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A CRISE EM TRÊS FRAGMENTOS Autor: Psicóloga Plantonista

Na maternidade, atendi uma mulher que carregava seu filho enquanto assistia à televisão. Ela dizia que não conseguia dormir desde que o nenê nascera. Ficava olhando para ele, preocupada com o que poderia acontecer a qualquer momento. Disse que o nenê chorava muito, não parando um segundo e, por isso, ela não descansava. Enquanto conversava conosco, seu filho estava dormindo em seu colo, sem se mexer. Ela, entretanto, não parava de mexer nele, falando conosco sem desviar o olhar de seu bebê. Cutucava sua bochecha, mexia nas mãos, nos pés, na barriga. E cada vez que ela fazia isso ele abria os olhos e se mexia. Parecia-me que era ela quem não conseguia vê-lo parado. Apontei o quanto mexia muito com a criança, e ela disse que ficava muito preocupada com ele, temendo que pudesse parar de respirar ou algo assim. Então, tentei mostrar o quanto era importante que o deixasse dormir, e, deste modo, ela poderia descansar também. Ao final do atendimento, ela disse que pretendia colocar o nenê para dormir e tentar descansar. Conversei com minha dupla de atendimento sobre o quanto aquela mulher parecia estar numa espécie de simbiose com seu bebê e, de tanta preocupação que tinha, queria ter o controle de tudo o que poderia acontecer com ele, não o deixando dormir e tampouco descansava.

Em outro dia, acompanhada de minha dupla de atendimento, atendemos outra mulher na maternidade. Foi o primeiro lugar que fomos naquele plantão. Na frente do primeiro quarto em que passamos, a encontramos debruçada sobre sua bandeja do jantar, chorando. Entramos, e lá ficamos por uma hora e meia. Perguntamos se poderíamos ajudá- la, e ela, a princípio, disse que não, depois disse que talvez sim. Perguntei o que havia acontecido e ela contou que o pai de seu filho não havia vindo ver o parto, nem tampouco visitar o filho que nascera prematuro. Contou que namorara há 11 anos com esse homem. Eles haviam se separado e ele estava casado com a mulher com quem a havia traído. Entretanto, ela sentia falta dele e eles voltaram a se ver. Certo dia pediu para que tivessem um filho e ele consentiu. Disse que sua intenção era ter com ela um pedaço dele, o filho, e com isso, não precisar mais de sua presença. Achou que ele estaria presente nos momentos

importantes para o filho e agora via que não era possível. Ele não esteve presente no nascimento e isso não teria volta. Tentei entender se o que ela queria era que, com o filho, ele se aproximasse dela. Ela respondeu que não, mas que esperava que ele pudesse ser um bom pai. Ficaria para o resto da vida se iludindo com ele, achando que estaria perto de seu filho. Tentei entender se ela ainda tinha expectativas com relação a ele que justificassem essa ilusão, mas ela disse que não. No entanto, a cada vez que o filho fosse desiludido ela sentiria tudo outra vez, voltando os sentimentos de que gostaria que ele estivesse com ela. Disse que estava provado que ela não significava nada para ele. (...) Depois de um tempo, ela começou a falar sobre o quanto era ruim para ela estar ali no hospital, porque ela sempre agia para resolver seus problemas, e que agora não tinha como controlar sua situação... sempre foi forte e não se permitia chorar. (...) Que toda essa situação tinha saído do seu controle e que isso a incomodava. Sua psicóloga já tinha dito que ela precisava estar no controle da situação senão se sentiria desamparada. Aos poucos ela parou de chorar enquanto conversava conosco. Agradeceu-nos, disse que precisava falar sobre tudo isso, porque nunca conseguia falar com ninguém. Estava segurando há muito tempo, mas, no momento em que a comida chegara, havia explodido e tinha sido bom conversar conosco. Esse atendimento foi muito interessante porque eu e minha parceira atendemos verdadeiramente em conjunto. Foi um atendimento longo em que nos alternávamos em função da dinâmica do que acontecia na relação com a paciente.

Em outro dia o hospital estava muito tranquilo e vazio. Fomos, eu e minha colega de dupla, até a última sala da clínica cirúrgica. (...) Quando passamos na frente da porta, uma senhora nos viu e acenou, dando-nos oi. Aproximamo-nos e ela começou a contar sua história: Com aproximadamente 80 anos, tem uma filha de 51 com necessidades especiais. Teve um filho que morreu há 40 anos, quando tinha 20 anos, atropelado, deixando um neto para ser criado por ela. Quando isso aconteceu, seu marido passou a tratá-la mal e a se envolver com outras mulheres, chegando a infectá-la com uma doença venérea. Ele dizia, sem pudor, que estava se envolvendo com outras mulheres. Em tudo que contava, essa senhora colocava seu esforço e persistência como características louváveis diante de cada uma das situações, dizendo que a vida dela havia sido linda. Contou que o neto que criou casou-se e teve um filho e, por isso, ela deu a sua casa para ele, morando agora na casa dos fundos com sua filha. Fica muito sozinha, sem ter com quem conversar e sem conseguir sair

de casa porque sua filha grita e se agita muito. A senhora, de tempos em tempos, parava de contar sua historia e pedia nossa opinião, dizendo: Mi haàhist ria é linda, você não acha? Pode fala ...àoà ueàvo àa ha,àpodeàdize àoà ueàest à o àeàoà ueà oàest .àDisseàissoàpo àt sà vezes e eu devolvia para ela perguntando o que ela achava, até que parei para pensar o que ela queria com aquela pergunta. Será que de fato ela queria nossa opinião sobre a história que contava? Por que ela dizia que sua história de sofrimento era linda? Por que precisava que nós concordássemos? Entendi que o que podia fazer era mostrar a maneira como eu tinha ouvido sua narrativa, refazendo o caminho que tinha feito ali na nossa frente. Apontei que sua história foi de muito sofrimento, mas também de muita persistência, fazendo com que, aos seus olhos, parecesse uma linda historia. Ela concordou, afirmando que sempre viveu pelos outros e se orgulhava disso. Considera que foi muito bom contar pra nós a sua história, porque sentia a necessidade de contá-la, mas não tinha pra quem, visto as pessoas não quererem ouvir. Chamou-nos de anjos e nos desejou uma vida linda, um casamento muito feliz e filhos cheios de saúde. Disse também para que nunca abandonássemos os velhinhos de nossas famílias. Fiquei pensando que ela nos desejou tudo aquilo que não teve, e que com a idade que tinha, precisava achar que sua vida havia sido linda depois de tanto sofrimento. Precisava se convencer e nos convencer disso. Entendi que o atendimento a ajudou a colocar sua vida numa ordem, refazer sua trajetória nesse momento em que acabara de ser operada da vesícula. Não precisava cuidar de ninguém naquele momento, então podia pensar na sua historia.

Apresenta-se a história de três mulheres em momentos importantes de suas vidas, narradas para outras mulheres, psicólogas plantonistas, que se disponibilizaram, naquele momento, para a escuta e atenção psicológica. Esta irmandade não intencional parece ter favorecido o depositar de suas dores e incertezas, como se só através de um suposto arquétipo feminino fosse possível encontrar compreensão em um contexto de desamparo.

A primeira vive a dor da separação e a impotência de controlar o destino de quem já foi sua carne. Sentindo-se mutilada e vivendo o solipsismo imposto, busca se assegurar que ambos, mãe e filho, possam manter-se por si só, agora que um tornou-se dois.

Ficava olhando para ele, preocupada com o que poderia acontecer a qualquer momento.

Apontei o quanto mexia muito com a criança, e ela disse que ficava muito preocupada com ele, temendo que pudesse parar de respirar ou algo assim. Não conseguindo v -lo parado ,à us ava,à ua do utu avaà suaà o he ha,à exiaà asà os,à osà p s,à aà a iga , que este lhe respondesse ao incômodo, confirmando sua destreza em continuar vivo. Ao mesmo tempo, vendo-o responder de pronto aos seus invasivos estímulos, perpetuava, ainda que artificialmente, uma ligação entre mãe e filho que pretendia atenuar a crise e o luto da separação.

E cada vez que ela fazia isso ele abria os olhos e se mexia.

Evidencia-se a quase intransponível dificuldade em dividir com o mundo o seu caro p oduto:à e ua toà o ve sava àe seuàfilhoàestavaàdo i doàe àseuà olo,àse àseà exe , per a e iaà se à desvia à oà olha à deà seuà e ,à como se negligenciando a existência dos outros, pudesse, de forma mágica, negar o mundo que teima em se intrometer entre ela e seu rebento. Vivendo a crise de todas as mães, se sabendo impotente frente ao destino de sua gema, assume, como modo de sustentação inútil e extenuante, a vigília, fantasiando a possibilidade de afastá-lo de todos os males de seu caminho.

[...] de tanta preocupação que tinha, queria ter o controle de tudo o que poderia acontecer com ele, não o deixando dormir e tampouco descansava. Vive a ambivalência da situação, pois embora tenha ganhado um filho, vê-se na iminência de perdê-lo para o mundo. No entanto, parecendo tentar se resignar, acolhe as intervenções das psicólogas plantonistas e se o p o eteàaà colocar o nenê para dormir e te ta àdes a sa .àTal intervenção busca promover, ainda que de forma sutil e delicada, um corte que propicia um trânsito pelo acontecimento, possibilitando, por parte da mãe, a elaboração de uma perda e, para a criança, o fundamento de sua própria história. Resgata-se o fluxo da existência, na medida em que se rompe com a plenitude e se instala a falta, condição fundante para o surgimento do desejo, favorecendo o destinar-se. Pode-se considerar que, a partir da atuação das psicólogas plantonistas, concluiu-seàoà t a alhoàdeà pa to ,à esta doà aà ia çaà i e ediavel e teà la çadaà oà u do.à Neste caso, encontra-se

asà psi logasà pla to istasà oà faze à deà u à pa a i fo à – aquele que ampara a criança ao nascer e inaugura mundo.

A segunda mulher, ainda que de modo diferente da primeira, também conhece sua crise vivendo a dor da perda e da insegurança em relação ao seu destino e ao de seu filho.

Na frente do primeiro quarto em que passamos, a encontramos debruçada sobre sua bandeja do jantar, chorando. [...] Perguntamos se poderíamos ajudá-la, e ela, a princípio, disse que não, depois disse que talvez sim. ái daàpe ple aàpeloàa o te i e to,à oàpaiàdeàseuàfilhoà oàhaviaàvi doàve àoàpa to , experimenta, naquele momento, o desespero e a impossibilidade de um futuro apaziguado. Mediante ao absoluto irremediável da situação, inicialmente deixa-se invadir pela desesperança, não acreditando ser possível nenhuma ajuda.

No entanto, a disponibilidade das psicólogas plantonistas parece abalar esta convicção, instalando pequena e frágil abertura para novas possibilidades. Ainda sem saber quais alternativas o seu futuro pode guardar, arrisca-se tentando traduzir sua dor em palavras.

Achou que ele estaria presente nos momentos importantes para o filho e agora via que não era possível. Ele não esteve presente no nascimento e isso não teria volta.

Sua narrativa vai apresentando uma pessoa que acredita que todas as possibilidades de futuro estão condicionadas à presença de outro. Deste modo, este alguém, francamente idealizado, torna-se vital, não havendo nenhuma possibilidade de continuidade histórica na sua falta. Mediante a ausência deste, a vida perde o sentido, restando apenas um comportar-se vazio de realizações. Vivendo a crise que se instala na impossibilidade de um futuro comum, acredita poder remediar o irreparável através da presença de uma criança. Desteà odo,à es oà ueà oài te io al e te,àse te iaàesteàaàse àape asà u àpedaço àde alguém, utensílio que está a serviço da sustentação existencial de uma mulher que não consegue acreditar em seus próprios recursos para continuar. O desamparo adquire proporções monumentais, como se, ao abreviar a gestação da criança e dispor de sua

presença imediata, pudesse afastar a nefasta ameaça de se ver lançada no vazio absoluto. Considerando que nada que venha do mundo é suficiente para prover, neste momento, uma possibilidade de futuro, se vale da única coisa que, vindo de dentro dela, pode dispor para promover certo amparo, mesmo que falaciosamente.

Ficaria para o resto da vida se iludindo com ele, achando que estaria perto de seu filho.

Percebendo a falência de seus métodos, visto a ausência do pai e a presença da criança que não a completa, sua crise é reatualizada e amplificada. Novamente, é invadida por uma sensação catastrófica quando constata sua real condição no mundo, vivendo, novamente, a dor da desilusão.

No entanto, é esta desilusão que pode propiciar a transcendência do acontecimento, visto que se torna vital resgatar seus próprios recursos para não desvanecer. Não podendo recusar a dívida de realização que tem consigo mesma, tenta negar o óbvio, afirmando que

oàte à expe tativasà o à elaç oàaàele à(o pai).

[...] a cada vez que o filho fosse desiludido ela sentiria tudo outra vez, voltando os sentimentos de que gostaria que ele estivesse com ela. Disse que estava provado que ela não significava nada para ele.

Contudo, na sequência de sua narrativa, já deixa transparecer o inverossímil de sua afirmação, pois acreditando ser inevitável a desilusão do filho, se vê sentenciada a reviver a própria dor da ausência em cada falta do pai. Obviamente possui expectativas, pois é condição humana expectar, porém, mediante a improvável realização, é melhor negá-las.

Certo dia pediu para que tivessem um filho e ele consentiu. Disse que sua intenção era ter com ela um pedaço dele, o filho, e com isso, não precisar mais de sua presença.

Pela perspectiva paterna, vivendo uma relação que não mais fazia sentido e ouvindo suas próprias demandas, o ex-marido parece acreditar que, cedendo aos apelos e consentindo com o pacto de dar-lhe um pedaço à deà si,à oà aisà se iaà e igidaà sua p ese ça .

[...] Depois de um tempo, ela começou a falar sobre o quanto era ruim para ela estar ali no hospital, porque ela sempre agia para resolver seus problemas, e que agora não tinha como controlar sua situação... sempre foi forte e não se permitia chorar. [...] Que toda essa situação tinha saído do seu controle e que isso a incomodava. Sua psicóloga já tinha dito que ela precisava estar no controle da situação senão se sentiria desamparada. Aos poucos ela parou de chorar enquanto conversava conosco. Agradeceu-nos, disse que precisava falar sobre tudo isso, porque nunca conseguia falar com ninguém. Estava segurando há muito tempo, mas, no momento em que a comida chegara, havia explodido e tinha sido bom conversar conosco. Já tendo cumprido a parte que lhe cabe nesta insólita negociação, sente-se descompromissado, podendo segui à o à suaà vida.à Desteà odo,à oà ueà estaà aà he oi a à pe so age àdestaà epopeia à à us a outros modos de sustentação existencial. Isto parece começar a surgir como possibilidade, ainda que remota, através do atendimento em Plantão Psicológico.

Antes de passar para a terceira história desta narrativa, cabe ainda uma reflexão a e aàdoàte ei oàpe so age àdestaà t ag dia :àoà e .àCoadjuva teàeàe lipsadoàpelaà iseà materna, vive a probabilidade de se ver lançado em um mundo onde suas possibilidades existenciais se restringem. Sendo trazido à luz com a nítida tarefa de salvar a mãe e libertar o pai, precisa, ele mesmo, como fazem os heróis das tragédias gregas, recusar o destino atribuído pelos deuses, resgatando para si a responsabilidade de sua própria existência. Tarefa hercúlea e desproporcional quando se imagina a frágil criatura que recém chegou. Precisará, no princípio, da condescendência da mãe, esta que o instalou neste indevido lugar, para poder viver a plenitude de suas possibilidades. A serenidade da mãe, mediante a imponderável abertura do futuro, poderá ser importante aliada nesta árdua tarefa. Como espaço de acolhimento e trânsito, o atendimento psicológico, em meio ao choro proibido da mãe, atua na contribuição para uma destinação mais fecunda desta mulher em crise, abrindo a possibilidade também ao choro do filho, para que a criança possa conduzir-se na vida a partir do que lhe é próprio.

A terceira mulher, embora diferente das anteriores, também vive sua crise pautada pela inexorável abertura do futuro. No entanto, não parece ser a amplidão de possibilidades que mobiliza seus atos e falas.

Mi haàhisto iaà àli da,àvo à oàa ha?àPodeàfala ...àoà ueàvo àa ha,àpodeà dizer o que está bom eàoà ueà oàest .

Com idade avançada e sabendo que lhe resta pouco futuro, assume premente disposição para recontar sua história, buscando das psicólogas plantonistas um aval para o vivido.

A ruptura da trama de sentido, ocasionada pelo acontecimento críti o,à acabara de se àope adaàdaàvesí ula ,àproporciona uma abertura para o interrogar da própria existência.

Co àap oxi ada e teà8 àa os , sabe que cedo ou tarde tem um encontro inevitável como o destino e, aproveitando o ensejo de estar em um ambiente onde as finitudes se revelam despudoradamente, sente-se compelida a valorar sua vida.

[...] tem uma filha de 51 com necessidades especiais. Teve um filho que morreu há 40 anos, quando tinha 20 anos, atropelado, deixando um neto para ser criado por ela.

Aproveita a disponibilidade das psicólogas plantonistas para realizar um ala ço à dos atos e fatos de seu longo caminho, já contado com a inegável impossibilidade de sua perenidade. Como uma boa historiógrafa, que de maneira tendenciosa vai expondo as facetas eleitas de seu personagem, negligencia a banalidade do cotidiano, apresentando-se através dos eventos críticos de sua vida, já revelando que a singularidade brota no encontro com o atípico e imponderável. Inicia sua narrativa através do que, aparentemente, considera como os eventos mais importantes de sua existência.

Quando isso aconteceu, seu marido passou a tratá-la mal e a se envolver com outras mulheres, chegando a infectá-la com uma doença venérea. Ele dizia, sem pudor, que estava se envolvendo com outras mulheres.

A vida foi paulatinamente se afastando do idílico sempre desejado. Mediante aos acontecimentos críticos, vai descrevendo as inevitáveis consequências e distorções do seu projeto de vida. Estando lançada no mundo, à mercê das circunstâncias, vai revelando o seu

modo singular de ser e estar com os outros. Neste sentido, sem técnicas pré-estabelecidas, vive à à a te ,à o a doà ueà adaàu àseà espo sa ilizeàpo à o st ui àseuàapazigua e to,à visto a certeza do desalojamento.

Se, por um lado, essa senhora colocava seu esforço e persistência como a a te ísti asà louv veisà dia teà deà adaà u aà dasà situaç es à críticas na tentativa de apaziguamento, por outro lado, diante da perda do filho, também seu marido, no intuito de apaziguar a dor e o peso de sua existência, utiliza-se de aparente agressividade e busca pelo prazer. Como afirma Walsh e McGoldrick (1988), a experiência do luto, principalmente em mortes abruptas, envolve reorganização na dinâmica familiar, que deve acontecer simultaneamente às adaptações individuais necessárias. O que pode prevalecer, nestas situações, são as dificuldades interpessoais, irritabilidade em relação à família, a responsabilização do cônjuge pela perda e falta de prazer (STROEBE; STROEBE, 1987), até certo ponto sentimentos naturais no processo de luto, que podem se ampliar mediante a inabilidade no trato com a morte. Lançado neste estado aflitivo e sem conseguir apaziguamento, altera-se o modo de ser e estar no mundo com os outros, podendo levar a atos como estes descritos pela senhora em relação a seu marido. Busca-se punir alguém, neste caso o cônjuge, pela infelicidade do destino e pelo intransponível desamparo ocasionado pela perda do ente querido. Simultaneamente, pode ocorrer uma busca inconsequente ao prazer, na inútil tentativa de amainar a dor.

Retornando à narrativa da velha senhora, ela mesma protagonista, queixou-se que fi aà uitoàsozi ha,àse àte à o à ue à o ve sa àeàse à o segui àsai àdeà asaàpo ueàsuaà filhaàg itaàeàseàagitaà uito ,àe,àtalvezàpo àisto,àte haà aptu ado ,à o sedutora destreza, as