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Em 1994 a primeira Copa do Mundo no território yankee

No documento Caminhos da copa (páginas 175-178)

2 O FUTEBOL E O BRASIL

3.15 Em 1994 a primeira Copa do Mundo no território yankee

Os Estados Unidos da América sediam a COPA DO MUNDO FIFA de Futebol em 1994, fato inédito até então, quebrando o esquema Europa-América Latina com a escolha de um país-sede na América do Norte, após 64 anos de existência do evento esportivo. O interesse pelo futebol (soccer) naquele país já é registrado em décadas anteriores; até mesmo o maior jogador brasileiro de futebol de todos os tempos, Edson Arantes do Nascimento, Pelé, lá atuou na equipe do Cosmos, na década de 1970. Os Estados Unidos da América é filiado à FIFA desde a primeira edição do Campeonato Mundial, em 1930. E a Copa do México de 1986 foi transmitida para todo o país.

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A inserção do território estado-unidense no roteiro do evento COPA DO MUNDO FIFA de Futebol, em 1994, atendeu a diversos interesses pouco relevantes para o evento em si pois como país-sede, a nação norte-americana participa da COPA DO MUNDO FIFA de Futebol sem necessidade de classificação anterior, disputada em outras instâncias esportivas como a Copa das Confederações, o que não proporciona maior participação do combinado dos Estados Unidos em jogos ou amplia sua midiatização junto ao público nacional. Por outro lado, o futebol, esporte incipiente à época nos Estados Unidos da América, provavelmente não obteria êxito em todas as etapas para ser incluído na fase classificatória inicial do continente americano de disputa na COPA DO MUNDO FIFA de Futebol. A justificativa do comitê organizador e da FIFA se embasa em uma escolha importante para ampliar e incentivar a prática do futebol naquele país.

Todo mundo sabe que os americanos não são muito chegados ao nosso futebol. O negócio deles é basebol e futebol americano. Desconfiava que a competição pudesse acabar em um fracasso na terra do Tio Sam. [...] Os homens da FIFA conhecem muito bem o negócio que é o futebol. Os americanos estão acostumados a sediar grandes eventos, têm grandes estádios e uma rede hoteleira de dar inveja a qualquer país. [...] Los Angeles [...] é a cidade que tem a segunda maior população mexicana no mundo. Perde apenas para a Cidade do México. E mexicanos, como se sabe, adoram futebol. [...] Todos os detalhes foram completamente atendidos. [...] O mundial americano teve a maior média de público de toda a história. Foram 3.557.500 espectadores nos cinquenta e dois jogos do torneio. Uma média de 68.413 pessoas por partida (DENARDIN, 2011, p. 89).

Parece ser evidente que a inclusão dos Estados Unidos da América nos caminhos das COPAS DO MUNDO FIFA de Futebol foi uma decisão política, mercadológica e econômica tomada pelo comitê organizador da FIFA. A atitude reflete uma ampliação da presença da metrópole, do grupo mundial decisor branco e excludente tanto quanto quando os países europeus sediam o evento. O eurocentrismo não ocorre apenas marcadamente pela posição geográfica dos países, como ensinam Stam e Shohat (2006) mas, e, principalmente, pelo

status quo, pelas exclusões e inclusões que gera e, em especial, pelas posturas e escolhas de

uma determinada nação, ou seja, por uma posição política específica. Aquilo que Bonfim (1903) denominou de “teoria da imitação”, ou seja, a importação dos conceitos, atitudes, cultura, pensamento e comportamento pelos povos “primitivos” das colônias em relação à metrópole faz replicar os conceitos e atitudes eurocêntricos em territórios colonizados por países europeus.

Os Estados Unidos se equiparam e se percebem inseridos na categoria “eurocêntrica”, especialmente por compartilhar valores colonialistas e, talvez por este motivo, marquem desde a sua própria nomeação como norte-americanos, ou, mais comumente, apenas como “americanos”, sendo que todos os demais países das Américas (América do Sul, América

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Central e da própria América do Norte) também são americanos (ou deveriam ser!), categoria que praticamente se tornou exclusiva para o povo estado-unidense.

Também corrobora a este pensamento a divisão proposta às Américas; quando se denomina de América Latina, evidenciando a dispensa do México (o maior país de língua espanhola nas Américas) do grupo geográfico da América do Norte, onde ele está geograficamente inserido. Assim, EUA e Canadá livram-se momentaneamente da aproximação físico-geográfica com o “primo pobre latino”, promovem ao México uma integração a uma identidade próxima a dos demais países terceiro-mundistas ou em desenvolvimento. O maior país dentre as dezoito (18) nações descendentes da América Espanhola ao ser incluído no rol latino, define sua identificação a partir da cultura de seus colonizadores, os espanhóis. Ainda é possível promover uma aproximação do México com o fruto da América Portuguesa, o Brasil, por suas semelhanças em tamanho, midiatizações e testes de mercado de produtos europeus como o leite em pó Ninho (ou Nido), fabricado pela Nestlé.

Mas, nem sempre esta aproximação aos “marriachi” foi nefasta aos estado-unidenses. Quando buscaram concretizar o projeto coast-to-coast, foi no território mexicano que os EUA buscou apoio para “adquirir” cinquenta e cinco por cento (55%) das terras mexicanas e alargar suas fronteiras até o Oceano Pacífico, eliminando o velho vizinho indesejável, não necessitando promover integração ou políticas de “vizinhança”, ou, ainda, espaços de transição como sabemos ser as zonas de fronteiras, com relação às identidades nacionais específicas daquelas regiões, distantes da identidade nacional central. Desta maneira, não houve qualquer preocupação com a circulação de pessoas e mercadorias, com a polifonia, com a multiplicidade de culturas e suas manifestações e necessidades diversas. Deste modo, fazendo com que a endogenia e a endocultura se proliferem sobre o seu território e, eliminando os espaços da diversidade, se valore mais do mesmo e apenas o mesmo, expandindo a posição eurocêntrica.

A seleção “canarinho” chegou à competição comandada por Carlos Alberto Parreira e Mário Jorge Lobo Zagallo, que escalaram os jogadores internacionalmente renomados Romário, Rivaldo, Roberto Carlos, Ronaldo (Fenômeno) e o goleiro Taffarel.

Após uma campanha “magrinha” em termos de resultados, veio a conquista do título mundial, quebrando o jejum de vinte e quatro anos da seleção brasileira. Parreira estruturou

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uma equipe “defensiva, sem arte, sem criatividade e chata”, na opinião de Paulo Sant’Ana, manifestada em programa na Rádio Gaúcha, de Porto Alegre/RS. Sob a ótica de Denardin (2011, p. 94), o técnico brasileiro “levou poucos gols e teve no ataque o gênio Romário e a sabedoria de Bebeto. Eles formaram uma dupla de ataque de alta competência. Venceu o futebol pragmático. [...] não faltaram jornalistas para criticar [...] preferiam ter perdido a copa, mas levado ao mundo o futebol arte”, não aceitando que o selecionado do Brasil jogasse “à europeia”, de acordo com Voser, Guimarães e Ribeiro (2010, p. 114).

Com a conquista do título mundial de 1994, o time brasileiro passou a ocupar a primeira posição na classificação oficial da FIFA, tornando-se a primeira seleção a ser tetracampeã no futebol, vencendo a equipe da Itália na partida final pelo placar de três a dois, nos pênaltis, após o empate em zero a zero (0 a 0) nos tempos regulamentar e na prorrogação.

Das dez primeiras posições no ranking da FIFA, setenta por cento são ocupadas por seleções europeias: Itália (2 ª. colocada), Suécia (3 ª. colocada), Bulgária (4 ª. colocada), Alemanha (5 ª. colocada), Romênia (6 ª. colocada), Holanda (7 ª. colocada) e Espanha (8 ª. colocada). Dos trinta por cento (30%) das vagas ocupadas por equipes não-europeias, uma posição é ocupada pelo Brasil (1 ª. colocada), outra pelas equipes da Arábia Saudita e Nigéria, empatadas na nona colocação.

No documento Caminhos da copa (páginas 175-178)