• Nenhum resultado encontrado

Excertos do diário de campo e exemplificação da análise de conteúdo

1 de Outubro de 1997, Abertura do Ano Escolar - Recepção aos Professores (i, ii, iii,..., são notas que incluímos na coluna de «reflexão e análise» para indicarem aspectos que serão desenvolvidos no fim deste anexo)

Notas de observação/escuta

Mais uma vez o Centro de Formação, por iniciativa do director, organizou um dia de actividades para assinalar a abertura do ano escolar. Como das outras vezes, estavam presentes, para além dos professores e funcionários, as entidades locais, destacando-se o presidente da Câmara Municipal, que fez o discurso de abertura; representantes da administração educativa (Centro de Área Educativa de Viana do Castelo); da delegação de saúde; das associações de pais, alguns directores de Centros de Formação da região do Alto Minho e, para além destes, o director de um Centro de Formação do distrito de Braga que, embora não sendo tão próximo geograficamente como os outros estava presente devido à amizade que une os dois directores.

Estiveram também presentes os Doutores João Formosinho e António Sousa Fernandes, da Universidade do Minho, que participaram na iniciativa a convite do director do Centro. Estes abordaram, respectivamente, os temas: Gestão Escolar - Novos desafios" e "Educação e Autarquias: que compromissos?". Para além destes foram ainda abordados os temas: "Territórios Educativos/Agrupamento de Escolas", pelo professor Rómulo de Sousa - Delegado Escolar de Ponte da Barca - e "Caminhos da Formação de Professores", pela Dra. Margarida Moreira - Coordenadora Regional do Norte do Programa FOCO. Todos estes temas foram abordados da parte da manhã e do programa constou ainda um "Almoço

Reflexão e análise

Iniciativa do director.

Envolvimento dos diversos actores locais.

Relaçãpo entre Centros. Uma tentativa de aproximação dos dos Centros do Alto Minho, com vista à criação de uma parceria, conforme me referiu noutra altura o Manuel?

Amizade e entreajuda (i) Relação com a Universidade do Minho, que se mantém para além do Curso.

Temas: Territorialidade

edcuativa e formação (ii)

Convívio", que se prolongou pela tarde.

O prospecto de divulgação da iniciativa indicava a entidade patrocinadora (Patrocínio: Câmara Municipal) e a entidade organizadora (Organização: Centro de Formação das Escolas de (...). Continha ainda um texto em verso que transcrevo aqui, no conteúdo e na forma:

"Mais é aprender do que ensinar, mais descobrir que encontrar e mais inventar do que descobrir.

Menos é saber que saborear, menos é o ser do que o amar." Assim falava nas montanhas o velho

adorador das nuvens, de cujos pés (os dele) nasciam asas, sobrevoando

os espaços para além de todas as fronteiras"

O dia começou com o "acolhimento" e a "entrega de documentação", ao que se seguiu uma curta intervenção do director do Centro, que representava a «organização» e uma intervenção do presidente da Câmara Municipal, que representava a entidade «patrocinadora».

O director do Centro dirigiu uma saudação a todos os "convidados do centro de formação das escolas de (nome do concelho) e professores, funcionários administrativos e auxiliares da acção educativa" e agradeceu o patrocínio da Câmara Municipal, "sempre disponível para apoiar estas actividades e as escolas" e disse que a iniciativa de abertura do ano escolar se inseria numa "lógica de formação contínua de professores; numa lógica profissional". O discurso enfatizou mais uma vez a dimensão comunitária da educação - "A educação é um acto colectivo; é um acto de uma comunidade; é uma acto de um conjunto de profissionais ao serviço da educação e ao serviço das escolas" - e incentivou as pessoas a participarem na educação, porque esta deve ser "decidida

Patrocínio: Câmara Municipal Organização: Centro de Formação

Sonho, poesia (iii)

Acolhimento Relação Centro-Autarquia Lógica profissional A educação é um acto colectivo; é um acto da comunidade.

localmente" e "a qualidade da educação vai ser muito o que cada comunidade conseguir fazer com as escolas. Para ele a palavra-chave é "implicação".

Por sua vez, o presidente da Câmara começou por dizer que "Saudar os agentes de ensino e dar-lhes as boas vindas, no início de cada ano lectivo, tomou-se um hábito e constitui uma auto-obrigação que cumpro com agrado". Referindo-se ao problema da rede escolar do concelho, chamou mais uma vez a atenção para o reduzido número de alunos no 12 ciclo do ensino básico, dizendo: "estamos

na fase de alargar cemitérios e encerrar escolas". Lembrando o «processo de reestruturação da rede escolar», disse:

«No outono de 1994 e no inverno de 1995, foi constituída uma Comissão para estudar o tema e propor soluções (..). Em Março de 1995, foram apresentados o Relatório e as conclusões (...) (concluindo pela) necessidade de agrupar toda a escolaridade obrigatória em duas Escolas Básicas Integradas, às quais ficaria intrinsecamente ligado o ensino pré-escolar, embora, quanto a este, não houvesse forçosamente integração física nas EBI's, Durante mais de um ano, a DREN nem sequer respondia. Com os novos responsáveis da DREN, o alheamento foi rompido em Maio de 1996. O Director Regional concedeu-nos uma audiência, o Director Regional Adjunto e um quadro superior vieram a (nome do concelho). As nossas conclusões foram debatidas e apreciadas. Mas as soluções ainda não vieram, as limitações orçamentais e a definição de prioridades continuam a ser-nos desfavoráveis e a penalizar-nos. É necessário e urgente continuar a lutar e a reivindicar. A nossa situação é insustentável e ainda continua a agravar- se». (retirado do texto escrito do discurso do presidente da Câmara).

Das intervenções dos Doutores João Formosinho e António Sousa Fernandes podem destacar-se as referências

Decisão local

Implicação

Hábito, ritual

Rede escolar (iv)

«Estamos na fase de alargar cemitérios e encerrar escolas».

Relação Autarquia - DREN

«É necessário e urgente continuar a lutar e a reivindicar».

feitas pelo primeiro aos contratos de autonomia, chamando a atenção para o facto de que um contrato responsabiliza ambas as partes - escolas e administração - e não apenas das escolas, envolvendo por isso contrapartidas do Estado, e o desafio lançado pelo segundo à criação de um Conselho Local de Educação no concelho. Sousa Fernandes incentivou os professores, as escolas, os municípios, o nível local a tomarem iniciativas sem grandes receios das normas, pois é difícil mexer com a administração, ainda muito centralizada e burocrática.

A última intervenção foi da Dra. Margarida Moreira, coordenadora Regional do Norte do Programa FOCO. Utilizou um discurso alegórico intercalando momentos de apelo e mobilização e momentos de crítica. Estas críticas dirigiu-as aos directores de centro, aos membros das comissões pedagógicas e aos professores por estes dizerem apenas por onde não querem que a formação vá, sem dizerem por onde deve ir, isto é, por criticarem sem apresentarem alternativas. Falando sobre o que define os «bons centros de formação» disse ainda que há em relação a isso duas perspectivas: o centro que tem um director simpático, do tipo «deixa lá, eu passo-te uma declaração» e o centro que tem um director exigente, do tipo «diz lá o que queres; qual é o teu projecto?» Quanto aos créditos, disse que «os créditos têm muita culpa, mas têm as costas largas; têm servido de alibi para não fazermos a formação que pretendemos».

Das escassas intervenções da plateia, apenas saliento a do delegado escolar do concelho. Este chamou a atenção para a situação em que os professores vivem actualmente "de chapéu na mão, como se andassem a mendigar" e para o problema da mobilidade docente, pois "assim é quase impossível fazer qualquer coisa". Sobre a formação contínua dos professores disse que continuava a vê-la para progressão na carreira individual dos professores levando estes a pensarem quase exclusivamente nos

Contratos de autonomia

Conselho Local de Educação

Local e Central: Inicativa local e normas nacionais

«é difícil mexer com a administração, ainda muito centralizada e burocrática».

Linguagem apelativa e mobilizadora: o ónus da «ineficácia» do sistema é atribuído aos actores locais da formação.

Parece-me que os créditos não são o alibi; a lógica de controlo gerada pela ligação formação<arreira é que induz uma resposta pragmática dos profesores.

Os professores vivem actualmente "de chapéu na mão, como se andassem a mendigar» (v)