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2. A lógica territorial e a formatividade da acção colectiva

2.2. A dimensão territorial e comunitária do Centro de Formação

Do ponto de vista da análise das dinâmicas locais de formação, a actividade do Centro não pode ser interpretada à luz de uma suposta pequena dimensão, a menos que se pretendesse estudar apenas a sua actividade formal de realização de acções estritamente preocupadas com a progressão na carreira. À luz de outros

critérios de interpretação, em que o Centro se insere num conjunto de dinâmicas territoriais, o Centro não é de pequena dimensão, mas de várias dimensões:

«Para mim há claramente três dimensões. A da formação Foco, creditada, etc.; a dimensão da informalidade da formação, dos processos informais, espontâneos; e a dimensão de uma relação institucional de colaboração dentro do território

educativo. Pelo menos estas três linhas - não quer dizer que elas não se cruzem em determinadas circunstâncias e conjunturas - são para mim três dimensões essenciais da actuação do Centro» (Ent., MANUEL, 1997).

A identidade do centro é, portanto, construída essencialmente em torno das dinâmicas locais realizadas nas «margens do sistema», as quais são encaradas como «oportunidades de vivenciar intervenções educativas». Dito de outro modo, como dinâmicas territoriais de formatividade. Para além destas duas dimensões - a «formação Foco, creditada», a «informalidade da formação, dos processos informais, espontâneos», o director do centro refere ainda uma terceira dimensão - a relação institucional de colaboração dentro do território educativo. É esta dimensão territorial comunitária que analisaremos aqui.

Não sendo exclusiva nem preponderante no conjunto das actividade do centro, uma das suas vertentes de intervenção assenta numa concepção da formação como animação pedagógica e comunitária. Tratando-se de um Centro considerado pequeno, à luz de critérios racionais, não se pode dizer, com efeito, que a sua actividade se reduz a esta dimensão racional-formal. Analiticamente, estamos perante um Centro com várias dimensões e não de um Centro de pequena dimensão. Mais adiante, daremos alguns exemplos desta vertente de intervenção. Por enquanto interessa analisar o modo como se expressa esta dimensão territorial e comunitária no funcionamento do Centro. Comecemos pelo seu plano de actividades.

Da análise do primeiro plano de actividades do Centro, elaborado em 1993, onde constam mais pormenorizadamente os seus princípios orientadores, ressalta uma dimensão comunitária. Esta caracteriza-se essencialmente pela centralidade da comunidade local na actividade do Centro. A formação dos professores visa «o desenvolvimento pessoal e profissional dos professores» como contributo para a

«construção de uma escola participante dos processos de desenvolvimento local».

São valorizados os «recursos educativos da comunidade» para a «promoção, animação e dinamização» de «iniciativas de auto-formação» e são valorizados igualmente as «acções, seminários, encontros, jornadas, que contribuam para o

desenvolvimento da comunidade educativa de (...).

O Plano assume que o Centro de Formação tem como propósito «encontrar

respostas quer às necessidades de formação dos professores quer às necessidades e anseios da comunidade educativa». A inserção e promoção do Centro na

comunidade aparece como um objectivo essencial para o qual concorre o papel do

professor como «agente fundamental no desempenho e contributos que a escola pode dar para o desenvolvimento local». «Perspectivando o desenvolvimento dos recurso endógenos», são valorizadas sobretudo as «entidades e instituições locais»

como parceiros e também como fontes de recursos materiais e financeiros.

Esta concepção da formação tem vindo a ser afirmada ao longo dos anos, tendo estado presente em várias intervenções públicas do director do Centro:

«A formação é o seu leitmotiv. No entanto, é nosso propósito ir além da simples, mas essencial, formação de professores, procurando que essa formação concorra para a interacção e a dinamização do próprio contexto educativo onde os professores actuam - a comunidade» (NC, MANUEL, 1994, I Jornadas de Educação e Desenvolvimento).

Mais recentemente, numa intervenção nas «Jornadas de Abertura do Ano Escolar», no presente ano lectivo de 1997/98, o director reafirmou esta orientação comunitária do centro:

«A educação é um acto colectivo; é um acto de uma comunidade; é uma acto de

um conjunto de profissionais ao serviço da educação e ao serviço das escolas» (NC, MANUEL, 1997, Jornadas de Abertura do Ano Escolar»).

Nesta mesma intervenção, incentivou os presentes a participar na educação, porque esta deve ser «decidida localmente» e «a qualidade da educação vai ser muito o que cada comunidade conseguir fazer com as escolas». Para ele a «palavra-chave» é «implicação».

Mas não é apenas o director que se refere à actividade do Centro nestes

termos; também o fazem outros membros da Comissão Pedagógica, sintetizando alguns princípios do funcionamento do Centro - exequibilidade das acções, funcionamento democrático, abertura e serviço à comunidade:

«Um princípio é a exequibilidade das próprias acções. Outro princípio é o próprio

funcionamento democrático do Centro. Outro princípio (...) é o princípio da porta aberta, pois qualquer pessoa pode chegar aqui, pode pôr os seus problemas, pode

requisitar material... Isto tem de funcionar assim, não é? Outro princípio é o serviço

à própria comunidade» (Ent., CPI, 1997).

professores e para o concelho. São principalmente professores do 1Q ciclo do ensino básico residentes e/ou a trabalhar no concelho há vários anos - o que decorre, quiçá, do seu anterior envolvimento em dinâmicas locais e de um maior interesse pelos problemas locais - que se referem à importância do Centro para o «local». Embora se pudesse traduzir num «alívio» para alguns, se o centro de formação acabasse seria um «prejuízo», um «défice» para as pessoas e para o concelho, sobretudo para os professores do 1Q ciclo, para quem a formação é, também, encontro:

«Se acabasse tudo, eu penso que as pessoas mal dariam por ela. Dariam os

professores do I9 ciclo, porque têm necessidade de se encontrarem. As acções de

formação são também uma forma de lutarem contra o isolamento; são uma forma

de partilharem informação, quanto mais não seja a informação de corredor, da sala de professores, não é? Os professores do 1a ciclo fazem da formação também esse tipo de momento» (Ent., MANUEL, 1997).

«Eu penso que para muitas pessoas seria um alívio. Agora, claro que acho que, apesar das críticas que poderão ser feitas, isso traduzir-se-ia num défice, num

prejuízo para as pessoas, disso não tenho dúvidas, porque por muito que se

critique vão aparecendo acções localizadas (...). As pessoas, em termos locais, sempre têm possibilidade de contactar com os formadores, de os trazer cá. Portanto, há um ganho, uma mais-valia» (Ent., CP1, 1997).

«Acho que o centro de formação procura trazer aquilo que há de mais interesse

para o local, o que não aconteceria se não existisse o centro de formação» (Ent,

CP3, 1997).

É necessário notar, no entanto, que o Centro funciona, ou sobrevive, graças aos actores e às dinâmicas locais e não apenas ao «decreto» que os instituiu. Este criou condições jurídico-administrativas e oportunidades de acesso ao financiamento, de aquisição de materiais e equipamentos, mas as dinâmicas locais devem-se essencialmente à capacidade mobilizadora e empreendedora dos actores locais, principalmente do director do centro. São estas dinâmicas que conferem singularidade ao Centro, num quadro geral de tendências uniformizantes.