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ACADÊMICA: A AÇÃO DO DOCENTE NO ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO NA UFRN

A CONTRAPRODUTIVIDADE E A ATUAÇÃO DOCENTE

As prerrogativas de mudanças na universidade e principalmente o amplo discurso institucional em busca da melhoria da qualidade das instituições de ensino, têm possibilitado que os professores reflitam sobre o que estão fazendo na busca por estratégias de atuação.

Nos últimos dez anos, conforme pode ser visto no Plano de Desenvolvimento Institucional da UFRN, no período que corresponde aos anos de 1999 a 2009, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, passou por um período de expansão e, mesmo considerando que neste mesmo período houve a diminuição dos quadros de servidores técnico- administrativos, houve um pequeno crescimento do quadro permanente de professores efetivos, considerando que este último ocorreu em especial no ano de 2009, após a reabertura de concursos públicos para professores efetivos nas universidades brasileiras.

Enquanto o número de professores crescia a passos curtos, apenas 9,4%, o número de estudantes aumentou em 72,6% e o número total de cursos regulares ofertados nesta universidade aumentou em 37,4%. Se considerarmos o ano de 2008, ano em que realizamos as entrevistas para esta tese, o número de professores do quadro permanente em toda a universidade decresce em 3,9%, de acordo com dados expressos no PDI 2010-2019 (UFRN, 2010).

Esses números, apesar de não optarmos por fazer uma análise quantitativa do desenvolvimento institucional, me auxiliaram a compreender o cenário de anseios, assim como de cansaço, que os professores vêm sofrendo na busca por manter a qualidade do ensino tão buscada pelas instituições de Ensino Superior em todo o país, como afirma Henrique:

“meu contrato é de vinte horas, mas trabalho muito mais do que isso, porque acredito na universidade pública”.

Nessa busca, percebe-se que, na medida em que algumas atividades tornam-se prioritárias a serem desenvolvidas, outras se perdem no caminho por não corresponder às necessidades imediatas de produtividade conforme critérios de índices e de pontuações feitas pelas entidades responsáveis pelas avaliações universitárias do país.

Dessa forma, esforços são feitos para que a UFRN possa ser considerada como uma instituição de qualidade e isto pode ser percebidas de acordo com as avaliações oficiais, como por exemplo, no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Na graduação presencial, a média geral dos cursos foi 3,8. No ensino da Pós-Graduação, por sua vez, a média de avaliação da CAPES foi de 3,9, sendo nove programas conceituados em 5 ou 6, fazendo com que a UFRN esteja na 2ª melhor colocação no Índice Geral de Cursos24 (ICG), entre todas as universidades da região norte-nordeste, nos anos de 2006 a 2008 (INEP, 200925).

Ainda de acordo com o PDI 2010-2019 da UFRN, no que corresponde à produtividade na pesquisa científica e tecnológica, segundo o Índice SIR- Scimago Institutions Rankings, que avalia as instituições de Ensino Superior no que diz respeito à pesquisa, a UFRN foi classificada em 78º lugar entre 607 universidades iberoamericanas, e em 35º entre 489 latino- americanas e em 20º entre as universidades brasileiras.

Tal cenário de rankings e números que expressam o trabalho desenvolvido no interior dessa universidade, faz com que se perceba que os professores têm sido a força motriz de desenvolvimento dessa instituição, contudo, o cansaço tem sido um dos problemas advindos da quantidade de trabalho desenvolvido por eles ao longo do ano. Como afirma Lia: “tenho estado tão cansada que só tenho pensado em aposentadoria”, confessa a professora que afirma não ter se aposentado ainda por questões de mudanças na legislação sobre aposentadoria por idade e tempo de serviço.

Diante de relatos de cansaço e de busca por melhorias, percebo que o tempo, o interesse e as prioridades definidas pelas demandas externas auxiliarão a assegurar o que os professores tem realizado em seu cotidiano. Na medida em que as exigências institucionais fazem com que as responsabilidades dos docentes aumentem, para Luiza elas acabam por não

24 O IGC é um indicador de qualidad

e de instituições de educação superior que considera, em sua composição, a qualidade dos cursos de graduação e de pós-graduação (mestrado e doutorado).

serem realizadas como deveriam: “nós, as vezes, temos tantas atividades que terminamos sem dar conta, e hoje pra ter qualquer dinheirinho tem que ter muita produção. Tem que ter um bom “IRA” no departamento”.

Isso me conduz aos estudos de Zabalza (2004), quando ele afirma que a relação docente com a instituição universitária envolve duas dimensões referenciais constitutivas, sendo a primeira o componente formal ou estrutural que perpassa, ao menos teoricamente, pelas atribuições das exigências externas dos órgãos federais para a universidade e pelo componente dinâmico, que o autor considera como vivo caracterizado pelos “jogos relacionais” (ZABALZA, 2004, p.71), no qual a dinâmica interna e externa se relaciona.

Assim, na busca por analisar como os bacharéis desenvolvem suas atividades cotidianas na UFRN pode ser percebido diferentes sentidos atribuídos às suas ações no ensino, na pesquisa e na extensão, sentidos estes que também estão em relação com a dinâmica interna e externa do cotidiano universitário que os fazem buscar manterem-se na carreira, embora sintam-se cansados.

Esses são sentidos atrelados, muitas vezes, às necessidades de realização das atividades determinadas no nível externo, tais como: melhoria do desempenho institucional, ampliação de vagas e de cursos e de produção, seja pela necessidade de qualificação pelo viés da titulação docente, dentre outras, seja pelas demandas internas, tais como organização de carga horária. Seja, ainda, pelos interesses ou desinteresses dos professores sobre determinadas atividades, o que corresponde às relações dos docentes com seus pares definindo o que será realizado pelo professor ou não.

Se considerarmos o que exprime a Constituição Federal no artigo 207 sobre a indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão, ao dispor que “as universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial e obedecerão ao princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”, pode-se dizer que atualmente a comunidade acadêmica não tem se dedicado a este princípio orientado pela Constituição Brasileira, segundo os professores entrevistados.

O princípio da indissociabilidade não deve ser considerado como uma simples frase de efeito, pois entendo que ela possibilita o desenvolvimento da produção do conhecimento, assim como da sua socialização resultando em ações coletivas nas quais o professor, como principal mediador, viabiliza a integração entre a instituição e a comunidade.

Por isso, percebo o que denomino como contraprodutividade como uma reação negativa, um decréscimo na qualidade do trabalho docente no que corresponde a algumas atividades, na medida em que o professor passa a não realizar todas suas atribuições do cotidiano de seu trabalho. Dessa forma, os docentes passam a elencar quais são as atividades prioritárias, fazendo com que muitas vezes o ensino, a pesquisa ou a extensão não se desenvolva de forma interrelacionada, de acordo com as orientações constitucionais.