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A RECOMENDAÇÃO 145 DA OIT

4 AS OUTRAS LEGISLAÇÕES PORTUÁRIAS

4.2 A RECOMENDAÇÃO 145 DA OIT

Ratificada juntamente com a Convenção n. 137 da OIT, a Recomendação 145 trata das repercussões sociais dos novos métodos de processamento de carga nos portos.

Assim, explicam Santos Neto e Ventilari (2000, p. 142):

As recomendações internacionais do trabalho não têm jurídica obrigatória das convenções, e não estão sujeitas à ratificação. A adoção de uma convenção se acompanha freqüentemente da adoção de uma recomendação. A recomendação tende a complementar a convenção mediante disposições mais detalhadas. As disposições de uma recomendação podem ser úteis para precisar e explicitar os princípios de uma convenção, e podem contribuir para orientar as políticas nacionais.

Não obstante, vê-se que as Convenções e as Recomendações têm diferenças entre si, nas quais podem ser trazidas sob o entendimento de Süssekind (2004, p. 71):

Para fomentar a criação de um direito comum da humanidade, a Conferência deveria preferir a forma de convenção, dada a sua maior hierarquia e eficácia jurídica, adotando recomendação somente quando o tema, ou um dos seus aspectos, não fossem considerados convenientes ou apropriados para serem, no momento, objeto de uma convenção (art. 19, §1º, da Constituição).

Süssekind (2004, p. 72) ainda descreve às diferenças entre Convenções e Recomendações:

As convenções constituem tratados multilaterais abertos à ratificação dos Estados-membros da OIT. Já as recomendações destinam-se a sugerir normas que podem ser adotadas por qualquer das fontes autônomas do Direito do Trabalho, embora, visem, basicamente, ao legislador de cada país.

Por sua vez, Nascimento (2001, p. 93) ressalva, sobre as Recomendações:

As disposições aprovadas pela Conferência da OIT, quando não contam com numero suficiente de adesões para que se transformem em convenções, são promulgadas como simples Recomendações. Valem, apenas, como sugestão destinada a orientar o direito interno de cada

Estado. Portanto, assinalam diretrizes em matérias nas quais é difícil lograr uma generalidade de aprovação. Bayon Chacón e Pérez Bojita entendem que as Recomendações, sob o ponto de vista das fontes jurídico-positivas, não têm outro valor que o de autorizados conselhos que cada país deve comunicar à autoridade competente se estima apropriada uma regulamentação nacional coerente com o conteúdo dos seus dispositivos. Assim, trata-se de mera sugestão ao Estado, em forma de norma jurídica programática. Alfredo C. Ortiz procura fixar a diferença entre convenção e

recomendação nos seguintes termos: “Se o Parlamento rechaça a

recomendação ou o projeto de convenção, mantém-se a identidade entre ambas as disposições da Conferência. O Estado que rejeitar o projeto ou a recomendação não fica a nada obrigado. Mas, se o Parlamento aprova a matéria submetida a estudo, surge imediatamente uma diferença. O Estado que aprova uma recomendação faz eco simplesmente de uma aspiração da Conferência”.

A Recomendação n. 145 é composta de 36 parágrafos, separados em sete capítulos, que dispõem sobre determinados assuntos já tratados em outras leis e normas, tais como: a multifuncionalidade (arts. 19, II, e 57 da Lei 8.630/93), as normas de segurança do trabalhador portuário (NR-29), o registro e o cadastro do mesmo (arts. 26 e 27 da Lei 8.630/93), a indenização em caso de cancelamento voluntário do registro (art. 59 da Lei 8.630/93), e parte dos parágrafos que são idênticos aos dispostos na Convenção 137. Considera-se ainda na própria Recomendação, mediante seu § 36 que: “as disposições adequadas da presente Recomendação dever-se-iam aplicar, na medida do possível, aos portuários ocasionais ou sazonais, de acordo com a legislação e as práticas nacionais”.

Desse modo, demonstra-se que é possível a não aplicação do que a Recomendação propriamente defina, mas, deverá servir de base para que seja devidamente aplicado o direito dos trabalhadores portuários.

Cabe notar aqui os tópicos que têm maior influência perante o cenário portuário, tais como: as regularizações de emprego e renda, a organização do trabalho portuário e as condições de trabalho e vida.

4.2.1 As regularizações de emprego e renda

As regularizações de emprego e renda se subdividem em cinco tópicos (emprego permanente ou regular; garantias de emprego ou de renda; registro;

acordos sobre o número de inscritos nos registros; distribuição de mão-de-obra), estando descritas no § 7 e ss. da presente recomendação.

No primeiro tópico do referido título discorre sobre o emprego permanente ou regular, e menciona que, se possível, deverá assegurar aos portuários um emprego permanente ou regular (§ 7).

Por sua vez, é defendido no segundo tópico sobre as garantias de emprego ou de renda, e traduz que, em casos onde não se possa assegurar o emprego permanente ou regular, devem-se propiciar certas garantias de emprego e/ou de renda, exemplificadas como: o emprego durante um período combinado de tempo; a indenização em dinheiro, quando os portuários estiverem presentes à chamada ou disponíveis de alguma outra forma para o trabalho, sem conseguir serem admitidos a estes; e as indenizações de desemprego quando não haja quaisquer trabalhos. E ainda, a mesma alínea aduz, em seu § 10, que:

10. Deveriam ser tomadas disposições adequadas para dar proteções financeiras aos portuários no caso de redução inevitável da força de trabalho, tais como:

a) um seguro de desemprego ou outras formas de previdência social; b) uma indenização por cessação da relação de trabalho ou outros tipos de indenização pelos mesmos motivos, a cargo dos empregadores;

c) uma combinação de indenizações conforme o prevejam a legislação nacional ou os contratos coletivos (BRASIL, 1995).

Por sua vez, o terceiro e quarto tópicos referem-se ao registro e aos acordos sobre o número de inscritos nos registros, respectivamente, sendo, no último, também encontrada a multifuncionalidade. Tem os mesmos institutos inclusos na Lei de Modernização dos Portos.

Por fim, o quinto tópico é cabível para tratar da distribuição de mão-de- obra, definindo o sistema de distribuição de mão-de-obra e deverá ser estabelecido de acordo com o § 20, a partir de:

20. (...)

a) ressalvando as disposições dos §§ 11, 15 e 17, proporcionem a cada empregador a mão-de-obra de que necessita para a rotação rápida dos barcos ou, se houver escassez de trabalhadores, uma parte eqüitativa de mão-de-obra disponível;

b) proporcionem a cada portuário registrado uma parte eqüitativa do trabalho disponível;

c) reduzam ao mínimo a necessidade de apresentar-se às chamadas para a seleção e designação do trabalho, assim como o tempo necessário para ele;

d) assegurem, na medida do possível, e ressalvando a necessária rotação das equipes, que os trabalhos sejam terminados pelos mesmos portuários que os tenham começado (BRASIL, 1995).

4.2.2 Da organização do trabalho portuário

Descrita em três parágrafos, a Recomendação n. 145 decide, segundo o § 28, a organização do trabalho portuário de maneira que ocorra o ingresso de novos métodos de processamento de carga para o crescimento de benefícios sociais, realizada a partir da colaboração entre os empregadores ou suas organizações, e as associações de trabalhadores, com o intuito de aumentar o rendimento do trabalho portuário, com, quando possível, a devida participação das autoridades portuárias competentes.

Ao mesmo tempo, o § 29 evidencia as medidas que devem ser incluídas no devido trabalho portuário:

29. (...)

a) o emprego de conhecimento científico e técnicas referentes ao ambiente de trabalho, particularmente quanto às condições de trabalho portuário; b) programas completos de formação profissional, inclusive em matéria de segurança;

c) esforços mútuos para alimentar práticas obsoletas;

d) uma maior flexibilidade ao distribuir portuários entre os diversos porões, entre os que trabalham a bordo e em terra, e ente as diversas operações em terra;

e) o recurso, em caso necessário, ao trabalho por turno e em fim de semana;

f) uma organização do trabalho e uma formação profissional que permitam aos trabalhadores desempenhar várias funções correlatas;

g) a adaptação do número de trabalhadores de cada turma às necessidades que foram combinadas, levando em conta a necessidade de assegurar períodos razoáveis de descanso;

h) esforços mútuos para eliminar, na medida do possível, o tempo improdutivo;

i) disposições para a utilização eficiente do equipamento mecânico, que levam em conta as normas de segurança adequada e as restrições de peso que impõe a capacidade máxima de utilização das máquinas (BRASIL, 1995).

Enfim, defende o § 30 que as medidas descritas no § 29 deveriam ser acompanhadas de acordos sobre matérias de regularização de empregos, de

estabilização de renda e da melhoria das condições do trabalho a que se alude a parte subsequente da presente Recomendação.

4.2.3 Das condições de trabalho e vida

Além de conter dispositivos que regem a estrutura do trabalho portuário, como não poderia deixar de omitir, a Recomendação n. 145 da OIT também corrobora sobre os direitos do trabalhador portuário.

Em seu § 31 é definido que a legislação que tratar de segurança, saúde, higiene, bem-estar e formação profissional deverá ser aplicada efetivamente aos portos com as devidas adaptações técnicas necessárias, ainda havendo serviço de inspeção adequado e qualificado aos portos.

Já os §§ 32 e 33 dispõem, respectivamente, sobre a não diferença de direitos, mais especificamente sobre a duração do trabalho, o descanso semanal, as férias remuneradas e as condições análogas, dos trabalhadores portuários perante os proletários com vínculo empregatício (instituto trazido pela CF em seu art. 7º, XXXIV); e também, sobre a adoção de medidas trabalhistas, entre as quais: evitar o trabalho em dois turnos consecutivos, a compensação salarial por qualquer dano que cause ao trabalhador pelo serviço prestado fora de seu horário de serviço (incluindo os efetuados em finais de semana), e a fixação de uma duração máxima e de um horário adequado dos turnos, levando em conta as condições locais.

Por sua vez, defende o § 34 que quando forem introduzidos novos métodos de processamento de carga, e, ao mesmo tempo em que as remunerações forem calculadas pela tonelagem, ou por outras formas baseadas na produtividade, “poder-se-ia adotar medidas para examinar, e, quando preciso, rever os métodos de escalas e de pagamento, e, caso necessário, deveriam ser aumentados os ganhos dos portuários, como resultado dos novos métodos de processamento de carga”.

Finalmente, acorda o § 35 que, caso não existam, devem ser estabelecidos sistemas adequados de pensões e aposentadorias.