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no quadro plural da realidade político-administrativa dos Estados no Brasil. A se considerar a área ambiental, considerada uma das mais avançadas em termos de diferentes instrumentos de participação social no país, os estudos de Silva (2012) apontam fragilidades nos diferentes formatos institucionalizados para o licenciamento ambiental na Bahia, em que os espaços de debate coletivo não asseguram os direitos ambientais à sociedade. “(...) a pesquisa aponta para outras estratégias de participação social que surtiram efeito de alteração da decisão do licenciamento, porém não por meio do espaço sócio-estatal na gestão pública, mas sim, por meio das demandas sociais junto ao Ministério Público” (SILVA, 2012: 117). Nesse caso, os problemas de efetividade da participação nas IPs, nos termos de uma construção coletiva do bem comum, são identificados com critérios de escolha, o que conduz à qualidade da representação dos conselheiros. A efetividade da ação política mantêm-se presa à demanda de equanimidade de conhecimentos entre os representantes para qualificar o debate, ou seja, reforça a IP como mais um espaço de representação política sujeito aos problemas e demandas do modelo tradicional sufragista. Essa perspectiva desvia os problemas gerais da participação dos procedimentos estruturais que submetem o debate das demandas coletivas ao controle da própria sociedade interessada, ou seja, as estruturas que alargam o espaço de debate para desenvolver e qualificar a representação discursiva como uma esfera pública especializada.

No cenário do estatuto político da sociedade civil como responsabilidade coletiva para lidar com a agenda pública confirma-se que o espaço público qualificado como interface social resolve-se na possibilidade do exercício de fato democrático da ação política. Essa é a perspectiva do exercício da justificação moral, legitimação política e prática pedagógica de democracia; resulta na aprendizagem política como um processo continuado de princípios democráticos ou cultura de democracia. Busca-se no item seguinte caracterizar essa

aprendizagem necessária para a democracia nos dias atuais.

4.3 APRENDIZAGEM POLÍTICA NA TEORIA E EMPIRIA DEMOCRÁTICA

Na história moderna e origem da Revolução Industrial associada à crença no

todas as ideias nascem da experiência não apenas para desbancar o poder inato dos reis; J. Locke refundou o empirismo na ciência e elucidou para sempre: assim como não existem ideias inatas, não existe poder inato. Na obra “Ensaio acerca do entendimento humano”, de 1690 -, Locke afirmou que a experiência é a fonte primeira de conhecimento, depois desenvolvido pelo esforço da razão. Para ele, a aprendizagem depende das informações e vivências às quais o indivíduo é submetido; o conhecimento chega a ser considerado como absorvido de modo relativamente previsível e passivo.

Mas o empirismo assim percebido deu origem ao behaviorismo na psicologia, que funciona em lógicas culturais cuja tônica seja o controle e a manipulação - a impossibilidade de autonomia individual e coletiva. Porém a autonomia dos indivíduos também nasce da empiria; isto significa que o tipo de relação social favorece o desenvolvimento de uma ou outra possibilidade. Essa certeza levou Montesquieu, depois de Locke, a perceber que a sociedade burguesa crescia e queria poder. Ao escrever “O Espírito das Leis”, em 1748, ele pensou numa forma de governo estável para acomodar as demandas crescentes das massas (os burgueses) e para lidar com o medo de perder a liberdade de agir e atuar de acordo com seus interesses.

Rousseau, na sequencia histórica, concordou que a lei é essencial para a associação humana, porém observou que a ordem civil é impossível sem que os indivíduos possam exercer suas capacidades cognitivas e afetivas. Os homens somente se submetem às leis que ajudam a criar e a prática política contribui com a ordem civil. Em sua lógica de justiça, igualdade e liberdade Rousseau defendeu que cabe aos indivíduos decidir sobre as regras do convívio social numa coletividade de humanos, não por dever ou medo, mas por convenção. Na formação da vontade geral (a soberania do povo, única que pode dirigir as forças do Estado), a prática política ensina que a vontade de poucos sobre o geral destrói o corpo político; e uma lei construída no coletivo tem mais chance de ser acatada por todos. Nesse sentido, a participação política contribui também para cada cidadão sentir-se parte do todo.

“O soberano pode, de início, confiar o depósito do governo ao povo em conjunto ou à maioria do povo, de modo a haver maior número de cidadãos magistrados que simples cidadãos particulares. Dá-se a essa forma de governo o nome de democracia.” (ROUSSEAU, 2002:91). Para Rousseau, as diferentes formas de governo – democracia, aristocracia ou

monarquia – podem ser melhor em determinados casos e pior em outros. Assim, a democracia carrega seus riscos, conforme o estágio cultural da sociedade85.

De todo modo, não se pode unir o poder executivo à soberania popular: “o príncipe e o soberano sendo a mesma pessoa não formam, por assim dizer, senão um governo sem governo” (2002: 93). Mantida a democracia, as condições ideais ao debate público funcionam melhor quanto mais fácil seja congregar o povo; quanto mais simples sejam os costumes; e menores as desigualdades de classes e riquezas, para assegurar que a igualdade não seja corrompida: “uns pela posse, outros pela cobiça, vende a pátria à lassidão e à vaidade, e afasta do Estado todos os cidadãos, submetendo-os uns aos outros, e todos à opinião” (2002: 95). Para Rousseau, os governos democráticos são mais suscetíveis às guerras e agitações internas, pela tendência de mudar a forma. Porém, entende, essa é uma questão que demanda vigilância e coragem para se manter no que seja melhor para todos.

“É sobretudo nessa constituição de governo que o cidadão se deve armar de força e constância, e dizer em cada dia de sua vida, no fundo o seu coração, o que dizia um virtuoso palatino da dieta da Polônia: “Eu prefiro a liberdade perigosa à escravidão calma”86 (2002:95).

Stuart Mill, no século seguinte, entendeu que participar das decisões coletivas é importante para o voto responsável. Suas conclusões emergem do observar a prática dos trabalhadores na indústria; Mill adotou a participação política dos indivíduos em reuniões de bairros, para discutir questões em comum, como um método para lidar com a simpatia dos eleitores. Assim se adaptou ao modelo representativo que se estabeleceu como desejo de democracia. No âmbito dos Estados liberais de então preponderou a condução da coletividade em diferentes métodos para lidar com a força da pressão das ruas, com a emergência da socialdemocracia e com a disputa dos trabalhadores por espaço político.

O modelo hegemônico de gestão não impediu as forças sociais de reclamar por reformas eleitorais graduais nem a organização sindical e a conquista gradual de espaço nas instituições públicas. Assim, associado ao desenvolvimento econômico e político estiveram 85 O estágio cultural a que Rousseau se refere não parece tratar das diferenças de escolarização mas da forma dominante de pensar e ver o mundo, o que tem mais a ver com a ideologia ou filosofia de vida. 86 Tradução livre para: “Malo periculosam libertatem quam quietum servitium.”

ao menos duas questões de fundo. Uma delas, a ideia de liberdade levantada por Montesquieu, depois reformulada por Rousseau e associada à igualdade e solidariedade como capacidades igualmente humanas; juntas levaram a classe operária a defender a igualdade de oportunidades no plano econômico e social.

A outra questão de fundo foi posta por Kant (1724-1804), contemporâneo de Rousseau, para expressar preocupação com a razão (Crítica da Razão Pura, de 1781) e com a paz (Esboço à Paz Eterna, de 1795). Suas ideias destacaram o que chamou de "minoridade" do indivíduo, atribuída à "incapacidade de usar seu próprio entendimento em direção de outro". Porque defendeu uma ordem completamente justa, onde os cidadãos deveriam ser capazes de pensar por conta própria, Kant argumentou que é possível "um público que esclarece a si mesmo, (...) quando lhe é dada a liberdade, é quase inevitável" (apud HABERMAS, 1984:128). O filósofo defendeu o público pensante de "homens", "cidadãos" que se entendem sobre as questões da res pública. A esfera pública em funcionamento tornou-se, sob a "constituição republicana", um princípio de organização do Estado liberal de direito (apud HABERMAS, 1984:131). As ideias de Kant favoreceram ao Estado assumir funções de intervenção, tornando obrigatório o ensino e o serviço militar; essa garantia institucional tornou-se a promessa do acesso de todos ao progresso. Desse modo a herança histórica foi vista por Marx como algo construído no social, forjando a necessidade da ação revolucionária como um processo de emancipação humana, no sentido de alcançar a igualdade de todos perante o Estado e a lei, independente de religião, propriedade ou outras características privadas dos indivíduos. Para Marx, o capital não é uma coisa – dinheiro, máquina ou ferramenta – mas, uma relação social que se apresenta como exploração e resistência dos operários. Na acepção filosófica da dialética como método87 ele entendeu que as sociedades têm uma explicação

87 A perspectiva histórica da dialética como método, que Marx adota em sua práxis como mentor dos

operários, entende que as instituições políticas da burguesia devem ser tratadas como instrumentos potenciais. Com a organização do movimento operário emergem tipos diferentes de cooperativas (alimentos, produtores, moradias), sindicatos e partidos políticos, que oferecem novas ações. Marx percebeu que, para emancipar a classe operária, o sistema cooperativo deve ser desenvolvido em nível nacional; o que significava que deveria dispor de meios nacionais e, desse modo, defendeu a necessidade dos operários conquistarem o poder político. O desafio tornou-se realidade na Alemanha, Rússia e países escandinavos. A questão socialista passou a ser se a democracia política sustentada no voto, a arma usada pela classe trabalhadora, devia ser descartada ou manejada no sentido da emancipação política para o social, o que dividiu o movimento em longo debate, que a história não responde. O partido dos trabalhadores passou a adotar medidas distintas em diferentes países, onde ocupava o poder; as primeiras reações de boicote liberal abriram polêmicas em três

histórica; mas, é a análise crítica dessa realidade que sustenta a transformação necessária: o presente como trampolim do futuro significa que a história é construída pelos indivíduos (ARENDT, 2008).

Ao transformar a dialética em método Marx privou-a de um conteúdo concreto, atado à realidade, que ele expressou na décima primeira tese sobre Feuerbach (ARENDT, 2008): “os filósofos se limitaram a interpretar o mundo de diversas formas; a questão é transformá-lo”. Assim distinguiu o que chamou de emancipação política (a emancipação do Estado) da emancipação humana. A emancipação política sustenta as contradições sociais:

“A emancipação política do judeu, do cristão, do homem religioso de modo geral consiste na emancipação do Estado em relação ao judaísmo, ao cristianismo, à religião como tal. Na sua forma de Estado, o modo apropriado à sua essência, o Estado se emancipa da religião como Estado que não professa nenhuma religião. (...) O limite da emancipação política fica evidente de imediato no fato de o Estado ser capaz de se libertar de uma limitação sem que o homem realmente fique livre dela” (MARX, 2010:38-39).

O que denominou de emancipação política - a emancipação burguesa então associada às práticas democráticas - oferece apenas a liberdade jurídica, uma emancipação formal a proclamar uma liberdade que não pode se realizar na sociedade (LUKÁCS, 2009). A emancipação política é, desse modo, apenas um meio (necessário e transitório) para a emancipação humana, que dá-se pela revolução social – a substituição da sociabilidade capitalista pela sociabilidade comunista ou comunitarista.

Com Rosa Luxemburgo (1871-1919) a ideia de aprendizagem política foi vinculada à manutenção do “espaço público proletário” ou espaço democrático; os Conselhos se formaram como espaços para a criação autônoma das massas, para a ação consciente. A democracia é reafirmada como uma prática cotidiana; a revolução é a transformação possível e o socialismo é um resultado coletivo. “(...) democracia socialista significava,

propostas centrais: resistir e manter as regras; endurecer para possibilitar a transformação necessária; ou tentar negociações para avanços graduais. As intervenções militares, capitaneadas pela ONU, passam a ser a praxe que dão origem a ditaduras e muitas mortes por perseguição política. Deu-se a guerra fria, a queda do muro de Berlim, e apenas Cuba conseguiu se manter, na escolha pela revolução armada e o isolamento, quebrado em 2016.

naquele contexto, autogoverno das “massas populares”, o que incluía todos os segmentos da população, exceto a burguesia ou, (...) “todos os que trabalham e não exploram o trabalho alheio”” (PEDROSA, 1946 apud LOUREIRO, 1995:55 – grifos da última).

“Rosa opõe-se à ideia do socialismo como estatização dos meios de produção sem

controle dos trabalhadores, caminho para uma inevitável burocratização” (LOUREIRO,

1995:55 – grifo da mesma). Os Conselhos representavam a possibilidade concreta de realizar a sociedade socialista democrática; ao exercerem simultaneamente funções legislativa e executiva, eliminavam a separação entre dirigentes e dirigidos, a base do autoritarismo e da burocracia, além de “mola mestra da exploração e da dominação no capitalismo contemporâneo” (CHAUÍ, 1981:134 apud LOUREIRO, 1995:55).

Enquanto organismos de base eleitos pelos operários e soldados, os Conselhos eram a nova forma de poder estatal; eles substituíam os parlamentos e conselhos municipais como poder de Estado. Essa forma de único poder público reunia as funções legislativa e administrativa ao nível de unidades independentes. Suas funções políticas e econômicas definiam a essência do socialismo como uma construção coletiva, possibilitando às massas trabalhadoras autodeterminar-se no plano político (LOUREIRO, 1991; 1995).

“Os Conselhos, além de instrumentos de mudança política e econômica, seriam também instrumentos de mudança cultural da sociedade, ou seja, levariam a uma superação das formas burguesas de consciência. As massas aprenderiam “autodisciplina”, “verdadeiro senso cívico”, senso da “coletividade”, qualidades que constituem o “fundamento moral da sociedade socialista, assim como estupidez, egoísmo e corrupção são os fundamentos morais da sociedade capitalista” (LUXEMBURGO, 1991: 103 apud LOUREIRO, 1995: 55). Para Luxemburgo (2015), o “único caminho que leva ao renascimento é a própria escola da vida pública, a mais ampla e ilimitada democracia, a opinião pública.” (2015: 183). Neste sentido criticou a Revolução Russa de Lenin e Trotsky: “A vida pública adormece progressivamente; algumas dúzias e chefes partidários, de uma energia inesgotável e de um idealismo sem limites, dirigem e governam (...)” (2015: 184). Esse aprender com a própria caminhada era uma ação necessariamente coletiva e tinha um preço. As massas teriam que

aprender com a crítica dos próprios erros e ilusões, para que a humanidade pudesse ser emancipada.

“Os seus erros (do proletariado) são tão grandes quanto as suas tarefas. Não há esquema prévio, válido de uma vez por todas, não há guia infalível para lhe mostrar o caminho a percorrer. A experiência histórica é seu único mestre. O caminho espinhoso de sua autolibertação não só está juncado de sofrimentos sem limites, mas também de inúmeros erros. (...) Parecemo-nos verdadeiramente com aqueles judeus que Moisés conduziu através do deserto. Mas não estamos perdidos e venceremos, se não tivermos desaprendido a aprender” (LUXEMBURGO, 1981: 62-63 apud LOUREIRO, 1995: 48). Para o pedagogo J. Dewey (1859-1952), a experiência democrática se mostrou essencial no começo do século XX como cultura básica, aquisição de conhecimento necessário à formação da sociedade. Dewey explorava a "eclipse da esfera pública" e especulava sobre o papel público das escolas na criação de uma "esfera pública articulada" (DEWEY, 1927:110-142). Nesse quadro, ele enfatizou, de forma crítica, as esperanças despertadas pelo poder da ciência, para defender um tratamento inteligente do "controle social". O grande avanço na área científica tornara cada vez mais comum entre as formas de governar, o uso de pesquisas para explicar comportamentos sociais, orientar e justificar formas de controle; técnicas de persuasão eram adotadas pelos meios de comunicação de massa e na publicidade a serviço de interesses ideológicos os mais diversos - desde capitalismo e socialismo, ao nazismo e fascismo, dentre outros.

A democracia foi entendida como o nome que se dá a uma vida em comunhão, livre e enriquecedora. Para alcançá-la, a Grande Sociedade deveria se tornar uma Grande Comunidade: uma sociedade na qual as intrincadas ramificações das atividades em expansão poderiam ser conhecidas no sentido pleno, de modo a permitir a existência de um público organizado e articulado. A verdadeira situação de aprendizagem é entendida em "duas dimensões: longitudinal e lateral. É tanto histórica quanto social. É tanto ordenada quanto dinâmica" (DEWEY, 1927).

Para Dewey, a experiência educacional plena envolve, acima de tudo, interação (experiência em si) e continuidade (reprodução de valores aprendidos): à medida que mais

conexões são feitas, mais perspectivas se abrem. Da mesma forma que Rousseau, Dewey defendeu que mudanças são cumulativas no caráter e a observação de suas consequências desperta reflexão, descoberta, invenção e nova experimentação. O contrário pode ser observado em processos que geram resultados positivos, porém de caráter eventual: eles nada significam sem um "continuum experiencial" (DEWEY, 1927 apud GREENE, 2011: 33).

Diante da necessidade de uma esfera pública articulada Dewey destacou dois aspectos essenciais para a análise da sociedade participativa: primeiro, que na relação entre conhecimento e experiência a comunicação cria comunidades – ou assim deve. Conforme Greene (2011: 109), ao afirmar que "[...] a democracia terá sua consumação quando o questionamento social livre for indissoluvelmente unido à arte da comunicação ampla e em movimento", ele estava preocupado com o fato de que muitos conhecedores iniciantes - crianças e adultos - muito provavelmente vão adquirir o conhecimento na medida em que analisam, constroem e adotam o que é conhecido à luz de outras experiências.

O segundo aspecto a ser considerado é que, nos processos educativos, importa o tipo de experiência oferecida. Para o filósofo pedagogo, educar um indivíduo para a democracia vai além do remover as limitações formais - condições negativas. A liberdade positiva não é um estado, mas um ato que envolve métodos e instrumentos para o controle das condições88 (DEWEY, 1927:36). Dewey defendeu a reconstrução da experiência como um modo de propiciar a formação social de condutas democráticas. A experiência é, a um só tempo, meio e fim que alarga a própria experiência educativa numa comunidade sustentada por princípios cooperativos (WESTBROOK, 2010).

“No plano humano, o agir e reagir ganham mais larga amplitude, chegando não só à escolha, à preferência, à seleção, possíveis no plano puramente biológico, como ainda a reflexão, ao conhecimento, e à reconstrução da experiência. (...) Experiência é uma fase da natureza, é uma forma de interação, pela qual os dois elementos que nela entram – situação e agente – são modificados.” (DEWEY, apud A. TEIXEIRA, 2010: 36). 88 Segundo Honneth (2013), a pedagogia de Dewey foi adotado no pós-guerra, na transformação da Alemanha nacional-socialista ocupada em uma nação capitalista, no começo dos anos 1950.

A interação como elemento unificador da experiência no mundo objetivo a distingue de um método isolado. A experiência deve ser completa de sentido do presente para que possa significar sua conversão em hábitos sociais, fruto de uma compreensão inteligente da ação humana como responsabilidade. O conhecimento se atualiza na reconstrução da experiência presente a partir de um desafio que se encaixa na realidade. Para Dewey, a liberdade deve proporcionar a formação da moralidade dos indivíduos.

“A única liberdade de importância duradoura é a liberdade de inteligência, (...) de observação e de julgamentos (...) válidos e significativos (...) de busca das informações e de julgamento lúcido para a formação do propósito (...). Pensar é, assim, adiar-se da ação imediata, enquanto a reflexão, pela observação e pela memória, efetua o domínio interno do impulso. A união de observação e memória é o coração da reflexão. (...) O fim ideal da educação é a formação da capacidade de domínio de si mesmo” (DEWEY, 1971: 59 apud SOUZA, 2011: 43).

Enquanto o americano Dewey tentou conciliar o sistema liberal com uma estrutura social em bases mais democráticas, Gramsci (1999; 2002) se deu conta de que não aconteceu o pressuposto básico da socialdemocracia. Ao invés de tomar o poder os trabalhadores e operários italianos votaram no partido fascista e apoiaram partidos não operários. Porém Gramsci não concebeu as sociedades de classe e as relações de poder como algo natural. O significado da política na realidade social emergiu da análise sobre como a sociedade estava organizada e como a cultura hegemônica funcionava para conseguir alcançar seus objetivos políticos89.

Segundo Martuscelli (2008), Gramsci buscou entender a política à luz das ideias de Maquiavel (1469-1527) que quis conhecer “la verità effetuale dela cosa” não como algo estático ou imaginário, mas como uma relação de forças em contínuo movimento e mudança de equilíbrio. Dessa análise resultou uma noção de hegemonia mais elaborada

89 As ideias de Dewey e Gramsci explicitam que os ideais democráticos não prosperavam no mundo ocidental,

na primeira metade do século XX. As primeiras décadas foram marcadas pelo clima permanente de guerras e