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EDUCAR NA CONTEMPORANEIDADE: A TRANSMISSÃO DE VALORES A PARTIR DA ESCOLA

No documento Anais do evento (4.053Mb) (páginas 86-89)

Um estudo no Instituto Federal de Sergipe

INTRODUÇÃO

A pesquisa em tela emerge de observações em um Instituto Federal de Educação Profissional e Tecnológica, durante atividades com grupos institucionais de estudantes, familiares e servidores. Percebe-se um teor de questionamentos deste público relativos a valores, cobranças e expectativas referentes à adequação moral dos jovens como função da escola. Sendo assim, foi proposto o estudo sobre a educação de valores feita pela escola na contemporaneidade, tomando como referência o Instituto Federal de Sergipe. Buscou-se detectar como a escola vem se posicionando diante dos novos modos de subjetivação.

De maneira mais específica, a intenção foi investigar os valores que vêm sendo transmitidos pelo Instituto Federal de Sergipe aos estudantes, a partir de documentos institucionais e das posturas assumidas pelos educadores. Isso, através da abordagem dos valores a partir da pesquisa documental e da revisão de literatura, além da verificação, através de entrevistas com alguns estudantes, dos valores que são transmitidos pelo IFS, de acordo com a perspectiva deste grupo. Propõe-se, ainda, discutir se esses valores são pertinentes ao contexto escolar, tendo como referenciais algumas teorias sociais e da educação.

As famílias queixam-se de ausência de disciplina e solicitam auxílio para lidar com seus filhos. Notam-se dificuldades referentes a fatores socioeconômicos, trabalho, qualificação e reestruturação afetiva, o que acaba minimizando o tempo de convívio, bem como a qualidade do vínculo familiar. A escola, por sua vez, atribui à família a responsabilidade da formação de valores, afirmando caber à escola somente a instrução acadêmica e profissional. Afirma que a família está distante da educação dos jovens e solicita apoio nesta tarefa.

Sabe-se, de antemão, que a mídia exerce atualmente uma grande influência sobre os jovens, através da internet, da televisão, do rádio e de revistas; havendo um enfraquecimento dos vínculos familiares em virtude dos modos de subjetivação na contemporaneidade, bem como uma mudança nos modos de educar na escola. Tanto a instituição familiar como a escolar, passam por transformações, como toda a sociedade; e este impasse de busca por responsáveis pela educação de valores se dá em meio às recentes mudanças no Brasil e no mundo.

A importância deste trabalho se justifica pela necessidade de lidar com os conflitos provocados pelas transformações sociais de maneira irrefletida, tirando o foco da culpabilização individual, e das terapias que se propõem a tratar pessoas e „grupos-problema‟, como se neles estivesse a causa da dissociação e da violência; enfim, de todas as mazelas sociais.

1 De acordo com Georges Lapassade (1989) os três níveis da realidade social – grupos, organizações e instituições – não podem ser dissociados, pois as instituições regulam as relações dentro dos grupos e das organizações, os quais se influenciam mutuamente e também as „constroem‟. A análise de um grupo familiar, portanto, seria a análise da

instituição familiar. Segundo Gregório Baremblitt (2002), instituições são lógicas, leis, normas ou hábitos e regularidades de comportamentos.

A proposta é ampliar a discussão sobre o tema, partindo da observação dos indivíduos e dos grupos, mas alcançando uma visão macrossocial, institucional1, compreendendo que posicionamento a educação formal vem assumindo e qual poderia assumir neste contexto, no sentido de não reproduzir modos de subjetivação causadores de violência, dissociação comunitária, estigmatização e exclusão.

Tomando como ponto de partida o Estado – através da organização escolar – em um movimento em direção à sociedade, a questão que se coloca é: „Como a escola vem se posicionando diante dos novos modos de subjetivação na contemporaneidade e que papel poderia assumir diante deste novo contexto de valores?

Em primeiro lugar, é preciso esclarecer que valores seriam esses. Em seguida, é importante realizar um estudo sobre o contexto, mediante noções e conceitos, a fim de descrever o panorama socioeconômico e cultural em que estão inseridas as instituições em pauta: ética, moral e valores, entre outras que se correlacionam. Somente assim, será possível retomar as questões levantadas acerca dos valores e da educação escolar e estudar os valores transmitidos pelo Instituto Federal de Sergipe aos estudantes, diante dos modos de subjetivação no contexto atual.

1.1 Ética, Moral, Valores e Pós-Modernidade

Esta seção traz as noções centrais do trabalho: Ética, Moral, Valores e Pós-modernidade, utilizando como autores principais: Benedictus Spinoza, Friedrich Nietzsche e Michel Maffesoli, além de Pedro Goergen, e artigos de Cristina Seijo sobre valores, Chantal Jaquet e André Martins sobre Ética e Moral nas obras de Nietzsche e Spinoza.

De acordo com Pedro Goergen (2005), a Ética é a “[...] reflexão sistemática e geral sobre os fundamentos dos códigos e ações morais.” (GOERGEN, 2005, p.38). Sendo assim, o conceito de ética não é confundido com o de moral. A ética se dá na reflexão dos códigos, das leis, das normas e das regras sociais. Pode ser considerada uma reflexão, ainda, sobre as ações morais.

Ainda, segundo Chantal Jaquet (2009), Spinoza define a Ética como a “ciência e a consciência dos meios necessários para alcançar uma natureza mais potente” (JAQUET , 2009, p.285). Ela visa o útil comum e não o que o comum considera útil e distingue-se da moral vulgar que divide os homens, provocando um relativismo inadequado (MARTINS,2009). Tanto para Goergen (2005) quanto para Spinoza (APUD MARTINS, 2009), portanto, ética e moral assumem conceitos diferentes, sendo a ética uma reflexão sobre os códigos morais, uma espécie de consciência singular sobre o coletivo. A ética pressupõe a convivência em sociedade, mas não cede à homogeinização da moral.

1.1.1 A Ética de Spinoza

A ética é constantemente abordada por diferentes vertentes filosóficas, científicas e do conhecimento humano de maneiras plurais. Ao mencionar esta temática, portanto, faz-se necessário conceituá-la, no sentido de evitar mal-entendidos ou distorções da ideia que se busca transmitir em cada momento, com base em teorias e estudos específicos.

PROFISSIONAL E TECCOLÓGICA

Benedictus Spinoza, em sua obra „Ética‟, procura transmitir o que pensa sobre a relação do ser humano consigo e na convivência com outros homens. Para tanto, fala sobre as paixões, sobre a ideia de Deus, de verdade; enfim, traz uma série de proposições e de demonstrações das suas ideias. Através desta vertente, ele busca falar sobre a ética. Traz alguns conceitos, entre eles: a ideia de verdade, a essência eterna e infinita de Deus, a perfeição, a alma humana, paixão, piedade, orgulho, tristeza, vergonha, benevolência, ira, crueldade ou ferocidade, temor, audácia, pusilanimidade, consternação, humanidade ou Modéstia, ambição, gula, embriaguez, avareza, lubricidade (libido), entre outros.

1.1.2 Valores

Cristina Seijo (2009) diz que os valores, nada mais são do que princípios éticos, a respeito dos quais as pessoas sentem um forte compromisso emocional. Servem como referência para julgar as condutas. Dão sentido às coisas e orientam os seres humanos em suas ações e projetos de vida. Os valores dizem o que é ético, bom, válido, como critérios para avaliar, aceitar ou recusar as normas.

De acordo com Nietzsche, no período pré-moral da humanidade, o „valor‟ e o „não-valor‟ eram definidos por suas consequências. No período moral, a origem é o que determina os valores, ela ocupa o lugar da consequência. Nietzsche pergunta, então, se agora estaríamos em um período extramoral, já que não definimos os valores nem por suas consequências e nem por sua origem. O que é intencional é superficial, a consciência é apenas a superfície; ela oculta mais do que revela. A intenção nada mais é do que um sinal, ou sintoma que possui sentidos muito diferentes para significar algo por si. A crença nas “certezas imediatas” é uma ingenuidade moral que honra aos filósofos (NIETZSCHE, s.d.-a).

1.1.3 A Moral de escravos em Nietzsche

Nietzsche diz que a Moral é a “ [...] linguagem figurada das paixões [...]” (NIETZSCHE, s.d. –a, p.99). Acontece com todos da mesma maneira, é a tirania contra a “natureza” e contra a “razão”, uma coação prolongada: “[...] obedecer muito tempo e numa mesma direção”. (NIETZSCHE, s.d. –a, p.100). A virtude estaria na arte, na música, na dança, na razão, e no espírito, ou seja, em tudo o que transfigura, que possui algo de refinado, de louco e divino.

A “natureza” da moral é a grandiosa estupidez que educa o espírito, produzindo horizontes limitados e obediência a quem quer que seja por muito tempo. Dirige-se a povos, raças, épocas e castas: ao animal “homem”. Ouvir o novo é penoso, pois procuramos o familiar. Estamos habituados à mentira. Os indigentes são manipulados como uma propriedade e os benfeitores ciumentos com suas propriedades, assim como os pais e a educação dos filhos, que são sua propriedade. As Morais são remédios para as paixões, para a felicidade, são feitas para todos, e onde não é permitido generalizar (NIETZSCHE, s.d. –a).

1.1.4 Pós-Modernidade

Nós vivemos em um período definido, historicamente, por alguns autores, como Pós- Modernidade. De acordo com Michel Maffesoli, em sua obra „O Tempo Retorna. Formas elementares da pós-modernidade‟ (2012), a Pós- Modernidade pode ser caracterizada pelas

“Ligações cada vez mais evidentes entre fenômenos diferentes, mas convergentes: uma mudança de fundo está-se operando. A matriz social moderna se revela cada vez mais infecunda. A economia, os movimentos sociais, o imaginário e até mesmo a política sofrem os contragolpes de uma onda de maré cuja amplitude ainda não se consegue medir.” (MAFFESOLI, 2012, p.2).

Desta maneira, tanto Maffesoli quanto outros autores afirmam que a Modernidade está passando e que este período denominado Pós-modernidade ainda não é bem compreendido por nós que o começamos a vivenciar.

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