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A CORRUPÇÃO NO BRASIL: DO DESCOBRIMENTO À ATUALIDADE

1.5 A Origem da corrupção no Brasil

1.5.3 A Corrupção no Brasil República

Segundo Aires e Melo (2015), a República teve seu surgimento em 15 de novembro de 1889 e decorre até os dias atuais, sendo dividida em República Velha, Era Vargas, República Populista, Ditadura Militar e Nova República.

Para Carvalho (2008), o modo como se deu o governo da Primeira República do Brasil foi semelhante ao Império, o que causou incômodos em setores da população que consideravam o sistema republicano despótico e

oligárquico, sob a acusação de que este não promovia o bem público. Os revolucionários de 1930 acusavam os políticos republicanos de carcomidos, não querendo dizer que eram ladrões, mas pretendendo demonstrar que o sistema estava ruído, estragado e velho, por apresentar características tradicionais e excludentes, ao tempo em que havia anseios na população pela superação dessa forma de governo. O sistema democrático-representativo era acusado de estar corrompido em sua essência.

Segundo Aires e Melo (2015), esse período foi marcado por inúmeras promessas de ordem e progresso, como o fim da tirania e dos sistemas de privilégios, das injustiças, e pelas garantias de oportunidade e voz para o povo brasileiro, que poderia opinar e decidir sobre os rumos do país. Contudo, apesar da propaganda, observa-se que a implantação da República ocorre perante um golpe militar com escassa participação de civis, apontando que tal concepção desse regime não abrangia a população em si. Nesse sentido, a participação popular encontrou inúmeros entraves nesse período, pois a falta democracia acabou por instituir o voto de “cabresto”.

Os “coronéis”, donos de infindáveis hectares de terra impunham coercitivamente o voto desejado aos seus empregados, agregados e dependentes. Outra forma comum de eleger algum candidato era pela compra de votos. “A forma mais pitoresca relatada no período foi o voto pelo par de sapatos”. No dia da eleição o eleitor ganhava um pé do sapato e somente após a apuração das urnas que o coronel entregava o outro pé. Caso o candidato não ganhasse o eleitor ficaria sem o produto completo. Vale lembrar que o sufrágio não era livre nem secreto, dessa forma, impossível manter os interesses individuais daqueles que detém poder, afastados da seara pública. (AIRES; MELO, 2015, p.22).

De acordo com Carvalho (2004), os coronéis eram membros de oligarquias locais que centralizavam a indicação de influentes postos da estrutura política, fomentando a prática da corrupção. Já o coronelismo que imperava na época era o poder dos coronéis, possuidores de propriedades agrícolas, que, em troca de do apoio político prestado, tinham os trabalhadores como súditos e não como cidadãos. As normas da época eram ditadas por eles, a quem cabiam às indicações dos juízes, delegados, coletores de impostos, agentes dos correios, e professores. Esse modelo ainda se assemelha ao modelo atual de “quem indica” A concentração do poder resultava e ainda resulta em benefício da elite dominante.

Para Aires e Melo (2015), deu-se nesse período o “sistema de degolas”, arquitetado pelos governadores que manipulavam as eleições para deputado federal, a fim de garantir apoio ao presidente Campos Sales (presidente do Brasil de 1898 a 1902), ou seja: os deputados eleitos contra a vontade do governo eram simplesmente excluídos das listas ou “degolados” pelas comissões responsáveis pelo reconhecimento das atas de apuração eleitoral.

Conforme Aires e Melo (2015), na era do presidente Getúlio Vargas, seu Governo foi marcado por inúmeras críticas por parte da população, devido a denúncias de práticas ilegais e acusação de proveito de verbas públicas, além de enriquecimento ilícito.

Carvalho (2008) afirma que a oposição contra Getúlio Vargas, por sua vez, acusou os políticos getulistas e o próprio Vargas de corruptos por, supostamente, enriquecerem aos amigos e a si mesmo à custa do roubo do dinheiro público. A hipotética falta de moralidade individual dos membros do governo incomodava a oposição e a imprensa, que, pela voz de Carlos Lacerda, acusou-os de estarem “mergulhados em um mar de lama”.

Motta (2008) diz que o governo de Juscelino Kubitschek foi visto pela oposição como um continuador do de Getúlio Vargas, pelo mau uso da máquina pública. A realização de grandes obras, como a construção de Brasília, forneceu aos opositores argumentos para denunciar a corrupção. Aconteceram denúncias de superfaturamento de obras e de favorecimento de empreiteiras ligadas ao seu grupo político, que jamais chegaram a ser comprovadas. Apesar da falta de comprovação, as suspeitas de que o presidente estivesse ligado a casos de corrupção e sendo apoiado por comunistas foram suficientes para que Jânio Quadros vencesse as eleições de 1960, com a promessa de acabar com a corrupção no país.

O autor aponta que a candidatura de Quadros adotou propositalmente uma abordagem contrária a corrupção, adotando a vassoura como símbolo de campanha, que prometia limpar do governo a corrupção e de seus praticantes. Contudo, meses depois de assumir a presidência, Jânio Quadros renuncia alegando que “forças terríveis” se impunham contra ele. É possível, inclusive, que a falta de alianças políticas motivado pelo discurso anticorrupção tenham impedido o presidente de adquirir o mínimo de governabilidade necessária para se manter na presidência.

De acordo com Motta (2008), depois disso, João Goulart, seu vice, assumiu o governou em clima de instabilidade política, e foi acusado de estar ligado a comunistas. O autor aponta que:

...parte da indisposição contra o governo de Jango se deu em razão da convicção de que o presidente era tolerante com a corrupção, característica que seria típica de seu grupo político. De acordo com seus adversários, a corrupção seria prática corriqueira na sua gestão, sendo esse o argumento importante na mobilização liberal-conservadora responsável pelo golpe de 1964. (MOTTA, 2008, p. 208)

A ditadura militar veio na promessa de derrotar o comunismo e combater a corrupção, no sentido de furto do dinheiro do Estado. Havia a ideia de que o vício estava impregnado no espaço público, enquanto a virtude na sociedade se encontrava fora do governo, e que somente um “punho firme” limparia o país de tamanha desonestidade.