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PRÁTICAS EDUCATIVAS DE UMA ESCOLA EM ÁREA DE RISCO AMBIENTAL

3. O contexto da pesquisa

5.1 A Escola de Ensino Médio

5.1.2 O Projeto Cemaden Educação na Escola

5.1.2.1 A credibilidade do Projeto Cemaden Educação na Escola

Ao mesmo tempo que vinte e sete palavras apontaram, na narra va dos par cipantes, a importância por eles atribuída à escola e ao Projeto, outras vinte e sete deram ênfase para a credibilidade do projeto na escola. São elas: acreditar, gostar, achar, importante, frente, aluno, projeto, conhecer, par cipação, marca, dentro, aprender, vez, deixar, bastante, acontecer, orientação, aprendizado, principal, super, legal, falar, mais, a vidade, dia, ins tuição e orientação.

O trabalho de análise de sua recorrência nas falas do professor e alunos entrevistados ocorreu da seguinte forma: primeiramente realizamos uma pesquisa cuidadosa com a primeira palavra de maior recorrência na classe: acreditar. Ao fazer esta primeira análise já foi possível verificar que a palavra acreditar se relacionava, em vários momentos, com outras palavras desta mesma classe, como por exemplo gostar, achar e importante. O trabalho de análise, foi direcionado, então, a procurar compreender quais as relações existentes entre cada uma destas palavras, até que suas relações se esgotassem, como pode ser observado na figura 3.

Figura 3 ‐ Credibilidade do Projeto Cemaden Educação na escola

Fonte: Dados de pesquisa.

O projeto Cemaden Educação foi adquirindo a credibilidade de seus par cipantes na escola, no decorrer da realização das a vidades, pois puderam averiguar que de fato as abordagens que iam sendo propostas nham funda‐ mento para serem aplicadas em situações emergenciais, as quais já haviam vivenciado em decorrência da inundação.

Eu acredito que é super importante também, pois pelo pouco que conheço é uma ins tuição que se faz muito necessária. Ainda mais aqui em nossa cidade por ter

97 passado pelo problema da enchente, por ter perdido tanta coisa. Vimos percebendo o quanto as ins tuições e as pessoas que vêm até a escola para ofertar essas orientações estão dispostas e acreditam muito que é importante entrar em contato com o aluno já no Ensino Médio para mostrar para ele na prá ca. Que consiga também arcar com essa demanda que esses alunos apresentam, que a meu ver é uma coisa que faz falta, da forma que eu penso na Educação. É muito importante! Eu acho que é muito bacana esse po de contato com objeto de aprendizagem (Professor Coordenador Projeto).

Um dos aspectos mais importantes foi de que, dentro da porcentagem dos que se pron ficaram, veram alunos que não abraçaram a causa, porém veram alguns que se destacaram. Foi um projeto desenvolvido com muito amor, muito carinho por todos os alunos, os professores e principalmente o coordenador que está sempre ajudando e desenvolvendo algumas prá cas. No mais é isso... eu gostei muito de par cipar do pro‐ jeto! Eu acho que o projeto pra mim foi uma experiên‐ cia incrível! Par cipei também no ano passado. E, eu espero que eu possa con nuar par cipando dele por muito tempo. Um dia eu pretendo ainda voltar na escola e quem sabe estar mais a frente do projeto, falando sobre ele. Isso é uma das minhas metas também (Aluno 1).

Eu achei que realmente é importante nós sabermos e tomarmos conta disso. Se eu pudesse eu voltaria no projeto de novo, porque eu acho o máximo! E eu espero que cresça, que ele cresça e con nue evoluindo aqui na escola, pelo menos aqui na escola. E que ele possa a ngir outras cidades. É um projeto muito importante! E a ngindo uma maior quan dade de pessoas seria perfeito! Eu acho que foi muito impor‐ tante a integração dos conhecimentos ajudando‐nos a ver isso, qual a importância que tem isso (Aluno 2). Eu gostei muito de par cipar! Eu fui andando. Fui indo junto, porque vi a importância do projeto para a cidade. PRÁTICAS EDUCATIVAS DE UMA ESCOLA EM ÁREA DE RISCO AMBIENTAL

Vi o jeito que o pessoal gostava de ensinar e acabei me encantando (Aluno 3).

Alunos disseram “Olha, o que eu acho importante que eu aprendi aqui é que eu posso contar para alguém e se esse alguém não for diretamente a ngido ele pode contar para alguém que é diretamente a ngido. Então “sacou” (Professor Coordenador Projeto).

Pode‐se perceber, pelos relatos acima, que o inves mento de todos que se pron ficaram a colaborar com a efe vação do projeto foi grande, mostraram‐se dispostos a par cipar das a vidades, tanto internas quanto externas.

Ao entenderem o obje vo do projeto, os alunos já iniciaram o processo de disseminação dos conhecimentos adquiridos em outros contextos enquanto ele ainda acontecia e após findadas as oficinas, palestras, eles deram con nuidade a esta prá ca.

Quanto ao início do projeto Cemaden Educação na escola, pode‐se destacar as falas do Aluno 1 e do Professor Coordenador Pedagógico, transcritas a seguir:

Eu par cipei do projeto enquanto eu estava estu‐ dando. Nós fazíamos umas coisas menores. Depois teve a instalação do pluviômetro, nós visitávamos as margens do rio e foram bastante a vidades legais. Então, sei que a escola também desenvolveu alguns projetos junto à comunidade (Aluno 1).

Me encanto por projetos, porque eu acho que eles são um caminho importan ssimo para o aprendizado! Adotei a ideia, logo quando a Rachel Trajber falou, explicou o que era o Cemaden Educação, como funcionava, porque ela estava à frente do projeto. E podendo mobilizar a comunidade nos projetos de par cipação da comunidade, da escola, a meu ver, acho que ela cumpriu sua função e não ficou somente no espaço sico. Eu falo para eles que é importante que tenham a dimensão da riqueza do material que estão produzindo às vezes eles não têm (Professor Coorde‐ nador Pedagógico).

Conheceram todos os equipamentos, o material, os pluviômetros, tudo isso que conheceram raram bastante foto e trouxeram aqui para nós. Acho muito legal, porque eles voltaram super feliz, falando, que

99 haviam aprendido. O Cemaden, sempre quando preci‐ samos para alguma orientação prá ca para os alunos podemos contar com os subsídios deles portanto eu acho é importante sempre mantermos esse contato, fomentar isso mais, até porque eu não sei esse projeto, desse programa vai se estender por mais tempo. Cada ano precisa de novo reavivar desta informação, para que possam entender que isso faz parte. Olha, eu acho que posso até estar sendo redundante em relação a essa informação, mas acredito que essa par cipação seja fundamental. Mas, estou muito feliz das coisas que conseguimos! Das coisas desse projeto que acredi‐ tamos ver acontecendo e, depois ver resultado posi‐ vo. Fico bastante contente! (Professor Coordenador Pedagógico).

Outro aspecto interessante, apresentado nas narra vas do Professor Coorde‐ nador do Projeto, foi o fato de ele perceber o quanto esta a vidade deixou marcas em sua a vidade docente, quanto no modo de atuação da escola:

Mesmo ela estando cada vez mais afastada no tempo, as marcas con nuam presentes nos discursos, nas impressões, e isso até me chama atenção porque fiz esta observação esses dias nós estamos há 9 anos de enchente para um adulto está tudo muito vivo, muito presente [...]. Na memória deles, eu deixei alguma marca. Sobre os projetos futuros da escola tudo, tudo que me disser respeito das coisas que eu sou convidado fora da escola e das que aconteçam dentro da escola. Em todas aquelas que eu confiar que ficarão marcas na vida dos alunos eu vou par cipar. Vou contribuir do jeito que eu conseguir, que a minha competência per‐ mi r, que a minha qualificação deixar. Vou par cipar porque acredito nestas marcas. (Professor Coorde‐ nador do Projeto).

No entanto, as dificuldades também permearam as ações e estão presentes na dificuldade de con nuidade deste projeto, como expressas nos relatos a seguir:

Eu acredito que essa seja a principal dificuldade que nós encontramos no momento, de realizar algumas a vidades. É justamente abraçar causa e querer fazer PRÁTICAS EDUCATIVAS DE UMA ESCOLA EM ÁREA DE RISCO AMBIENTAL

essa força de vontade de levar o projeto a frente. Talvez essa seja a principal dificuldade encontrada. Mas eu acredito que a grande dificuldade mesmo é do projeto nas escolas (Aluno 1).

Nem que o estado pudesse me pagar ele não conse‐ guiria mesmo! Paciência! Eu sei que isso é muito idealista, vocacionado, às vezes soa bonito e na prá ca é sofrido! Mas como eu acredito, eu faço o que eu acredito (Professor Coordenador Projeto).

Desenvolver um projeto, gostar desse projeto e se es mular mais. Se o aluno tem uma desestrutura familiar isso atrapalha muito. Se ele está desempre‐ gado, com problemas sociais, enfim vários aspectos que impedem e interferem, por isso eu estou levando em consideração também. Na verdade, dentro das escolas eu acredito seja levar a frente o projeto e fazer com que os alunos percebam a importância, porque ficou no esquecimento (Professor Coordenador Pedagógico).

Embora o projeto Cemaden Educação tenha sido um acontecimento bastante importante para a escola e tenha contado com a par cipação de uma parcela da comunidade, infelizmente está caindo no esquecimento, porque os alunos que puseram suas ações em prá ca já saíram da escola e os novos que estão chegando ouvem apenas falar da inundação e/ou de algumas poucas prá cas.

Alguns professores abordam o projeto quando o tema enchente entra em pauta de discussão. Têm acontecido algumas poucas reuniões apenas, nos setores públicos da cidade com o intuito de desenvolver a vidades relacionadas a ele.

O Projeto Cemaden Educação ainda acontece no ambiente escolar, porém com menos ênfase, ou seja, um conhecimento que dispendeu o empenho de variados profissionais em suas diferentes especificidades, muitos gastos, muito tempo inves do, tem acontecido em menor intensidade agora:

Acho que o projeto acontece, mas é pouco. Quando voltei para escola, me lembro que fui tomar conheci‐ mento desse equipamento, o pluviômetro. A gente aprendeu! Acontece essa disseminação da informação, mas acredito por exemplo que uma formação para mais professores e para os alunos poderia ajudar mais, para que de repente aconteçam mais coisas em relação

101 a este projeto, quanto ao apoio e a par cipação do Cemaden Educação na escola (Professor Coordenador Pedagógico).

O Aluno 1 aponta que fica evidente que ele acredita que, se for feito um trabalho de união para a divulgação do projeto, cada par cipante poderia compar lhar o que aprendeu. Se isso for um trabalho sistemá co, conseguiria abranger toda a comunidade.

E ainda que como se fôssemos formiguinhas falando de um em um, eu acredito que um dia todos estarão a par de tudo que acontece. O meu papel no projeto agora na escola é justamente esse, tem algum evento que vai ocorrer em tal dia, alguém pergunta: Você quer par cipar? E eu prontamente vou, porque gosto muito de falar sobre o projeto (Aluno 1).

Para o Professor Coordenador:

A meu ver, poderia sim ser ampliado. Não sei se não chegou tudo até mim, porque estava em sala, por isso não me recordo, mas acho que precisa mais, ficar próximo da escola. De repente, vir mais vezes para cá (Professor Coordenador Pedagógico).

O Professor Coordenador revela que, embora es vesse na escola, lecionando como docente na época do projeto Cemaden Educação, não recebeu todas as informações referentes ao mesmo. Ficou mais focado entre os alunos e o Professor Coordenador do Projeto. Considerou, portanto, a necessidade de o Cemaden Educação con nuar seu excelente trabalho, porém com a par cipação mais expressiva e abrangente do corpo docente, visando que de fato toda Unidade Escolar se envolva no processo.

6. Considerações

Este texto se propôs a compreender os processos de implantação e desenvolvimento do Projeto Cemaden Educação em uma Escola Pública situada em uma região de risco ambiental e inves gar como se realizam as prá cas educa vas nessa escola, relacionadas ao Projeto, a par r da visão de ex‐alunos e professores

Ouvir o que ex‐alunos e professores da escola pensam sobre o Projeto Cemaden Educação permi u compreender que eles o percebem a par r do contexto de toda a escola, de suas vivências, de suas prá cas e de todos os outros

projetos que são realizados ali. Prova disso são os dois agrupamentos de palavras, analisados nas temá cas “A Escola de Ensino Médio” e “A credibilidade do Projeto Cemaden Educação na Escola” e seus desdobramentos. Elas apresentam grande ênfase na importância da escola, do quanto ela está imbricada na comunidade e o quanto acreditam no trabalho realizado ali, como pode ser observado na figura 4.

Figura 4 – A importância da escola e de seus projetos.

Fonte: Dados de pesquisa.

Constatou‐se que os projetos transcenderam os muros da escola para ir além, obje vando alcançar toda a comunidade local, possibilitando assim a aquisição de conhecimentos quanto às prá cas realizadas.

Verificou‐se que o Projeto Cemaden Educação proporcionou um bom emba‐ samento teórico e prá co sobre o tema da questão ambiental, especialmente no esclarecimento dos riscos de desastres naturais aos quais uma comunidade possa

103 estar exposta, dependendo da localização da mesma e de como deve agir diante destes riscos. A escola, por sua vez, ao permi r em seu co diano a inserção de um projeto como o Cemaden Educação, torna‐se de fato um espaço público aberto a todos e também um instrumento de emancipação das classes menos favorecidas.

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A GEOGRAFIA FÍSICA COMO INSTRUMENTO DE