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A dança das palavras

No documento Aprender a comunicar (páginas 100-104)

6. ANÁLISE DE RESULTADOS

6.4. A dança das palavras

Esta categoria direcciona-se para a importância das palavras. Não engloba qualquer aspecto da comunicação não verbal. Está dividida em Demonstrar interesse,

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6.4.1. Demonstrar interesse

Nesta subcategoria são levantadas as frases demonstrativas de interesse pelo doente, e que provocam no mesmo, conforto, mais confiança e segurança ao sentirem que os enfermeiros se interessam pelo seu estado.

Assim sendo, os indicadores mais referenciados pelos estudantes são Perguntar se está bem (A, E, H), Perguntar se tem dor (B, E, H), Perguntar se dormiu bem (A, E) e Proporcionar desabafos (B, I).

Perguntar se está bem (A, E, H) de uma maneira abrangente revela preocupação pelo doente, como indica (A) “quando estou doente gostava de ter um enfermeiro que viesse ter comigo e perguntasse como estou…que mostre interesse por mim”. O estudante (H) partilha da mesma opinião “comunicação verbal que facilita a relação…procurar perguntar, demonstrar interesse, interesse sobre o estado do doente, perguntar se se sente bem”e (E) ao referir de forma sucinta “perguntar se está bem”.

Perguntar se tem dor (B, E, H), foi também um dos indicadores com maior contagem, o que demonstra a preocupação dos estudantes em relação à dor do doente. Este aspecto é possível verificar no discurso de (H) “perguntar… se tem dores, geralmente as dores são sempre o principal motivo de…, que causa alguma, algumas dificuldades, origina uma barreira à comunicação, a pessoa com dor não se preocupa bem em comunicar, preocupa em sentir-se, em eliminar a dor”. (B) e (E) foram mais concretos e apontaram como um dos comportamentos verbais esta pergunta, daí não existir a necessidade de colocar a unidade de registo, por não acrescentar informação adicional.

Perguntar se dormiu bem (A, E) e Proporcionar desabafos (B, I). No primeiro indicador à semelhança da situação anterior, os alunos foram muito concisos e apenas referiram a necessidade de efectuar esta pergunta no contexto de demonstração de interesse pelo doente. Relativamente ao segundo, de acordo com (B) é importante “ desabafar” e “fazer com que o doente tenha mais confiança comigo para tentar exprimir as suas emoções ou preocupações” (I). Ao permitir um clima favorável à expressão de sentimentos, anseios, dúvidas, promove-se a interacção com o doente, demonstrando interesse por ele.

89 Os indicadores Perguntar se precisa de ajuda (B), Perguntar se tem saudades

(E), Perguntar se se sente bem no hospital (E), Perguntar se gostou da comida (E),

Perguntar se recebeu visitas (H) e Perguntar se está melhor (H), foram indicados apenas por um aluno. Estes últimos indicadores referenciados por (H) estão presentes na seguinte unidade de registo “acho que é o mais importante, é mostrar interesse, querer saber que, para além de estar a reagir bem ao antibiótico, o senhor está melhor por isto ou por aquilo, procurar saber o que é que o utente sente na realidade, como é que está, se recebeu visitas…, às vezes é um tipo de comunicação que fica bloqueada pelo facto de o utente não poder responder, e nós podemos afirmar tudo de uma vez, dizer que já recebeu visitas, tem pessoas que gostam de si, nesse sentido”.

6.4.2. As palavras surtem efeito

As palavras surtem efeito analisam o tipo de discurso que deve ser orientado para que efectivamente consiga alcançar o doente, isto é, para que as palavras sejam bem compreendidas, interpretadas. Tem como indicadores Esclarecimento/Explicação de dúvidas ao doente (B, F), Não somente transmissão de informação (F), Repetir o que o doente diz (F), Ser assertivo (G), Comunicar atendendo ao estado do doente (H).

Quanto ao Esclarecimento/Explicação de dúvidas ao doente (B, F), de acordo com (B) é importante “esclarecimento de dúvidas, pedir conselhos”. É preciso ter presente que a “pessoa à frente que não percebe muito do assunto, e que ainda por cima se recorreu ao enfermeiro é porque não está a 100% no seu estado de saúde” (F).

Os restantes indicadores apenas foram indicados por um aluno. Não somente transmissão de informação é explica por (F) ao proferir “é o facto de quando estamos a falar com o utente, por exemplo, conseguirmos que ele realmente perceba o que nós queremos, e não apenas uma transmissão de informação, que ele realmente entenda… não apenas transmitir a informação”. O mesmo aluno reforça a ideia de que Repetir o que o doente diz é uma estratégia importante na relação enfermeiro-doente uma vez que ao “demonstrarmos ao utente que estamos a ouvir o que ele está a dizer, nem que seja por repetir o que ele disse (Então você disse isto assim, assim, foi isso?). Acho que isso demonstra que estamos interessados no caso, que estamos empenhados”. Apesar de nesta unidade de registo estar demonstrado interesse pelo doente, as palavras-chave

90 residem em repetir o que o doente diz, sendo um conjunto de palavras que unidas contribuem para que a comunicação “surta efeito”.

A assertividade foi apenas abordada por um aluno (G), e para ele o enfermeiro deve “ser assertivo naquilo que dizemos, não impor as nossas ideias, não ter um discurso autoritário, ser direccionado mais para o utente do que para nós, ter sempre o nosso discurso virado para eles “ (G).

Finalmente Comunicar atendendo ao estado do doente foi indicado por (H): “eu acho que nós devemos comunicar, mas devemos sempre atender ao estado do doente. O procurar saber, o adquirir informações sobre o doente, sobre o seu estado, se está bem-disposto, se não está porquê, acho que esse é que é os principais comportamentos que devemos ter”.

6.4.3. Importância da comunicação verbal

Esta subcategoria averigua a importância que os estudantes atribuem à comunicação verbal. Está dividida nos seguintes indicadores: A comunicação verbal é mais fácil (D) e É bom quando o doente dá o seu feedback (H). No primeiro indicador, (D) refere “É muito mais fácil a comunicação verbal porque explicam-se bem e conseguem exprimir-se bem e dizer-nos directamente aquilo que sentem, e o que esperam”. Este estudante considera a comunicação verbal mais objectiva, menos ambígua, mais facilmente interpretável, ao passo que a comunicação não verbal, como analisaremos de seguida exige uma atenção redobrada, com várias possibilidades de análise. O aluno (H) no momento em que foi realizada a entrevista, encontrava-se no ensino clínico em Cuidados Intensivos, onde os doentes se encontram entubados, com a capacidade de comunicarem verbalmente comprometida, por isso o mesmo considera “É bom quando o doente pode contrapor com ideias, dar o seu feedback, eu acho que isso é o mais importante”.

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