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A condição do não saber precede a do saber. Sem a reconstrução da primeira, a condição do saber e o processo do conhecimento permanecem necessariamente incompreensíveis. (ELIAS,1990, p.36)

O presente capítulo tem como objetivo analisar os sentidos atribuídos pelos professores aos seus papéis como formadores de profissionais, assim como a formação para professores oferecida na Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

As questões que norteiam este capítulo são: quais os sentidos atribuídos pelos bacharéis ao seu papel como formador de profissionais na UFRN? Eles sentem necessidade de formação para atuarem como docentes?

Todavia, destaco em primeiro lugar, a necessidade de não seguir o fenômeno da “ilusão pedagógica”, tão bem destacada por Canário (1997), que visa privilegiar uma visão das situações formativas como se elas fossem centradas na relação entre o formador e o formando, como se ambos estivessem isolados das suas redes de interdependências (ELIAS, 1989), ou seja, autonomizando a formação institucional das condições sociais, tanto de acesso, como de utilização.

Tanto na formação institucional28 dos alunos quanto na dos professores faz-se necessário hoje centrar-se em estratégias formativas que unam no processo a formação e a própria ação, ou seja, existe a necessidade de articulação entre os contextos de trabalho e a formação, tornando-se uma formação na ação.

28 Essa formação pode ser considerada como conjunto de atividades que tem como objetivo a aquisição de

conhecimentos, atitudes, capacidades, formas de condutas para o exercício das funções que são próprias a uma profissão ou a um grupo de profissões, em qualquer que seja seu ramo de atividade econômica.

Pela própria postura positivista empregada nas instituições de ensino, muitas vezes as concepções de formação apresentadas, seja inicial, seja continuada, relaciona a ação à teoria apenas em relação à sua aplicabilidade, de modo que são refletidos a supervalorização da anterioridade do conhecimento científico para posteriormente ser levado em consideração o conhecimento prático, construído na ação, provocando o tão evidenciado distanciamento entre “teoria e prática”, comuns nos discursos de professores e alunos quando se deparam com o contexto de trabalho.

Esse é então o eixo central da discussão deste capítulo, pois tanto na formação do aluno, quanto na formação vivenciada pelos professores na UFRN, o distanciamento entre a teoria e prática, entre os objetivos de formação e a realidade do contexto de trabalho são percebidos de formas desassociadas pelos professores. Isto faz com que eles vivenciem um dilema por não estarem seguros quanto aos objetivos de formação ofertada e recebida nesta universidade.

A formação inicial, que tratamos neste capítulo constitui-se como a formação que tem como finalidade a aquisição de conhecimentos e capacidades indispensáveis para o exercício de uma profissão. Constitui-se como um meio de habilitação do indivíduo para o desempenho de tarefas que constituem uma profissão. Sendo assim, discuto no primeiro momento sobre essa formação inicial ofertada aos discentes da UFRN na perspectiva dos professores entrevistados, apresentando os dilemas que eles expressam vivenciar sobre os objetivos de formação desses alunos no âmbito acadêmico.

A formação continuada sobre a qual discorro engloba os processos formativos organizados e institucionalizados que visam a produção de novos conhecimentos, de troca de saberes e ainda de como um lugar de aprendizagem de competências que envolve a profissão docente. Se a formação e o trabalho se configuram como um binômio, se as situações de trabalho exigem formação, e esta influencia nos contextos de desenvolvimento do trabalho docente, torna-se necessário a discussão sobre a formação continuada de profissionais nos contextos das organizações em que estão inseridos.

O BACHAREL COMO FORMADOR DE PROFISSIONAIS

A relação professor-aluno na universidade foi um dos temas da entrevista que pude perceber como um dos grandes dilemas vivenciados pelos docentes. Ao analisar o que dizem os bacharéis sobre o processo de formação profissional dos discentes, pode ser percebido que um dos grandes problemas da formação decorre da falta de compromisso dos alunos, assim como da própria diversidade dos mesmos, como pode ser observado na fala de Laura: “eu tenho algumas dificuldades com os alunos iniciantes, eles são imaturos, são praticamente adolescentes”.

Ao mesmo tempo em que a professora fala dos alunos iniciantes, ela explica que no turno noturno, a dificuldade ainda é maior: “tenho alunos novinhos, outros experientes que já têm outras graduações, alguns trabalham, outros só estudam”, essa diversidade, para ela é uma das dificuldades de ser professora no Ensino Superior: “não tenho como adaptar o curso para a realidade de cada um”, afirma Laura.

Sobre essa dificuldade em trabalhar com a diversidade das situações vividas pelos alunos, Lia questiona: “existe uma situação difícil no meu curso em particular. Quem é o estudante de serviço social hoje?” Na busca de responder sobre a realidade dos alunos do curso de Serviço Social ela conta que “são alunos que vêm cheios de dificuldades do interior e os daqui mesmo, são humildes, e com essa flexibilização e a criação do estágio não obrigatório, faz com que a maioria não atue na área de serviço social, ficam até mesmo servindo café, ficam sem tempo pra estudar”.

Para Lia, os alunos de Serviço Social não estão correspondendo às expectativas do perfil de aluno que a universidade espera, pois “ele tem que estudar, que ler muito e esse estudante vive dizendo que não tem tempo de ler. Claro que existe a exceção!”.

A professora confessa que a forma como os alunos estão agindo faz com que cada vez mais ela perca o ânimo de trazer inovações para sua sala de aula, pois “já não tenho vontade de elaborar nada pra eles, eu estou utilizando como procedimento didático uma prova tradicional mesmo, pedindo que jogue no papel tudo o que aprendeu na disciplina, e no final os alunos dizem que nunca fizeram uma prova no curso tudo”.