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A IGNORÂNCIA NEM SEMPRE É ALGO RUIM Autor: Psicóloga Plantonista

Seguia tranquilamente pelos corredores, até que passei pela porta aberta de um dos quartos e avistei uma pessoa sentada. Ao entrar, fui recebida por um olhar bastante triste de uma mulher que acompanhava seu pai ao longo dos cuidados paliativos. Ele sofria de um linfoma há sete anos e já havia passado por cirurgias, porém, não havia mais o que fazer.

Logo que me apresentei, a filha começou a falar sobre a situação e fiquei em sua companhia por cerca de uma hora. Era como se ela estivesse esperando por alguém que pudesse escutá-la. Para além do simples desabafo, pude ajudá-la a perceber como estava se sentindo naquele momento.

Durante sua narrativa fui surpreendida! Era médica do hospital, embora estivesse numa outra circunstância, como que contrária à sua função no HU. Em todo seu discurso ela narrava a respeito da dificuldade de se ver no papelàdeà e oàdaàfa ília ,àaoài v sàdeà estar do outro lado, comunicando a situação real do paciente. Escutou, de seus próprios colegas de trabalho, que seu pai se encontrava numa fase terminal da vida. Sentia-se exposta no ambiente que até então lhe era seguro e familiar. Além disso, por ser uma profissional da saúde e estar habituada com este tipo de doença, ela se sentia responsável por apoiar e comunicar à família a condição do pai. Entretanto, estava frustrada, pois apesar de ter informado aos irmãos, não havia feito o mesmo com sua mãe, receosa de como esta reagiria a triste noticia.

Em decorrência da pressão que estava sentindo, ela pediu afastamento de sua função. Sendo médica cirurgiã, considerava não estar em condição de desempenhar seu papel. Contou que estava acostumada a fazer os tipos de cirurgias pelas quais o pai passou, assim como informar aos familiares a respeito, por isso estava sendo muito conflitante se ver no lado inverso da situação.

áà douto a à e o he iaà ueàes olhasàe a àfeitas ao longo da vida. Se formar foi uma g a deà o uistaà pa aà ela,à po ,à a ueleà o e to,à gosta iaà deà se à ig o a te ,à poisà estava sofrendo demais. Preferia não conhecer a doença do pai, permitindo-se assim alguma esperança. Dizia sentir falta de uma crença, de uma fé maior. Segundo ela, isso seria possível se não fosse o conhecimento adquirido ao longo da formação, que ajuda a desconstruir muitos dos valores. Ressente-se, pois ao menos poderia se confortar por meio deste recurso. Ao seu modo de ver, a religião ampara as pessoas frente à enfermidade.

Compreendendo sua situação, eu lhe disse como era nítido o quanto estavam sendo conflitantes os papéis de médica e filha naquele momento, tendo que se ver do lado oposto de uma circunstância que, até então, relacionava-se exclusivamente ao seu universo profissional. Afirmei perceber o quanto ela se sentia sozinha (neste momento, ela concordou e chorou muito), pois se considerava responsável por cuidar do pai e da família, já que seu conhecimento lhe era cobrado. Entretanto, ao mesmo tempo não tinha em que ou quem se apegar, nem na família, nem na equipe médica ou na própria fé. Nada disso lhe era suficiente. Tinha a real noção do estado de saúde de seu pai.

Ela complementou dizendo que sua formação lhe exige muito neste momento. Por ter conhecimento do que vem a ser o câncer, afirmou novamente que, nesta ocasião, preferia oàsa e .àU aàdeàsuasàfalasà eà a ouà uito:à áàig o iaà e àse p eà àalgoà ui .àNoà caso de doenças, a mesma pode confortar e permitir que as pessoas se apeguem a outros recursos como a fé e o discurso médico. Já em sua condição, não adiantava os médicos lhe dizerem que seu pai não está sofrendo, pois sempre restará a dúvida mesmo ele estando inconsciente.

Ao final do plantão, ela voltou a dizer o quanto se sente solitária. Eu lhe disse então da importância de encontrar alguém para compartilhar, da forma como lhe seja melhor, pois est à u aà o diç oà difí ilà de aisà pa aà ague ta à oà fa do à sozi ha.à Foià e t oà ueà aà douto a à pe souà e à p o u a à ova ente sua psicoterapeuta, considerando que já havia iniciado um trabalho de atendimento psicológico após saber do adoecimento do pai. Como ele havia melhorado, ela decidiu dar um tempo, mas agora percebe a necessidade de retomar o acompanhamento. Afirmei ser uma decisão importante, assim como a decisão de ter pedido afastamento de sua função.

Sai do atendimento muito abalada! Acho que seu conflito de se ver em papéis ambíguos me afetou. Compreendia o quanto estava pesado para ela e o quanto ela mesma se cobrava em relação ao próprio conhecimento médico. Ficou claro para mim que ela estava habituada com sua profissão, porém não sabia o quanto era difícil se ver na condição de familiar. Essa experiência está exigindo muito dela a ponto de ter que abrir mão, por algum tempo, de sua profissão, da qual até então estava convicta que gostava de desempenhá-la. Tudo isso tentei passar a ela de forma bem sucinta, permitindo que reconhecesse seus sentimentos, porém sem querer levá-la a maior sofrimento.

Ao final, ela me agradeceu e disse que eu tinha aparecido para ela no momento certo. Senti que ela aproveitou bastante o tempo que permaneci em sua presença e também acredito que esteja bem encaminhada, pois afirmou que iria voltar à psicoterapia, sabendo que iria auxiliá-la para enfrentar o momento que está vivenciando.

Esta narrativa não é pungente apenas por expressar a dor da espera pelo momento de perder um ente querido. O acontecimento evidencia, tanto para a acompanhante como para a psicóloga plantonista, a submissão da vida ao inevitável intransponível. Ambas, surpreendidas pelo óbvio, se mostram perplexas mediante a fria crueza do real. Todos, desde o início, sabem que a morte é uma presença silenciosa, no entanto, quando esta já não mais se submete ao silenciamento imposto, há um esfacelamento das rotinas e o escancarar obsceno da real condição do homem no mundo.

Logo que me apresentei, a filha começou a falar sobre a situação e fiquei em sua companhia por cerca de uma hora. Era como se ela estivesse esperando por alguém que pudesse escutá-la. Para além do simples desabafo, pude ajudá-la a perceber como estava se sentindo naquele momento.

Durante sua narrativa fui surpreendida! Era médica do hospital, embora estivesse numa outra circunstância, como que contrária à sua função no HU. Em todo seu discurso ela narrava a respeito da dificuldade de se ver no

papelà deà e oà daà fa ília ,à ao invés de estar do outro lado,

A médica-acompanhante, por dever de ofício, sempre conviveu com a morte de maneira asséptica. Refugiando-se em um modo técnico de coexistir com ela, conseguiu, até aquele momento, suplantar a inevitável angústia. Lançada na situação, não podendo se valer de seus métodos para aplacar a transbordante afetação, encontra, na presença da psicóloga plantonista, uma aliada para, ainda sem saber como, tentar transcender a nefasta presença.

No imaginário popular, a figura do médico vem sempre associada a atributos poderosos, quase divinos. O intuito desta idealização é tentar apaziguar o terror frente à doença e à morte. Sentindo-se ameaçado e à mercê de eventos lesivos à saúde, elege-se o médico como aquele que pode salvar vidas, negligenciando-se o fato de que ao médico cabe, quando possível, ganhar tempo, já que vida não pode ser salva por estar, desde o início, condenada. Sendo assim, o espanto da psicóloga plantonista, ao saber que sua cliente e aà di aàdoàhospital ,àparece estar associado a esta divinização do médico. Ao revelar-se di a,à u aàout aà i u st ia,à o oà ueà o t iaà àsuaàfu ç oà oàHU , corrompe-se a idealização, lançando a todos, inclusive à psicóloga plantonista, a orfandade. A narrativa demonstra a difícil transição de quem sempre foi cuidadora para se abrir a ser cuidada.

Em todo seu discurso ela narrava a respeito da dificuldade de se ver no

papelà deà e oà daà fa ília ,à aoà i v sà deà esta à doà out oà lado,à

comunicando a situação real do paciente. Escutou, de seus próprios colegas de trabalho, que seu pai se encontrava numa fase terminal da vida.

No entanto, sendo também uma profissional da saúde, a psicóloga plantonista é, muitas vezes, alvo da idealização de seus clientes no hospital. O depositar-se daquele que se encontra em crise passa, em um primeiro momento, por esta idealização. Recusando o sedutor papel, devolve-se ao cliente a responsabilidade de, na crueza de sua real condição, assumir atos, escolhas e dores. A psicóloga plantonista, estando naquele momento investida do papel de cuidadora e, quem sabe, sendo também idealizada pela médica-acompanhante, cumpre o seu lugar,à o u i a doà aà situaç oà ealà doà pa ie te e convocando-a para o próprio cuidado.

Compreendendo sua situação, eu lhe disse como era nítido o quanto estava sendo conflitantes os papéis de médica e filha naquele momento, tendo que se ver do lado oposto de uma circunstância que, até então, relacionava-se exclusivamente ao seu universo profissional. Afirmei perceber o quanto ela

se sentia sozinha (neste momento, ela concordou e chorou muito), pois se considerava responsável por cuidar do pai e da família, já que seu conhecimento lhe era cobrado. Entretanto, ao mesmo tempo não tinha em que ou quem se apegar, nem na família, nem na equipe médica ou na própria fé. Nada disso lhe era suficiente. Tinha a real noção do estado de saúde de seu pai.

Ainda pela perspectiva da psicóloga plantonista, a narrativa vai mostrando que a condição de sua cliente, como não poderia deixar de ser, lhe afetou decisivamente, abalando-a e desalojando-a. Para além da solicitude e mediante ao sofrimento do semelhante, tornavam-se próximas também pelo caráter cuidador do ofício de ambas. Deste modo, a médica-acompanhante através do seu sofrimento, vai desvelando a fragilidade daquele que cuida, promovendo o espanto assustado da psicóloga plantonista e conduzindo- a ao encontro com seus próprios limites: rompe-se a idealização do papel de cuidador.

Sai do atendimento muito abalada! Acho que seu conflito de se ver em papéis ambíguos me afetou. Compreendia o quanto estava pesado para ela e o quanto ela mesma se cobrava em relação ao próprio conhecimento médico.

Não podendo se valer da tecnicidade como meio de apaziguar seus afetos, resta-lhe acolhê-los e, partindo deles, exercitar seu ofício. Deste modo evidencia-se que ao psicólogo plantonista não cabe medrar na angústia, devendo fazer dela e, portanto, da própria condição humana, o meio através do qual pode compreender o outro em seu sofrimento, ajudando-o, dentro dos limites de ambos, a resgatar o seu próprio sentido. Diferente do médico, que se vale de uma técnica na sua práxis, o psicólogo plantonista se vale dele próprio como meio através do qual pode encaminhar sua tarefa de ofício.

Ficou claro para mim que ela estava habituada com sua profissão, porém não sabia o quanto era difícil se ver na condição de familiar. Sentia-se exposta no ambiente que até então lhe era seguro e familiar.

áà douto a à e o he iaà ueà es olhasà eram feitas ao longo da vida. Se formar foi uma grande conquista para ela, porém, naquele momento,

gosta iaà deà se à ig o a te ,à poisà estavaà sof e doà de ais.à P efe iaà

A médica-acompanhante vai se desnudando com singular clareza ao desdobrar sua crise. Mediante u àa o te i e toài po de vel,àoàadoe e àdoàpaiàeàoàfi alà t gi o à ueàseà anuncia, vive o desamparo imposto pela nova condição de e oà daà fa ília .à Estando neste novo lugar, o hospital, outrora familiar e acolhedor, se mostra estranho e inóspito.

O conhecimento, socialmente valorizado e atributo que a diferencia do senso comum, torna-se um fa do àdifícil de ser suportado, pois de nada lhe servia para apaziguar o momento. Ao contrário, saber dos detalhes do processo de adoecer e falecer amplia a sua aflição e a sensação de impotência, principalmente por considerar ser sua função o esteio da família.

A decepção com o conhecimento, que não lhe proporciona sustentação existencial, gera certo rancor. Além de não oferecer acolhimento, tolhe as possibilidades de se valer de outros recursos. Desvela-se o completo desamparo e a falta de sentido em que se encontra a médica-acompanhante.

Dizia sentir falta de uma crença, de uma fé maior. Segundo ela, isso seria possível se não fosse o conhecimento adquirido ao longo da formação, que ajuda a desconstruir muitos dos valores. Ressente-se, pois ao menos poderia se confortar por meio deste recurso. Ao seu modo de ver, a religião ampara as pessoas frente à enfermidade.

Outrora grande aliado, o conhecimento se torna, nesta circunstância, seu pior algoz.

Em decorrência da pressão que estava sentindo, ela pediu afastamento de sua função. Sendo médica cirurgiã, considerava não estar em condição de desempenhar seu papel. Contou que estava acostumada a fazer os tipos de cirurgias pelas quais o pai passou, assim como informar os familiares a respeito, por isso estava sendo muito conflitante se ver no lado inverso da situação.

Sentindo-se sem instrumentos e vivendo a precariedade da situação, não se considera apta a exercer seu ofício. Seu paciente, objeto de sua destreza técnica, adquire humanidade mediante a inegável proximidade com o pai. Sentindo-se diminuída frente à potência do destino e intimidade por reconhecer humano o seu objeto de trabalho, recolhe-

se para viver seus lutos: o iminente falecimento do pai e a perda de sua frágil e falaciosa onipotência.

Ela complementou dizendo que sua formação lhe exige muito neste momento. Por ter conhecimento do que vem a ser o câncer, afirmou novamente que, nesta ocasião, preferia não saber. Uma de suas falas me

a ouà uito:à áàig o iaà e àse p eà àalgoà ui .àNoà asoàdeàdoenças,

a mesma pode confortar e permitir que as pessoas se apeguem a outros recursos como a fé e o discurso médico. Já em sua condição, não adiantava os médicos lhe dizerem que seu pai não está sofrendo, pois sempre restará a dúvida mesmo ele estando inconsciente.

Sua disposição pessimista em relação ao conhecimento se reflete na maneira em que tenta, inutilmente, salvaguardar seus familiares. Sentindo-se espo s velà po à apoia à eà o u i a à à fa íliaà aà o diç oà doà pai , desconfia das benesses do conhecimento, amplamente propaladas no meio científico e hospitalar, e tenta resguardar sua mãe, mantendo-a ingênua em relação ao verdadeiro teor dos fatos. Afinal, aà ig o iaà e à se p eà àalgoà ui .

Compreendendo sua situação, eu lhe disse como era nítido o quanto estavam sendo conflitantes os papéis de médica e filha naquele momento, tendo que se ver do lado oposto de uma circunstância que, até então, relacionava-se exclusivamente ao seu universo profissional. Afirmei perceber o quanto ela se sentia sozinha (neste momento, ela concordou e chorou muito), pois se considerava responsável por cuidar do pai e da família, já que seu conhecimento lhe era cobrado. Entretanto, ao mesmo tempo não tinha em que ou quem se apegar, nem na família, nem na equipe médica ou na própria fé. Nada disso lhe era suficiente. Tinha a real noção do estado de saúde de seu pai.

Percebe-se como a plantonista acompanha a médica, que vive sua orfandade em vários níveis. O mais óbvio e concreto refere-se à morte do pai. Evidentemente ligada a ele, acompanhando-oà aoàlo goàdosà uidadosàpaliativos , sente que parte de si se vai com a sua ausência. Estar de frente desta perda inevitável conduz a médica-acompanhante a sucessivas outras perdas, que culminam em uma sensação de vazio e desesperança. Com

rotina interrompida, seus instrumentos para sustentação existencial se dissiparam frente ao abrupto da situação: o conhecimento nada lhe valeu mediante suas necessidades emergentes; considera-se faltosa na tarefa de apaziguar a dor familiar, afastou-se de sua p ofiss oà e àde o iaàdaàp ess oà ueàestavaàse ti do ,àe passou a questionar valores profundamente entranhados. Enfim, a circunstância promoveu um dilaceramento que a lançou em um vazio paralisante, sendo que não mais se reconhecia como aquela que sempre foi.

[...] disse que eu tinha aparecido para ela no momento certo. Senti que ela aproveitou bastante o tempo que permaneci em sua presença e também acredito que esteja bem encaminhada, pois afirmou que iria voltar à psicoterapia, sabendo que iria auxiliá-la para enfrentar o momento que está vivenciando.

Seu curso de vida se rompeu, lançando-a para fora do tempo e instalando a solidão: elaàvoltouàaàdize àoà ua toàseàse teàsolit ia . Deste modo, se faz necessário a cerzidura desta malha existencial, para que possa ser possível o resgate do fluxo de sua própria história. Não se espera retornar ao que era antes, pois a vida deixa marcas indeléveis, mas à possibilidade de abertura para o novo.

Eu lhe disse então da importância de encontrar alguém para compartilhar, da forma como lhe seja melhor, pois está numa condição difícil demais para ague ta àoà fa do àsozi ha.àFoiàe t oà ueàaà douto a àpe souàe àp o u a à novamente sua psicoterapeuta, considerando que já havia iniciado um trabalho de atendimento psicológico após saber do adoecimento do pai. Como ele havia melhorado, ela decidiu dar um tempo, mas agora percebe a necessidade de retomar ao acompanhamento. Afirmei ser uma decisão importante, assim como a decisão de ter pedido afastamento de sua função.

A presença da psicóloga plantonista rompe com a solidão, lembrando a médica- acompanhante que, estando no mundo com os outros, pode contar com o semelhante para ir adiante. O atendimento promove o resgate da referência de sua psicoterapeuta, que em outros momentos difíceis soube acolher e proporcionar o trânsito. Evidencia-se um movimento para o surgimento de novos sentidos. O vazio já não é mais absoluto. Neste

sentido, o Plantão Psicológico, através da relação de solicitude construída, convoca ao movimento, trazendo a expectativa de futuro.

A relação direta entre a procura pela psicoterapia e o adoecimento do pai aponta como a médica-acompanhante sente-se despreparada para essa perda iminente. Mesmo tendo atuado em casos semelhantes, ela vive em tempos em que há um indiscutível sequestro da morte nos hospitais (MELLOR; SCHILING, 1994). As contingências impostas pela modernidade e a necessidade de se suplantar a angústia ligada a finitude colaboram para que as pessoas negligenciem suas necessidades mediante a morte. Por esta perspectiva, pode-se considerar que o atendimento em Plantão Psicológico avalizou o processo de luto da médica-acompanhante, validando seu modo particular de lidar com esta situação de perda e permitindo a possibilidade de uma nova reorganização da vida.

Cada vez mais, em instituições de saúde e educação, é necessário resgatar o devido valor deste processo, permitindo que o enlutado possa manifestar seus afetos, fantasias e medos, favorecendo assim um desfecho pertinente a este momento especial (KOVÁCS, 2003). Rando (1984, 1992/1993) destaca a importância de se lidar com a possibilidade da pe daàa tesàdoàeve toàdeà o te,àoà ueà ha ouàdeà lutoàa te ipat io .ààáài po t iaàdaà assistência familiar, no momento crítico da morte de um ente querido, também é apontada por Kübler-Ross (1988) e Hennezel (1996, 2001). No hospital, esta consideração deve ser levada às últimas consequências, visto a impessoalidade frente ao luto e a artificial indiferença frente à morte que a tecnicidade médica impõe (ARIÈS, 1977). Sentindo na própria pele a eclosão da dor, a médica acompanhante inicia um novo processo de aprendizagem que não se baliza nos compêndios médicos ou nos parâmetros tecnológicos, tendo unicamente a sua experiência como guia e mestre para esta difícil travessia.