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4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E DESCRIÇÃO-ANÁLISE DA

4.3 A delimitação do Corpus

O corpus gerado para as análises são os próprios textos orais produzidos pelos alunos, sujeitos da pesquisa, os quais foram gravados e correspondem às produções inicial e final do gênero em estudo, e, a partir da análise dos diferentes elementos linguístico-discursivos (estratégias argumentativas, estratégias de reconstrução textual, modalizações de responsabilidade enunciativas) presentes nos textos orais produzidos, foi verificada a eficácia da abordagem da Sequência Didática para o ensino da língua falada.

4.4 A proposta de intervenção- A aplicação das sequências didáticas em cinco etapas.

Nosso interesse em realizar essa pesquisa e proposta de intervenção tem sua gênese no fato de a pesquisadora, professora da turma investigada, ter observado que os referidos alunos gostavam de expor suas opiniões durante as aulas, porém demonstravam dificuldades em fundamentá-las, de forma concisa e coerente, através de argumentos consistentes. Então, aproveitando que o gênero debate pertence ao conteúdo programático do 8º ano e que seu ensino pode preparar os alunos para melhor exporem suas opiniões, achamos por bem estudarmos o gênero Debate de Opinião de Fundo Controverso por meio da Sequência Didática, tendo em vista que esse procedimento sugere um ensino sistemático e ao mesmo tempo significativo, de relevância social para a vida dos alunos. Assim, elaboramos cinco etapas para trabalharmos o Debate de Opinião de Fundo Controverso: 1) Apresentação da situação; 2) descrição e análise da primeira produção, 3) a aplicação dos módulos; 4) a comparação entre a análise da produção inicial e a análise da produção final e 5) a descrição final do processo de

ensino-aprendizagem do gênero em foco, trazendo à discussão os resultados obtidos, com destaque para a aprendizagem das caraterísticas sociodiscursivas, refletindo sobre o ensino do debate como instrumento linguístico e social para uso nas práticas sociais de linguagem. A seguir, descreveremos os procedimentos que realizamos em cada etapa.

4.4.1 Apresentação da situação

1º Encontro

Esse encontro aconteceu em dois momentos. No primeiro momento, houve a apresentação de uma situação comunicativa em que aos alunos foi solicitada a produção da primeira versão do debate. Os alunos foram comunicados que iriam produzir um debate referente a um tema social, o qual seria apresentado à classe. Para esse fim, os alunos foram informados que deveriam trazer, para aula seguinte, sugestões de temas que lhes interessassem, levando em consideração o contexto social no qual estavam inseridos, para que, por meio de votação, fosse escolhido o tema a ser trabalhado na primeira produção oral do referido gênero.

No segundo momento, apresentamos, em vídeo, um exemplar do gênero debate de opinião de fundo controverso com a finalidade de que os alunos tivessem um primeiro contato com o referido gênero, o qual serviu de referência para o ensino- aprendizagem no decorrer do processo de apropriação do gênero em estudo. De forma mais específica, trabalhamos esse momento da seguinte forma: trouxemos a sala de aula o vídeo “A regulamentação para uso recreativo, medicinal e industrial da maconha”, o qual se trata de um debate, em uma audiência pública no Senado Federal, que discute a possibilidade de regulamentação da maconha no Brasil para fins recreativos, industriais, e para tratamentos de doenças graves. Antes de exibirmos o vídeo, entregamos aos alunos um questionário (APÊNDICE F) e pedimos que o respondessem de acordo com o vídeo apresentado. Este questionário objetivou explorar as características do gênero debate de opinião de fundo controverso, nas perspectivas bakhtinianas (estrutura composicional, conteúdo temático e estilo linguístico), a partir do exemplar exposto em sala, como também criar um ambiente de reflexão sobre a importância e função social do gênero em estudo.

Cabe ressaltar que introduzimos o vídeo de forma gradativa, ou seja, iniciamos o vídeo e parávamos a exibição para comentarmos pouco a pouco sobre o que assistíamos: um comportamento específico de algum integrante, um depoimento, entre outros fatores. Nesse contexto de observação do debate exposto em vídeo, os alunos riam muito quando alguém tossia, assoava o nariz, ou usava uma linguagem mais específica de algum grupo social distinto de seus convívios.

Partindo da observação desses fenômenos, eu aproveitei para explicar aos alunos que, por ser o debate um gênero na modalidade oral, era comum a ocorrência de fenômenos naturais como o assoar do nariz, tossir, em decorrência de algumas doenças comuns que atingem as pessoas; como também é comum a demora na elaboração da fala, o uso de uma linguagem menos padronizada (no que se refere à norma culta) por pessoas de alguns grupos sociais, devido à influência de fatores socioculturais; entre outros esclarecimentos.

No que se refere ao conteúdo do vídeo, após a exibição, perguntei aos alunos sobre que se tratava o vídeo, onde acontecia a discussão e de que forma. Eles respondiam, com entusiasmo, que se tratava de uma discussão sobre a regulamentação da maconha no Senado Federal, e ao demonstrarem dúvidas, voltávamos ao vídeo para saná-las. Desse modo, introduzimos a correção coletiva do exercício, que haviam respondido durante a exibição do debate. Esse procedimento ocorreu em uma sequência de aulas, durante uma manhã inteira. Para a realização dessa atividade, os professores das disciplinas do dia cederam-me os horários de suas aulas.

Por fim, os alunos responderam o questionário, que entreguei antes da exibição do vídeo, ao mesmo tempo em que assistiam ao debate e refletiam sobre várias questões referentes à temática. Convém mencionar que quando discutíamos sobre a temática abordada no debate de referência, um aluno relatou que em sua casa um parente seu era usuário de drogas e que, por isso, a família sofria muito; ele demonstrou indignação com a possibilidade de liberação das drogas, e alguns alunos também se manifestaram a esse respeito, uns discordando, e outros a favor da regulamentação do uso da maconha.

Enfim, os alunos demonstraram estar atentos ao vídeo e resolveram o questionário, assim como solicitamos. E ainda, a partir da resolução do questionário, discutimos as características do gênero (conteúdo, estilo e estrutura composicional), sua função e relevância social. Ainda nesse momento, perguntei aos alunos se já viram, ouviram ou se já participaram de um debate, se costumavam fundamentar bem suas

opiniões, se consideravam importante debater ideias. Entre várias respostas, destacamos os seguintes resultados: apenas um aluno havia participado de um debate (quando morava em outro estado); todos acharam importante debater ideias, porém, assumiram que tinham dificuldades em debater formalmente.

A partir dessas questões, discutimos sobre a importância social de usar o debate para finalidades específicas em busca de compreender melhor os problemas sociais, vendo um tema polêmico por meio de diferentes perspectivas. Nesse contexto de discussão, todos foram unânimes ao reconhecerem a importância do referido gênero, e expressavam uma expectativa em relação ao uso do gênero.

2º Encontro

No segundo encontro, recapitulamos oralmente o que discutimos no primeiro encontro, para em seguida aprofundarmos os conhecimentos que estavam sendo construídos. Nesse contexto, distribuímos um exercício (APÊNDICE F) impresso, que retomou as questões sobre o exemplar do gênero em estudo, apresentado em aula, e também perguntas que instigaram sugestões de temas que poderiam ser trabalhados na produção de um debate de opinião de fundo controverso. Em seguida, discutimos as respostas apresentadas pelos alunos, inclusive, as sugestões de temas para o debate. Cabe ressaltar que no momento em que os alunos respondiam o exercício, eu como professora e interventora, acompanhava-os em suas carteiras, questionando individualmente algumas respostas, ao mesmo tempo em que vistoriava suas atividades, desse modo, nenhum aluno passava despercebido no desenvolvimento de suas tarefas.

Nesse ínterim, vários temas foram sugeridos, no entanto, analisávamos coletivamente se, de fato, o tema traria consigo uma controvérsia. Nessa situação discursiva, escrevíamos na lousa as sugestões temáticas dos alunos e questionávamos sobre a relevância e a controvérsia da temática, por exemplo, dizíamos: Esse tema apresenta uma controvérsia, ou seja, há divergência de opiniões? É importante para o contexto social de vocês? Por quê?. E fomos eliminando os temas que não se adequavam a situação apresentada.

Enfim, três temas foram escolhidos coletivamente para serem votados pelos alunos, considerando a relevância para o contexto social deles e a controvérsia: O refrigerante como alimento proibido na escola; Como reagir em relação à gravidez na

adolescência?; A redução da maioridade penal de 18 para 16 anos. Os que apresentaram as sugestões dos temas oralmente também justificaram o interesse por eles, correspondendo à perspectiva da professora-pesquisadora, que os instigou, por meio de perguntas, a discutirem a relevância dos referidos temas para vida social deles.

Após esse momento de discussão, foi realizada uma votação para a escolha do tema a ser debatido na primeira produção do debate de opinião de fundo controverso. E o tema escolhido foi: “A redução da maioridade penal de 18 para 16 anos”. Logo após a escolha do tema, dissemos aos alunos que iriam compor dois grupos- um contra e outro a favor da redução da maioridade penal de 18 para 16 anos, os quais representariam as opiniões divergentes que há na sociedade.

3º Encontro

Nesse encontro, levamos para aula dois textos, uma notícia e uma entrevista (com um especialista em direito) que tratavam sobre a temática escolhida pelos alunos, “A redução da maioridade penal de 18 para 16 anos”, a fim de que os discentes entendessem melhor o tema, ao mesmo tempo em que se preparavam para a realização da primeira produção do debate de opinião de fundo controverso. Nessa perspectiva, distribuímos os textos para os alunos e pedimos que se organizassem em grupos para resolverem os exercícios referentes aos textos que lhes entregamos. Cabe ressaltar que, durante esse momento, eu passava pelos grupos, verificava como estavam sendo respondidas as questões e fazia perguntas ao grupo sobre o texto, a fim de instigar a participação de todos.

Após o tempo necessário para a resolução, cada grupo expôs suas respostas, que foram corrigidas coletivamente. Alguns grupos demonstraram dificuldades em compreender algumas questões relacionadas aos textos, porém, durante a correção dos exercícios instigávamos os grupos a complementarem as respostas apresentadas por outros grupos, ou apresentarem respostas mais coerentes com os textos, além de discutirmos a redução da maioridade penal no cenário atual, pois, o tema escolhido pelos alunos estava no auge das discussões na mídia e no Senado Federal. Convém ressaltar que, assim como costumo fazer, todas as atividades escritas eram vistoriadas por mim, para que depois os alunos pudessem comprovar suas participações durante as atividades escritas.

Nesse contexto de discussão, os alunos começaram a perguntar sobre a produção oral do debate que iriam realizar. Esclarecemos aos alunos que o debate iria ser realizado duas vezes. A primeira produção seria apenas para nossa turma (8ºA), com a intenção de analisarmos o debate para percebermos o que poderíamos melhorar referente ao uso do gênero. A segunda produção seria realizada após estudarmos as possíveis dificuldades encontradas na primeira produção, mas desta vez, direcionada a uma plateia composta por nossa turma e convidados- alunos representantes das turmas do 8º B e C, 9º A e B, alguns professores, diretores da escola e coordenadores-. Depois de esclarecermos melhor sobre o projeto de classe, prosseguimos para a organização do debate.

Pedimos aos alunos que se dividissem em dois grupos, um contra e outro a favor da redução da maioridade penal. O grupo a favor deveria ocupar o lado direito da sala e o contra, o esquerdo. Um fato curioso é que a maioria dos alunos eram a favor da redução da maioridade penal, apenas dois alunos se posicionaram contra. Para resolvermos essa situação, esclarecemos que os grupos deveriam representar as duas opiniões controversas, e dividimos a sala ao meio, representando as duas opiniões. Formados os grupos, pedimos que escolhessem seus representantes para serem os debatedores, ou seja, cinco representantes a favor da redução da maioridade penal de 18 para 16 anos, e cinco contra. Os alunos escolheram seus representantes de acordo com o interesse manifestado pelos colegas- cinco debatedores a favor da redução da maioridade penal de 18 para 16 anos e quatro contra.

Após a escolha dos representantes de cada grupo, os alunos, demais integrantes dos grupos, foram informados que iriam compor a plateia no dia da realização do debate; e que deveriam colaborar com a preparação dos debatedores, como também se preparar para fazerem perguntas. Assim, asseguramos a participação de todos no processo de preparação para a produção do gênero, uma vez que ajudando aos debatedores (representantes dos grupos) no processo de estudo do assunto- na confecção de cartazes, elaboração de perguntas e confecção de material para fundamentar os argumentos- também se preparavam para a primeira produção do debate. Por fim, escolhemos, de acordo com o interesse do aluno, o mediador do debate e marcamos a primeira produção.