura flexível,

mas ao mesmo tempo firme. Muita dedicação e empenho transmitem a imagem de competência, o que gera respeito por parte do grupo”. Uma das estudantes afirmou que o

fundamental é “ser competente, responsável e demonstrar confiança no que for feito, afinal é

isso que importa e não o sexo”.

 Expectativas, receios e anseios

Finalmente, as estudantes foram questionadas acerca de expectativas, receios, anseios, com base no fato de ser mulher, em relação à futura profissão de Engenheira Eletricista e manifestaram uma combinação de receio e otimismo, evidente em suas falas: “tenho medo de

quando sair daqui e for trabalhar num local onde só haja homens, eles não me respeitem ou duvidem da minha capacidade” e “eu espero ser uma ótima engenheira e conseguir um bom emprego, apesar do medo não conseguir algo simplesmente pelo fato de ser mulher, pois ainda hoje muitos homens não admitem serem comandados por uma mulher”.

Uma das alunas considerou o preconceito de gênero uma prática de “desatualizados”: Infelizmente, acredito que mesmo com o aumento […] de mulheres na engenharia, sempre haverá algum tipo de preconceito por parte de alguns '’desatualizados'’, por isso que me esforço a cada dia mais, com intuito de ser reconhecida em uma sociedade cada vez mais seletiva e preconceituosa (Estudante de Engenharia Elétrica).

As estudantes ressaltaram o fator competência como auxiliar no enfrentamento do preconceito: “Certamente muito preconceito ainda terá que ser enfrentado. No entanto,

acredito que a competência pode sobressair e, assim, o fato de ser mulher torna-se apenas um detalhe”.

[…] se vence o preconceito com competência. [...] sei que haverá muitas dificuldades pelo fato de ser mulher, inclusive diferença salarial […]. Espero que, com o tempo, assim como vem acontecendo, aos poucos o preconceito diminua e que nós, mulheres que optaram pela engenharia, sejamos reconhecidas, primeiro pela nossa formação e não pelo sexo (Estudante de Engenharia Elétrica).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A princípio, inferiu-se que a maioria das alunas do curso de Engenharia Elétrica do IFMG Campus Formiga já teria se deparado com atitudes preconceituosas, seja por parte de familiares, amigos, colegas de classe ou professores, ao optarem por um curso de engenharia. Concernente, à atuação profissional, acreditou-se que muitas estudantes relatariam receio de sofrer preconceito de gênero ao ingressar em um mercado de trabalho majoritariamente masculino.

A partir deste estudo, observou-se que todas as alunas já vivenciaram, ou consideram a possibilidade de se deparar com atitudes preconceituosas relativas à opção pela profissão de engenheira eletricista. Foram mencionadas manifestações de preconceito por parte de colegas, professores, diretores de escola, familiares e da sociedade de um modo geral. Em contrapartida, as garotas não relataram a ocorrência de piadinhas, brincadeiras e mexericos entre os colegas e professores, práticas estas apresentadas por Lombardi (2006), como recorrentes nos ambientes dos cursos de engenharias, contudo não apareceram nos relatos das alunas.

Em relação às expectativas acerca da atuação profissional/ingresso no mercado de trabalho as estudantes manifestaram uma combinação de receio e otimismo e apostaram no fator competência como auxiliar no enfrentamento do preconceito de gênero. Apesar de reconhecerem a existência de obstáculos, preconceito e, não raro, a falta de reconhecimento e a desvantagem salarial, as meninas se mostram confiantes e dispostas a dar o melhor de si para atingir o sucesso na profissão escolhida.

Pessoalmente, me frustrei pelo baixo número de garotas que se dispôs a participar da pesquisa. Ao serem informadas sobre a proposta da pesquisa, as alunas se mostraram entusiasmadas com a temática, mas, possivelmente em função do período de exames finais, a adesão à pesquisa foi muito baixa. Pode-se pensar em complementar este estudo, posteriormente, realizando entrevistas com um maior número de alunas.

Finalmente, a partir do levantamento exposto anteriormente, recomenda-se o desenvolvimento de ações que contribuam no preparo das alunas de engenharia, de modo a torná-las aptas a enfrentar o mercado de trabalho e lidar com possíveis atitudes preconceituosas, promovendo a igualdade de gênero. Para isto, sugere-se a promoção de palestras, debates, realização de entrevistas com engenheiras, no levantamento de dados (sobre preconceito no trabalho, por exemplo), entre outras atividades, onde o principal público-alvo seja composto pelas alunas, mas com atividades direcionadas também a professores e alunos, visando à promoção da igualdade de gênero.

PROFISSIONAL E TECCOLÓGICA

REFERÊNCIAS

1. BONI, Valdete; QUARESMA, Sílvia Jurema. Aprendendo a entrevistar: como fazer entrevistas em Ciências Sociais. Revista Eletrônica dos Pós-Graduandos em Sociologia Política da UFSC. Vol. 2 nº 1 (3), janeiro-julho/2005, p. 68-80. Disponível em:

http://www.emtese.ufsc.br/3_art5.pdf Acesso em 12 de dez. 2011.

2. CABRAL, Carla Giovana; BAZZO, Walter Antônio. As mulheres nas escolas de engenharia brasileira: história, educação e futuro. Revista de Ensino de Engenharia, v. 24, n. 1, p. 3-9, 2005 – ISSN 0101-5001 Disponível em: http://www.upf.br/seer/index.php/ree/article/view/204/131 Acesso em 09 fev. 2011. 3. HEILBORN, Maria Luiza; ARAÚJO, Leila; BARRETO, Andréia (Orgs.). Desigualdades de Gênero no Brasil. In: Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça. Mod II. Rio de Janeiro; CEPESC; Brasília: Secretaria de Políticas para as mulheres, 2010a. unid. 3. p. 129-135. 4. ______. Gênero e Hierarquia Social. In: Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça. Mod II. Rio de Janeiro; CEPESC; Brasília: Secretaria de Políticas para as mulheres, 2010b. unid. 2. p.73- 82.

5. LOMBARDI, Maria Rosa. A engenharia brasileira contemporânea e a contribuição das mulheres nas mudanças recentes do campo profissional. Revista Tecnologia e Sociedade. Curitiba, n.2, 1º

semestre de 2006. Disponível em:

http://revistas.utfpr.edu.br/ct/tecnologiaesociedade/index.php/000/article/view/31/31 Acesso em 14 dez. 2011.

6. MINAYO, M. C. de S. (1994). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade (19ª ed.). Petrópolis: Vozes.

No documento Anais do evento (4.053Mb) (páginas 130-135)