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A Copa volta ao Brasil em 2014: tudo está no seu lugar?

No documento Caminhos da copa (páginas 187-192)

2 O FUTEBOL E O BRASIL

3.20 A Copa volta ao Brasil em 2014: tudo está no seu lugar?

Em reunião do Comitê Executivo da FIFA, em Zurique, o Comitê Brasil 2014, liderado pelo presidente da CBF Ricardo Teixeira, apresentou a candidatura do Brasil como país-sede para a Copa do Mundo FIFA de Futebol 2014. O projeto brasileiro, apresentado por Teixeira, foi aplaudido pelos presentes e o presidente da FIFA, Joseph Blatter, declarou seu apoio após o encerramento da primeira parte da reunião.

A principal mesa da reunião do Comitê Executivo da FIFA contava com a presença do próprio presidente Blatter, do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, do ministro dos esportes, Orlando Silva, do governador do Amazonas, Eduardo Braga, do embaixador do Brasil 2014, o ex-atleta Romário, do técnico de futebol da Seleção Dunga e do escritor Paulo Coelho.

O presidente da FIFA, Joseph Blatter ficou impressionado e agradeceu a presença do presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, do ministro das relações exteriores, Celso Amorim, da ministra do Turismo, Marta Suplicy, do representante do Congresso Nacional, o Senador Marconi Pirillo e dos governadores de estado do Rio de janeiro, Sérgio Cabral, de São Paulo, José Serra, de Minas Gerais, Aécio Neves, do Ceará, Cid Gomes, da Bahia, Jaques Wagner, de Pernambuco, Eduardo Campos, do Mato Grosso, Blairo Maggi, do Distrito Federal, José Roberto Arruda, do Pará, Ana Júlia Carepa e do Acre, Binho Marques, além de outras autoridades brasileiras.

No discurso de abertura, o presidente da CBF Ricardo Teixeira apresentou motivos para a escolha do Brasil como país-sede para o Mundial de 2014. Segundo Voser, Guimarães

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e Ribeiro (2010, p. 142) ele apontou “o momento histórico [...] e enumerou a série de benefícios econômico-financeiros e sociais que a Copa do Mundo trará para o país”, convicto de que o Brasil e os brasileiros estavam preparados para sediar um evento tão importante. Agradeceu o irrestrito apoio do governo federal às ambições da CBF, expresso na assinatura das “garantias governamentais”, consolidadas pela presença do Presidente Lula na reunião do Comitê Executivo da FIFA, em Zurique. Teixeira resumiu: “o Brasil só tem a ganhar com a Copa do Mundo. E o mundo só tem a ganhar com a Copa do Mundo no Brasil”, relatam Voser, Guimarães e Ribeiro (2010, p. 143).

Muitos fatores foram destacados pelos membros brasileiros na reunião do Comitê Executivo, naquele dia em Zurique. O governador do Amazonas, Eduardo Braga, afirmou que optar pela realização da Copa do Mundo FIFA 2014 no Brasil é mobilizar milhões de pessoas para a questão da sustentabilidade do planeta, preservando a floresta amazônica e evitando alterações climáticas no mundo. Para ele, é a nova marca da globalização, apostando numa nova postura ambiental, direcionada ao marketing empresarial e aos benefícios legais alcançados pelas organizações que comercializam ativos “verdes”. (VOSER, GUIMARÃES e RIBEIRO, 2010).

O escritor Paulo Coelho, definido por Joseph Blatter como o dono de um humor muito específico, “quebrou o formalismo da reunião ao dizer que a emoção do futebol tem maior duração do que a emoção do ato sexual [...] e prometeu aos integrantes da FIFA que a realização da Copa terá no país e no seu povo a mesma emoção, disciplina e criatividade que são as marcas da Seleção” do Brasil, relatam Voser, Guimarães e Ribeiro (2010, p. 143). O escritor brasileiro também afirmou que através da organização do torneio de 2014 o Brasil e os brasileiros poderiam mostrar ao mundo sua capacidade de trabalhar, de sonhar, de criar e de possibilitar ao planeta todas as emoções que são possíveis aos torcedores do futebol.

Ao final da apresentação o comitê Brasil 2014 exibiu um vídeo produzido pela agência de publicidade DM9, mostrando o Brasil, suas praias, algumas cidades, e parte de manifestações populares com tons culturais. No produto audiovisual é possível identificar elementos bastante conhecidos do público brasileiro e dos estrangeiros como vistas das praias cariocas e do litoral brasileiro, imagens da imensidão das areias brancas dos Lençóis Maranhenses, da Floresta Amazônica, da arquitetura colonial do nordeste e de cidades históricas mineiras, do desenvolvimento da capital paulista, a maior cidade do país, da gastronomia baiana (acarajés, camarões, peixes e frutos do mar), dos trajes típicos locais mais

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difundidos (baiana do acarajé, ...) etc. Apesar da explícita relação que o escritor Paulo Coelho fez entre as emoções do futebol e o orgasmo sexual, um tempo pequeno do vídeo foi destinado aos corpos femininos nus ou pouco vestidos nos trajes de banho ou nos biquínis dos desfiles das escolas de samba do carnaval do Rio de Janeiro ou de São Paulo e da Festa do Boi, em Parintins.

De qualquer maneira, o ano de 2014 gerou grandes emoções para o Brasil, país eleito pela FIFA para sediar a COPA DO MUNDO de Futebol, que, segundo o seu presidente, Joseph Blatter “tornou normal a sua escolha [do Brasil] para ser a sede da Copa do Mundo de 2014 [...] pela importância que o seu futebol tem no mundo”, relatam Voser, Guimarães e Ribeiro (2010, p. 144).

Após 64 anos a COPA retornou ao território nacional e foi disputada em doze estados da federação. A pedido do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, o número de cidades-sede foi ampliado de dez para doze na edição brasileira. Cinco delas foram indicadas pela FIFA, quase que imediatamente: Brasília/DF, Rio de Janeiro/RJ, São Paulo/SP, Belo Horizonte/MG e Porto Alegre/RS, além da escolha do Distrito Federal, as demais cidades escolhidas são conhecidas internacionalmente pelas conquistas futebolísticas internacionais por equipes de clubes de futebol locais.

Em outra reunião do Comitê Executivo da FIFA, Blatter anunciou, em ordem alfabética, as outras sete capitais estaduais brasileiras a receber as partidas da Copa do Mundo do Brasil, em 2014, a saber: Curitiba/PR, Cuiabá/GO, Fortaleza/CE, Manaus/AM, Recife/PE, Salvador/BA e Natal/RN. Conforme Voser, Guimarães e Ribeiro (2010), a definição das cidades-sede pela FIFA foi uma escolha difícil diante das grandes distâncias geográficas de um país com um território grande como o do Brasil, com dimensões continentais.

Certamente, os torcedores brasileiros se envolveram e se entusiasmaram com a possibilidade de estarem tão próximos e de presenciar um evento esportivo de tamanha projeção internacional e midiática. Porém, logo sobressaltaram aos olhos da população que o cenário sócio-político econômico e infraestrutural brasileiro não apresentam à população nacional as mesmas condições exigidas pela FIFA para que um país sedie o evento. A população brasileira, incomodada com situações cotidianas desfavoráveis a si, no entanto, contestou as exigências da FIFA para os estádios, para os entornos, cidades, trânsito e estradas comparando o padrão FIFA com a realidade dos serviços oferecidos à população no país

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diária e historicamente. Passeatas, manifestações, quebra-quebras ocorreram desde a época da Copa das Confederações, em junho e julho de 2013, nas capitais estaduais e em pequenas e médias cidades brasileiras, de norte ao sul do país. O movimento social que ganhou as ruas ficou conhecido como junho negro.

Em 2014, a COPA DO MUNDO FIFA de Futebol retornou ao conhecido “país do futebol”, que realizou investimentos bilionários para efetuar todas as exigências impostas pelo comitê da FIFA. Vale ressaltar que o Brasil tem se destacado economicamente no cenário mundial mas, ainda assim, muitos problemas sociais, trabalhistas, econômicos, políticos, por exemplo, persistem.

Nos últimos vinte anos o Brasil tem-se mostrado no cenário mundial como um país democrático, estável e em desenvolvimento. Principalmente estável financeiramente para investidores internacionais, fator superimportante na esfera da economia mundial. Ações sociais implementadas pelo governo federal também construíram uma nova postura/posição para o Brasil, bem como, uma nova maneira de ser visto no cenário global. Retirar milhões de pessoas de situação de risco ou de uma posição “abaixo da linha da pobreza” através de programas sociais além de incentivar a permanência de crianças na escola, de fomentar melhores condições de acesso e desenvolvimento da educação formal, de garantir, no mínimo, um ganho diário que possibilite, ao menos, uma refeição ao dia, foram alguns dos programas que modificaram a “cara” do país frente aos demais países e, em especial, aos olhos dos investidores internacionais. Tais elementos passaram a contribuir para uma melhor visibilidade do Brasil na cena mundial. A atuação junto à ONU, a participação em missões internacionais de paz e de salvamento também trouxeram suas contribuições à nova imagem do Brasil “lá fora”. Estar em evidência é um dos requisitos que possibilita a uma nação tornar- se um país-sede do maior evento esportivo que ocorre no cenário mundial: a COPA DO MUNDO FIFA de Futebol.

Entretanto, é o próprio Brasil que detém a configuração como melhor seleção do certame, além de ser o único país que participou de todos os mundiais, em 55% das vezes, que contabilizam onze das vinte edições do Mundial até 2014, a seleção canarinho esteve classificada entre as cinco primeiras posições, a saber, conquistou o título de Campeã Mundial de Futebol por cinco vezes (1958, 1962, 1970, 1994, 2002), em dois outros campeonatos foi vice-campeã (1950 e 1998), por duas outras vezes foi a terceira colocada (1938 e 1978) e, ocupou o quarto lugar por duas oportunidades (1974 e 2014). Somente no II Campeonato

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Mundial, disputado na Itália, em 1934, a seleção brasileira foi eliminada na primeira rodada, e no III Campeonato Mundial de Futebol organizado pela FIFA, na França, em 1938, a equipe do Brasil foi desclassificada na fase de grupos, sendo esta a sua pior classificação em todas as disputas dos Mundiais até hoje. A equipe do Brasil parou nas quartas de final por quatro vezes (1954, 1986, 2006 e 2010); e por uma única vez foi retirada do campeonato nas oitavas de final, na segunda edição italiana do evento (1990).

Entretanto, despontar entre os principais selecionados não é um critério muito valorado pelo comitê organizador para a definição do país-sede do evento. A possibilidade de realizar negócios e de apresentar novos jogadores de futebol ao grande grupo de seleções nacionais, aos grandes clubes-empresas bem como aos patrocinadores do evento, são mais relevantes aos olhos da FIFA do que o domínio das técnicas do esporte em si.

Tudo isso somado aos inimagináveis valores arrecadados com os contratos de transmissão, desde o pagamento sobre os direitos para transmitir os jogos, cerca de duzentos e cinquenta mil dólares, por emissora, acrescidos dos aluguéis do ‘estande’, uma peça no IBC que cada emissora aluga por cerca de quinze mil dólares/mês. Para utilizar armário, sofá, cadeira, mesa, televisão e outros itens mobiliários, as emissoras também pagam um aluguel separado daquele do ‘estande’.

A FIFA comercializa diretamente os locais para as rádios e TV´s nos estádios, são as chamadas “posição de comentaristas”, onde cabem apenas três pessoas: o locutor, o comentarista e o técnico de áudio, recebendo o canal de áudio internacional e dois terminais de TV. As emissoras brasileiras que transmitem os jogos do Brasil com equipes maiores, com repórteres de campo e outro junto ao público, por exemplo, necessitam de duas posições, dobrando os custos de quatro mil para oito mil euros por partida. As últimas edições da Copa do Mundo têm realizado sessenta e dois jogos, é só fazer o cálculo dos valores necessários que as emissoras precisam para realizar as transmissões.

Todos os veículos de comunicação credenciados pagam para estar nos estádios de futebol trabalhando a cada torneio, sejam TV´s , Rádios, Revistas, Jornais e demais mídias. Na cobertura jornalística de um evento esportivo como a Copa do Mundo, qualquer ação demanda investimento.

Tudo é dinheiro. Ainda existem as despesas com hospedagem para as equipes. Os preços dos hotéis, principalmente aqueles que são credenciados pela FIFA, sobem. [...] as refeições, os adicionais de viagem para os profissionais que integram a cobertura. Uma emissora de rádio não gasta menos de um milhão de reais em um mundial. (DENARDIN, 2011, p. 136).

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E não são apenas estes os lucros gerados pela COPA DO MUNDO FIFA de Futebol, há olheiros, empresários de atletas que querem coloca-los em melhores clubes, atletas que buscam novos empresários, empresários que querem representar outros atletas, investidores de clubes que buscam novos contratos, treinadores que desejam se consagrar para elevar seu “passe”, etc. propostas de marketing e de publicidade que oferecem grandes cachês aos jogadores para gravarem VT´s de campanhas publicitárias mundiais, marcas que querem ser utilizadas por celebridades para serem vistas pelos milhões de espectadores mundo afora. Enfim, uma imensidão de ganhos financeiros e de imagem que estão em jogo, dentro e fora das quatro linhas do campo.

A classificação final oficial da COPA DO MUNDO de Futebol divulgada pela FIFA apresenta quatro equipes oriundas de países europeus, quais sejam Alemanha, a campeã (1 º. lugar), a Holanda (3 º. lugar), a Bélgica (6 º. lugar) e a França (7 º. lugar). Seis (6) equipes nacionais representando os países latino americanos figuram entre as dez primeiro colocadas, sendo quatro (4) da América do Sul (Argentina - 2 º. lugar, Brasil - 4 º. lugar, Colômbia - 5 º. Lugar e Chile - 9 º. Lugar); um país da América Central (Costa Rica - 8 º. Lugar) e um da América do Norte (México - 10 º. lugar). Nenhuma equipe de futebol originária da África, da Ásia, do Oriente Médio ou da Oceania aparece entre os dez primeiros colocados na classificação oficial.

Como se pode perceber pela contabilização dos resultados dos torneios nestes oitenta anos, a presença de seleções de países europeus é muito maior do que as dos selecionados de países não-europeus.

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