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Em 1978 a Copa encobre as barbáries da ditadura argentina

No documento Caminhos da copa (páginas 167-169)

2 O FUTEBOL E O BRASIL

3.11 Em 1978 a Copa encobre as barbáries da ditadura argentina

Em novembro de 1975, na Guatemala, foi realizado o sorteio das chaves para a disputa das Eliminatórias da Copa do Mundo da Argentina, em 1978. O presidente da FIFA, João Havelange tentou ampliar o número de países participantes no certame, de dezesseis para vinte e quatro. A FIFA colhia os frutos de sua atuação; era o resultado positivo da propagação do esporte em mais nações. O “Planeta Bola” aumentava suas dimensões.

O presidente Havelange foi derrotado em sua proposta e a Copa portenha de 1978 ainda contou com apenas dezesseis seleções nacionais de futebol. As classificações da equipe argentina, a anfitriã do evento, e da equipe da Alemanha Ocidental, vencedora do torneio de 1974, estavam garantidas; a disputa se daria pelas quatorze vagas restantes.

Após as classificações das quatorze seleções, somadas à Argentina e à Alemanha Ocidental pelos motivos expostos acima, era chegada a vez do sorteio dos grupos da primeira etapa do Mundial de 1978. Em janeiro daquele mesmo ano, no Centro Cultural San Martín, em Buenos Aires, a FIFA conduziu o sorteio e divulgou as chaves. A equipe brasileira soube que enfrentaria na primeira etapa do torneio os selecionados da Áustria, da Espanha e da Suécia, no “Grupo 3”, iniciando a competição em Mar Del Plata.

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A Argentina, país escolhido pela FIFA para sediar os jogos de 1978, enfrentava uma situação política próxima a do Brasil: ditadura militar de direita, controle da imprensa, desaparecimento de presos políticos, de jovens estudantes, de políticos eleitos e de artistas de diversos setores. Inúmeras prisões imotivadas, torturas, suspensão de direitos políticos, etc. Porém, os setores políticos e econômicos apresentavam-se muito mais favorável que o do vizinho, o gigante verde.

Essa copa [...] Argentina está inserida em um momento histórico importante da América do Sul. Floresceram no continente as ditaduras militares. Elas foram cruéis e deixaram marcas indeléveis no nosso povo. As piores foram no Chile, com o General Augusto Pinochet; e na Argentina, comandada por Jorge Rafael Videla que na copa do mundo era o presidente do país. Não foram poucos os militantes de esquerda que desapareceram. Comenta-se que muitos foram levados em aviões e jogados no meio do oceano. Um descarte impiedoso e cruel (DENARDIN, 2011, p. 59).

O autor referencia a “Operação Condor”, que ocorreu em vários países sul-americanos mas não cita quaisquer atitudes da ditadura militar brasileira, que também foi conhecida como implacável. No cenário esportivo, o Brasil construiu um caminho de vitórias na COPA DO MUNDO FIFA de Futebol de 1978, chegando invicto à etapa das quartas de final. A torcida brasileira parecia reavivar o sentimento nacionalista com as conquistas da seleção “canarinho” nos campos do país lindeiro e grande adversário esportivo.

A terceira rodada da segunda fase apresentou jogos cruzados, com horários diferentes para as disputas. As equipes de Brasil e Polônia jogaram em Mendoza, no início da tarde e, a partida entre as seleções de Argentina e Peru, ocorreu em Rosário, Província de Santa Fé, no final da tarde. Argentinos e peruanos foram privilegiados por conhecer antecipadamente o escore da disputa entre os adversários com quem disputavam diretamente a vaga na final do torneio. Em edições futuras do Mundial, essa desigualdade de condições foi alterada pela FIFA.

O grupo brasileiro, sob o comando de Cláudio Coutinho, venceu o polonês com o placar final de três a um. Para se classificar ao jogo final, a seleção portenha necessitava vencer com um placar com mais de dois gols de diferença. O selecionado argentino, que permanecia na competição devido a erros de arbitragem nas fases iniciais do torneio, marcou seis gols sobre o time peruano, que contava com o goleiro Quiroga, argentino de nascimento e peruano naturalizado. (VOSER, GUIMARÃES e RIBEIRO, 2010).

Qualquer time sentiria a pressão daquele jogo. [...] o gigante Del Arroyito, um estádio quadrado, pequeno e lotado de argentinos. Um vulcão em erupção. [...] Até nós, os jornalistas brasileiros, fomos ameaçados por torcedores argentinos. Não apanhamos porque os objetivos foram alcançados com a goleada e a Argentina acabou em primeiro lugar no grupo. [...] Muita gente entende que os jogadores [do Peru] entregaram a partida, inclusive os peruanos que

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receberam a seleção no aeroporto do país, com moedas arremessadas nos atletas (DENARDIN, 2011, p. 58 -59).

O jornalista brasileiro Alberto Dines, em 2009, promoveu a produção de três edições do programa televisivo veiculado na TV Brasil denominado como “Observatório da Imprensa”, no formato de documentário, apontando as “falcatruas” da Copa do Mundo de Futebol de 1978 realizadas pelo governo militar argentino com o aval da FIFA a fim de vencer a disputa esportiva, desviando os olhares e atenções da população nacional e da imprensa mundial do comando autoritário e antidemocrático vivido no país para o campo do esporte, alimentando a autoestima portenha, no melhor estilo romano “pão e circo”.

A história, em certa medida, aponta que alguns governantes encaram o futebol como uma atualização do referido modelo romano de entretenimento e de gerenciamento social e creem que promover tais condições à população facilita o comando da nação. Poder, política e futebol parecem caminhar juntos em certos governos, em especial, em governos mais restritivos das liberdades individuais.

A Argentina venceu o campeonato naquele ano e o Brasil foi o único país que chegou invicto ao término da competição, ocupando a terceira colocação na tabela oficial publicada pela FIFA, após vencer a Squadra Azzurra, pelo placar de dois a um. Dentre as dez primeiras colocações no ranking da FIFA ao final da Copa do Mundo de Futebol de 1978 encontramos três selecionados sul-americanos a campeã Argentina (1 ª. colocada), o Brasil (3 ª. colocada) e o Peru (8 ª. colocada). Seis posições são ocupadas por equipes europeias: Holanda (2 ª. colocada), Itália (4 ª. colocada), Polônia (5 ª. colocada), Alemanha Ocidental (6 ª. colocada), Áustria (7 ª. colocada) e Espanha (10 ª. colocada). A Tunísia (9 ª. colocada) representa a África, somando dez por dento do total de equipes participantes.

No documento Caminhos da copa (páginas 167-169)