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A criação da Organização das Nações Unidas e os Tratados Internacionais

4 A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

4.2 A BUSCA PELA REALIZAÇÃO DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA

4.2.1 A criação da Organização das Nações Unidas e os Tratados Internacionais

Com os conflitos internacionais, países se agruparam no sentido de tomar medidas necessárias para coibir os abusos praticados no planeta que cercearam a vida dentro dos parâmetros morais.

Desta forma, com o findar da Guerra Fria, foi criada a Organização das Nações Unidas – ONU, dando continuidade aos trabalhos empregados pelo Conselho Nacional das Nações Unidas. O objetivo maior sempre foi o de manter a

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CHOHFI, Thiago e MENDES, Maristela Piconi. A Segunda Dimensão da Dignidade Humana no

Direito Laboral. São Paulo: Caderno de Direito UNIMEP, 2001, p. 13.

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MORAES, Maria Celina Bodin de. Danos à Pessoa Humana: Uma Leitura Civil-Constitucional dos

paz mundial e para tanto, o combate às atrocidades e guerras sempre foi um dos maiores focos dessa Organização.

Nesse sentido, diversas missões foram executadas pela ONU com o intuito de buscar manter o equilíbrio internacional, de forma que, segundo Faganello112, com o fim da Guerra Fria as peacekeeping operations passaram a ser empregadas com maior frequência na missão consagrada à Organização das Nações Unidas (ONU), de manter a paz e a segurança internacional. Foram 35 operações desdobradas durante a década de 1990.

Foi com a Carta das Nações Unidas que em 1945 a Comunidade das Nações Unidas estabeleceu matérias relativas à segurança nacional e a busca pela proteção dos direitos humanos, preservando assim a integridade moral dos indivíduos em um contexto de guerras em que pessoas eram enviadas para campos de concentração e executadas em massa.

Na visão de Faganello113, diante das violações aos direitos humanos de forma massiva efetivadas contra a nação “não eleita” do povo alemão, através de práticas de torturas, prisões arbitrárias, assassinatos em massa e o envio de milhares de pessoas para campos de concentração, tais direitos mostraram-se frágeis.

Foi então que, ao final da segunda guerra, em 1945, que a comunidade internacional foi brindada com a edição da Carta das Nações Unidas que, além de dispor sobre matéria de segurança internacional, estabelecia como um dos propósitos da “família das nações” que se formava a proteção e a promoção dos direitos humanos.

Os direitos voltados para dignidade humana passaram a serem tidos como fundamentos da paz almejada pela ONU, assim, quando aprovada a Declaração das Nações Unidas em 1948, os direitos humanos passaram a ter valor focal nas missões da ONU na busca pela paz.

Segundo Faganello114, quando da aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos pela Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU), os direitos

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FAGNELLO, Priscila Liane Fett. Operação de Manutenção da Paz da ONU: De que forma os

Direitos Humanos revolucionaram a principal ferramenta internacional da paz. Brasília: FUNAG, 2013,

p. 17.

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Ibid., p. 24.

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humanos serviram de propósito norteador da Organização das Nações Unidas (ONU) e passaram a ser reconhecidos como o fundamento da paz, conforme dispõe seu preâmbulo.

Diante do exposto, observa-se também a questão da receptividade dos Tratados que são firmados entre outras nações e o Brasil, se os mesmos possuem o status de norma constitucional suprimindo as demais leis ordinárias brasileiras ou se encaixam no mesmo patamar das mesmas.

Preliminarmente, cabe deixar claro que a Carta Magna Brasileira é a lei suprema do país e uma norma ou tratado internacional não pode fazer frente a este diploma legal, assim, um tratado ou convenção jamais terá o mesmo status da Constituição Federal de 1988.

Vale ressaltar que os tratados internacionais que tiverem como objeto direitos humanos, terão um status superior às normas infraconstitucionais, paralisando-as quando for o caso.

Contudo, no julgamento do RE nº 466.343, o STF decidiu que os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos, que não incorporados na forma do § 3º, art. 5º/CF, têm natureza de normas supralegais, determinando a eficácia paralisante de toda legislação infraconstitucional contrária.

Todavia, se os referidos tratados, que abordam direitos humanos, ingressarem no Brasil obedecendo aos trâmites exigidos na Constituição Federal vigente, estes adentrarão ao ordenamento jurídico pátrio com status de normativo constitucional, conforme deixa claro Almeida Júnior e Perlatti115.

Esse é também o entendimento de Soares116, uma vez que os citados tratados quando obedecem os trâmites constitucionais, por tratarem de questões relevantes direcionadas à dignidade da pessoa humana, adentram ao ordenamento jurídico com o status de emendas constitucionais, vez que a referida dignidade serve

115 “Em conformidade com todo exposto, forçoso é reconhecer que a Carta Magna de 1988 incluiu,

dentre os direitos constitucionalmente protegidos, aqueles enunciados nos tratados internacionais de que o Brasil seja parte. As regras internacionais definidoras de direitos humanos, previstas em tratados ratificados pelo Brasil, ingressam em nosso ordenamento jurídico com status de norma constitucional.” Para um maior entendimento verificar em PERLATTI, João Eduardo Franco. O conflito

entre o direito interno brasileiro e os tratados internacionais de direitos humanos. São Paulo:

Paradigma Ciências Jurídicas, 2001. p. 44.

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SOARES, Ricardo Maurício Freire. Elementos da Teoria Geral do Direito. 1ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p.252.

de parâmetro para intelecção dos referidos direitos que, aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por 3/5 dos votos dos respectivos membros, serão considerados hierarquicamente equivalentes às emendas constitucionais.

Do ponto de vista de Oliveira, em termos de classificação, os tratados podem ser interpretados como tratados-lei e tratados-contratos, o que facilita os critérios interpretativos aplicados a um e a outro caso117.

No primeiro caso os Estados membros vinculam-se com os entes internacionais de maneira uniforme e duradoura, exigindo uniformidade de interpretação através de um critério objetivo interpretativo.

Já quanto aos tratados contratos, estes exigem uma interpretação subjetiva onde é ponderada a vontade das partes que participam do processo interpretativo do mesmo, é o entendimento de Oliveira118.

Por fim, é de competência do Presidente da República assinar ou ratificar os tratados internacionais, todavia, essa aprovação pode ser rejeitada pelo Congresso Nacional, conforme deixa claro Gabsch119.

Diante do exposto, observa-se o esforço para se buscar aplacar os conflitos internacionais com a criação de Organizações voltadas para esse fim, bem como a receptividade dos tratados internacionais pelo Brasil, inclusive a elevação dos mesmos ao nível de Emenda Constitucional quando versam acerca de direitos humanos.