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A CORRUPÇÃO NO BRASIL: DO DESCOBRIMENTO À ATUALIDADE

1.5 A Origem da corrupção no Brasil

1.5.5 A Corrupção na Democracia

Com a volta do País a um regime legítimo, a representatividade dos órgãos legislativos voltou a sua autenticidade, mas não em sua plenitude, pois os índices de corrupção na atualidade só crescem. Por isso, o tema corrupção deve ser estudado e analisado sob qualquer enfoque da história humana, uma vez que permite realizar comparativos entre as concepções modernas desse fenômeno e sua progressão e modificação ao longo do tempo.

A Democracia brasileira tem seu início com as eleições indiretas em 1985 e com a promulgação da Constituição Federal em 1988. Neste período a corrupção foi tema de inúmeros debates e discussões. Contudo, após a redemocratização, a corrupção aumentou e ganhou densidade; os escândalos políticos afloraram; jornalistas, historiadores, acadêmicos e alguns atores políticos buscam apontar suas causas institucionais, bem como suas origens históricas e culturais, chamando a atenção para os seus custos e as consequências sociais, sugerindo reformas para a diminuição de sua incidência. Aires e Melo (2015) evidenciam que o aumento do fenômeno se deu devido a três fatores:

...maior liberdade de imprensa, sendo possível denunciar casos de corrupção sem censura dos governos, atuação mais enérgica do Ministério Público e Promotores de Justiça, tendo eles maiores atribuições e destaque na sociedade; e o principal fator, maior participação da população na política, que agora, passa a dar mais atenção e importância à transparência das gestões pública. (AIRES; MELO, 2015, p. 38).

Com a Democracia, os cidadãos começaram a participar de forma mais efetiva na política escolhendo diretamente seus representantes. Desde então, em ordem cronológica fazem parte desse período os ex-presidentes: Tancredo de Almeida Neves, que não chegou a tomar posse, em decorrência de sua morte, assumindo, então, o seu vice José Sarney; Fernando Collor de Mello, primeiro presidente a sofrer um processo de “impeachment”, assumindo seu vice Itamar Franco; Fernando Henrique Cardoso; Luiz Inácio Lula da Silva; Dilma Rousseff, segunda presidente a sofrer “impeachment”, assumindo o seu vice Michel Temer, e o atual presidente, Jair Messias Bolsonaro.

Embora mesmo com a troca eletiva de governos, a corrupção não deixou de ser vivenciada, inclusive, de forma mais transparente, como por exemplo:

...na época das eleições de 2010 houve seis escândalos com algum destaque, cinco negativos para o “Partido dos Trabalhadores” (PT) e sua candidata, Dilma Rousseff, e um negativo para o “Partido da Social Democracia Brasileira” (PSDB). Foram os casos Erenice Guerra, Verônica Serra, Mensalão, Eduardo Jorge, Paulo Preto, e FARC. Sendo apenas o escândalo Paulo Preto referir-se a candidatura de José Serra, e os demais são relacionados ao governo do PT. (AIRES; MELO, 2015, p.38).

Cabe destacar em nosso estudo os dois episódios que marcam a atual história neste período democrático: o impeachment do ex-presidente Collor e da ex-presidente Dilma Rousseff. Blume (2017) relata acerca do impeachment de Collor:

...Em maio de 1992 estourou a denúncia que levaria o governo Collor a um fim prematuro. O irmão do presidente, Pedro Collor, concedeu entrevista à revista Veja acusando-o de manter uma sociedade com o empresário Paulo César Farias, tesoureiro de campanha de Collor. Segundo Pedro, o tesoureiro seria “testa de ferro” do presidente em negociações espúrias, ou seja, aquela pessoa que faz a intermediação de transações financeiras fraudulentas, a fim de ocultar a identidade de quem realmente as contrata. Em junho de 1992, o Congresso instaurou uma CPI só para tratar das atividades de PC Farias. Com o desenrolar dos trabalhos da comissão, as acusações de Pedro Collor foram ganhando substância, com muitas provas de transações ilícitas ligando PC Farias a Collor. Com a abertura do processo de impeachment

autorizado pela Câmara, Collor foi afastado do cargo dias depois. Em seu lugar, assumiu o vice-presidente, Itamar Franco. Enquanto isso, o Senado apurava se Collor havia cometido ou não um crime de responsabilidade. Com a condenação iminente no Senado, Collor resolveu renunciar ao cargo, no dia 29 de dezembro de 1992. (BLUME, 2017, p.1).

A liberdade de imprensa foi a responsável pela maior veiculação e publicidade a um maior número de casos de corrupção que abalaram a opinião pública. Uma das consequências desses escândalos foi o impeachment de Fernando Collor, em 1992. Ironicamente, o presidente foi eleito com uma campanha baseada no controle da corrupção, que o colocava como o “caçador de marajás”, aquele que tiraria as benesses e privilégios em forma de salários desproporcionais de funcionários públicos. Quando perdemos a base ética do social, buscamos um salvador, como o representou o ex-presidente Collor.

Para Ribeiro (2000), o governo neoliberal de Fernando Henrique Cardoso executou uma série de desestatizações que deram espaço a fraudes. Já o governo populista de Luís Inácio Lula da Silva foi marcado pelo escândalo do Mensalão, pelo qual, na primeira vez na história do Brasil, políticos de alto escalão foram julgados e presos. No governo de Dilma Rousseff, o escândalo envolvendo o pagamento de propinas a diretores da Petrobras foi visto como o maior escândalo de corrupção da história do Brasil, dando início a uma série de investigações.

Após uma denúncia de crime de responsabilidade teve início o processo de impeachment da ex-presidente, que teria ordenado a edição de créditos suplementares sem a autorização do Senado, bem como realizado operação de crédito com instituição financeira controlada pela União, o que ficou popularmente conhecido como pedaladas fiscais. No dia 31 de agosto de 2016, o plenário do Senado aprovou por 61 votos favoráveis e 20 contrários seu impeachment.

Ribeiro (2000) ainda evidencia que:

...a história do Brasil foi marcada por sucessivos casos de corrupção e que a corrupção ocupa um espaço de grande relevância na mídia e em campanhas políticas eleitorais, onde ela incorpora o papel de desmoralizar o outro para reduzir seu poder. Todos os governos eleitos desse modo, no entanto, conviveram com a corrupção.(RIBEIRO, 2000, p. 160).

O autor coloca e nossas pesquisas corroboram que a proposta de colocar ética na política muitas vezes serve para ocultar manipulações, mais que para

produzir uma vida social decente. No período democrático recente, entre os inúmeros casos de corrupção, o caso da Petrobrás foi um dos mais significativos, visto que acabou por culminar com a instauração da Operação Lava Jato pela Polícia Federal. Apontando o envolvimento de inúmeros políticos renomados, executivos de grandes corporações, construtoras entre outros.

Segundo a PF, a Petrobrás contratava empreiteiras por licitações fraudadas. As empreiteiras combinariam entre si qual delas seria a vencedora da licitação e superfaturavam o valor da obra. Parte desse dinheiro "a mais" era desviado para pagar propinas a diretores da estatal, que, em troca, aprovariam os contratos superfaturados. O desvio é estimado em mais de R$ 10 bilhões pela PF. (UNIVERSO ONLINE, 2015, p.1).

Assim, podemos concluir que, mesmo nos dias atuais, a corrupção constitui solo fértil em nossa sociedade e que um governo democrático não garante uma democracia de convívio. Neste sentido, é necessário cobrar dos governantes uma conduta ética na condução dos assuntos públicos. Não basta falarmos em democracia das instituições sem ações efetivas para a promoção do seu declínio; cada um tem de fazer a sua parte, procurando conquistar efetivamente a condição de sujeito da história, deixando de ser apenas um objeto das decisões alheias. A ética se distanciou da política na contemporaneidade, sendo tratada de forma autônoma e independente da política, por isso a necessidade da discussão de sua dimensão na atualidade.

Devido à importância da Operação Lava Jato no combate à corrupção no contexto atual, a próxima seção será dedicada a pesquisas, principalmente com dados jornalísticos devido à contemporaneidade do assunto e sua repercussão na mídia.