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A CONVENÇÃO N 137 DA OIT

4 AS OUTRAS LEGISLAÇÕES PORTUÁRIAS

4.1 A CONVENÇÃO N 137 DA OIT

Cabe, inicialmente, uma conceituação básica de Convenção Internacional da OIT, na qual, é trazida de forma sucinta por Nascimento (2001, p. 90):

Convenções internacionais são normas jurídicas emanadas da Conferência Internacional da OIT, destinadas a constituir regras gerais e obrigatórias para os Estados deliberantes, que as incluem no seu ordenamento interno, observadas as respectivas prescrições constitucionais.

O mesmo autor (2001, p. 91 e 92) ainda relata que:

Jean Rivero e Jean Savatier entendem que as convenções não se incorporam ipso facto ao ordenamento jurídico de cada Estado, devendo ser submetidas aos órgãos competentes de cada Estado para ratificação. Na verdade, a solução depende das disposições internas do direito constitucional de cada país (...). O mais freqüente é a necessidade de ratificação. A OIT não é um parlamento internacional ou uma organização supranacional com total força de determinação sobre os Estados-membros. (...)

Ratificação é o ato formal de um Estado-membro da OIT pelo qual decide adotar uma convenção internacional incorporando-a ao seu direito interno. Os Estados não são obrigados a ratificar as convenções. No entanto,

precisam submetê-las às autoridades competentes no prazo de um ano ou, excepcionalmente, em dezoito meses. O processo de ratificação é variável, dependendo das normas constitucionais particulares. O instrumento de ratificação deve ser comunicado ao Direito Geral da Repartição Internacional do Trabalho (RIT), que a transmitirá ao Secretário Geral da ONU. A partir da ratificação, o Estado deve determinar todas as medidas necessárias ao fiel cumprimento das disposições contidas na convenção.

Convocada pelo Conselho Administrativo da Repartição Internacional do Trabalho, em Genebra, na reunião do dia 06 de junho de 1973, em sua 58ª Sessão, foi assinada em 27 de junho de 1973, entrando em vigor internacional em 24 de julho de 1975, e foram, os seus textos, aprovados pelo Decreto n. 29 de 22 de dezembro de 1993 e promulgados pelo Decreto n. 1.574, de 15 de julho de 1995 (da mesma forma que a Recomendação 145 da OIT).

Segundo demonstram Santos Neto e Ventilari (2000, p. 140), apenas 22 países ratificaram o documento, conforme citação:

Ao todo ratificaram o documento 22 países: Afeganistão, Austrália, Brasil, Costa Rica, Cuba, Egito, Espanha, Finlândia, França, Guiana, Iraque, Quênia, Nicarágua, Noruega, Países Baixos, Polônia, Portugal, Itália, Romênia, Suécia, Tanzânia e Uruguai.

Países importantes, do ponto de vista portuário, como a Alemanha, a Holanda, os Estados Unidos da América ou Japão, não ratificaram a Convenção por já possuírem legislação protetora contra os excessos da automação. No Japão, é importante observar, existe até mesmo uma cultura favorável à estabilidade do trabalhador na empresa, diminuindo a rotatividade da mão-de-obra.

No entanto, estes (2000, p. 140 e 141) informaram que no Brasil ocorreram certos desentendimentos quando ao acolhimento da Convenção n. 137, os quais são demonstrados da seguinte forma:

No Brasil a ratificação foi inicialmente desaconselhada pelo Parecer 38/73 do Ministério do Trabalho e Previdência Social, assinado pelo jurista Marcelo Pimentel (publicado no Diário do Congresso Nacional, em 07.06.75). No parecer argumentava-se que o Brasil necessitava de liberdade de ação para modernizar os seus portos, o que seria tolhido pela ratificação. Estava escrito: “O Brasil deve buscar fórmulas particulares, para enfrentar sem peias de rigidez, um intrincado problema social gerado pelo progresso, até quando a experiência mostrar as soluções mais adequadas e definitivas para nosso caso. Não se daria isto, entretanto, se ratificada a Convenção. Ela é mandatória e, quando ratificada, em hierarquia acima da lei ordinária, com texto em conflito com a legislação nacional existente, tornar-se-ia inconveniente para a nossa estratégia de desenvolvimento. Seria necessária ampla flexibilidade, para atender aos nossos interesses imediatos. Do contrário, vincularia o Brasil, ainda sem experiência do emprego de novos métodos de trabalho nos portos, às

normas que a Convenção pretende e que, certamente, não são de molde a ser aceitas pela maioria dos países”.

E ainda, os mesmos doutrinadores (2000, p. 141), complementam da seguinte forma:

O parecer, acatado, impediu a ratificação da Convenção 137 da OIT pelo Brasil. Saliente-se que a não-ratificação não trouxe prejuízos pois os portos sucateados estavam longe de passar por processos de automação geradores de desemprego. Entretanto, com a promulgação da Lei 8.630/93, as portas para os investimentos privados voltaram a se abrir, levando à previsão de adoção de métodos modernos e automatizados de transportes de cargas e de técnicas de gerenciamento típicas da iniciativa privada, com contenção máxima de custos, em especial de mão-de-obra. O que tornou urgente a instituição de medidas protetoras contra o desempregado e os impactos sociais decorrentes.

Não procede, de resto, o argumento da especificidade, pois a realidade portuária não muda em seus aspectos essenciais de país a país. O monopólio do fornecimento da mão-de-obra pelos sindicatos é que constituíam, de certo modo, um vezo nacional. Talvez, por enxergar no monopólio sindical um fator já suficientemente inibidor da modernização dos portos, o douto parecerista tenha entendido que novas fórmulas pudessem embaraçar ainda mais as mudanças necessárias.

Por sua vez, explicam Paixão e Fleury (2008, p. 20) sobre a Convenção n. 137 da OIT:

Trata-se de uma Convenção adotada pela Organização Internacional do Trabalho visando à proteção do trabalhador portuário diante de todo o processo de automoção, flexibilização e redução de quadros que marcou, a partir da década de 1970, toda a Europa Ocidental, bem como as Américas, e acabou afetando o trabalho portuário no mundo inteiro. Para que se possa situar a dimensão desse processo, basta aduzir que existiam, no Brasil, em dezembro de 1995 (quando se encerrou o Levantamento dos Trabalhadores Portuários em Atividade – LTPA 95, criado pelo Decreto 1.596, de 17 de agosto de 1995), 61.779 trabalhadores portuários. Ao final de 2002, forma contabilizados, no sistema, cerca de 34.000 trabalhadores. Houve, portanto, uma redução de quase metade do quantitativo de trabalhadores portuários nesse processo de modernização, o qual ocorreu no mundo inteiro. E a Convenção 137 da OIT visa a regulamentar esse processo de redução de quadros, preservando o mínimo de direitos para os trabalhadores portuários remanescentes.

A presente Convenção, composta de 15 artigos, traz a acepção em sua ementa, na qual redige que é “referente às repercussões sociais dos novos métodos de processamento de carga nos portos”.

No art. 1.1 da Convenção supracitada demonstra que esta será aplicada “as pessoas que trabalham de modo regular como portuários, e cuja principal fonte de renda anual provém desse trabalho”.

No art. 2.1 estipula sobre a adoção de medidas que estimulem todos os setores interessados a assegurarem aos portuários, na medida do possível, um emprego permanente ou regular. E, em seu art. 2.2, define que deve ser assegurado um mínimo de períodos de emprego ou um mínimo de renda aos portuários, dependendo da situação econômica e social do país ou do porto de que se tratar.

A presente convenção revela que “os registros serão estabelecidos e mantidos em dia para todas as categorias profissionais de portuários na forma determinada pela legislação ou a prática nacionais” (art. 3.1). Importante lembrar aqui que no Brasil a Lei n. 8.630/93 adota a expressão “registro” e a do “cadastro”, anteriormente explicados, o que se demonstra na seguinte citação de Santos Neto e Ventilari (2000, p. 142): “(...) na legislação brasileira existem a figura do registro (para os trabalhadores portuários avulsos efetivos) e o cadastro (para trabalhadores portuários integrantes do quadro de forças supletivas)”.

Ademais, no art. 3.2 aduz-se a prioridade para a obtenção do trabalho nos portos aos portuários matriculados, e que também, estes “devem estar prontos para trabalhar de acordo com o que for determinado pela legislação ou pela prática nacionais” (vide art. 3.3).

Traduz o art. 4.1 que “os efetivos dos registros serão periodicamente revistos a fim de fixá-los em um nível que corresponda às necessidades do porto”, enquanto o art. 4.2 refere-se a quando ocorrer redução dos efetivos, que medidas deverão ser tomadas para prevenir ou atenuar os efeitos prejudiciais aos portuários. E, finalmente, dispõe o art. 6 da Convenção que “os Membros farão com que as regras adequadas, referentes à segurança, higiene, bem-estar e formação profissional dos trabalhadores, sejam aplicadas aos portuários”.