• Nenhum resultado encontrado

significado no sentido mais geral, veio a desempenhar o papel de um "pós-pensamento", isto é, um pensamento posterior à ação que decidiu e determinou a realidade” (ARENDT, 2010: 46).

Essa tem sido, segundo a autora, a realidade de grande parte da ciência moderna. O desafio da liberdade é, portanto, situar a ação como princípio fundador, um ato singular no espaço intermediário da política - a ação como um processo que se ocupa da dialética como método científico.

“A ação é absolutamente singular no sentido de pôr em marcha processos que, em seu automatismo, se parecem muito com os processos naturais, mas também no de marcar o começo de alguma coisa, começar algo novo, tomar a iniciativa ou, em termos kantianos, forjar a sua própria corrente. O milagre da liberdade é inerente a essa capacidade de começar, ela própria inerente ao fato de que todo ser humano, simplesmente por nascer em um mundo que já existia antes dele e seguirá existindo depois, é ele próprio um novo começo” (ARENDT, 2010: 167).

4.4 A DEMOCRACIA COMO MÉTODO – AÇÃO COMO PRINCÍPIO

Após vincular a aprendizagem política a certo tipo de prática menos ou mais favorável à expressão da autonomia e liberdade coletiva, discute-se aqui a aproximação teórica entre democracia, educação e comunicação. Essa abordagem torna-se essencial para definir o que qualifica o espaço público de debate coletivo na possibilidade para legitimar a

ação política como uma reflexão justificada, legítima e capaz de lidar com os diferentes

discursos sobre o bem comum, resultando na formação de uma cultura de democracia permanente e em expansão. O pensamento de H. Arendt, na teoria democrática mais recente, lida com os conceitos estruturantes que qualificam a ação política no espaço

público de deliberação coletiva como poder.

A relação entre ação política e poder pode articular o espaço público de debate como esfera pública e, desse modo torna a vida política uma escola de democracia. O poder se

dissolve ou se agrega como um processo cuja dialética conforma-se nas dimensões democráticas da própria ação política. Arendt defendeu que os indivíduos no convívio social não só podem como devem se unir para discutir a formação da vontade comum, numa comunicação voltada ao entendimento; mas, acima de tudo, porque esse é o caminho do poder político capaz de atualizar a legislação conforme a necessidade, ao tempo em que mobiliza a legitimidade para a agenda. O que chamou de “ação política genuína” é um método político considerado por ela impossível de realizar-se no quadro social distante do ideal cívico republicano. Arendt não viu possibilidade do cidadão comum lidar com a ação

política, na realidade de seu tempo.

Em sua visão política da ação como método de transformação da realidade, a liberdade e soberania não podem coexistir como questões individuais; a ideia de liberdade absoluta de uns implica a ausência de liberdade de outros. As questões da liberdade e autonomia, ao serem associadas na ação que delibera, apenas se tornam compatíveis com a

soberania popular quando esta é entendida como uma responsabilidade individual com o

coletivo. Perante a comunidade de indivíduos a ação política é o exercício ativo da cidadania. O que não significa restabelecer as ideias de justiça e liberdade já previstas, mas repensar o direito à luz do político em seu sentido democrático criativo (ARENDT, 1979 apud DUARTE, 2010: 55). O indivíduo responsável com a coletividade lida com as determinações democráticas essenciais. Desse modo a ação política no espaço público de debate informa em cada agenda o que a política “é”, o que “deve” ser e o que “pode” ser no tempo presente e no futuro, de acordo com limites e condições específicas (ARENDT, 1993 apud DUARTE, 2010). A ação

política é, desse modo, um processo que se estrutura na dialética como método; torna-se

uma construção social objetiva de resultados previsíveis, passível de melhorias como uma

aprendizagem política.

Porém a história mostrou-se distinta do que previu Arendt. Já no quadro das demandas de inclusão social e política que marcou o “retorno da sociedade civil”, Pateman (1970; 1992) defendeu que a principal função da participação é educativa. Seus estudos demonstraram que no debate coletivo os indivíduos conseguem visualizar a realidade além do horizonte cotidiano para se conectar com o todo social como membro consciente de uma comunidade. Suas análises problematizaram a ausência do debate entre interessados na

teoria democrática - a importância da participação do povo como melhor alternativa para lidar com problemas comuns.

Conforme explicou Pateman, a virtude de um sistema político democrático reside no desenvolvimento de qualidades relevantes e necessárias ao indivíduo comum, do ponto de vista político. Se os teóricos não encontram esse indivíduo no mundo real, ao invés de buscar alternativas para mantê-lo fora de ação devem pensar em como desenvolver esse potencial da democracia para transformar os fatores institucionais que levam à apatia. “A maioria dos teóricos recentes contentou-se em aceitar a afirmação (...) de que a inatividade do homem comum não é culpa de ninguém´ e em tomar os fatos como eles se apresentam a fim de construírem uma teoria” (PATEMAN, 1992:139). A participação nos níveis mais básicos – seja no trabalho ou na política oficial – “torna-se crucial para que se responda à questão do número de trabalhadores (e cidadãos) que, a longo prazo, poderiam vir a aproveitar as oportunidades oferecidas pelo sistema democratizado” (1992: 142).

Porém, afirma Pateman, promover o avanço na direção de uma sociedade participativa não significa apenas democratizar as estruturas de autoridade, que em si tem pouco efeito sobre o papel dos indivíduos. Uma teoria democrática moderna e viável “conserva como ponto central a noção de participação (1992: 147). O paradigma da participação direta mostrou-se possível e produtivo nos estudos que ela desenvolveu; os resultados para a formação dos indivíduos mostraram-se favoráveis na democratização das relações interpessoais no modelo das grandes indústrias em expansão. As relações de trabalho avaliadas pareceram próximas do que se verifica no cotidiano político: “é de se duvidar que o cidadão comum chegue a se interessar por todas as decisões que são tomadas a nível nacional da mesma forma que se interessaria por aquelas que estão mais próximas dele” (1992: 146).

As análises de Pateman, com base nas relações de trabalho, confirmaram a importância da política lidar com a participação; a tomada de decisão ao nível local pareceu óbvia. Nesse quadro Habermas identificou problemas de representação discursiva da opinião pública e defendeu a necessidade de agregar um conteúdo normativo ao conceito comunicativo de “poder” e “ação” de H. Arendt. Habemas concordou que o espaço público (Oeffentlichkeit) não-deformado pela comunicação é a única fonte, senão do poder, ao

menos da sua legitimação91 (HABERMAS, 1980: 103).

Para ele, Arendt teria definido questões antes ignoradas pelos estudiosos ao lidar com o conceito de política associado a “poder” e “ação”; mas, ao manter-se vinculada aos princípios republicanos de Aristóteles, ofereceu uma perspectiva sui generis e inviável para as sociedades atuais: "(a) exclui da esfera política todos os elementos estratégicos, definindo-os como violência; (b) isola a política dos contextos econômicos e sociais em que está embutida através do sistema administrativo; e (c) não compreende as manifestações da violência estrutural" (1980: 110).

No que vinculou a existência do espaço público à tradição da virtude republicana Arendt construiu o argumento da perda do espaço público porque não alcançou a formação e reprodução do que Habermas denomina de convicções legitimadoras. Significa que há critérios para medir “o valor democrático” da opinião pública92 capaz de identificar as condições de uma opinião pública “administrada” para uma “ficção do Direito Público” (2003: 281-282). Pareceu óbvio que as opiniões institucionalmente autorizadas93, sempre

privilegiadas por uma conexão efetuada pelos meios de comunicação de massa, não tivessem correspondência recíproca com a massa não-organizada do “público”. Para uma opinião rigorosamente pública se estabelecer ela precisa ser intermediada por uma “publicidade crítica”.

“Certamente, uma tal mediação só é possível (...) por meio da participação de pessoas privadas num processo de comunicação formal conduzido através das esferas publicas internas às organizações. (...) à medida em que tais organizações permitem uma esfera pública interna não só a nível de funcionários e

91 Parece que estamos diante de duas dimensões diferentes, que se completam. Quando Arendt fala em ação

política ela se refere a espaços políticos, no mesmo sentido de Luxemburgo trata os Conselhos; quanto a Habermas, o que denomina de espaço público parece se referir à esfera pública em geral na formação da opinião pública, porque suas conclusões são de que esse espaço público revela seu desejo último na escolha de voto, com o sufrágio universal.

92 “Nesse modelo, podem ser confrontados dois setores de comunicação politicamente relevantes: por um

lado, o sistema das opiniões informais, pessoais, não-públicas; por outro lado, o das opiniões formais, institucionalmente autorizadas.” (HABERMAS, 2003: 284).

93 A opinião “quase-pública”, formada entre “círculos relativamente estreitos, para além da massa

populacional, entre a imprensa política, o jornalismo opinativo em geral e os órgãos consultivos, orientadores, deliberativos com competências políticas ou politicamente relevantes (gabinetes, comissões governamentais, grêmios administrativos, comissões parlamentares, direções partidárias, secretariados de sindicatos, etc.” (2003: 286).

administradores, mas em todos os níveis, existe então a possibilidade de uma correspondência recíproca entre as opiniões políticas das pessoas privadas e aquelas opiniões quase-públicas” (2003: 287-288). Afirmar que o grau e o caráter público de uma opinião podem ser medidos é dizer que é possível identificar a origem e até que ponto a opinião provém da esfera pública interna à organização de um público constituído por associação e, até que ponto essa opinião interna à organização se comunica com a esfera pública externa, o que se constitui no intercâmbio jornalístico-publicitário através das mídias e entre organizações. Há nessa interconexão no mínimo um sentido ambíguo: “é preciso averiguar empiricamente para saber qual a dimensão e qual o efeito efetivo dessa tendência, saber se se trata de uma tendência progressista ou talvez reacionária” (2003: 287-288).

A tendência progressista ou reacionária resolvida como opinião pública traduz sentidos estratégicos não dissociados de contextos econômicos sociais e também políticos. Desse modo “a violência estrutural não se manifesta como 'violência'; ela bloqueia, imperceptivelmente, aqueles processos comunicativos nos quais se formam e se reproduzem as convicções dotadas de eficácia legitimadora" (1980: 115). A violência se estrutura como uma relação entre "mundo da vida", (onde o processo comunicativo ocorre, portanto esfera da reprodução simbólica, da linguagem e redes de significados) e o "sistema" (esfera da reprodução material, regido pela lógica instrumental das relações hierárquicas e econômicas). Nesse quadro a emancipação política está condicionada à necessidade de critérios críticos por parte dos indivíduos, capazes de distinguir entre as convicções ilusórias e não ilusórias.

Habermas (1997) avaliou a condição de emancipação da sociedade com a abertura democrática no debate das questões públicas, seguindo a tradição da Escola de Frankfurt94.

Numa lógica mais otimista, ele constatou que o sistema colonizou o mundo da vida; e que possíveis avanços de emancipação, relacionados ao exercício da autonomia política, estariam vinculados à autonomia discursiva para lidar com critérios críticos e procedimentos a serem adotados pelo Estado de direito. 94 Como já mencionado, os precursores da teoria crítica, representados por M. Horkheimer (1895-1973) e T. Adorno (1903-1969), avaliaram as condições da emancipação política dos indivíduos; no contexto do primeiro quarto de século XX concluíram que a razão instrumental no domínio das relações de produção do capitalismo concorrencial tornara impossível a emancipação da sociedade, subjugada ao mercado.

As ideias de Habermas deram origem à teoria deliberativa95 como "principal

alternativa à visão liberal-pluralista hegemônica" (MIGUEL, 2001) então problematizada na representatividade discursiva do interesse comum. As críticas que receberam resgatam a ideia da ação política genuína, vinculada à promoção das práticas democráticas como um valor educativo de democracia capaz de lidar com a autonomia de escolha no contrato social vigente. Segundo Offe (2011), o princípio republicano de política democrática passou a apoiar o ressurgimento da democracia como um debate sobre as razões e o futuro da democracia liberal.

O debate coletivo foi assim reafirmado em sua possibilidade para qualificar a opinião e preferências gerais. Porém Offe (2011) assinala uma visão mais complexa da teoria do discurso. Para ele, as opiniões e preferências são construções sociais motivadas por considerações cognitivas e morais, que por sua vez podem ser vulneráveis a interesses e paixões, da mesma forma que são suscetíveis à condições comunicativas acessadas que, por seu lado, escondem a reflexão analítica de outras preferências individuais (OFFE, 1992; 2011).

Podemos simplificar a visão discursiva complexa de Offe sobre a opinião pública se a reduzimos a processos de aprendizagem, como defendem Carolle Pateman e John Dewey: a qualidade da experiência importa. A participação e o envolvimento do cidadão podem ser estimulados e aperfeiçoados por práticas deliberativas democraticamente qualificadas. Em termos quantitativos, por exemplo, os persistentes índices de não-participação e de desigualdade social estão associados a fatos objetivos como a discrepância entre direitos políticos da sociedade e restrições aos mesmos impostas pelas agendas das elites políticas e poderes factuais, sejam de mercado ou outros. O próprio Offe reconhece:

“(...) os cidadãos podem se afastar da democracia por dois motivos: ou porque deixam de acreditar que os direitos políticos podem servir para promover seus interesses e melhorar o bem-estar da comunidade como um todo – a atitude familiar de desconfiança, apatia, desinteresse político e cinismo (...); ou, ainda mais grave, podem concluir que os direitos políticos, tendo se tornado uma

95 A teoria deliberativa nasceu como uma noção cunhada por Joseph M. Bessette em 1980, reelaborada em

1994 e vem recebendo contribuições de teóricos políticos e filósofos no desenvolvimento do conceito, dentre os quais destaca-se J. Habermas, J. Cohen, A. Dryzek, J. Rawls, J. Fishkin, S. Benhabib e N. Fraser.

espada enferrujada, devem ser reforçados com um adicional não representativo de recursos políticos, tipo explosão de mobilizações populistas e protestos violentos dirigidos a alegados inimigos.” (OFFE, 2011: 452)96.

Em suas análises Offe associou a declarada crise da democracia liberal97 ao colapso

do socialismo. Conforme argumenta, se antes as democracias ocidentais podiam afirmar-se melhor que as contrapartes autoritárias, tornou-se preciso demonstrar de forma convincente que são “bons” ou normativamente sustentáveis em seus próprios termos. As democracias liberais precisaram demonstrar capacidade para fornecer as funções – Estado, regras legais, competição política e accountability – para cuja realização o modelo liberal podia ser considerado a forma mais desejável de regra política. Porém se tornou norma que os governos controlam ou manipulam essas funções perante a sociedade98.

As virtudes funcionais da democracia precisariam se reconciliar com seus princípios de modo a atender aos critérios convencionais alegados por Lipset (1981 apud OFFE, 2011) que avaliam o poder e a estabilidade democrática do Estado: legitimidade e efetividade. A democracia foi traduzida como “disputa democrática de classes”, vista como disputa de poder entre as elites políticas. Legitimidade e efetividade resultam do processo menos visível em que os cidadãos formam juízos, interesses, opiniões e preferências sobre os assuntos que lhes afetam e à comunidade política como um todo. As propostas de inovações democráticas passaram a focar em cada um dos estágios para formar o desejo político do cidadão, que se expressa na cabine de voto. Opinião e preferência estão sempre em fluxo e 96 Tradução livre para: “(…) can cause citizens to turn away from democracy in one of two directions: they either give up the belief that political rights can be instrumentally useful for promoting their interests and improving the well-being of the political community as a whole—the familiar and today widespread attitude of distrust, apathy, political disaffection, and cynicism [Crouch 2004; Torcal and Montero 2006]; or, even worse, they may come to conclude that political rights, having become a blunted sword, must be beefed up with additional and non-representative political re- sources, such as outbursts of populist mobilisation and violent protest directed at alleged ‘enemies’.”

97 “Existe agora uma literatura recente e abundante sobre a "crise" da democracia [Crozier, Huntington e

Watanuki 1975; Pharr e Putnam 2000; Rosanvallon 2008], até mesmo ”o fim" da democracia [Guéhenno 1993], o "fim da política", ou a ascensão da "pós-democracia" [Crouch de 2004] e a tomada para-estatal de políticas públicas por empresas transnacionais e sua conversão interna de poder económico em poder político [Crouch de 2008].” (OFFE, 2011: 457).

98 Por exemplo, os governos possuem numerosas maneiras para tornar-se imune aos mecanismos de

accountability, a exemplo de controle sobre a mídia, campanhas de informação, o momento tático de decisões, clientelismo, manter falhas em segredo ou obstruir sua publicação (OFFE, 2011).

constante formação como uma construção social que envolve processos internos e externos, o que pode variar desde processos de controle coercitivos, repressivos ou manipulativos sobre informações tornadas acessíveis (OFFE, 2011).

O fato de serem processos definidos, prescritos e monitorados explicam a condição cidadã em não ter uma opinião formada a não ser que o sujeito seja solicitado a expressar uma. É nesse sentido que a participação cívica e o desenho deliberativo tornam-se importante como espaço público qualificado para possibilitar o exercício da reflexão sobre os problemas comuns. “A diferença entre as etapas de formação e da expressão de opiniões políticas e preferências consiste na diferença sobre o seu grau de institucionalização legal” (2011: 461). Assim, a participação democrática assume duas vias complementares: a) as possibilidades ampliadas para o cidadão expressar sua vontade; b) as condições em que os processos deliberativos promovem a formação da vontade.

Os deliberacionistas Offe (2011) e Fishkin (2009), concordam com as ideias mais atuais de Habermas (2006) que destacam o papel da mídia não enviesada na publicitação do debate público e da deliberação; Offe e Fishkin acreditam na força da mídia parceira. Os dois analistas são vinculados às pesquisas do Center for Deliberative Democracy da Universidade de Stanford e suas pesquisas empíricas supõem a constituição da opinião pública como importante para a formação crítica do desejo coletivo. O método desenvolvido por eles - o "Deliberative Pooling" - tem como um dos pilares o apoio midiático99.

A visão mais radical de Gomes (1995; 2008) defende que, no governo exercido pela “opinião pública”, as alternativas lidam com uma tensão entre a discutibilidade e a visibilidade que se resolve pela exclusão e subordinação e pelo engate entre ambas traduzido na “cena midiática”. Para ele, a publicidade social substitui o debate público pela “exibição pública” para obter o “favor geral” e, desse modo, desqualifica a democracia contemporânea. A sociabilidade da deliberação (que alguns falam em transparência) torna- se uma necessidade anti-tirânica que substitui o temor e a veneração pela adesão consciente.

99 Estudos realizados por pesquisadores do Deliberative Polling vêm demonstrando a importância de publicitar

as deliberações de questões públicas, como forma de submeter seus interlocutores ao constrangimento da avaliação da sociedade em geral (Offe, 2011).

Gomes sugere que o binário meios de comunicação/esfera pública precisa incluir um terceiro termo, formando uma tríade: meios de comunicação/esfera de visibilidade pública/ esfera pública (GOMES, 1995; 2008). As posições em disputa devem ser expostas não para que todos tomem conhecimento e assim gerar a sociabilidade, mas para que os concernidos saibam que há uma disputa e possam nela intervir como participante enquanto a discussão ainda procede. O cientista político acredita que a internet está em condições de promover poderosos instrumentos autônomos (produzidos pela sociedade) de formação da opinião e da vontade política; ou seja, oferecem grandes oportunidades de participação e engajamento (GOMES, 2007).

Benhabib (1985) reconhece que a explicação habermasiana consegue transformar o foco antes posto na participação política, conforme a tradição, num conceito mais inclusivo de formação discursiva do desejo. A participação passou a ser vista por muitos teóricos e críticos, não como uma atividade restrita para determinada realidade política, mas que também se realiza nas esferas social e cultural. O espaço público passou a ser associado, na teoria democrática, à criação de procedimentos pelos quais aqueles que são afetados pelas normas sociais gerais e decisões coletivas políticas têm uma palavra a dizer em sua