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4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E DESCRIÇÃO-ANÁLISE DA

5.3 Resultados obtidos

A discussão apresentada nessa seção faz um resgate dos problemas detectados na primeira produção do gênero debate, realizada pelos alunos do 8º ano do Ensino Fundamental, e reitera os resultados obtidos, após a aplicação dos módulos, em evidência na produção final.

Após concluirmos a análise da primeira produção, vários problemas foram detectados relacionados à caracterização do gênero, ou seja, referente à composição estrutural, ao estilo linguístico e ao conteúdo do debate de opinião de fundo controverso.

No que se refere à estrutura composicional do gênero, os alunos não estavam preparados para desempenhar seus papéis no debate de opinião de fundo controverso, ou seja, todos apresentaram problemas de gestão, desde a mediadora à plateia. No que se refere ao conteúdo e ao estilo, os discentes apresentaram baixa informatividade sobre a temática, consequentemente, não construíram a controvérsia sugerida pelo tema, usando de forma pouco eficiente as estratégias de reconstrução textual e as estratégias argumentativas em defesa de suas teses.

Quanto ao estilo, em relação à adequação da linguagem, alguns alunos demonstraram não perceberem que deveriam adequar a linguagem ao estilo formal do gênero e usaram expressões inadequadas que poderiam comprometer o papel social do debate de opinião de fundo controverso, além de manifestarem comportamentos preconceituosos em relação ao uso das variantes não padrão. Devido a todos esses problemas, as participações dos alunos se limitaram à justaposição dos poucos argumentos que expuseram, ou seja, não os aprofundaram, nem os enriqueceram, para que suas exposições fossem realmente objetos de debate, sendo assim, o processo de interação no uso do referido gênero teve duração de apenas 20 minutos.

No entanto, após concluirmos a análise da produção final, comparando-a com a produção inicial, foi possível averiguar que os alunos obtiveram avanços significativos

na produção do gênero estudado, após a nossa intervenção didática, através dos módulos. Os problemas apresentados na primeira produção foram minimizados. Acreditamos que esse êxito obtido na produção final deve-se ao uso dos módulos para trabalhar os problemas detectados na produção inicial, associado ao interesse da turma em dominar o gênero debate de opinião de fundo controverso. É importante ressaltar que o trabalho de intervenção, por meio dos módulos, permitiu que os alunos investigados vivessem vários momentos de reflexão em relação as suas próprias aprendizagens, uma vez que foram diversas as discussões em torno das dificuldades que apresentaram na primeira produção, quando eram realizadas diversas oficinas para trabalhar essas dificuldades. Vejamos, no quadro abaixo, os problemas detectados na primeira produção do debate, em relação à estrutura do gênero, comparados à segunda produção (a produção final).

Quadro 20. Aspectos estruturais do gênero debate de opinião de fundo controverso- Problemas e superações

PRODUÇÃO INICIAL PRODUÇÃO FINAL

PERFORMANCES INVESTIGADAS PROBLEMAS DETECTADOS PROBLEMAS SUPERADOS PROBLEMAS NÃO SUPERADOS

Mediadora Dificuldades para

reger o debate. X -- Debatedores Interferências na gestão da mediadora; risos e cochichos. X Plateia Interferências na gestão da mediadora; risos e cochichos. X

Através do quadro 20, referente aos aspectos estruturais do gênero, podemos verificar que os problemas apresentados na produção inicial foram todos superados na produção final. Sendo assim, tivemos um resultado muito significativo após a realização dos módulos. De forma mais especifica, podemos ressaltar que os alunos aprenderam a: ouvir o outro, a falar no momento certo, a respeitar as opiniões diferentes, a se autodisciplinar- em consequência da aprendizagem que desenvolveram sobre o gênero debate-, ou seja, ao aprenderem como deve ser realizado um debate de opinião de fundo controverso e para que serve. Sendo assim, nesse contexto de aprendizagem, os alunos desenvolveram comportamentos adequados, de convívio social, importantes para a interação em qualquer atividade de linguagem.

Vejamos, abaixo, no quadro comparativo, uma demonstração de argumentos e estratégias de reconstrução textual que os alunos usaram nas duas produções do debate.

Quadro 21. Aspectos referentes ao Conteúdo/ Estilo linguístico- Argumentatividade

Produção inicial Produção final

Argumentos Estratégias de reconstrução textual Argumentos Estratégias de reconstrução Autoridade Presunção Dados estatísticos Por exemplo Causa-efeito Pragmático Pouco utilizadas (geralmente, usadas para retomar a própria fala) Autoridade Presunção Dados estatísticos Por exemplo Causa-efeito Pragmático Modelo Antimodelo Probabilidade Ilustração Exclusão

O todo pela parte

Muito utilizadas, tanto para retomada de falas de outros, como

para retomar a

Pesos e medidas Definição

Elaboração: Própria, Santa Rita, 2015.

No quadro 21, o qual se refere ao conteúdo e estilo do gênero debate de opinião de fundo controverso, percebemos que na produção final os alunos ampliaram o desenvolvimento de suas habilidades em relação ao uso desse gênero. Nessa perspectiva, observamos que, na primeira produção, os alunos utilizaram argumentos relevantes para expor suas opiniões, mas não os retomaram para questionar algum ponto de vista ou contra-argumentá-lo, por meio de estratégias de reconstrução textual.

Já na produção final, os alunos além de usarem argumentos de mesma natureza que na primeira produção, agregaram outros tipos de argumentos que lhes possibilitaram contra-argumentar; questionar o ponto vista do outro; refletir sobre o próprio ponto de vista, entre outras ações. Isto deve-se a um maior nível de informatividade sobre a temática “a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos”, trabalhada por meio dos módulos em sala de aula, e a compreensão obtida pelos alunos, em diferentes graus, de que se faz necessário o uso de estratégias argumentativas variadas na defesa de um ponto de vista, como também o uso de estratégias de reconstrução textual, para que a discussão de fato aconteça.

Assim, podemos verificar que os alunos melhoram suas performances no uso do gênero debate de opinião de fundo controverso, tanto no que se refere à utilização de argumentos, quanto ao uso de estratégias de reconstrução, interagindo de forma mais eficaz, na segunda produção. Cabe ressaltar que o desenvolvimento dessas habilidades preparou os alunos para uma melhor interlocução no gênero em uso, que pode refletir no desempenho desses discentes em outras situações de uso da linguagem.

É importante destacar que alguns alunos tiveram mudanças muito significativas nas performances, como o debatedor A, que na primeira produção estava completamente sem conseguir sequer apresentar sua tese; na última produção, não só a apresentou de forma clara, como fez uso de vários recursos linguísticos e argumentativos que valorizaram sua performance no debate. Outros alunos

apresentaram problemas semelhantes aos da primeira produção, mas de forma minimizada, de forma menos acentuada do que na produção inicial.

De modo geral, em relação ao conteúdo e estilo linguístico, além de os alunos ampliarem o vocabulário, agregando às suas falas novas palavras e conceitos, desenvolveram capacidades linguística-sociais para apropriarem-se do gênero, por meio da argumentação e estratégias de reconstrução textual, discutindo a temática a partir de diferentes pontos de vista, como por exemplo:

Contrário à redução da maioridade

 não reduzir a maioridade penal porque os jovens que cometem crimes correspondem a um percentual pequeno em nosso país e já são responsabilizados pelo ECA;

 não reduzir a maioridade penal porque os jovens menores de 18 anos estão em fase de transformação e facilmente podem ser influenciados por criminosos adultos perigosos, ao conviverem nas mesmas prisões;  não reduzir a maioridade penal porque a punição em presídios traz um

percentual maior de reincidência de crimes, sendo assim, é melhor educar os jovens para não voltarem a delinquir.

Em sentido favorável à redução da maioridade

 reduzir a maioridade penal para que o adolescente perceba que é errado a prática do crime e não pratique mais atos criminosos;

 reduzir a maioridade penal para trazer conforto a família de uma possível vítima;

 reduzir a maioridade penal para não levar a população a fazer justiça com as próprias mãos;

 reduzir a maioridade penal porque a maioria dos brasileiros querem. A discussão no debate ainda levou os alunos a refletirem sobre a desigualdade social, o investimento na educação e nos reformatórios, o aumento de internação estabelecido pelo ECA para o menor que comete crimes, as estruturas físicas dos presídios e reformatórios, a corrupção na política, entre outros aspectos relacionados à temática discutida. É importante ressaltar também que os alunos que participaram como debatedores têm entre 11 e 15 anos, com idade predominante de 12 e 13 anos. Convém ressaltar, ainda, que novos problemas referentes ao conteúdo e ao estilo surgiram, os

quais podem ser considerados para a construção de novas sequências didáticas, uma vez que esse procedimento permite-nos perceber novas fragilidades para serem trabalhadas através de novos módulos.

Nesse sentido, Dolz et al. (2013b) relatam que no trabalho que desenvolveram de investigação com a proposta da sequência didática várias sequências foram reconstruídas, para continuar trabalhando as novas dificuldades ou fragilidades que surgiam, o que pressupõe que o trabalho realizado a partir das sequências didáticas não é um fim em si mesmo, pelo contrário, amplia a capacidade de avaliar de maneira crítica a qualidade do ensino e o desenvolvimento da aprendizagem.

No que se refere aos aspectos linguísticos focados na adequação da linguagem ao referido gênero, na primeira produção tivemos três tipos de problemas: uma linguagem muito informal como o uso de gírias por dois participantes, “caralho” e “eita mil”, e a manifestação de comportamentos preconceituosos em relação ao uso da variante não padrão, “puliça”. Na produção final, esses problemas foram minimizados, apenas um dos que usaram a gíria, na primeira produção, repetiu a inadequação; e o problema relacionado a comportamentos preconceituosos, referentes ao uso da variante não padrão pelos integrantes do debate, foi totalmente resolvido, uma vez que nem a plateia, nem os debatedores manifestaram nem durante, nem posteriormente a produção final, tais comportamentos.

Enfim, averiguando todo o processo de construção do saber para domínio do debate de opinião de fundo controverso, é possível afirmar que os alunos desenvolveram habilidades linguísticas, cognitivas e sociais importantes para interagir de forma eficaz no gênero estudado, como também para interagir em outras atividades de linguagem em determinadas esferas sociais.

Quanto ao nosso papel como educadora, o ensino do gênero debate, por meio das sequências didáticas, permitiu-nos refletir sobre a nossa prática-pedagógica, aprimorando nosso olhar para as dificuldades de nossos alunos, ao mesmo tempo em que aprimorávamos nosso conhecimento sobre o ensino do referido gênero. Nesse sentido, o aprendizado foi múltiplo, tanto para os alunos como para nós. Sendo assim, com a intenção de fazer um resgate dos momentos vivenciados em sala, na perspectiva de continuar nossa reflexão sobre o processo de ensino-aprendizagem da produção do debate de opinião de fundo controverso e seus respectivos resultados, que vão além do

produto final (a última produção), preparamos o capítulo a seguir, as considerações finais.

6- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste capítulo, propomos uma reflexão sobre o processo de ensino- aprendizagem do gênero debate de opinião de fundo controverso, fazendo um resgate dos momentos vivenciados em sala de aula, discutindo os avanços de aprendizagens desenvolvidas pelos alunos, proporcionados pelas oficinas de aprendizagem do referido gênero, além de refletirmos sobre o nosso papel como docente no desenvolvimento de um trabalho mediado pelas sequências didáticas.

Este trabalho objetivou descrever e analisar o processo de produção oral do gênero debate de opinião de fundo controverso mediado pelas sequências didáticas, com foco nas características sociodiscursivas do referido gênero. Nessa perspectiva, pudemos averiguar e constatar, por meio não só dos resultados obtidos, no sentido de produto final, como também durante todo o processo de ensino-aprendizagem, a eficiência do ensino do debate de opinião de fundo controverso mediado pelas sequências didáticas.

A partir de uma visão sociointeracionista, tínhamos em vista que o debate de opinião servisse como um instrumento de ensino-aprendizagem que proporcionasse aos alunos uma multiplicidade de conhecimentos sociolinguísticos e discursivos necessários para torná-los produtores competentes do referido gênero.

Nesse sentido, constatamos que o ensino por meio das sequências didáticas proporcionou aos alunos a oportunidade de aprender a aprender, construindo o saber de forma significativa, isto é, para organização de suas performances, de seus textos falados, em defesa de uma tese que seria apresentada a um auditório.

O ensino do debate de opinião de fundo controverso mediado pelas sequências didáticas deu-se (em síntese) da seguinte maneira: Apresentamos uma situação inicial na qual os alunos ficaram sabendo que iriam produzir um debate de opinião de fundo controverso, desenvolvemos algumas atividades para que eles tivessem conhecimento das características gerais do gênero, numa perspectiva bakhtiniana, ou seja, apresentando a estrutura, o conteúdo e o estilo do referido gênero e marcamos a primeira produção do gênero debate de opinião de fundo controverso. Após as análises das dificuldades apresentadas pelos alunos, preparamos os módulos de intervenção.