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militar. Habermas (2003) associa essas funções acrescidas ao Estado com a origem dos direitos sociais e do que veio a abalar as barreiras com a sociedade:

“Por um lado, a concentração de poder da esfera privada do intercâmbio de mercadorias e, por outro, a esfera pública estabelecida, com a institucionalizada promessa de acesso a todos, reforçam uma tendência dos economicamente mais fracos contrapor-se, agora com meios políticos, a quem seja superior graças a posições de mercado” (HABERMAS, 2003: 173).

A permissão formal de participação política levou as camadas pobres e as classes ameaçadas de pauperização (ex. dos artesãos, devido a produção mecanizada) a conquistar influências para alcançar a igualdade de oportunidades vinculada ao setor econômico; os sindicatos passaram a organizar partidos socialistas com pretensões de influir na legislação; os empresários - "forças conservadoras" do Estado - se posicionaram contra, convertendo sua força social privada em força política. "A lei anti-socialista de Bismarck37 é um caso

exemplar; mas o seguro social que ele organiza à mesma época também mostra em que medida a intromissão do Estado na esfera privada precisa ceder às pressões vindas de baixo" (HABERMAS, 2003:174).

3.2 SOCIALDEMOCRACIA E CLASSE OPERÁRIA

Tem-se, portanto, que o reconhecimento dos direitos políticos aos burgueses incorreu em novas relações entre as forças produtivas - capital e trabalho - abrindo espaço a discursos divergentes sobre o Estado e a soberania do povo, que provocou a emergência da

37 A lei antissocialista do Bismarck, aprovada em 1848, proibia o funcionamento dos partidos socialdemocrata,

socialista e comunista, cada vez mais fortes na Alemanha. Um atentado ao imperador Guilherme I e uma confissão forçada de autoria do atentado como sendo um socialdemocrata teria convencido o Parlamento a aprovar a lei, proibindo inclusive a imprensa socialdemocrata de circulação. A medida teria fortalecido a socialdemocracia entre os trabalhadores (DW Akademie, Calendário Histórico. Disponível em http://www.dw.de/1878-a-lei-antissocialista-de-bismarck/a-313816-1, acessado em 11/05/2013. Ao mesmo tempo Bismarck teria aprovado uma lei de acidente do trabalho, seguro doença e reconhecido a função dos sindicatos.

socialdemocracia38, não de forma pacífica. A entrada da humanidade na era industrial esteve

imersa em conflitos – antes por território e mercado, depois também entre diferentes ideias de progresso e distribuição do poder político. A socialdemocracia emergiu na segunda metade do século XIX como um movimento para disputar o poder social em busca de completar a revolução iniciada pela burguesia. Assim como os burgueses conquistaram o poder político, o movimento socialista popôs estender o princípio democrático em vigor no campo político para o social.

Na concepção inicial de Proudhon (1809-1865), o movimento dos trabalhadores pretendeu criar uma sociedade comunitária dentro da sociedade capitalista. Porém Marx (1818-1883) percebeu que essa comunidade social era incompatível com o sistema macro e, desse modo, defendeu a organização dos operários em partidos políticos para disputar a transformação das instituições públicas. Marx viveu no período entre a Revolução Industrial e a expansão mercantilista do capital, sustentada por duas teorias: a Teoria Demográfica de Thomas Malthus, publicada em 1789, que relacionava o crescimento da população em progressão geométrica com a fome, diante da oferta de alimentos em progressão aritmética; e a teoria da riqueza das nações, em que Adam Smith situou a “mão invisível” do capital, pressupondo as variáveis econômicas sempre acomodadas por si só.

Em meio aos debates em torno das regras do desenvolvimento industrial com base nas paixões pelo lucro, as ideias de Marx assumiram o materialismo para democratizar o capitalismo em expansão, vocalizando o proletariado como sujeito histórico que se articulava como classe social. Para ele, porque o Estado emergiu das relações de produção não representava o bem-comum, mas a expressão política da estrutura de classe inerente à produção. A teoria materialista já informava que os homens são produto das circunstâncias e da educação; mas esquecia que as circunstâncias são modificadas precisamente pelos homens. Com essa explicação Marx defendeu a ação revolucionária da organização política.

Para ele, a liberdade comercial, inerente ao capitalismo, amadureceu a passos largos a sociedade civil como um resultado histórico, um produto da própria história do capitalismo. Da mesma forma que a burguesia emergente do comércio foi elevada à

38 O modelo se difundiu na Alemanha, Rússia e países escandinavos e passou a apoiar a intervenção do Estado

para promover a justiça social (Adam Przeworski – A social-democracia como fenômeno histórico. Lua Nova, São Paulo, vol. 3 s.d.).

categoria de classe social, desenvolveu-se uma contradição inerente ao sistema produtivo para a fase seguinte, no que o sistema dependeu cada vez mais da classe operária para não apenas produzir, mas também para consumir. Abriu-se na mesma medida o espaço para a organização dos trabalhadores afirmar-se como classe.

Marx compreendeu que não é a consciência do homem que determina o seu ser, como queria Hegel; pelo contrário, é o ser social que determina a própria consciência. Da mesma forma, não é o Estado que funda a sociedade; a história demonstra que é a sociedade quem funda o Estado. Em sua análise da sociedade, "o Estado é uma expressão ou a condensação de relações sociais de classe e essas relações implicam na dominação de um grupo sobre o outro. Em consequência o Estado é ao mesmo tempo um produto das relações de dominação e seu modelador" (Carnoy, 1988:316). Para Held (1996), Marx tinha uma visão progressista, também presente nas ideias de Stuart Mill (1806-1873) e muitos liberais e radicais da época.

Eles concordavam que as sociedades guiadas pela ciência, pela razão e pela filosofia poderiam expandir as capacidades humanas e formas cooperativas de auto-regulação, numa vida elevada e harmoniosa, embora sujeita a profundas disputas (HELD, 1996:131). Porém a lógica da esfera pública ampliada prevista por Marx não se completou. Na explicação de Habermas (1984:157), a naturalidade burguesa na esfera pública transformou o liberalismo em "melhorismo" do common sense e tornou-se "realista". De todo o modo, o público ampliado informalmente e depois através da difusão da imprensa e da propaganda levou à perda da exclusividade social dos burgueses; o contexto dos institutos de sociabilidade e de um nível relativamente elevado de formação intelectual tornava possível igualar trabalhadores e burgueses.

Naquele ambiente social, as necessidades grupais que não podiam esperar a auto- regulação do mercado tendiam a ser reguladas pelo Estado. A esfera pública mediadora dessas exigências tornou-se campo de concorrência de interesses. "Leis que surgem sob a

pressão da rua (...) correspondem, de modo mais ou menos manifesto, ao compromisso de

interesses privados concorrentes" (HABERMAS, 2003:158 – grifo do mesmo). A reforma na justiça eleitoral espalhou-se como tema do século XIX, com adesão de políticos liberais e de oposição. A esfera pública, associada ao princípio da publicidade, foi defendida por uns e condenada por outros (HABERMAS, 2003:159) entre visões pessimistas e otimistas.

Em sua oposição ao governo francês, Tocqueville (1805-1859) o exortou a aceitar, pouco a pouco, o povo no círculo dos eleitores. Tocqueville iria declarar que "nas questões filosóficas, éticas ou políticas há um grande número de teorias que cada um assume sem perceber, confiando na esfera pública" (HABERMAS, 2003:160). Enquanto o liberal Stuart Mill (1806-1873) deplorou o "jugo” e os "meios de coerção moral da opinião pública" (a publicidade) e se voltou contra o poder da esfera pública até então considerada a garantia da razão contra o poder de um modo geral. Ao defender o poder das massas e dos governos legítimos, S. Mill "viu o processo democrático como uma contribuição ao desenvolvimento humano, como um guia a uma sociedade livre e equitativa" (CARNOY, 1988:46).

No quadro dos conflitos transferidos da esfera privada para a esfera pública S. Mill observou os trabalhadores manuais, as mulheres e pessoas de cor nos Estados Unidos e passou a apoiar os movimentos sociais contra a aristocracia do dinheiro. S. Mill adotou o método de aproximação política com a sociedade incentivando a formação de associações locais para discutir questões de interesse comum diretamente com os cidadãos. Ele teria conhecido o funcionamento da democracia nas indústrias locais, em que os indivíduos ganhavam experiência e autonomia na resolução de problemas conforme a relação de poder ali estabelecida. Assim, pôde verificar que, na discussão política, os indivíduos conseguem visualizar a realidade além de seu horizonte cotidiano, para se conectar com o todo social, como um membro consciente da comunidade (PATEMAN, 1992). Desse modo tornou-se um defensor da participação social como uma forma de governo desejável.

Além de defender o poder da democracia associada ao progresso humano S. Mill entendeu que a desigualdade existente era incompatível com o desenvolvimento, porém não era inerente ao capitalismo; pelo contrário, era acidental e poderia ser remediada numa sociedade ideal como uma comunidade laboral impulsionando as capacidades humanas. As recompensas seriam proporcionais ao esforço. Em sua lógica, a injusta desigualdade teria sido originada na distribuição feudal da propriedade e seria reduzida de forma gradual no capitalismo, que reduzia também gradualmente a desigualdade da renda, riqueza e poder (CARNOY, 1988: 46).

Ainda que possa ser considerado um progressista, S. Mill e suas ideias se mostram como ajustes às pressões de sua época. Segundo Carnoy (1988) ele quis ampliar o sufrágio

nas eleições representativas, mas não incluiu os trabalhadores de modo geral, do mesmo modo que sua ideia de progresso não esteve em discussão. O controle do poder estava sendo ampliado entre segmentos prósperos e limitados da população – o poder de voto com base na contribuição dos diferentes indivíduos (renda) a uma sociedade democrática. Sua ideia de democratizar o capital está na produção organizada em cooperativas de produtores que tornaria capitalistas os trabalhadores abrindo, deste modo, a possibilidade de apoio ao Estado burguês, no caso de permissão de voto (CARNOY, 1988: 47).

Em contraste com essas visões políticas consideradas otimistas o mesmo quadro possibilitou a visão sombria do futuro, entre liberais como Weber (1864-1920) e Schumpeter (1883-1946); ambos lidaram com os aspectos negativos da nova civilização do desenvolvimento tecnológico e as consequências imprevisíveis das ações políticas mais bem intencionadas. Weber e Schumpeter acreditavam que a moderna sociedade industrial teria um elevado preço e suas ideias tenderam a restringir o conceito de democracia a um meio de escolha dos governantes - pessoas encarregadas de tomar decisões e de estabelecer limites aos excessos da própria democracia (HELD, 1996).

Para Weber, somente os operários constituíam uma classe. Assim, sua ideia de Estado tecnocrata propôs uma equação para as muitas disputas ideológicas e a proliferação de práticas, pelos Estados, de distintos modelos de governo e extremos de doutrinas totalitárias. Fascismo (Itália); nazismo (Alemanha); czarismo e bolchevismo (Rússia) concorriam pela condição de adesão da sociedade, dentro e entre nações, em condições de conflito declarado e guerras. Ao rearticular "o dilema liberal de encontrar um equilíbrio entre a força e o direito, o poder e a lei, o governo especializado e a soberania popular" (HELD, 1996:145), a solução weberiana favoreceu a força e o poder do Estado como uma solução técnica.

A administração habilitada e previsível de Weber para os assuntos públicos seria capaz de evitar um pântano de lutas, além de tornar eficiente a solução para questões coletivas urgentes, o que significava o exercício da dominação: a “autoridade legal” presa ao governo da lei, num governo parlamentar e um sistema competitivo de partidos. Porém, os partidos não poderiam se transformar em meios para lutar e ganhar as eleições, condição que para ele mudava de forma irreversível a natureza política do parlamentarismo. A

passividade do eleitorado, considerada um produto da burocracia moderna, seria essencial diante de uma firme direção política.

A proposta de Weber, segundo Held (1996), teria subestimado o poder dos "subordinados", na aceitação sem críticas da condição de "passividade" da massa de cidadãos. Além disso, ele não distinguia a conexão entre Estado, burocracia e capitalismo (HELD, 1996: 149). De todo modo, a obra de Weber teve grande influência nos estudos de sociologia e ciência política dos Estados Unidos da época, onde o austríaco refugiado de guerra e naturalizado americano J. Schumpeter, desenvolveu a teoria da democracia "realista" de base empírica. A democracia enquanto fato consumado não significava o governo do povo: "significa apenas que o povo tem a oportunidade de aceitar ou recusar os homens que o governa. Um aspecto disso pode ser expresso dizendo-se que a democracia é

o governo do político" (SCHUMPETER, apud HELD, 1996: 151).

O "realismo" de Schumpeter levou em conta o crescimento dos grandes empreendimentos e o aumento do conflito social decorrente das expectativas das pessoas, de ascensão a novos padrões de vida. Com o crescimento das elites especializadas (pesquisa, desenvolvimento e administração) houve a tendência a expandir a administração burocrática racional, o que implicou também no crescimento da organização socialista e no declínio da força política da burguesia.

Schumpeter entendeu que tal situação só podia ser administrada pelo crescimento do controle estatal e planejamento centralizado da sociedade civil por administradores públicos e pelos eleitos - as elites políticas. Para ele, a democracia era importante apenas para legitimar a posição da autoridade e seria eficiente se os seus líderes fossem capazes de definir os termos da política pública sem serem atrapalhados por "passageiros palpiteiros" (apud HELD, 1998: 165).

Esse quadro pleno de controvérsias se sustenta até final do século XX, quando no debate do Estado Held (1996) identifica dois modelos predominantes de democracia: direta ou republicana (participativa), em que os cidadãos são diretamente envolvidos na tomada de decisão sobre os assuntos públicos; e representativa ou liberal, em que os cidadãos elegem aqueles que vão representar seus interesses. Porém essa categorização se mostrou muito mais complexa em outros debates que interpretaram a realidade de então.

3.3 GLOBALIZAÇÃO

No ambiente de disputas e conflitos sociais e ideológicos, duas grandes potencias disputaram a adesão e condição de modelo hegemônico de governo e desenvolvimento desde fins do século XIX: a União Socialista Soviética e os Estados Unidos. No pós-guerra, o modelo estadunidense afirmou-se hegemônico, associado à ampliação dos direitos sociais a partir do crescimento endógeno. O discurso da autonomia das pessoas fixou no imaginário social um almejado progresso com base na economia de livre concorrência. A ideia do Estado-mínimo ganhou visibilidade e ampla aceitação nos países da Europa; governos e grande parte do movimento social acolheram as propostas, diante da insustentável situação de revoltas e conflitos internos e externos que dominava os ambientes sociais. No período de afirmações dramáticas das ideologias a comunicação foi identificada com a função especial de "gestão da opinião"39 (MATTERLART, 1995) ou controle social, no sentido de manter a sociedade sob controle. As pesquisas em diferentes áreas reclamavam a explicação de comportamentos sociais e formas de controle nas práticas políticas, sociais e mercadológicas, o que levou ao grande avanço das instituições científicas; decisões com base nas pesquisas de opinião tornaram-se cada vez mais comum entre as formas de governar; técnicas de persuasão passaram a ser adotadas pelos meios de comunicação de massa e na publicidade a serviço de interesses ideológicos os mais diversos.

Os discursos em disputa por hegemonia precisavam lidar com a crise social e econômica vigente com respaldo popular; as pesquisas de opinião passaram a disputar a legitimidade na tomada de decisões, com apoio de publicações especializadas; ao mesmo tempo orientavam ações de governos, políticos e a venda de produtos, desde cigarros e bebidas a eletrodomésticos e automóveis. No episódio eleitoral de Roosevelt à presidência dos Estados Unidos, em 1932, o New Deal40 adotou tanto técnicas de sondagem quando

39 A gestão da opinião na sua origem identificava a ideia predominante para mobilizar no sentido de outra ideia ou produto; buscava assim verificar aspectos que causavam a resistência à mudança, para remove-los pelo uso da retórica e da persuasão. 40 O New Deal ou Novo Desafio denominou uma série de programas desenvolvidos nos EUA na década de 1930, para recuperar e reformar a economia norte-americana pós crise de 1929, com forte intervenção do Estado na economia, em especial obras de infraestrutura e equipamentos públicos. O principal objetivo era gerar empregos e aquecer a economia. A crise de 1929 é atribuída a dois fatores: aumento da produção com

buscou formar a opinião pública com o objetivo de mobilizar a população em torno do

Welfare State41.

O controle do social, subjacente ao sistema de bem-estar, foi debatido apenas em certos meios acadêmicos, com destaque para a Escola de Frankfurt, que assim nominou e deu visibilidade à teoria crítica; as reflexões filosóficas no tema buscavam explicar as possibilidades não realizadas de emancipação latente nas instituições. Discutia-se em Frankfurt a possibilidade de emancipação política da maioria dos indivíduos tornados iguais com o direito de voto aos trabalhadores, porém submetidos ao consumo em massa. O clima de controle e manipulação social levou os criadores da “dialética do esclarecimento” a desacreditar na possibilidade da população exercer sua cidadania, seduzida que estava pelo modelo de consumo: “o princípio segundo o qual a política deve resultar de um discernimento em comum não passa de uma façon de parler 42 (ADORNO e HORKHEIMER,

1947: 119).

Conforme Young (2011), o paradigma distributivo de justiça do Welfare State funcionou ideologicamente para reforçar a despolitização da sociedade, na medida em que “construía” o cidadão cliente-consumidor de serviços do Estado e “restringia” aí o debate público sobre os conflitos sociais e políticos. Para Young (2011: 66), as análises então realizadas tinham como base a “leitura dos movimentos sociais insurgentes na sociedade do progresso”. Na visão de Gramsci (1891-1937), fatores como a maior difusão do debate em torno de dois sistemas ideológicos mais fortes (capitalista e socialista) teriam impactado nos conceitos teóricos de democracia e Estado, produzindo a noção de Estado ampliado. O materialismo histórico assim reformulado abriu espaço no Estado tanto para a influência das ideias na história quanto para o impacto da vontade individual, a partir da noção marxista de uma superestrutura enraizada nas classes sociais e um sistema político-jurídico enraizado no conflito entre as mesmas (GRAMSCI apud CARNOY 1988: 116). retração no mercado consumidor pela mecanização nas fábricas e consequente desemprego; e a retração no mercado comprador europeu, que recuperava as economias após a 1ª Guerra Mundial (1914-1918). 41 O Welfare State - Estado de Bem-Estar ou Estado keynesiano, que interfere da sociedade e na economia, é adotado por muitos países no contexto de reordenamento interno após a II Guerra; pode ser definido como uma adaptação do Estado liberal na solução da crise americana de 1929. 42 “maneira de falar” – tradução livre do francês.

No âmbito do discurso geral, a experiência democrática se manteve essencial para a aquisição do conhecimento político e assim foi defendida pelo filósofo e pedagógico americano John Dewey (1859-1952); no período entre guerras Dewey buscou explicar a "eclipse da esfera pública" associada ao papel das escolas na criação de uma "esfera pública articulada" (Dewey, 1924/2011: 110-142). Perante a realidade de época ele criticou o uso do poder e a esperança depositados na ciência para defender um tratamento inteligente do "controle social" então praticado43. As ideias de J. Dewey foram adotadas como estratégia

de governo no pós-guerra; o método ajudou a transformar a Alemanha nacional-socialista ocupada em uma nação capitalista, no começo dos anos 1950 (HONNETH, 2013).

No quadro geral a democracia passou a caracterizar uma alternância entre forças sociais particulares, dentro de uma ordem configurada hegemônica. O modelo sustentou-se, ao menos no discurso, nas promessas liberais de liberdade como autonomia de escolha e progresso, vinculada ao modelo de economia capitalista em franca expansão. Da mesma forma o sufrágio universal ou decisão de maioria consolidou-se como apropriado para lidar com a participação política reclamada. Às críticas que mereceu, de elitismo político (elites eleitas pelo voto de maioria tomam decisões e não prestam contas aos eleitores), a democracia representativa sustentou como resposta o pluralismo de partidos emergentes que passou a representar diferentes interesses.

Na concorrência pelo melhor modelo de democracia (liberal ou social), o uso da comunicação entre diferentes ideias políticas tornou a produção da opinião pública uma questão de técnicas e ferramentas específicas, desenvolvidas no período das duas grandes guerras. A concorrência lidava com distancias geográficas, o que deu espaço a outro tipo de capitalismo carregado de promessas ainda maiores para a democracia: o capitalismo informacional emergiu na esteira da expansão a galope do modelo liberal, associado à chamada guerra fria44, ampliando o domínio do temático e da opinião pública enquanto

43 O "controle social" era então entendido como estratégias adotadas para manter a sociedade sob o controle

do Estado. O termo adquiriu um novo sentido na década de 1970, quando a ONU - Organização das Nações