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2. A ARGUMENTAÇÃO NO GÊNERO DEBATE

2.1 Argumentação Uma breve discussão

Este capítulo está dividido em duas seções. Na primeira, apresentamos uma breve discussão sobre a argumentação, a partir de uma perspectiva de uso geral na língua, inclusive, no debate de opinião de fundo controverso, para esse fim, usamos como fundamentação básica Ducrot apud Espíndola (2004), Koch (2004), Perelman e Tyteca (2002), entre outros. Na segunda seção, apresentamos as estratégias argumentativas, já que o debate é um gênero predominantemente argumentativo, a fim de melhor compreendermos o processo de argumentação no referido gênero. Para essa exposição, usamos como fundamentação básica Perelman (1999) e Perelman & Tyteca (2005).

2.1- Argumentação- uma breve discussão

Espíndola (2004, p. 19), ao referir-se aos estudos de Ducrot, afirma: “a língua é essencialmente argumentativa - do léxico ao texto”. A partir desse pressuposto, compreendemos que a todo tempo que estamos usando a língua, também estamos argumentando, seja para justificar uma opinião, ou uma tomada de decisão, ou justificar um determinado comportamento, entre outras ações de linguagem que realizamos diariamente. Nesse sentido, produzimos nosso discurso em busca de direcionar nossos ouvintes a determinadas conclusões, seja por meio da persuasão ou pelo convencimento10, conforme Koch (2004). Dessa forma, para essa autora, qualquer discurso está isento do mito da neutralidade, “pois a todo e qualquer discurso subjaz uma ideologia, na acepção mais ampla do termo” (KOCH, 2004, p. 17), e para defender essa ideologia fazemos uso de vários argumentos.

Nesse sentido e a partir de Ducrot apud Espíndola (2004), compreendemos que todo texto é argumentativo e, por isso, necessitamos desenvolver as habilidades argumentativas para poder interagir, de forma eficaz, nas diversas práticas de

10 Para Koch (2004), o ato de persuadir refere-se a usar a argumentação, para atingir a vontade do outro,

estimulando a subjetividade e os sentimentos em busca de levar o ouvinte a aderir determinada conduta ou pensamento; nesse caso, o ato de persuadir provoca inferências, jamais estabelece verdades absolutas. Já o ato de convencer refere-se a usar argumentos que trazem provas objetivas, a fim de provocar certezas através de evidências, ou seja, com o objetivo de alcançar a adesão dos ouvintes por meio da razão.

linguagem, inclusive, em situações sociodiscursivas como no uso do gênero debate de opinião de fundo controverso. Nesse contexto discursivo, a argumentação é essencial para que se cumpra o objetivo social do referido gênero- discutir uma temática controversa a partir de diferentes pontos de vista, por meio de argumentos (DOLZ ET AL.,2013b) .

Nessa perspectiva, conforme Gárcia (2000), para que um discurso alcance a credibilidade dos ouvintes é necessário que sejam usados argumentos claros, fundamentados em evidências, que podem ser manifestas pelo raciocínio, através da apresentação de fatos, por meio de exemplos, ilustrações, dados estatísticos, testemunhos, entre outras manifestações. Assim, para melhor expor sobre essas questões argumentativas, contamos com as contribuições de Perelman e Tyteca (2002), que nos esclarecem o que é argumentar, como ocorre o processo de argumentação, para que e como argumentar.

Conforme Perelman e Tyteca ( 2002, p.16),“argumentar é influenciar, por meio do discurso, a intensidade de adesão de um auditório a certas teses”. Assim, para que ocorra o processo argumentativo são necessários: o orador (locutor) - o que apresenta o discurso; o auditório (interlocutor)- a quem se dirige o discurso e a quem se deseja persuadir ou convencer; e o fim, a adesão ou aumento da adesão que se deseja obter. Nesse sentido, fazendo uma relação com o debate de opinião de fundo controverso, chamamos de locutores os debatedores, de auditório a plateia, e o fim desse processo argumentativo: convencer a plateia acerca de um ponto de vista, ou seja, levar a plateia a aceitar a tese apresentada pelos locutores.

Vale salientar que o auditório é um componente que influencia a exposição do locutor, o qual deve se preocupar em apresentar teses admitidas pelo auditório, conforme Nascimento (2004). Isto pressupõe que deve haver “um contato de espíritos”, nos termos de Perelman (1999), entre o locutor e o seu auditório. Ou seja, o locutor deve levar em consideração os conhecimentos dos interlocutores, os interesses, e consequentemente, não impor suas teses ao auditório, mas ganhar a adesão de espíritos através da argumentação, ou seja, agir sobre o auditório, modificando suas convicções e disposições por meio de um discurso (PERELMAN,1999). Nessa perspectiva, Perelman e Tyteca (2002, p.18) afirmam: “Com efeito, para argumentar, é preciso ter apreço pela adesão do interlocutor, pelo seu consentimento, pela sua participação mental”.

No que se refere ao debate, como toda argumentação, este deve proporcionar “o contato de espíritos”. Essa interação, olhando do ponto de vista social, pode favorecer a adesão de teses apresentadas por instituições sociais e políticas, como também fazer com que o interlocutor possa sentir-se autorizado a intervir num debate público como pessoa social, nas perspectivas de Dolz et al. (2013b).

É importante ressaltar que Perelman (1999) explica que o auditório pode ser assinalado sobre duas suposições: a universal, composto por toda humanidade ou por toda espécie humana que se ajusta aos moldes de critérios universais de um grupo, nesse caso, a argumentação direcionada a esse auditório visa o convencimento, utilizando argumentos voltados para a razão; e o particular, que pode ser composto por um grupo de ouvintes com desejos conjugados ou por um exclusivo locutor - aquele com quem se fala - ou o próprio locutor, nesse contexto, o locutor visa à persuasão de seu auditório.

Nesse sentido, conforme Perelman (1999), a distinção de auditórios não depende do número de pessoas que escutam o orador (locutor), mas daquelas que ele pretende obter a adesão: “... pretende ele obter a adesão de alguns ou de todo o ser de razão?... (p. 37)”. O referido autor acrescenta que é possível que o orador não encare aqueles a quem se dirige senão como uma encarnação do auditório universal, nesse caso, fará uso de um discurso convincente: “um discurso convincente é aquele cujas premissas e cujos argumentos são universalizáveis, isto é, aceitáveis, em princípio, por todos os membros do auditório universal” (p. 37) 11.

Portanto, segundo Perelman e Tyteca (2002), no discurso argumentativo, faz-se necessário que o locutor utilize as estratégias argumentativas em consonância com seus objetivos. Nesse sentido, seja direcionando-se a um auditório universal ou particular, os locutores usarão argumentos que buscarão convencer (direcionados à razão) ou persuadir (que estimulam as emoções e subjetividades do outro), a fim de que os ouvintes aceitem a tese que apresentam como verdadeira. Partindo desse pressuposto, em um debate, várias técnicas argumentativas podem ser usadas por seus locutores e interlocutores, com a finalidade de alcançar a adesão dos ouvintes, seja utilizando argumentos universalizáveis ou apenas persuasivos. Vejamos como os referidos autores elencam e descrevem várias técnicas argumentativas que podem ser utilizadas em busca da adesão de auditórios.

11 Nesse trabalho não temos a intenção em usar essa distinção entre convencer e persuadir nas análises das