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4 A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

4.1 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS E PRESERVAÇÃO DA DIGNIDADE

4.1.3 O papel do Estado na garantia de uma vida digna

O direito busca garantir às pessoas o convívio em sociedade de forma pacífica dando às mesmas garantias para essa existência ordenada. Na execução do mesmo, o Estado atua como promotor dessas garantias e seguranças à população, exercitando o direito de forma soberana editando normas que venham a atender às aspirações sociais.

Nesse sentido, Mello103 enfatiza que o direito reflete a soberania estatal, esta que serve como um instrumento de gestão da sociedade que almeja segurança e garantias e, com base na soberania estatal, é posto um conjunto de normas jurídicas que regulam a efetivação dos direitos e garantias.

Todavia, a sociedade é multável com o passar do tempo, uma vez que, com a evolução histórica, novos acontecimentos e situações surgem com a urgente necessidade de disciplinamento legal para regular determinadas situações, assim, o direito busca adaptações às novas situações mirando-as à luz dos princípios que são fruto das experiências já vivenciadas e que podem ser tomadas como moldes para criação de novos direitos.

100

SCHEREIBER, Anderson. Direitos da Personalidade. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2013, p. 90.

101

MORAES, Maria Celina Bodin de. Danos à Pessoa Humana: Uma Leitura Civil-Constitucional dos

Danos Morais. 1ª ed. Rio de Janeiro: Editora Renovar, 2003.p. 133.

102 “O dano moral tem como causa a injusta violação a uma situação jurídica subjetiva

extrapatrimonial, protegida pelo ordenamento jurídico através da cláusula geral de tutela da personalidade que foi instituída e tem sua fonte na Constituição Federal, em particular e diretamente decorrente do princípio da dignidade da pessoa humana (também identificado como princípio geral de respeito à dignidade humana)”. Para maior aprofundamento verificar em MORAES, Maria Celina Bodin de. Danos à Pessoa Humana: Uma Leitura Civil-Constitucional dos Danos Morais. 1ª ed. Rio de Janeiro: Editora Renovar, 2003.p. 133.

103

MELLO, Celso Antônio Bandeira de. O conteúdo jurídico do princípio da igualdade. 3ª Ed. São Paulo: Editora Malheiros, 2011, p. 80.

Segundo Mello104 as novas necessidades relacionadas com avanços tecnológicos, realidades econômicas, dentre outras, impulsionam e intensificam a cada dia um novo processo legislativo. A partir de então, dar-se início a uma produção contínua de disposições normativas que resulta numa dispersão da legislação.

De acordo com Passos105, a vida humana ao longo do tempo sofre alterações em função do dinamismo fruto da evolução. Face o exposto, o Brasil sofreu ao logo de muitos anos processos que vieram a fortalecer a criação de um princípio norteador e protetor do indivíduo que é o princípio da dignidade da pessoa humana.

Para se chegar a esse ponto, o povo brasileiro sofreu drásticas retaliações e tratamentos desumanos no período de ditadura militar e, segundo Nader106, representaram o conceito de arbitrariedade, que pode ser praticada com base em uma ação, ou seja, quando o Estado (por exemplo) vai além de suas competências, ou mesmo por omissão, quando um órgão da administração pública deixa de fazer uma um ato para o qual é competente.

Na busca pelo equilíbrio das relações sociais, o disciplinamento jurídico deve visualizar o ser humano em dois focos, primeiramente contemplando os direitos individuais da pessoa, nas suas esferas patrimonial e também extra patrimonial.

Posteriormente, é necessário inserir esse mesmo indivíduo dentro de um contexto social e vislumbrar o direito da coletividade. Do ponto de vista de Nader107 o objetivo a ser alcançado pelo Estado, na busca pelo alcance dos interesses da sociedade, inspira-se em filosofias distintas com posições bem definidas onde na primeira tem-se o indivíduo em primeiro plano e a segunda analisa-se a coletividade como um todo.

Com a Constituição Federal de 1988, a dignidade humana tornou-se um valor a ser perseguido pelo ordenamento jurídico pátrio, representando assim uma finalidade a ser alcançada pelo Estado em seu papel, conforme deixa claro

104

Ibid., p. 83.

105

PASSOS, José Joaquim Calmon de. Direito, Poder, Justiça e Processo. Rio e Janeiro: Forense, 2000, p.54.

106

NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. 30ª ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2008, p.138.

107

Soares108 ao afirmar que este princípio encontra-se no ápice do ordenamento jurídico e que o mesmo exprime as finalidades a serem alcançadas pelo Estado e o conjunto da sociedade civil, emanando-se por toda legislação pátria não podendo ser pensado de maneira individual, mas sim coletiva.

Desta forma, o Estado não só valoriza o indivíduo, mas sim todo o coletivo buscando atender os interesses da sociedade civil priorizando o direito coletivo ao individual, é o que pode ser observado em um Estado de Direito onde são preservados os direitos humanos.

Para efetivação de seu papel na sociedade, o Estado necessita de independência e harmonia nos três poderes, bem como que o seu papel não esteja focado simplesmente na sanção, mas também no cumprimento de obrigações, conforme enseja a população quando da eleição e seus representantes políticos.

Esse entendimento é reforçado nos dizeres de Nader109 que explica que o Estado de Direito caracteriza-se pela proteção dos direitos humanos de maneira efetiva e que para que seja alcançado esse objetivo, faz-se necessário que o Estado esteja estruturado no modelo clássico de poderes independentes e que os mesmos interajam com harmonia, além, disso, o Estado não pode ser visto simplesmente como um poder sancionador, mas sim, como um ente dotado também de obrigações, com participação do povo na administração pública, pela escolha de seus legítimos representantes.

Face o exposto, tem-se que o Estado tem obrigações a cumprir frente à população, todavia é um esforço conjunto na busca da preservação de uma vida digna para a sociedade, na qual esta tem o dever de buscar saber escolher os seus representantes que vão disciplinar as leis que regem seu país.

4.2 A BUSCA PELA REALIZAÇÃO DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA