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CAPÍTULO I DESENVOLVIMENTO DO DIREITO INTERNACIONAL NO

1.7. A derrocada do Estado assistencialista e a volta das idéias liberais

No final do século XIX, os princípios do liberalismo econômico já entravam em contradição com a nova realidade da economia capitalista tornando o Estado, nas primeiras

décadas do século XX,93 o principal agente centralizador e monopolizador da economia,

mantendo-se, contudo a autonomia das empresas privadas.

Diante das crises cíclicas do capitalismo, como as trazidas pelo problema do desemprego ou mesmo pela necessidade de incremento da produção e dos investimentos

92 Com a proliferação de organizações internacionais, a sociedade internacional deixa de ser uma sociedade essencialmente de Estados, restrita, para se tornar uma sociedade universalizada de Estados, distribuídos por todos continentes.

93 No final do século XX, o estado capitalista tenta reassumir feições liberais, que o haviam caracterizado, ideologicamente, na origem. Isto é, ele procura se livrar de algumas das funções de intervenção na economia, que, após a crise de 1929, lhe foram reservadas. Esta tentativa se traduz em medidas de interesse para o direito, como a privatização de estatais, a reforma da Previdência e a mudança disciplina da concorrência.

públicos, novas idéias foram introduzidas e, de certa forma, reformularam-se os pressupostos do liberalismo clássico de Adam Smith. 94

As idéias do economista John Maynard Keynes95 influenciaram o

desenvolvimento da participação do Estado na promoção de bem-estar social. Tal período, aliás, ficou conhecido como o do Estado de bem-estar social. Neste momento foi adotado um programa de intervenção econômica estatal pelo então presidente norte-americano Franklin D. Roosevelt, visando a combater os efeitos da “Grande Depressão.” 96

Entretanto, passado algum tempo, devido às crises econômicas, ao desemprego e à instabilidade política, fica evidente a incapacidade do Keynesianismo de conter as contradições do capital.

Então, o capitalismo passou por profundas mudanças, que trouxeram de volta as idéias liberais.

A partir da década de 1970, para contornar as crises financeiras, incorreu-se em maior flexibilização geográfica do capital e das empresas transnacionais.

As grandes corporações que se expandiram na década de 1980, através de fusões e incorporações, passaram a dominar os mercados de diversos países. Ficaram, então, conhecidas por “transnacionais”, justamente por ultrapassarem as fronteiras nacionais.

Com o auxílio da informática, os investidores passaram a realizar transações em proporção global, o que causou o aumento de risco de especulação, ou seja, dos chamados capitais voláteis.97

Também foi determinante para a reorientação das políticas comerciais e políticas

o advento de 1989, referente à queda do Muro de Berlim na Alemanha98 que consagrou o

94 Adam Smith, nascido em 1723, filho de uma família escocesa de classe alta, professor de Filosofia Moral na Universidade de Glasgow, assim descrito na página de título do livro de sua autoria, o célebre A Riqueza das Nações, de 1776, divido em cinco livros, comportados em dois volumes - trata-se, basicamente, de economia e política econômica.

95 O Estado de bem -estar social ou Welfare State trata-se de um novo modelo de Estado, que ampliaria seu raio de ação provendo as necessidades dos indivíduos. Significava uma maior participação do Estado no sentido de eliminar toda a precariedade. O Keynesianismo, assim como Fordismo e Taylorismo são diferentes designações dadas às fases da administração do trabalho nos diferentes momentos do capitalismo, aqui descritos na intenção de demonstrar que ocasionalmente são tomadas medidas para atenuar as crises cíclicas do capitalismo.

96

Este programa ficou conhecido por New Deal e foi uma reação ao colapso da última semana de outubro de 1929. O governo devia tomar para si a tarefa de salvar a economia norte-americana, assim o Estado tornou- se de súbito um grande investidor, passando a realizar obras como, estradas, barragens e aeroportos.

97 O termo empregado “capitais voláteis” , recebe essa designação por se tratar de capitais que podem sair com facilidade de um país para outro ou de uma hora para a outra. Esta forma intempestiva de retirada de divisas causa um imenso desequilíbrio financeiro e político ao país, situação do México no final de 1994, quando ocorreu a evasão de oito bilhões de dólares.

capitalismo diante do regime socialista, este último inviabilizado perante as economias internacionais. Esse novo contexto é bem explicado por Fábio Ulhoa Coelho:99

Após o desmantelamento do modelo econômico do bloco soviético (o antigo “segundo mundo”), opera-se a desarticulação do Estado de bem-estar social nas economias centrais do bloco capitalista (o antigo “primeiro mundo”) e dos seus incipientes rascunhos nas economias periféricas deste bloco (alguns países do antigo “terceiro mundo”).

O autor ainda arrisca:

(...) a tendência, em todo mundo, é a desarticulação do estado de bem-estar social onde ele existe, e a paralisação ou reversão do processo de sua criação, nas economias que o ensaiavam.

De acordo com o que foi dito acima, o Estado mínimo substituiu o Estado de bem-estar social de Keynes, concebidas mais com o propósito de neutralizar eventuais disfunções do mercado, para seguir as idéias de Friedrich Von Hayek. 100

Preocupados em atender ao bem-estar do povo, os Estados acumularam custos incompatíveis com suas capacidades de sustentação, deste modo, foram assolados por crises econômicas, desemprego e instabilidade política.

Daí, a volta das idéias liberais, que caracterizaram o período compreendido entre os anos de 1947 a 1967 como “anos dourados”, justamente quando ocorreu uma significativa liberalização no comércio.

98 O Muro de Berlim foi símbolo da Guerra Fria. A linha divisória erguida no centro da Europa significava a demarcação entre os sistemas

antagônicos, assinalando a incompatibilidade mútua destes. Sua queda, em 9 de novembro de 1989, constituiu um marco histórico pois determinou o encerramento da Guerra Fria.

99 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. Ed. Saraiva, Vol I. p. 5 - 6.

100 Friedrich August Von Hayek (1899-1992), economista da escola austríaca que trouxe importantes contribuições, sobretudo na área das Ciências Econômicas, tendo recebido o prêmio referendado à esta categoria, cuja designação imprecisa de “Prêmio Nobel de Ciências Econômicas” lhe foi imputado em 1974 por seu trabalho pioneiro sobre “teoria das moedas e flutuações econômicas e pela análise penetrante da interdependência dos fenômenos econômicos, sociais e institucionais” que dividiu com seu rival ideológico, o economista socialista Gunnar Myrdal. http://pt.wikipedia.org/wiki/Friedrich_Hayek. Acesso em 05/11/2007.

Como se pode notar, quando o Estado assistencialista deixa de responder aos anseios contemporâneos e passa a ser contestado, marca-se assim, o percurso histórico rumo à globalização.

Deste modo, vale a pena examinar mais de perto as mudanças estruturais e institucionais provocadas por este fenômeno para uma correta compreensão da dinâmica do Direito, cujas transformações têm suscitado muitas dúvidas e incertezas.

CAPÍTULO II - A ATUAL DINÂMICA DO DIREITO INTERNACIONAL NO CONTEXTO DA GLOBALIZAÇÃO

No início do século XXI, constatada a inviabilidade da economia centralizada e planificada, pode-se refletir melhor sobre a atuação do Direito Internacional perante os desdobramentos que são provocados por este processo. A crise do Estado-providência impõe ao direito, padrões jurídicos de inspiração liberal centrados na autonomia da vontade. Nesse contexto, também a globalização tem seus impactos na dinâmica do Direito Internacional, seja pela promoção de integrações regionais, seja pela reformulação do conceito de soberania.

2.1. Considerações Iniciais

Diante de uma nova ordem internacional, onde estruturas econômicas estão longe de serem estáticas, o Direito Internacional precisa acompanhar as transformações do comércio mundial para promover uma efetiva colaboração entre Estados.

A pertinência desse argumento se dá quando se constata que, com os movimentos de integração econômica e a consolidação dos espaços emergentes, propugna-se o equilíbrio entre o dinamismo econômico e a agilidade das relações jurídicas.

Para o alcance operacional dessa economia globalizada, verificam-se mudanças jurídicas e institucionais, como bem ressalta José Eduardo Faria101:

Até recentemente, o cenário social, político, econômico e cultural era identificado a Estados-nação e com o seu poder para realizar objetivos e implementar políticas públicas por meio de decisões e ações livres, autônomas e soberanas, sendo o contexto internacional um desdobramento natural dessas realidades primárias. Agora o que se tem é um cenário interdependente, com atores, lógicas, racionalidades, dinâmicas e procedimentos que se intercruzam e ultrapassam as fronteiras tradicionais (...).

Segundo o autor, com a redução das fronteiras burocráticas e jurídicas entre os Estados, o pensamento jurídico encontra-se em situação de transformação, seja em seus modelos conceituais ou em seus pressupostos epistemológicos.

Dentre as inovações que marcaram a trajetória do Direito Internacional, uma delas, com certeza, foi a mudança de seu aspecto de direito de coexistência para um direito de colaboração ativa, deixando de ser um mero delimitador de competências entre os Estados para incluir novas áreas de regulação.

A sociedade internacional contemporânea não é, como vimos, constituída apenas por Estados, e, portanto, não se trata tão somente de uma sociedade internacional de Estados, mas de uma sociedade internacional universal que contempla, além dos Estados, todas as outras entidades que participam nas relações internacionais.

Com a alteração dessa estrutura, surgiram problemas novos na convivência internacional, e, assim, amplia-se o campo de ação do Direito Internacional.

Bem descreve Joaquim da Silva Cunha102 como se apresenta a atual sociedade internacional:

Nela podem distinguir-se certos núcleos individualizados de Estados que formam sociedades parciais ou regionais. As causas que as originam são de várias ordens, mas podem apontar-se, como mais relevantes, a vizinhança geográfica e a solidariedade de interesses dela resultante, as afinidades de cultura, de ideologia política e de religião, a interdependência econômica, a influência das grandes Potências que funcionam simultaneamente como centro de atração e irradiação de certas idéias força e, hoje, até a comunidade de etnia, ou mesmo a simples cor da pele.

Diante dessa ordem de natureza sócio-econômica cada vez mais multifacetada, busca-se, portanto, assegurar a operacionalidade e a funcionalidade dos sistemas jurídicos. Nesse sentido, é de suma importância que haja nos acordos de integração a previsão de mecanismos que objetivem solucionar divergências e resolver controvérsias.

A integração jurídica impõe, portanto, ao Direito Internacional, a tarefa de reformular conceitos para atingir os interesses maiores entre os Estados.

102 CUNHA,

Joaquim da Silva ; PEREIRA, Maria da Assunção do Vale. Manual de Direito Internacional Público. Coimbra: Almedina, 2000, p. 10.

Entre os mecanismos referidos acima, tem-se a adoção de métodos políticos- diplomáticos e jurídicos onde, a partir das duas conferências de paz em Haia, do Tratado de Versalhes e da constituição da Liga das Nações já passa a se utilizar a mediação, a consulta e a conciliação. Assim, tais medidas variam desde a simples negociação direta entre os países- membros até a criação de órgãos supranacionais designados para atender especificamente esta finalidade.

Entretanto, no século XIX, a idéia que se tinha de colaboração com a Liga das Nações, era bem diferente da que se tem nos dias atuais.

A cooperação entre os Estados pode ser percebida na maneira de solucionar os problemas, através de métodos jurídicos, como a arbitragem e a solução judicial. Nesse aspecto, com o avanço do processo econômico no contexto mundial vigente, não se deve prescindir de uma consciência jurídica internacional.

Cabe lembrar que o Direito Internacional tradicional foi concebido para satisfazer os interesses das potências dominantes, enquanto que, o Direito Internacional contemporâneo possui preocupações de regulação material e inúmeros traços de elaboração e aplicação institucionalizados.

Felizmente, as experiências bem sucedidas como a Corte Internacional de Haia e o Tribunal de Justiça da Comunidade Européia reforçam o primado da razão em detrimento do uso da força, o que acaba por contribuir para o maior entendimento entre as nações.

Com a interdependência crescente entre os Estados aumenta a importância de uma integração jurídica paralela à econômica e política, que já ultrapassa o restrito âmbito das relações diplomáticas e vem sendo compartilhado não só pela sociedade como também pelos juristas dos Estados-partes.

Assim, em prol de uma integração mais eficiente os Estados se permitem a relativização de poder na forma de partilha de soberania. Entretanto, a insistência em manter a soberania estatal apenas sob seu enfoque tradicional e formal como ainda pretendem alguns países103, contribui para originar obstáculos que se interpõem entre as relações interestaduais.

103 Um dos entraves ao processo de integração, é a exarcebação de nacionalismos de governos populistas como o da Venezuela, que, embora tenha se incorporado ao Mercosul (ainda em processo de adesão), o nacionalismo equivocado imposto pelo seu presidente Hugo Chaves tem sido um entrave à dinâmica da integração, haja vista seus discursos populistas onde se utiliza a retórica de “defesa da soberania” como pretexto para não fazer concessões e se esquivar dos compromissos. Um exemplo flagrante dessa reação pôde ser observado também com a atitude do presidente boliviano Evo Morales com a quebra de compromissos firmados com a Petrobrás, criando um incidente diplomático entre a Bolívia e o Brasil. Nesse contexto de deturpação de interesses, sobretudo nestes países que defendem o socialismo do século XXI, forte corrente insurge-se contra a democracia dificultando a consagração do plano integracionista.

A configuração de uma nova ordem mundial exige uma atitude de vanguarda dos Estados, que devem estar preparados para esta nova realidade que contempla não apenas a expansão econômica, como também perpassa pela unificação dos sistemas jurídicos, sobretudo para que possam ser criadas bases para o livre comércio.

2.2. O neoliberalismo

No capítulo anterior, vimos que as idéias do economista John Maynard Keynes defendiam a participação do Estado na promoção de bem-estar social, criando assim, o Estado de bem-estar social ou Welfare State.

O financiamento deste Estado recebeu duras críticas dos economistas da chamada Escola de Chicago, notadamente de Milton Friedman104, cujas idéias, conhecidas como neoliberais foram difundidas em diversos países, sobretudo depois da crise econômica dos anos setenta, advinda da explosão do preço do petróleo105 que ocorreu após um período de notável desenvolvimento econômico. 106

As idéias neoliberais foram inspiradas em Friedrich Von Hayek que, em seu livro “O caminho da Servidão”, estabeleceu a base para a construção desse novo pensamento, tendo como predecessores, Milton Friedman, Salvador de Madariaga, Ludwin Von Mises, Karl Popper e Walter Lipman, que, inclusive, formaram a Sociedade Mont-Pèlerin, para combater o Keynesianismo e o solidarismo vigente, defendendo um novo tipo de capitalismo.

A doutrina político-econômica neoliberal além de ter sido uma reação contrária ao Estado intervencionista de Keynes, foi elaborada para adaptar o modelo liberal às condições do sistema capitalista do século XX.

Esse novo conjunto de princípios preconiza a intervenção do governo de maneira indireta na economia, uma vez que quem determina a lei da oferta e da procura é o livre

104 Milton Friedman (1912-2006) - Prêmio Nobel de Economia de 1976. Suas idéias liberais baseavam-se na premissa de que a solução dos problemas de uma sociedade só é possível por meio de um sistema de competitividade e liberdade absolutas. Ou seja, dentro da concepção de Friedman, as melhores condições são aquelas que dão aos indivíduos maior liberdade de empreender, sem buscar respostas na iniciativa do Estado, que não tem como solucionar os problemas de modo satisfatório. Suas idéias de não acatam, portanto, o intervencionismo do Estado e a restrição à liberdade dos indivíduos. Possuiu como paradigma de suas idéias os Governos Thatcher (Inglaterra) e Reagan (Estados Unidos). Foi, ainda, conselheiro econômico do ditatorial governo chileno de Augusto Pinochet. Correio Braziliense, Brasília, 17 de novembro de 2006.

105

A crise do Petróleo nos anos 70 foi deflagrada pela súbita elevação do seu preço pelos países membros da OPEP, e expôs a vulnerabilidade dos países importadores que sofreram com o endividamento de suas economias, interna e externa, e altas inflacionárias. 106 A designação de “Trinta Gloriosos” refere-se ao período de notável desenvolvimento econômico, notadamente dos Estados Unidos, do Japão e das principais economias européias, compreendido entre 1945 e 1975.

mercado. A única participação que cabe ao governo é a de dar garantia do equilíbrio dos preços, ou seja, a manutenção de políticas econômicas antiinflacionárias e cambiais.

Nos anos 70 e 80, os investimentos maciços em tecnologia avançada acelerariam bruscamente o processo de produção e comercialização da informação, estimulando, uma década depois, o processo de fusões de empresas e do capitalismo financeiro, o que acaba por interferir no papel do Estado que passa a disputar a balança do poder mundial com os oligopólios transnacionais.

Sabe-se que o capitalismo financeiro107 tem no neoliberalismo o seu principal sustentáculo, pois propõe total liberdade às leis de mercado. Nesse sentido, a interferência do Estado tende a ser cada vez mais limitada, deixando de ser o regulador da economia.

Muitas vezes isso pode resultar em verdadeiros “desastres” para as economias de alguns países, tais como os que ocorreram nos anos noventa, quando alguns países sofreram fugas abruptas de capitais, ao se submeterem ao padrão neoliberal.

Portanto, devem ser evitados modelos equivocados de economia moldados aos sabores da especulação cambial e das oscilações mercadológicas, a exemplo dos que deflagraram a desvalorização das economias dos “tigres asiáticos.”108

A despeito dos efeitos perversos do neoliberalismo, alguns Estados se destacaram economicamente em relação àqueles que não se ajustaram às idéias neoliberais.

Pode-se observar isso no panorama político-econômico da Europa, notadamente quando se traça uma comparação entre a França e a Inglaterra.

A primeira sempre buscou conservar o assistencialismo do Estado enquanto que a Inglaterra, desde os tempos do governo Thatcher, assumiu o perfil agressivo neoliberal, o que consagrou seu sucesso perante as economias que se apegavam ao antigo modelo.109

107

O capitalismo financeiro é resultado das grandes fusões e incorporações de empresas e da integração do capital bancário com o industrial que originaram as empresas multinacionais, também conhecidas por transnacionais.

108 Os “desastres econômicos” aqui referidos dizem respeito aos impactos financeiros causados pela evasão de divisas daqueles países. 109 Sabe-se do conservadorismo Francês em manter os benefícios trabalhistas e previdenciários, cujas conseqüências foram o aumento do desemprego e a paralisação da economia. O tributo existente na França lançado sobre as grandes fortunas por exemplo, fez com que se elevasse a evasão de capitais. Ccelebridades, empresários e renomados esportistas franceses deixam de investir no seu país de origem por conta da onerosidade em tributos que recai sobre seus patrimônios. O discurso do atual presidente francês, Nicolas Sarkosy propõe a “ruptura do modelo antigo para tirar a França da paralisação econômica e, assim, poder corresponder aos anseios do mundo globalizado” Ao proferir estas palavras, Sarkosy reflete o desejo de adequar a França ao padrão neoliberal que se impõe.

2.3. O Direito Internacional e os desdobramentos da disciplina frente à abertura de mercado

Apesar dos inúmeros benefícios proporcionados pela internacionalização da economia com a crescente abertura de mercado, não se pode olvidar o surgimento de inúmeros problemas.

A preocupação com as relações de subordinação econômica entre países com níveis de desenvolvimento desiguais110 contribuiu para ofuscar o papel do Estado e destacar os novos atores do sistema internacional: grupos econômicos, empresas transnacionais, organizações não-governamentais.

Como protagonistas do jogo e detentores de tecnologia e capital, esses grandes grupos econômicos passam a determinar um novo quadro entre Estados-soberanos, por conseguinte afetam o próprio Direito Internacional, devido ao grande número de acordos que envolvem a questão, notadamente os de ordem tributária.

O problema é que, com a intensificação das relações comerciais internacionais e a proliferação desses acordos entre os Estados, a dupla tributação e a evasão fiscal tendem a se agravar.

Apesar dos inúmeros benefícios proporcionados pela internacionalização da economia com a crescente abertura de mercado, tem se tornado cada vez mais difícil coibir estas práticas que causam inúmeros problemas de ordem tributária.

Cabe ao Direito Internacional Tributário tentar coibir os “desvios” que acarretam o descontrole do Estado sobre sua soberania fiscal.

Na definição de Antônio de Moura Borges,111 “o Direito Tributário

Internacional112 é um dos ramos pertencentes ao Direito Internacional que abrange, tanto questões de cunho econômico, quanto as que envolvem contribuições e riquezas estrangeiras,