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1.2 Procedimentos metodológicos

2.2.2 A demanda por terra

A demanda por terra no Brasil foi estudada por diversos autores, entre os quais merece destaque o trabalho de Bergamasco et al. (2000), que fizeram um estudo prospectivo e os cenários possíveis para a reforma agrária. As autoras combinaram os dados disponíveis nas estatísticas censitárias do IBGE de 1970 a 1996 para construir o que chamaram de Índice de Aspiração por Terra (IAT). Elas partiram do princípio de que nem todos os potenciais demandantes37 por terra

almejam uma propriedade rural e/ou querem permanecer no campo. Ao contrário, muitos preferem um emprego estável, por exemplo, como constataram na pesquisa de campo realizada em assentamentos e acampamentos de cinco estados de diferentes regiões brasileiras. De acordo com essas autoras, “esse índice [IAT] foi utilizado como fator de adequação para estimar o total dos demandantes de terra, representando a aspiração da população em se tornar agricultora” (BERGAMASCO et al., 2000, p.3).

Com os dados da demanda potencial e a aplicação do IAT foi possível fazer as projeções dos demandantes por terra nos anos de 2000, 2003 e 2005 como será mostrado na Tabela 6 seguinte.

Tabela 6 – Projeções do número de demandantes por terra no Brasil, Região Sul e

Santa Catarina, 2000, 2003 e 2005.

Unidade Geográfica 2000 2003 2005

Brasil 2.459.181 2.214.688 2.065.351

Região Sul 287.772 245.565 221.052

Santa Catarina 32.927 26.766 23.313

Fonte: Adaptado de Bergamasco et al. (2000, p. 47).

Segundo Bergamasco et al. (2000, p. 60), o número decrescente de demandantes por terra ao longo do tempo é explicado pela “desruralização

37 Os potenciais demandantes de terra são todas as famílias de arrendatários, parceiros,

trabalhadores rurais assalariados e filhos de agricultores que formam um contingente de excluídos da propriedade da terra. Essas pessoas ou famílias, geralmente, são estimadas de acordo com as estatísticas censitárias do IBGE.

(recentemente em menor ritmo) do campo brasileiro, evidenciada pelos decréscimos da população rural, exceto em São Paulo, Amazonas e Pará”. Em outras palavras, o êxodo rural encaminha anualmente uma parte da população do campo para a cidade, conforme apontaram também Silva et al. (2003).

Os resultados da pesquisa de campo de Bergamasco et al. (2003) mostraram ainda que a permanência de muitos pais e filhos na agricultura, de maneira geral, se dá pela falta de opção de emprego nas cidades, pela falta de estudos e pelo forte apelo familiar. Esse fato é relativizado pelas autoras citadas em razão da conjuntura recessiva do país à época da pesquisa, em 1998. Mencionaram ainda a deficiência da pesquisa em relação a uma parte significativa de demandantes de terra, moradores das periferias das cidades, haja vista a dificuldade de mensuração.

Em outro ponto do trabalho Bergamasco et al. (2003) comentam que existem inúmeras famílias residindo nas periferias das cidades que, ao tomarem conhecimento da possibilidade de obter terra, passam a engrossar as fileiras dos movimentos sociais de luta pela terra. Esse fato também é observado por Paulilo (1998), Furtado (2001) e Medeiros (2002). A respeito, Furtado (2001) aponta um movimento migratório pouco comum na história da humanidade, que é o movimento cidade-campo. As causas desse movimento têm sido a intensificação da luta pela reforma agrária, o conseqüente aumento dos assentamentos rurais e a dificuldade de emprego nas cidades. Provavelmente esse público é constituído de ex- trabalhadores rurais que se deslocaram para as cidades em busca de emprego e não foram absorvidos pelo mercado de trabalho urbano (BERGAMASCO et al, 2000; SILVA et al, 2003).

Os demais estudos a respeito da demanda por terra no país, em geral, apresentam valores superiores ao mostrado na tabela anterior e variam de acordo com a metodologia e a fonte de dados utilizadas. Del Grossi et al. (2001) apresentam um resumo dos principais estudos dessa demanda por terra no Brasil. Nesse resumo constam os autores e as instituições que projetaram os demandantes de terra, apontando a base metodológica para a estimativa e os resultados de cada uma das propostas. Observa-se uma variação de 2,3 a 7,1 milhões de demandantes entre a menor e a maior estimativa em nível nacional, evidenciando a enorme variação em função dos critérios empregados.

Na mesoregião Oeste de Santa Catarina, de acordo com o trabalho de Silva et al. (2003), existem 32,2 mil famílias carentes de terra, residentes no meio rural.

Tais famílias foram computadas entre proprietários de minifundios, arrendatários, parceiros, trabalhadores rurais e filhos de pequenos proprietários.

Além dessa demanda estimada através de dados secundários pode-se identificar também uma demanda explícita, isto é, aquela manifestada diretamente pelos interessados por terra. Essa demanda está apresentada na Tabela 7 e foi contabilizada da seguinte forma: famílias mobilizadas em acampamentos; inscrições de candidatos ao programa de reforma agrária do Incra, realizadas através dos correios38 e; inscrições de famílias no Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF), constantes no Sistema de Qualificação de Demanda (SQD) do MDA.

Tabela 7 – Demanda explícita por terra no Estado de Santa Catarina e Brasil, 2002

e 2005.

Critério de identificação da demanda Santa Catarina (Nº demandantes)

Brasil (Nº demandantes)

Acampamentos de Sem Terra – 2005 1.212¹ 222.691² Inscrições nos Correios/INCRA – 2002 10.507¹ 776.526³

Inscrições no PNCF/MDA – 2005 3.312 74.339

Fonte:  Plano Regional de Reforma Agrária – INCRA/SC (INCRA, 2004b)  Relação de acampamentos OAN/MDA (BRASIL, 2005b)

 Relatório de Gestão/INCRA - Balanço final (INCRA, 2002)  Dados PNCF/MDA – Situação em 12/12/2005 (BRASIL, 2005c)

Comparando os dados das Tabelas 6 e 7 anteriores, nota-se que as famílias mobilizadas em acampamentos representavam em torno de 10% da demanda potencial por terra no país, em 2005 e, apenas 3,7% no estado de Santa Catarina. Mesmo com o chamamento para fazer a inscrição nos Correios, com a promessa de receber um pedaço de terra sem a necessidade de mobilização em acampamentos e ocupações de terra, o número de possíveis demandantes que lá compareceu foi de menos da metade daquela estimativa. Outra observação importante é que o número de inscrições no PNCF é 2,7 vezes superior à quantidade de famílias acampadas no estado de Santa Catarina, enquanto que no país, aquele número corresponde a 33% das famílias acampadas. Esses números demonstram que há uma maior procura pelo crédito fundiário no estado em comparação com o restante do país.

38

Programa de inscrições para o acesso à terra promovido pelo INCRA em convênio com a Companhia Brasileira de Correios e Telégrafos, nos anos de 2000 e 2001 (INCRA, 2004b).