• Nenhum resultado encontrado

O ato de administrar é uma prática intrínseca nas organizações sociais. “Os termos Gestão e Administração têm origem latina (gerere e administrare). O primeiro termo significa governar, conduzir, dirigir. O segundo tem um significado mais restrito – gerir um bem, defendendo os interesses daquele que o possui – constituindo-se em uma aplicação do gerir” (SILVA, 2007, p. 22). Nessa direção, o cargo de diretor escolar surge da necessidade de se ter alguém específico no espaço da escola para responder por ela, gerenciar e fiscalizar os trabalhos e comportamentos95.

Nas escolas protestantes, além dessa responsabilidade com a administração geral da escola, o diretor era o interlocutor entre a escola e a instituição religiosa mantenedora, responsável por zelar pela obediência e manutenção dos princípios e valores religiosos no interior da escola e mesmo pela sua propagação junto à sociedade em que estava inserida. Conforme atesta Nascimento (2003), no início, geralmente os missionários eram os próprios diretores das escolas e exerciam também a docência. Os missionários educadores, em geral, eram pessoas com formações diversas, profissionais liberais que se formavam missionários e se tornavam também educadores, conforme o projeto e/ou demanda da Missão.

Como visto na seção I, inseridos dentro da concepção e do projeto missionário protestante, principalmente do protestantismo norte-americano, os missionários atuaram na criação de igrejas e de instituições sociais, sobretudo, de escolas. Por vezes, esse trabalho era realizado de forma simultânea e o missionário exercia, de início, ao mesmo tempo, o trabalho pastoral na igreja e na direção da escola criada. À medida que o trabalho religioso e educacional se desenvolvia e alcançava estabilidade, as instituições ganhavam reforços, pessoas para exercer um trabalho mais particular em cada instituição e, por conseguinte, a direção das escolas. Todavia, esses diretores, se não fossem missionários, eram, ao menos, membros das igrejas e possuíam formação religiosa e preparação pedagógica dentro da concepção protestante

95 No Brasil, o cargo de diretor escolar surge com a criação das escolas-modelo, em 1892, e a posterior instalação dos grupos escolares em São Paulo que promoveu importantes mudanças na organização administrativa e pedagógica da escola, delimitando papeis para seus agentes. O diretor assumiu o centro do poder escolar, responsável pela sua administração, por representar o governo e zelar pela ordem e disciplina no interior da escola, controlando e fiscalizando seus sujeitos, em particular, o trabalho do professor (SOUZA, 2006).

159 e educacional norte-americana. Logo, estavam comprometidos com a doutrina e os interesses das igrejas e suas missões. Eram pessoas capacitadas e de confiança da missão e/ou igreja mantenedora para a realização do trabalho educacional.

Esse perfil do diretor escolar, sua formação religiosa e os interesses que representava, corrobora a assertiva de Sanfelice (2006, p. 27-8) de que “o público de uma instituição traz para dentro dela uma determinada cultura e um conjunto de valores que podem estar próximos ou muito distantes da cultura escolar oficial”. É esse perfil, envolto de valores e finalidades pessoais, religiosas e socioculturais que se observa na conduta dos primeiros diretores que assumiram o Instituto Samuel Graham e o Instituto Granbery, bem como de outros profissionais envolvidos na administração dessas instituições, salvo as particularidades de cada uma.

No caso do Instituto Samuel Graham que nasce primeiro com o nome de Escola Evangélica de Jataí, essas prerrogativas são ainda mais observadas. A escola foi oficialmente criada a partir do trabalho do missionário norte-americano e pastor da congregação presbiteriana em Jataí, Robert Eugene Lodwick. Nascido em 1914, em Indiana, Estados Unidos, Lodwick se formou em Teologia e obteve os graus de mestre e doutor na área, sendo ordenado pela Igreja Presbiteriana Unida de Chicago. Em 1940, o missionário chegou ao Brasil com sua esposa, Irene Alderton Lodwick, e no período de 1941 a 1950 deu assistência religiosa na região Sudoeste de Goiás, em particular, nos municípios de Rio Verde, Jataí, Mineiros e Mateira, que resultou na organização da primeira Igreja Presbiteriana de Rio Verde e na organização da primeira Igreja Presbiteriana de Jataí, onde também atuou diretamente na construção da Escola Evangélica, que ainda sob sua diligência foi legalmente oficializada em 1942 (BIOGRAFIA ROBERT LODWICK, s/d). Logo depois, Lodwick deu início ao projeto de construção do prédio próprio e ampliação da escola, solicitando a visita da diretoria da Missão Presbiteriana do Brasil Central à Jataí e envidando esforços junto a esta para a realização da obra.

Em função de sua liderança religiosa em Jataí e, sobretudo, de sua atuação na construção da escola, Lodwick ocupa junto com Samuel Graham o papel de protagonista do IPSG. Esse lugar de destaque se materializou na confecção de um grande quadro de vidro que foi fixado na recepção do instituto, conforme a imagem a seguir.

160 Figura 20: Quadro do IPSG - Reverendo Robert Eugene Lodwick (2019)

Foto tirada pela autora (2019). Instituto Presbiteriano Samuel Graham (Jataí – GO).

Além da imagem do reverendo Lodwick, o quadro apresenta um esboço de sua biografia (destacada ao lado), de forma a reverenciar sua história e promovê-la como um exemplo de cristão e cidadão a ser seguido. Nesse sentido, é apresentada sua vida familiar, esposa, geração de filhos, netos e bisnetos e sua atuação religiosa. Características como disciplina, estudo, fidelidade a Deus e ao serviço social e suas virtudes morais são destacadas, apontando que ele “era um homem que amava a Deus e sua família”, servo fiel de Jesus Cristo, logo, um exemplo a ser perseguido pela comunidade escolar, o que aponta para a representação criada em torno desses sujeitos, missionários educadores e para a própria circulação desses sujeitos “entre práticas e representações”, constituindo modos de ser e estar no mundo (BARROS, 2011, p. 46). Não por acaso, o referido quadro, que é um importante marco da memória e se encontra num lugar central, estratégico do instituto, contribui, ainda que indiretamente, promovendo muito dos valores e ideais que forjaram a instituição.

Após os primeiros anos de funcionamento da Escola Evangélica de Jataí, uma comissão da Missão Presbiteriana do Brasil Central depois de visitar a instituição, atendendo à solicitação de Lodwick, decidiu-se pela sua ampliação com a criação do curso normal regional e a construção de um prédio próprio para a escola. A opção em criar o curso normal estava associada ao ideal missionário, visto na primeira seção, e ao ideal formativo da própria instituição, pois era um curso com maior potencial multiplicador, que promoveria a formação

161 de profissionais, ali mesmo, que pudessem vir a atuar depois na formação dos alunos, dos cidadãos que ali ingressassem e no trabalho missionário.

Nesse momento, Lodwick e sua esposa, acometidos por problemas de saúde, resolveram deixar o trabalho em Jataí e voltar aos Estados Unidos. Nos documentos analisados não foi possível encontrar maiores informações sobre sua saída. Contudo, causa estranhamento o fato de Lodwick ter desistido do trabalho em Jataí quando este se encontrava em ascensão. Conforme a biografia presente em seu quadro, pouco tempo depois, entre 1950 e 1960, Lodwick assumiu a direção do Instituto José Manoel da Conceição, em Jandira, SP e em seguida, no período de 1960 a 1970, foi secretário executivo da Missão Presbiteriana Central da Igreja dos Estados Unidos. A despeito desse questionamento e da dificuldade em respondê-lo, é possível que o fato de Lodwick ter deixado o trabalho em Jataí, seja resultado de um próprio reordenamento da Missão, visto que ele continuou a integrá-la. Pode, assim, tratar-se de uma estratégia da Missão como também acontecia no seio da Igreja Católica e suas ordens que eram deslocadas de seus locais de trabalho de tempo em tempo, de forma a contribuir para a renovação do trabalho. Pode ser ainda que tais práticas estivessem associadas a motivações particulares, como problemas de saúde e desgastes desses religiosos junto à comunidade que trabalhavam, embora não pareça ser o caso de Lodwick dado o reconhecimento que desfrutava na instituição. Segundo apontado no diário do Rev. Floyd Grady, a saída de Lodwick se deu em razão de seu interesse e de sua família de se dedicarem mais ao evangelismo (GRADY; LODWICK, 2015), o que, por certo, estava relacionado a sua formação pastoral.

Com a saída de Lodwick, o segundo nome a se destacar na história do IPSG e a ocupar sua direção foi o do missionário norte-americano, Samuel Irvine Graham. Assim, como não foi possível elucidar as motivações da saída do missionário Lodwick, também não o foi em relação à nomeação de Samuel Graham para assumir seu lugar. Partindo da premissa de um reordenamento da Missão, é possível que a nomeação de Graham tenha levado em consideração sua experiência e de sua esposa, a missionária Ruth Graham, para assumir a direção do campo educacional, uma vez que os mesmos tinham trabalhado em algumas escolas protestantes no Brasil e se encontravam trabalhando no Instituto Ponte Nova96, na Bahia, que se constituiu numa das referências da educação presbiteriana no país e onde Samuel já tinha ocupado a

96

De acordo com Nascimento (2007), instalado em 1906, o Instituto Ponte Nova se dedicou a formar professores e pastores na Bahia, preparando mão-de-obra para os demais campos missionários. “No período de 1871 a 1971, a Junta de Missões Estrangeiras da Igreja Presbiteriana do Norte dos Estados Unidos, sediada em Nova Iorque, enviou missionários e missionárias para a Bahia” (NASCIMENTO, 2007, p. 30). No geral, esses missionários eram formados em importantes universidades dos Estados Unidos e/ou seminários teológicos. Samuel e Ruth Graham estavam entre esses muitos missionários enviados pela Junta de Missões.

162 direção. Ademais, sua designação e atuação em Jataí atendiam à própria ideia de “missão”, ao seu dever missionário de cumprir com o trabalho que lhe fosse proposto e confiado.

Diferentemente de Lodwick que exerceu primeiro o trabalho pastoral na região e o conciliou depois com o trabalho na escola, o casal Graham veio para o Brasil como missionários educadores e foi, posteriormente, escolhido pela Missão para atuar na administração da escola presbiteriana em Jataí, sinalizando um processo de reorganização e especialização do trabalho missionário, bem como a importância dada ao trabalho iniciado em Jataí.

Nascido em 1893, o americano Samuel Irvine Graham era engenheiro agrônomo e chegou ao Brasil em 1921 para dar suporte ao desenvolvimento da escola-fazenda no Instituto Ponte Nova, no município de Wagner-BA, sendo o primeiro engenheiro agrônomo da missão. De acordo com o levantamento feito por Nascimento (2005a; 2007; 2008a) sobre o Instituto Ponte Nova e a Missão Central do Brasil, Samuel Graham atuou no departamento de agricultura do Instituto Ponte Nova e exerceu a direção desse instituto por dois períodos, entre 1925 e 1927 e entre 1933 e 1936. Nesse intervalo, entre 1929 e 1930, ele atuou no Ginásio Americano de Salvador. Em 1925, ele foi ainda Superintendente das escolas paroquiais da Missão Central do Brasil, cargo que “decidia e determinava o local de abertura e nomeava suas professoras- dirigentes e por quanto tempo permaneceriam. Cabia a ele fiscalizar todas as escolas paroquiais da Missão durante o período letivo” (NASCIMENTO, 2005a, p. 194).

Destarte, é possível inferir que Graham desfrutava de prestígio e autoridade dentro da Missão, de modo que sua designação para o trabalho em Jataí apontava para a importância concebida a ele, sendo um elemento do progresso e sucesso que pretendiam alcançar ali. Pode ser que a formação profissional de Samuel estivesse também relacionada a essa nomeação, haja visto a vocação agrícola de Jataí e do próprio estado de Goiás, de maneira que, em sua formação e experiência, o missionário poderia contribuir com trabalhos nessa direção.

Com uma trajetória semelhante à de Samuel, Ruth Wyant Graham veio para o Brasil junto com o marido, iniciando seus trabalhos no país em 1923 no Instituto Ponte Nova, onde ficou até 1928, retornando em 1931. Entre 1929 e 1930, Ruth trabalhou no Ginásio Americano de Salvador (NASCIMENTO, 2005a). Ao assumir com Samuel Graham a administração do trabalho em Jataí, Ruth exerceu vários cargos na instituição, tais como, diretora do ensino primário, diretora do internato feminino, diretora escolar e, principalmente, professora. O casal Graham foi em comitiva para Goiás em dois jipes e trailers carregados, sendo um dirigido por Samuel e o outro pelo missionário Floyd Grady (GRADY; LODWICK, 2015).Samuel e Ruth Graham trabalharam na organização da escola em Jataí entre 1948 e 1952 e conquistaram o

163 respeito e simpatia de muitas pessoas da sociedade, utilizando-se da educação escolar como meio de propagação do protestantismo no município (DIAS, 2016).

Figura 21: Samuel Irvine Graham e Ruth Graham (s/d)

Fonte: Arquivo do Instituto Presbiteriano Samuel Graham (Jataí – GO).

De acordo com o histórico da instituição (s/d), além de cuidar dos processos legais para a instalação do instituto e de novos cursos, Samuel planejou seus primeiros prédios e angariou pessoalmente fundos para este. Com o acidente aéreo que o vitimou em 1952, Ruth assumiu a direção da escola e deu continuidade ao projeto de ampliação de seu espaço físico e da oferta de cursos, sendo a única mulher a assumir a diretoria da instituição no período em estudo.

Conforme histórico institucional, Ruth continuou o trabalho “inspirada no sublime ideal de servir” (O I.S.G. ONTEM E HOJE, 1989). A atitude e o desprendimento de Ruth em assumir o trabalho com a morte do marido é um indicativo de sua psique missionária e da representação religiosa criada; a crença na ideia que tinha uma “missão”, um trabalho importante a ser cumprido, permitiu que ela, assim como inúmeros missionários de vários credos religiosos, enfrentasse as mais desafiadoras situações para atender ao que considerava um chamado divino. Assim, Ruth permaneceu por muitos anos trabalhando na instituição, distante de sua família e de seu país de origem.

Em função de seu falecimento de forma trágica, interrompendo seu trabalho na instituição, o nome de Samuel Graham logo foi dado à escola. Assim, a então Escola Evangélica de Jataí passou a se chamar Instituto Samuel Graham e depois, Instituto Presbiteriano Samuel Graham (INSTITUTO SAMUEL GRAHAM - BREVE HISTÓRICO, 2001). O fato de terem dado o seu nome ao instituto que vigora com o mesmo há mais de sessenta anos, por si só, já é

164 um elemento que perpetua o nome de Samuel Graham na instituição e na comunidade na qual está inserida, ao passo que também confere uma identidade à referida instituição e à pessoa de Graham enquanto patrimônio cultural. Em uma publicação intitulada “Homenagem póstuma” (s/d), Samuel Graham foi apresentado como exemplo de caráter leal e sincero, de honradez e altruísmo, que realizou um trabalho honesto e “uma campanha sistemática em benefício da educação”. Ou seja, tratava-se mais uma vez de reforçar os valores perseguidos pela instituição via a representação criada em torno de seus sujeitos, de sua liderança e da fé que professavam. Na direção de resguardar e incitar essa memória em torno da pessoa de Graham, o instituto também exibe um quadro com sua fotografia, que se encontra fixado na sala da direção. Além de dar nome à instituição escolar e do quadro nela fixado, que são ainda elementos da cultura escolar ali desenvolvida, dos valores que fundamentam a instituição, o nome de Samuel Graham foi dado a uma rua e a um setor na cidade de Jataí e a uma rua na cidade de Wagner, na Bahia, onde atuou primeiro, o que sinaliza a influência do trabalho que desenvolveu no campo educacional para essas cidades, bem como as relações entre o campo educacional, religioso, político e social que criaram as condições para que tais homenagens pudessem ser realizadas, cumprindo os trâmites necessários nesse caso e, assim, expressando o processo de criação de uma dada memória, que passa não apenas pelo crivo político, mas também pelos grupos, pela comunidade, através de práticas cotidianas.

Ademais, o uso desses elementos de memória que fazem referência aos sujeitos Robert Lodwick e Samuel Graham, tanto no espaço da instituição escolar como da cidade, marca ainda os esquecimentos produzidos, o caráter seletivo da memória, como defende Maurice Halbwachs (1990), e os marcos de uma história tradicional que prioriza os feitos das pessoas que ocuparam cargos importantes, criando uma memória coletiva que é partilhada pela maioria das pessoas. Nesse sentido, os nomes considerados comuns que fizeram também a história do instituto foram marginalizados, assim como o foram o nome de Donald Schroeder, que iniciou o trabalho educacional na cidade por meio da construção de uma biblioteca e de uma pequena escola nas dependências da igreja; de Loide Emrich, que foi a primeira professora da escola e foi responsabilizada por ela no certificado de registro da escola; e da própria Ruth Graham, que assumiu a direção do instituto após a morte de seu esposo e deu início, inclusive, ao internato feminino ali. O caso dessas e outras tantas mais educadoras que não foram reverenciadas aponta ainda para uma distinção de gênero, para um maior reconhecimento do trabalho masculino, que se observou, sobretudo, na administração do instituto e para uma distinção profissional, negando outras classes de trabalhadores.

165 Conforme o quadro a seguir, entre 1942 e 1965, o IPSG contou apenas com uma diretora, a saber, Ruth Graham que, como visto, assumiu a direção após a morte de seu esposo, portanto, de forma não planejada, para atender a uma emergência do momento.

Quadro 04: Diretores do Instituto Samuel Graham (1942-1965)

Período Diretores

1942-1947 Robert Lodwick

1948-1952 Samuel Irvine Graham

1952-1954 Ruth Graham

1955-1956 Reverendo George Glass

1957-1962 Reverendo James Watson Buyers 1963-1965 Reverendo Eliézer Tavares de Jesus

Quadro elaborado pela autora. Fonte: DIAS (2016, p. 128).

A direção do instituto foi ocupada, na maioria absoluta do tempo, por homens, a saber, pastores e/ou missionários norte-americanos, que por fazerem parte da missão, possivelmente, possuíam formação superior e/ou experiência no trabalho educacional, o que corrobora o estudo de Ramalho (1976) de que os educadores norte-americanos ocuparam, inicialmente, os postos-chave nas escolas a fim de promover o ideal educacional norte- americano e protestante e cuidar da formação dos professores locais nessa perspectiva.

Conforme atesta Vilas Bôas (2001), a capacitação pedagógica e religiosa era uma exigência da Junta de Nova York. Muitos dos diretores apresentados ficaram por um curto período de tempo no cargo, em média, três anos, o que de certa forma indica uma descontinuidade no trabalho empreendido por cada gestor, embora não tenha sido possível identificar as causas que motivaram a nomeação e a saída de cada um, bem como o fato de não terem nomeado nenhuma mulher para o cargo, com exceção de Ruth Graham, o que certamente estava associado a uma postura conservadora da igreja e da sociedade, sendo que mesmo nos organismos públicos de educação, os cargos mais altos de direção foram ocupados por homens, embora, na época, as mulheres começassem a ocupar também cargos de direção nas escolas públicas e algumas mulheres tivessem ocupado a direção de escolas presbiterianas e se destacado no trabalho educacional, pedagógico dessas instituições.

De acordo com o Regimento Interno (1963), “a administração geral do estabelecimento está a cargo do diretor, que presidirá tôdas as atividades escolares e gerais do estabelecimento”. Para tanto, o diretor deveria “ser professor qualificado e portador de registro do Ministério da Educação e Cultura” e, sobretudo, ser escolhido pelo Conselho Deliberativo do IPSG, órgão, como visto, formado pelo pastor e presbíteros da Igreja Presbiteriana de Jataí,

166 o que aponta para o caráter indicativo do cargo e regulador deste Conselho que, possivelmente, embora não mencione, considerava também a vivência religiosa na escolha do diretor escolar, sendo esta quase como uma extensão da atividade pastoral, o que estava associado à ideia de educação enquanto missão e seguia na esteira da lógica católica na criação de escolas.

Além do diretor geral do instituto, em sua organização administrativa o IPSG contou, por vezes, com o cargo de diretor de curso, diretor dos internatos, inspetor, deão e capelão. O capelão geralmente era um missionário e/ou reverendo da Igreja Presbiteriana. Apesar de as mulheres não terem ocupado a direção geral do instituto, muitas professoras ocuparam as diretorias de cursos, sobretudo, do curso primário e normal e a direção do internato feminino. Algumas destas fizeram ainda parte da diretoria do instituto, como Ambrosina Franco de Lima, Margaret Pittman, Noheme Alves de Faria, Ignez de Azevedo Pugslei, Josefina Iná de Oliveira Siqueira e Ruth de Albuquerque Tavares. A presença de mulheres em tais cargos guarda ainda relação com a educação pública, de forma que essa postura conservadora da escola representa, outrossim, a postura da época, de uma sociedade extremamente machista.