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Investigar a origem de uma instituição escolar demanda conhecer seu contexto histórico e as circunstâncias particulares de sua criação, os atores sociais envolvidos, os meios e instrumentos mobilizados, sua finalidade e seus saberes. De acordo com José Luís Sanfelice (2016, p. 17), “os motivos pelos quais uma unidade escolar passa a existir são os mais diferenciados” e, geralmente, revelam uma origem peculiar. Contudo, não é possível considerar “as instituições escolares somente como expressões singulares, particulares, individualizadas ou ilhadas, mas, sim, como co-partícipes de projetos históricos, particularmente os vinculados às visões de mundo que se confrontam em uma dada conjuntura, fazendo valer uma dada concepção” (ARAÚJO, 2007, p. 96). Nesse sentido, “é preciso considerar os acontecimentos, ligá-los, descobrir os nexos, mesmo os menos visíveis” (MAGALHÃES, 2004, p. 169).

Em suas origens, os institutos Samuel Graham e Granbery apresentam aproximações e singularidades que se inscrevem no espaço e tempo em que foram criados, nas relações de poder e interesse envolvidas e nas características próprias, religiosas e educacionais, relacionadas ao projeto missionário, evangelístico e social das igrejas e missões a que estavam vinculados. Logo, em suas singularidades, o vínculo religioso marca em ambas as instituições de ensino sua finalidade primeira, a saber, a promoção da fé protestante.

A Igreja Presbiteriana do Brasil por meio do trabalho de suas missões norte-americanas e nacionais, foi a primeira igreja a criar uma escola protestante em Goiás e a que por mais tempo se faz presente no campo educacional goiano. Instalado na cidade de Jataí, região Sudoeste do estado66 (ver figura 2, p. 94), o IPSG representou a consolidação do trabalho missionário

presbiteriano em Goiás e, por conseguinte, educacional.

66 Jataí situa-se a 327 km de Goiânia – capital estadual, e a 535 km de Brasília – capital federal. Fonte: IBGE. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/go/jatai. Acesso em 06 dez. 2018.

97 O município de Jataí foi criado em 1882 com a denominação de Paraíso de Jataí. Tempos depois, em 1895, a sede do município se elevou à categoria de cidade de Jataí. Sua origem e desenvolvimento inicial estão ligados à empreitada de Francisco Joaquim Vilella e José de Carvalho Bastos e seus familiares, que vindos dos estados de Minas Gerais e São Paulo, respectivamente, se instalaram no atual território de Jataí e desenvolveram a pecuária extensiva, como acontecera na história de muitos municípios goianos, o que levou ao surgimento dos primeiros povoados (COSTA, 2009; FRANÇA, 1995).

Conforme a própria tradição brasileira/católica, em 1848, os Vilellas doaram um patrimônio67 para a construção da capela em louvor ao Divino Espírito Santo de Jataí, o que representava, na época, um importante elemento para a povoação e urbanização de um dado território em função da possibilidade de realizar ali mesmo os casamentos, batizados e outras bênçãos e registros importantes, como nascimento e morte. Paralelo a sua relação com a urbanização de Jataí, a construção dessa capela marca, também, a cultura religiosa católica do município em construção e sua estreita relação com o campo secular. Foi nos arredores da capela que o povoado se desenvolveu. Em 1864 foi criada a Freguesia do Divino Espírito Santo de Jataí e a Paróquia do Divino Espírito Santo, momento em que o território de Jataí foi elevado à categoria de Distrito de Rio Verde, denominado Paraíso de Jataí. Em 1895, Paraíso alcançou a condição de cidade com a denominação de Jataí (COSTA, 2009; GONÇALVES, 2012). De acordo com Luciene Pires (1997) e Samuel da Costa (2009), as primeiras iniciativas no campo da educação escolar em Jataí se deram como era comum no período, por meio da contratação de professores primários para escolarizar, em suas fazendas, os filhos dos fazendeiros. Para atender aos requisitos para se elevar à vila, foi construída a primeira escola pública no território, a chamada Casa da Escola, que começou a funcionar em 1890, em grande parte, devido à influência da Igreja Católica, que interferiu junto às autoridades da capital para conseguir o material necessário para o início das aulas. Aos poucos, alguns professores também foram formando, em suas residências, suas próprias escolas.

Como visto na primeira seção, no curso do desenvolvimento experimentado pelo país e por Goiás nas primeiras décadas da República, com a instalação e a ampliação do transporte ferroviário e o projeto de integração nacional, sobretudo, a partir dos anos 1930 com a Marcha para o Oeste, ocorreu um importante despontar da economia goiana por meio da agropecuária,

67 “Os patrimônios eram o modelo de povoamento mais comum em Goiás durante o século XIX", por meio do qual se originava a maioria das formações urbanas daquele período, sendo um meio de demarcar a fé e incentivar a urbanização, fazendo surgir um povoado, um arraial, até se tornar uma cidade (GONÇALVES, 2012, p. 74).

98 que se apresentou de forma significativa na região Sudoeste em razão de sua localização geográfica, das facilidades no intercâmbio com Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso para o escoamento da produção e sua proximidade da nova capital goiana, bem como a qualidade das terras e do clima que favorecia a produção e “muito contribuiu para que a agricultura, a partir do centro-sul, alcançasse uma maior participação na receita do estado” (COSTA, 2009, p. 73). Ainda que com uma expansão vagarosa nesse período, como aponta Dias (2016), Jataí vinha no contexto de avanço do capitalismo em Goiás, de desenvolvimento da agropecuária, modernizando seus modos de produção, investindo ainda na agricultura e, por isso mesmo, se apresentava como um município promissor, o que atraiu muitos migrantes e despertou o interesse de diversas instituições e atores sociais.

No início do século XX, o município possuía significativos estabelecimentos comerciais e pequenas indústrias, como as de beneficiamento de arroz e café, um sistema de ensino básico, jornais impressos, como “O Jatahy”, “Picapau” e “O Liberal”, além de instituições de instrução primária e secundária e jardim de infância, sendo instalado, em 1929, o Grupo Escolar e em 1933, o Lyceu de Jatahy (PIRES, 1997). Tais construções apontavam para uma ideia de modernização em curso que estava diretamente associada ao desenvolvimento urbano.

Esse cenário promissor de Jataí motivou o trabalho religioso no município, sobretudo, das ordens missionárias católicas e das missões protestantes. A partir de sua estreita relação com a criação do município, a Igreja Católica se colocou à frente no campo religioso, realizando os primeiros grandes empreendimentos no campo social. Em 1929 foi criada a Prelazia do Divino Espírito Santo de Jataí, compreendendo os núcleos de Jataí, Rio Verde, Mineiros e Caiapônia, e assumida por padres agostinianos vindos da Espanha. Em seguida, as irmãs Agostinianas Missionárias vieram para Jataí e atuaram na instalação, em 1941, do Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho, criado no citado contexto de romanização da Igreja no Brasil. Em 1957, a Prelazia de Jataí foi elevada à categoria de Diocese. Outras missões, como a Congregação das Irmãs de São Vicente de Paula de Gysegema e as irmãs Franciscanas dos Pobres, instalaram-se em Jataí e atuaram no campo social, de maneira que a Igreja Católica não foi apenas pioneira nessas ações, mas prestou, ao longo do tempo, principalmente no período de afirmação do município, importante assistência no campo social, sobretudo, por meio da criação de instituições sociais de ensino e saúde68 (COSTA, 2009; PIRES, 1997).

68 “Dentre as muitas obras da Igreja Católica de Jataí destacam-se: Lar e Creche João XXIII, Creche Santa Rosa, Creche Sant’Ana, Creche Santo Antônio, Pastoral da Criança em todas as paróquias, Rádio Difusora de Jataí, Instituto Espírito Santo, Centro Comunitário Padre Damião (cuida especialmente de doentes portadores de Hanseníase), Clínica Conf. Vicentina do Divino Espírito de Jataí (Secção clínica geral e doenças contagiosas), Clínica Padre Tiago Menelli, estes últimos dirigidos pelo Padre Tiago” (COSTA, 2009, p. 87).

99 Na esteira do trabalho católico e numa sociedade já marcada religiosa e culturalmente pelo catolicismo, o protestantismo se inseriu em Jataí de forma mais efetiva no início dos anos 1930, por meio do trabalho dos primeiros missionários protestantes que atuaram na região, em particular, os presbiterianos. O presbiterianismo chegou à Jataí por volta de 1924 por meio das primeiras famílias pertencentes a essa denominação que, vindas do município mineiro de Araguari, fixaram residência em Jataí. Conforme mencionado na primeira seção, itens I.4 e I.5, motivada pelo desenvolvimento da região Sudoeste de Goiás, pelo seu projeto de ocupação do interior do Brasil e por já contar com trabalhos no estado de Mato Grosso, a Missão Sul do Brasil da PCUSA implementou o trabalho missionário norte-americano nessa região, primeiro em Rio Verde e depois, em Jataí, tendo como suporte inicial as primeiras famílias evangélicas convertidas a fé presbiteriana que passaram a residir na região e que já recebiam visitas eventuais de pastores e missionários e vinham propagando sua fé.

O trabalho presbiteriano em Jataí oficialmente se concretizou com a visita do reverendo Ashman Clark Salley, missionário norte-americano da South Brazil Mission of the Presbyterian Church of the United States of America, recebendo depois o nome de Missão Brasil Central. Outros missionários brasileiros também foram designados para acompanhar essa missão. O reverendo Salley morava em Alto Araguaia (MT) e visitava a região do sudoeste goiano, incluindo em seu itinerário as cidades de Jataí e Rio Verde. [...] Em 1930, o reverendo Salley, como era chamado, foi nomeado missionário evangelista do sudoeste de Goiás. Deu novo impulso ao trabalho em Jataí e, em 1931, mudou-se com sua esposa, Sara Salley, em definitivo, para a cidade [...]. O casal Salley permaneceu em Jataí de 1931 a 1939, deixando organizado o plano de edificação da igreja (DIAS, 2016, p. 84-5).

De acordo com Dias (2016) e Pires (1997), os cultos e demais reuniões eram realizadas nos primeiros anos nas residências dos fiéis, sobretudo, na casa dos pastores, a chamada casa pastoral. Em 1940, o reverendo Donald F. Schroeder e sua esposa Helena Schroeder assumiram o trabalho de Jataí e organizaram ali uma biblioteca e uma escola primária, mas logo retornaram aos Estados Unidos por motivo de saúde. Na sequência, em 1942, o reverendo Robert Eugene Lodwick se mudou de Rio Verde para Jataí e desenvolveu o trabalho presbiteriano ali que resultou na criação da Escola Evangélica de Jataí e, em seguida, na criação do templo, ambos em 1942. Em 1946, a Congregação foi organizada em Igreja conforme a administração da IPB e foram ordenados os seus primeiros presbíteros. Como resultado do trabalho dessa primeira Igreja Presbiteriana em Jataí, foram ainda criadas a Igreja Presbiteriana Betânia, em trabalho iniciado no início de 1960 nas intermediações do IPSG, a Igreja Presbiteriana Betel, a Congregação Presbiteriana Filadélfia e a Congregação Presbiteriana Jacutinga em Jataí e, ainda,

100 a Congregação Presbiteriana de Alto Araguaia-MT e a Congregação Presbiteriana de Araguainha-MT69, o que aponta para a afirmação, operacionalização e extensão do trabalho

presbiteriano em Jataí e região.

No contexto de criação da Igreja, em 1940, Jataí possuía 22.793 habitantes, sendo 76% de sua população intitulada católica, 20% espírita e 2,15% protestante, o que correspondia a 489 habitantes segundo o recenseamento Geral de Goiás de 1940 realizado pelo IBGE. Esse número de protestantes, ainda que pequeno, era significativo para o momento, e fazia de Jataí, conforme os dados apresentados na tabela 02 (p. 79), o 10º município com o maior percentual de protestantes em relação ao número de habitantes no estado, o que certamente contribuiu para a instalação e desenvolvimento do trabalho presbiteriano.

Ainda no que se refere à população, o município de Jataí possuía na década de 1940 uma população, em sua maioria, rural. De acordo com Sinara Silva (2009, p. 35), “na primeira metade do século XX, a cidade era, principalmente, institucionalização do poder político dos proprietários rurais e lugar no qual se realizavam as pequenas trocas. Mesmo no espaço urbano a vida estava totalmente vinculada ao campo”. A relação com o campo nesse momento, o trabalho ali desenvolvido, principalmente nas propriedades familiares voltadas mais para a subsistência e o vazio na criação de instituições de ensino, em muito distanciava a população em idade escolar das escolas, fato que foi observado também no contexto nacional. Conforme Dias (2016), 85,9% da população geral de Jataí e 84,2% da população em idade escolar (8 a 12 anos) era analfabeta.

Segundo Dias (2016) e Pires (1997), a comunidade e os próprios jornais em circulação na cidade reclamavam a criação de mais escolas em Jataí, principalmente, de grandes instituições que fizessem jus ao processo de desenvolvimento experimentado pelo município, sobretudo, de ensino secundário. Logo, o cenário educacional de Jataí e a conseguinte necessidade de investir no mesmo, acrescido do próprio projeto missionário norte-americano que defendia a educação como um importante elemento de evangelização, de aproximação e mudança social, em muito contribuiu para a criação da primeira escola evangélica e presbiteriana em Jataí. Ademais, o ensino na cidade sofria muita influência católica e havia se instalado, no ano anterior, o colégio católico Nossa Senhora do Bom Conselho70, o que também estimulou a iniciativa presbiteriana.

69 Dados obtidos no blog da IPB Central de Jataí e no portal eletrônico da Igreja Betânia. Fontes: http://ipjatai.blogspot.com/p/historia.html e www.igrejabetania.org.br. Acesso em 12 fev. 2020.

70 Criado em 1941, pelas irmãs Agostinianas Missionárias, o colégio ofertou incialmente a pré-escola, o ensino primário, o ensino normal (equivalente ao primeiro ciclo) e o curso complementar. O colégio priorizou,

101 Para Pires (1997), em função da influência católica no campo educacional, muitas crianças protestantes e espíritas se sentiam constrangidas nas escolas locais, sem representatividade em meio a celebrações, ritos e ensinamentos católicos que permeavam o espaço escolar. De acordo com relatos colhidos pela autora junto a ex-alunos do colégio Nossa Senhora do Bom Conselho, a situação neste era ainda mais difícil. “Alunos e professores eram obrigados à prática do catolicismo”, sendo, por vezes, exigido o Batismo e a primeira comunhão. Apesar de aceitar a matrícula de evangélicos, estes não eram respeitados no direito de professar a sua fé. Ao contrário, esses alunos eram obrigados a frequentar as missas aos domingos e eram sempre reprimidos e castigados quando a direção da escola ficava sabendo que eles tinham frequentado algum culto protestante (PIRES, 1997, p. 207).

Diante dessa situação, muitas famílias protestantes que não tinham uma escola confessional apropriada para matricularem seus filhos conforme seus valores religiosos, manifestaram interesse e mesmo envidaram esforços para a construção de uma escola protestante na cidade, o que em muito contribuiu para o processo de criação e expansão da escola presbiteriana em Jataí (DIAS, 2016; PIRES, 1997). Assim, foi um conjunto de fatores somado ao ideal protestante missionário que resultou na criação da Escola Evangélica de Jataí. A Escola Evangélica surgiu a partir da biblioteca e da escola primária criada pela igreja e pelo casal Schroeder para atender aos filhos das famílias evangélicas e de outras famílias. “O primeiro prédio da Escola Evangélica foi uma casa alugada, no ano de 1940, que servia, também, para a realização dos cultos evangélico” (DIAS, 2016, p. 93). Em 10 de julho de 1942, essa instituição foi legalmente oficializada, registrada na Diretoria Geral de Educação do Estado de Goiás, recebendo o nome de Escola Evangélica de Jataí conforme certificado emitido por esse órgão, que assim dispôs: “Certifico que, nesta Diretoria, ás fls. 163 do livro competente, foi registrada a ‘Escola Evangélica de Jataí’, sob a responsabilidade da Srta. Loide Emrich, situada na cidade de Jataí e destinada a ministrar o ensino primário” (CERTIFICADO DE REGISTRO DA ESCOLA EVANGÉLICA DE JATAÍ, 1942).

Nos termos desse registro, o ano de 1942 foi considerado o marco inicial de criação da Escola Evangélica de Jataí, posterior IPSG. A escola funcionou inicialmente de forma precária, em um lugar pequeno, com pouco material e pouco mobiliário, que em muitos casos era fabricado e/ou improvisado pelos próprios pais e missionários, como os bancos e mesas dos alunos, e não contava com verba para a sua manutenção (DIAS, 2016; PIRES, 1997). Conforme

inicialmente, a educação feminina, funcionando como internato feminino. Apenas a pré-escola era destinada também ao público masculino. Em 1972 foi aberta a primeira turma de meninos no colégio (PIRES, 1997).

102 o Certificado de Registro (1942), a escola começou com a oferta do curso primário sob responsabilidade de Loide Emrick, irmã do Rev. Teodomiro Emrick, que foi a primeira e única professora no início, atendendo meninos e meninas em sala mista.

Com a organização da Igreja, a escola passou a funcionar em um cômodo nos fundos desta, o que muito contribuía para a afirmação religiosa e social da Igreja na cidade e também, dispensava gastos com outro aluguel. Já nos primeiros anos, o número de alunos da escola foi crescendo e despertando o interesse de pais e alunos da região. Para atender a demanda, a direção da igreja solicitou junto à Missão Brasil Central a ampliação do prédio escolar. Em 1947, uma comissão da Missão veio a Jataí para analisar a viabilização do pedido, se reunindo com as lideranças políticas do município. A proposta da Missão era estruturar a escola primária e criar uma Escola Normal com o objetivo de formar professores nos moldes protestantes para atuar no interior. A princípio, tal proposta desagradou a comunidade e as autoridades políticas que aspiravam pela criação de um ginásio, uma vez que o município não contava com nenhum. Não obstante, a Missão decidiu por criar primeiro o prédio da escola primária e o curso normal para formar seus próprios professores (INSTITUTO SAMUEL GRAHAM – BREVE HISTÓRICO, 2001; PIRES, 1997).

Em seguida, a dificuldade foi encontrar um terreno para construir o novo prédio, visto que os locais que julgavam melhores eram de propriedade da Igreja Católica ou de seus membros, que vinham oferecendo resistência à expansão protestante no município, considerada uma ameaça ao catolicismo e, por isso mesmo, não tinham interesse em contribuir com tal empreendimento. As lideranças locais, de início, se silenciaram para não se indispor com os católicos, o que fez com que a Missão decidisse por construir a escola na cidade vizinha de Mineiros. Segundo Pires (1997), a partir dessa ameaça, um grupo de evangélicos, liderado pelo vereador Sebastião, buscou ajuda junto ao Governo do Estado, na época o senhor José Feliciano, que era de Jataí, que por sua vez veio à cidade e intercedeu junto à Prefeitura Municipal para intermediar a compra do terreno. Depois, a própria Câmara Municipal apoiou as negociações. Em função dessa atuação política, a Missão conseguiu então um terreno de seu interesse na parte alta da cidade de 12 (doze) alqueires71, próximo ao campo de aviação, local em que já previa o crescimento da cidade (INSTITUTO SAMUEL GRAHAM – BREVE HISTÓRICO, 2001; PIRES, 1997).

71 O alqueire goiano equivale a 48. 400 m² ou 4, 84 hectares. De acordo com essa medida, o terreno do IPSG corresponde a 580. 800 m² ou 58. 08 hectares. O referido terreno encontra-se situado na rua Riachuelo, 1330, no centro da cidade.

103 Ainda segundo fonte oral citada por Pires (1997), o vereador Sebastião na época comprou o terreno e doou para a Missão. Segundo a Lei municipal, n. 42, de 26 de maio de 1950, a prefeitura adquiriu o terreno da Igreja Católica e o vendeu à Junta de Missões Estrangeiras da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos da América do Norte. Em todo caso, a atuação política, de atores sociais externos ao campo religioso, foi fundamental para a aquisição do terreno e desenvolvimento do trabalho educacional presbiteriano em Jataí.

Ademais, a localização do terreno e o seu grande tamanho apontam para o aspecto visionário da Missão, para uma pretensão de ampliarem suas instalações e possivelmente desenvolver ali diferentes atividades ligadas ao campo educacional e mesmo religioso em conformidade com o projeto protestante e seu ideal educacional associado aos princípios norte- americanos, à semelhança da estrutura que apresentava muitas das escolas protestantes criadas no país. Conforme atesta Ester Vilas-Bôas [Nascimento] (2001, p. 25), “a Missão sempre teve a preocupação de distinguir seus prédios destinados à educação e à religião das outras construções locais, procurando construí-los em pontos estratégicos das cidades, próximos às residências da elite econômica e, se possível, no centro cultural e político da cidade”.

Em função de problemas de saúde enfrentados pela família do reverendo Lodwick, o casal de missionários e educadores Samuel e Ruth Graham foram nomeados pela Missão para cuidar da construção do prédio próprio, da reorganização e direção da escola e marcaram o seu processo de consolidação. Entre 1948 e 1951, a escola saltou de 23 para 116 alunos. Em 1952, com duas salas prontas, uma parte da escola se transferiu para as novas instalações e foi