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O ADICIONAL DE INDENIZAÇÃO DO TRABALHADOR PORTUÁRIO

3 A LEI DE MODERNIZAÇÃO DOS PORTOS – LEI N 8.60/199

3.8 O ADICIONAL DE INDENIZAÇÃO DO TRABALHADOR PORTUÁRIO

AVULSO

No Capítulo IX da Lei dos Portos, encontram-se as “Disposições Transitórias”, sendo que, a partir do art. 58 e seguintes são definidos a criação do Adicional de Indenização do Trabalhador Portuário Avulso (AITP), cuja finalidade é

atender aos encargos de indenização pelo cancelamento do registro do trabalhador portuário avulso, tendo vigência de um período de 04 (quatro) anos, contados a partir do início do exercício financeiro seguinte ao da publicação desta lei (ou seja, 1994), tal como preceitua o próprio art. 61 e seu Parágrafo Único.

O AITP “é um adicional ao custo das operações de carga e descarga realizadas com mercadorias importadas ou exportadas, objeto do comércio na navegação de longo curso” (conforme texto legal do art. 62) e “será recolhido pelos operadores, portuários responsáveis pela carga ou descarga das mercadorias até dez dias após a entrada da embarcação no porto de carga ou descarga em agência do Banco do Brasil S.A., na praça de localização do porto”, assim definido pelo art. 65. O atraso deste recolhimento importará na inscrição do débito em Dívida Ativa, para efeito de cobrança executiva (vide art. 65, §2º). Foi instituído a partir do Decreto n. 1.035, de 30 de dezembro de 1993.

Este adicional, segundo Santos Neto e Ventilari (2000, p. 147 e 148) serão atribuídos:

Aos trabalhadores portuários avulsos, registrados em decorrência do disposto do art. 55 da Lei 8.630/93 – trabalhadores devidamente matriculados até 31.12.90 e, comprovadamente exercentes da atividade em caráter efetivo desde essa data – facultava-se requererem ao organismo local de gestão de mão-de-obra, até 31.12.98, o cancelamento do registro. JOSÉ LUIZ LINHARES salienta que: “Somente faz jus à indenização o Trabalhador Portuário Avulso matriculados nas extintas Delegacias do Trabalho Marítimo até 14.02.89 ou nas Delegacias Regionais do Trabalho até 31.12.90, já que as matrículas fornecidas após esta data até o advento da Lei 8.630/93 asseguram apenas o registro no OGMO nos termos do inc. II do art. 27 da Lei.”

Ao trabalhador portuário avulso que pleitear o cancelamento do seu registro assegura-se:

- indenização a ser paga de acordo com as disponibilidades do Fundo de Indenização do Trabalhador Portuário Avulso – FITP, gerido pelo Banco do Brasil S.A.; e

- o saque do saldo da sua conta vinculada do FGTS, de que dispõe a Lei 8.036, de 11.05.90.

Tal indenização é fixada em Cr$ 50.000.000,00 (cinqüenta milhões de cruzeiros) pelo art. 59, I, da Lei, sendo isenta dos tributos de competência da União (art. 59, §3º) e corrigida monetariamente, a partir de julho de 1992, pela variação mensal do IRSM, publicada pelo IBGE (art. 59, §1º), e, por conseguinte, convertido na moeda vigente no país, o Real (R$), mediante observância obrigatória a contar de 1º de julho de 1994, data em que a moeda foi oficialmente implantada.

Define o art. 60 da Lei:

Art. 60. O trabalhador portuário avulso que tenha requerido o cancelamento do registro nos termos do art. 58 desta lei para constituir sociedade comercial cujo objeto seja o exercício da atividade de operador portuário, terá direito à complementação de sua indenização, no valor correspondente a Cr$ 12.000.000,00 (doze milhões de cruzeiros), corrigidos na forma do disposto no § 1° do artigo anterior, mediante prévi a comprovação da subscrição de capital mínimo equivalente ao valor total a que faça jus (BRASIL, 1993).

Demonstra-se que o adicional incidirá nas operações de embarque e desembarque de mercadorias importadas ou exportadas por navegação de longo curso à razão de quantias diversas. Será de 0,7 (sete décimos) de UFIR (Unidade Fiscal de Referência) por tonelada de granel sólido, ou fração; 1,0 (uma) de UFIR por tonelada de granel líquido, ou fração; e 0,6 (seis décimos) de UFIR por tonelada de carga geral, solta ou inutilizada, ou fração (art. 63).

O art. 64 resolve que “são isentas do AITP as operações realizadas com mercadorias movimentadas no comércio interno, objeto de transporte fluvial, lacustre e de cabotagem”, sendo que, em seu Parágrafo Único, considerarão os transportes supracitados como aqueles que tiverem origem e destino em quaisquer portos brasileiros.

Ao mesmo ponto em que a presente Lei cria o AITP, também cria o FITP (Fundo de Indenização do Trabalhador Portuário Avulso) que, conforme consta no art. 67, será “de natureza contábil, destinado a prover recursos para indenização do cancelamento do registro do trabalhador portuário avulso”, sendo os recursos do presente fundo os descritos nos seus Parágrafos (com exceção do inciso II, que se encontra revogado).

Art. 67. (...)

§ 1° São recursos do fundo:

I - o produto da arrecadação do AITP;

III - o produto do retorno das suas aplicações financeiras;

IV - a reversão dos saldos anuais não aplicados (BRASIL, 1993).

Por fim, é de suma relevância levantar a questão trazida por Santos Neto e Ventilari (2000, p. 149 e 150), no que diz respeito à da espécie de imposto do AITP:

É importante assinalar que o Adicional de Indenização do Trabalhador Portuário Avulso teve a sua constitucionalidade questionada pelos doutrinadores. Como o adicional assume a forma de uma contribuição (tributo vinculado), do interesse das categorias profissionais e econômicas (art. 149, da Constituição), sua cobrança deveria ser precedida da edição de lei complementar (art. 146, III) e não simples lei ordinária (Lei 8.630/93). O advogado LUIZ MÉLEGA escreveu: “O AITP, como já se disse, destina-se a atender aos encargos de indenização pelo cancelamento do registro do trabalhador portuário avulso, estando por isso vinculado ao FITP. Tem, portanto, segundo nosso entendimento, a natureza de contribuição do interesse das categorias profissionais ou econômicas, que a União pode instituir como instrumento de sua atuação nessas áreas, como previsto no art. 149 da Constituição Federal de 05.10.88, sempre com observância do disposto nos arts. 146, III e 150, I e II, da mesma Constituição. A sua instituição, por isso mesmo, só pode ocorrer mediante Lei Complementar; a sua cobrança não pode verificar-se em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que o instituir e nem no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada essa lei.”

Jurisprudência:

“Adicional de Indenização do Trabalhador Portuário Avulso – AITP – Lei 8.630, de 1993 – Tributo – Sujeito Passivo – Decreto 1.035, de 1993 – 1. No controle de constitucionalidade incidental, a inconstitucionalidade de uma lei só deve ser apreciada se for relevante e imprescritível para a solução da questão posta em julgamento. 2. O AITP tem natureza de tributo. 3. O sujeito passivo do AITP é operador portuário – o responsável pela execução da operação portuária, na área do porto organizado – (Lei 8.630, de 1993, arts. 1º, §1º, inc. III, e 65), e assim, o Decreto 1.035, de 1993, não poderia criar mais um sujeito passivo, por equiparação, uma vez que o art. 97, inc. III, última parte, do CTN, dispõe que somente a lei pode estabelecer “a definição do sujeito passivo da obrigação tributária principal” 4. O art. 3º do Decreto 1.033, de 1993, violou o art. 97, inc. III do CTN” (TRF 1ª R. – MAS 96.01.2166-6 – BA – 3ª T. – Rel. Juiz Tourinho Neto – DJU 18.11.96) (grifo nosso).

Contudo, foi de entendimento do Supremo Tribunal Federal que:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. TRIBUTÁRIO. ADICIONAL DE INDENIZAÇÃO DO TRABALHADOR PORTUÁRIO AVULSO. ATP. DECRETO 1.035/1993. ACÓRDÃO QUE CLASSIFICA O TRIBUTO COMO IMPOSTO RESIDUAL. RESERVA DE LEI COMPLEMENTAR PARA INSTITUIÇÃO DE IMPOSTOS RESIDUAIS (ARTS. 149, 195 E 154, I DA CONSTITUIÇÃO). RAZÕES DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO E DE AGRAVO REGIMENTAL VOLTADAS A DISPOSITIVOS DIVERSOS (ARTS. 5º, II, 145, I E II E 146, III DA CONSTITUIÇÃO). IMPOSSIBILIDADE DE PROVIMENTO DOS RECURSOS. ESPECIFICAÇÃO DE SUJEITOS PASSIVOS. RESPONSÁVEIS. INCOMPATIBILIDADE DE DECRETO COM A LEI DE REGÊNCIA. FUNDAMENTO INFRACONSTITUCIONAL SUFICIENTE. 1. Esta Corte já definiu a diferenciação entre lei complementar de normas gerais em matéria tributária e lei complementar para instituição de tributo. Precedentes. 2. O art. 146, III da Constituição, invocado pela parte-agravante, refere-se ao campo reservado às normas gerais em matéria tributária. 3. Em sentido diverso, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região examinou a regra-matriz do tributo para concluir que não se tratava de contribuição destinada ao custeio de seguridade social ou de interesse de categoria profissional específica. Segundo o Tribunal de

origem, tratava-se de imposto residual, ao qual se aplica o art. 154, I da Constituição. Assim, se direta e existente fosse, a violação constitucional dar-se-ia em relação aos dispositivos que versam sobre a reserva de lei complementar para instituir tributo, e não à reserva de lei complementar para dispor sobre normas gerais em matéria tributária. 4. O acórdão recorrido contém fundamento suficiente, infraconstitucional, referente à extrapolação causada pelo decreto aos limites impostos por lei na especificação de sujeitos passivos (responsáveis). Inviabilidade de reversão no recurso extraordinário, tal como aviado. Agravo regimental ao qual se nega provimento (STF – RE 351322 AgR – SP – Rel. Joaquim Barbosa – DJU 20/04/2010) (grifo nosso).

Assim, verifica-se que o AITP é, segundo o entendimento do STF, um imposto residual, diferentemente de como é defendido pelos autores acima citados, que definem o AITP como um tributo de contribuição.