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PRÁTICAS EDUCATIVAS DE UMA ESCOLA EM ÁREA DE RISCO AMBIENTAL

3. O contexto da pesquisa

5.1 A Escola de Ensino Médio

5.1.1 A Escola de Ensino Médio e o seu trabalho com Projetos

Ao se referirem à Escola de Ensino Médio, local em acontece esta pesquisa, os par cipantes fazem menção a vinte e sete palavras: acreditar, gostar, achar, importante, frente, aluno, projeto, conhecer, par cipação, marca, dentro, aprender, vez, deixar, bastante, acontecer, orientação, aprendizado, principal, super, legal, falar, mais, a vidade, dia, ins tuição e orientação.

Primeiramente, foi realizado uma pesquisa com a primeira palavra de maior recorrência na classe: Ensino. Ao analisar quais os segmentos de texto que a palavra Ensino aparece, quais e quantos foram os entrevistados que recorreram a ela e em quais contextos foi possível verificar que esta palavra se relaciona diretamente com a palavra Médio.

Ao analisar os segmentos de fala dos entrevistados em que apareceram as palavras Ensino e Médio, a palavra Ensino se demonstrou como principal desencadeadora das demais palavras, demonstrando a existência de uma forte relação dos entrevistados com o local. As demais palavras desta classe demonstraram esta relação com o lugar onde está a escola: tentar, mesmo.

Ao procurar compreender quais as relações existentes entre cada uma destas palavras, pode‐se verificar que esta ligação dos entrevistados com o lugar, demonstrou um sen mento de pertencimento. Nesse sen do, os conceitos que orientam esta temá ca referem‐se à escola e aos mo vos que levaram os entrevistados a se envolverem com esse projeto, bem como, permanecer na escola, como pode ser observado na figura 2:

85 Figura 2 ‐ A escola de Ensino Médio e o trabalho com Projetos

Fonte: dados de pesquisa.

O professor que coordenou o Projeto Cemaden Educação foi aluno desta Unidade Escolar desde os anos iniciais de escolarização e relata como foi seu percurso na escola, onde está até hoje atuando como professor da disciplina de História:

Eu fui dos sete anos até a oitava série, quando eu estava na sé ma série foi criado o Ensino Médio, eu terminaria a oitava série e teria que ir para outra escola, mas criou o Ensino Médio. Então, terminei a oitava série e fiquei no Ensino Médio. Quando terminei o Ensino Médio, PRÁTICAS EDUCATIVAS DE UMA ESCOLA EM ÁREA DE RISCO AMBIENTAL

teria que sair da escola eu não ia fazer faculdade aqui teria que ir. Só que quando eu estava no terceiro ano do Ensino Médio, eu prestei concurso público e comecei a trabalhar. No ano seguinte na própria escola, na secretaria. Nos trabalhos da secretaria fiquei nove anos (Professor Coordenador do Projeto).

O fato de o professor ter estudado desde o primeiro ano nesta escola, acabou fazendo com que criasse um vínculo muito forte e especial com ela. Ao ser aprovado em um concurso público para secretário, optou por trabalhar nesta escola, onde exerceu esta função por um longo período, até ser professor e, mais tarde, Coordenador:

Essa questão da iden dade a escola tenta não perder, por isso que a gente faz isso quando os alunos saem a gente tenta em algum momento trazê‐los de volta. Eles perceberam. Converso com eles ainda hoje. Já saíram do Ensino Médio no ano passado, mas encontro com eles, aliás a nossa convivência nos tornou amigos muito próximos (Professor Coordenador Pedagógico).

Cabe reforçar que a relação de amizade que se formou entre professor e alunos não se restringe ao contexto escolar, mas também à comunidade, onde se encontram em uma relação amistosa e o professor tem grande liberdade de pedir qualquer po de colaboração referente à escola e seus projetos. E eles são sempre solícitos e par cipam com prazer.

Eu estou há muitos anos aqui. De certa forma, quando você veio para uma entrevista para falar da escola, modés a à parte eu sou pessoa boa para falar da escola por tudo isso (Professor Coordenador Projeto).

O Professor Coordenador Pedagógico ressaltou ainda seu anseio de que a escola seja um ambiente agradável e acolhedor, lugar onde os estudantes queiram estar todos os dias e se sintam felizes. E, por esse mo vo aderem a muitos projetos para procurar assegurar a atenção dos alunos. Até da limpeza da escola eles cuidam, e, por incrível que pareça, de maneira animada e prazerosa, pois não é uma imposição, eles passam a compreender que a escola é um patrimônio deles, uma segunda casa, e que se não cuidarem bem dela, serão os mais prejudicados, afinal não é nada agradável ficar em um espaço sujo, desorganizado.

87 Costumamos fazer uma a vidade, que acho que é super legal e eles gostam bastante! Porque realmente veem o quanto a limpeza da escola também depende deles. Eles fazem um mu rão de limpeza (Professor Coordenador Pedagógico).

Em relação aos sonhos para a escola, o Professor Coordenador da Escola afirma que:

Gostaria que a escola fosse mais gostosa! Que a escola fosse mais diver da! Eu queria um aprendizado mais efe vo sabe!? Pelo menos eu fazia isso em sala de aula. Embora ache que o tecnicismo e o tradiciona‐ lismo sejam importantes (Professor Coordenador Pedagógico).

A cidade não possui nenhuma faculdade e quando os estudantes finalizam o Ensino Médio e desejam dar con nuidade aos estudos obrigatoriamente precisam se dirigir para outras cidades. O que geralmente acontece é de irem para a cidade mais próxima, Taubaté, a qual possui faculdade de diversas áreas, ou seja, disponibiliza de uma gama de cursos que contempla o interesse acadêmico da grande maioria dos estudantes. Por ser mais próxima também, torna mais fácil o acesso, a locomoção, possibilitando também que retornem diariamente para suas residências após o período de aulas, não precisando ficar longe de seus familiares

Como é uma comunidade pequena, uma cidade pequena e a única escola de Ensino Médio do Município, os alunos passam por aqui, todos passam pra camente, a não ser aqueles que vão para uma escola par cular (Professor Coordenador do Projeto).

O fato de a cidade ser pequena e possuir somente uma escola de Ensino Médio, não é de todo nega vo, pois acaba propiciando a criação de laços de amizade fortes, os quais se mantém mesmo após os alunos tomarem outros rumos na vida.

Além disso, verifica‐se que a escola está aberta à realização de novos e diferentes projetos, como o Cemaden Educação. O Coordenador Pedagógico discorreu sobre os projetos desenvolvidos pela escola com riqueza de detalhes, afirmando que acredita que vale a pena inves r neles:

Este por exemplo não é um projeto que nasceu aqui e vai para a comunidade ele nasceu na comunidade, mas PRÁTICAS EDUCATIVAS DE UMA ESCOLA EM ÁREA DE RISCO AMBIENTAL

a escola vai para lá. A escola agora passa a se envolver neste do Memorial da História da Paróquia, que vai dar trabalho e oportunidades de conhecimentos. É um projeto da igreja, mas eu tenho a mania boa de que quando eu entro a escola vai junto. Uma sugestão que dei lá, do mesmo jeito que a Unitau firmou parceria conosco (Professor Coordenador Projeto).

Sobre os projetos desenvolvidos pela escola, o Professor Coordenador do Projeto Cemaden Educação julga que todos são importantes. Para ele, o trabalho com projetos:

Valoriza pesquisa, oferece oportunidade ao aluno aparecer, tem tudo isso. Talvez o desafio da escola seja assim e eu acredito que vai acontecer com os resul‐ tados que vamos apresentando, irão aparecendo mais alunos interessados em fazer. Uma vez também os alunos foram conhecer o Ins tuto Nacional de Pesqui‐ sas Espaciais (INPE) (Professor Coordenador do Peda‐ gógico).

Vou citar dois projetos que eu acredito que são muito importantes que vamos desenvolvendo, e tem do um retorno superposi vo para escola. “A vida após o Ensino Médio”. Um outro projeto que eu acho que na escola já vem acontecendo há bastante tempo e estamos tentando cada vez mais aprimorar é a Semana da Cidadania que já passou a ser uma a vidade já do calendário da escola. Outros projetos[...] eu ressalto um que os alunos aprovam muito, que é a presença dos ex‐alunos. Esse é um projeto que eu destacaria e das oficinas que a gente realiza talvez a que mais os alunos gostem, porque a gente faz uma roda de conversa de ex‐alunos para que eles falem (Professor Coordenador Projeto).

Um projeto que os alunos aprovam muito é a presença dos ex‐alunos na escola. . Relata que eles são sempre convidados a voltar à escola para falar de suas experiências de vida depois que saíram dela, e isso, de certa forma, é muito importante, segundo ele, porque não é o professor dizendo como é que vai ser a vida depois, é o próprio aluno:

89 É pra camente de jovem para adolescente. É uma linguagem que é diferente de um professor tentar dizer a eles como é que é a realidade depois do Ensino Médio. É alguém da mesma faixa etária pra camente, falando da experiência. É diferente quando ele pega um colega que no ano passado estava aqui ou há 2 3 anos, ou mesmo alguns que já saíram há mais tempo, mas que já estruturaram uma carreira e que digam eu estava aqui no lugar de vocês. Até a gente ba za de a vida após Ensino Médio. Existe vida após o Ensino Médio?! E aqui não tem faculdade, então eles precisam sair de nossa cidade para estudar. Essa oficina funciona muito bem e tem dado ó mos resultados. A gente é muito bem atendido, porque eles querem voltar para falar das experiências e se sentem parte da escola. É como se a escola não saísse deles nunca mais. E a escola tenta fazer com que não saia mesmo, para que eles se sintam pertencentes sempre (Professor Coordenador do Projeto).

Além do projeto descrito acima, o professor descreve outro projeto desen‐ volvido na Unidade Escolar, o do Trabalho de Conclusão de Curso:

Eu destaco o projeto do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), porque nenhuma escola de Ensino Médio faz. Fizeram uma entrevista a qual deu fruto por causa da pesquisa e do envolvimento nela. Eles saíram daqui para fazer uma palestra para os alunos do Ensino Fundamental sobre a história de nossa cidade porque eles nham se apropriado de informações que podiam ser par lhadas (Professor Coordenador Projeto). Esse projeto além de fomentar o trabalho de pesquisa, ainda desenvolveu nos educandos o senso de responsabilidade pela seriedade e condições de se exporem para falar sobre o assunto estudado com maior propriedade, porque adquiriram subsídios para tal.

Se queremos levar os alunos para conhecer parque ou uma coisa, que entendemos que é muito mais importante às vezes que uma aula dentro da sala de aula, eles aprendendo ali! Então, quando os alunos vão lá, eles fazem a trilha, conhecem a vegetação, conhecem os animais e a orientação. Quando que ele PRÁTICAS EDUCATIVAS DE UMA ESCOLA EM ÁREA DE RISCO AMBIENTAL

aprendeu! Mais do que uma aula de botânica às vezes dentro da sala de aula. Acredito que são projetos assim, mais impactantes para a comunidade. Ela precisa se movimentar, porque faz parte da comunidade produ‐ zindo conhecimento a par r do projeto do TCC. Eu acho que a escola precisa dessa função social na comunidade ela tem que refle r para o meio que ela está (Professor Coordenador Pedagógico).

Além do trabalho com pesquisa, a vivência na prá ca com profissionais que possuíam uma gama variada de conhecimentos foi muito rica, como pode‐se verificar nos relatos dos ex‐alunos entrevistados:

Às vezes visitávamos a estação de água, o leito do rio. Tinha que ser em horário contrário. Nós fazíamos bastante coisas. Assim bastante influência, porque além de nós alunos estarmos conhecendo isto, novidade pra nós (Aluno 2).

Ocorreram alguns momentos e foram preciosíssimos! Aprendemos muitas coisas. O grupo de alunos teve muito respaldo, muita coisa para hoje poder estar falando. Tivemos contato com geógrafos, cartógrafos, antropólogos (Aluno 1)

Nota‐se que o contato com diferentes profissionais, uma prá ca interdis‐ ciplinar, visitas a locais diferentes oportunizou o aprendizado de todos gerando assim segurança, dando voz aos alunos para propagarem o que aprenderam em relação aos Desastres Naturais e às medidas de prevenção, com obje vo de mul plicarem seus conhecimentos com outros alunos, com familiares e com a comunidade.

Sobre isso, é extremamente importante refle r sobre a narra va do Professor Coordenador, ao apontar a importância da par cipação efe va dos alunos na condução dos projetos realizados pela escola:

Eles ajudando nas decisões. Eles manifestando o que acham melhor para escola. Democrá co, muito democrá co! Até sou bastante cri cado por isso. Dizem que deixo o aluno falar muito, mas eu analiso, lógico! Os inves mentos, o que se enxerga sobre a Educação Pública é que cada vez está sendo mais depreciada. Precisamos ter pessoas aqui para con ‐ nuar fazendo a resistência. Essa essência de falar,

91 acreditamos nessa gestão democrá ca. O aluno tem que falar, afinal... vir, sentar bumbum na cadeira e ficar das sete até meio dia e vinte não é legal! Vamos tornar mais atra vo! Fazer mais dinâmico, mais par cipa vo! Tem‐se uma ins tuição ou você tem um braço a mais de gente que mora na comunidade, gente que está aqui vivenciando e que pode contribuir para isso, com esse conhecimento (Professor Coordenador do Pedagó‐ gico).

A escola tem uma visão democrá ca e isso, de fato, coopera na formação de cidadãos democrá cos, crí cos e agentes em sua realidade.

Ao analisar as falas dos entrevistados, pode‐se perceber que a escola realiza projetos bem interessantes, os quais são validados pelos alunos que os julgam interessantes, especialmente os que lhes propiciaram sair do contexto escolar e vivenciarem experiências únicas, conhecendo lugares e objetos nunca visto antes por eles. E isso proporciona um grau de sa sfação não só para os alunos, mas também para os Coordenadores, pelo fato de serem profissionais que consideram que a aprendizagem não deve se resumir aos conteúdos acadêmicos e todos fechados em uma sala de aula. Por isso trabalhar com projetos foi e tem sido importante demais para “os alunos, pois ficaram marcados pelo projeto” (Aluno 1).