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A Dinâmica da Orquestra

No documento O MÚSICO E SUA ÓPERA (páginas 53-62)

Raras profissões exigem tanta disciplina. A música em si demanda isso, mas a prática orquestral vai mais longe, primeiro pela natureza do conjunto, mas também pelas contingências do dia a dia. Por exemplo (para ficar só nesse): o músico não pode atrasar um minuto. Para a grande maioria de nós, atrasar cinco minutos numa reunião não chega a ser grave. Para o músico, não. Tem de estar no palco toda manhã, pronto para ensaiar, antes de o maestro subir no pódio.47

A orquestra sinfônica tem uma forma peculiar de distribuição de funções e uma hierarquia implícita entre seus membros. Dirigida por um maestro, cujo trabalho é definir as “cores” e os timbres que deseja ressaltar e equilibrar sonoramente o conjunto, comunicando aos músicos, através de gestos e intenções, a concepção e o dinamismo que deseja imprimir à obra, a orquestra pode ser compreendida como o instrumento do maestro. O maestro pode, também, acumular o cargo de diretor artístico da orquestra, definindo calendário, regentes convidados e repertório, imprimindo a identidade musical do conjunto. Por outro lado, há o spalla e os demais solistas48, que ocupam posição de destaque por sua técnica e capacidade artística mais refinada ou por serem elementos de confiança do maestro, responsáveis pela execução dos solos e pela liderança de seus naipes. Quando têm projeção no meio artístico, alguns solistas podem influenciar regente e demais membros da orquestra, influência que se reflete no resultado final do trabalho - a música. Os outros membros da orquestra realizam solos eventuais e dão volume sonoro ao corpo sinfônico. Nesse ambiente, as relações são construídas ao longo de anos de convivência e uma complexa rede de relacionamento se desenvolve entre todos os envolvidos – músicos, naipes, solistas, spalla, maestro, críticos e público.

Para integrar a orquestra, cada músico estudou muitos anos, aprimorando em alto nível um talento já singular. Agora, no entanto, justamente quando vai tocar, não sobra quase espaço para a expressão individual. Pelo contrário: o bom músico precisa dar vida do modo mais expressivo às ideias do maestro, não às suas. Tem mais: para a maioria dos músicos de orquestra – exceção feita aos de função solista (como o spalla, a primeira flauta, o primeiro trompete,

47 Trecho do diário de Artur Nestrovski, diretor artístico da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP), publicado na Revista Piauí, 52, jan. 2011.

48Spalla é o primeiro-violino solista da orquestra. Os solistas a que me refiro são os solistas dos diversos naipes da orquestra. Então, por exemplo, temos o solista do naipe dos oboés, dos fagotes, dos violoncelos, dos contrabaixos, etc., que são conhecidos por primeiro oboé, primeiro fagote, spalla dos celos, etc.

o tímpano, etc.) – não há como ser ouvido individualmente. Excelentes músicos que são, sacrificam sua arte mais pessoal em nome do conjunto. Nem o maestro consegue escutar exatamente como toca um violinista da quarta fileira – a não ser quando toca uma nota errada.49

Elissa Cassini, franco-americana spalla da Petrobrás Sinfônica para a temporada 2011, assim define a sua função na orquestra: “Meu papel é ser o mais flexível possível para atingir o que o maestro deseja e clara o bastante para que todo o mundo possa seguir isso”50. Noël Devos, em sua entrevista, enfatiza a necessidade de comunicação e sociabilidade entre os músicos da orquestra e acredita na influência que o comportamento e o reforço artístico de um músico podem gerar em toda a orquestra.

Porque, a gente é contratado, por exemplo, para, como é que se diz? pra preencher alguma vaga na orquestra. Mas, também, preencher a vaga, mas se comunicar com os outros músicos, certo? Socialmente e artisticamente. Quer dizer, eu acho que, do ponto de vista artístico, o pessoal sempre me respeitou na orquestra. Quer dizer, gostava assim da maneira, ou então o maestro dizia:

“olha, olha” [se referindo à maneira de Devos executar certo trecho] e a orquestra faz assim. Então, vai influenciando a maneira, o comportamento artístico, os amigos, se estão gostando disso, porque eu não me acho, não que eu não faça questão, eu me acho normal. [...] É o meu trabalho, e também, da comunicação, da ajuda ao reforço artístico aos colegas. Eu acho normal também, que eles tocam muito bem, não é?. Tem de aplaudir. (ND: 280/1699 a 1714)

José Botelho apresenta a orquestra sempre de forma positiva. Para ele, é um local de realização do músico instrumentista e, como uma grande família, ambiente no qual se exercitavam a solidariedade e a cooperação. As redes sociais eram ampliadas e os laços fortalecidos pela participação e envolvimento dos membros das famílias dos músicos.

Uma orquestra sinfônica para mim, do ponto de vista artístico, praticamente, é o ápice que um músico instrumentista de sopro, que a gente faz de música, é numa orquestra sinfônica. Não existe nada mais poderoso do que isto. Agora a gente tem, claro, individualmente, a gente faz muitas coisas, música de câmara, toca concertos. E o ambiente dentro da orquestra, como tudo na vida, evolui pra cima ou pra baixo. No meu tempo, em que eu estava na orquestra, cinquenta anos que eu trabalhei em orquestra, o ambiente entre o grupo de músicos,

49 Trecho do diário de Artur Nestrovski, diretor artístico da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP), publicado na Revista Piauí, 52, jan. 2011.

50 “De malas prontas para liderar uma orquestra”. O Globo. Segundo Caderno, página 2. 9 de fevereiro de 2011.

principalmente entre os sopros, era muito bom, a gente se dava muito bem, [...]

Tínhamos colegas que tinham problemas, que os maestros não queriam que tocassem e a gente nunca chegava perto desse colega e dizia assim: “o maestro não quer que você toque”. Isso era cruel. Então a gente dava um jeito entre nós de evitar que isso acontecesse. Esses colegas acabavam morrendo até sem saber que tinham problemas em relação ao maestro. (JB: 179/537 a 562)

[...], a minha mulher falava que a Orquestra do Theatro Municipal, na minha época, que eu toquei lá de 58 a 77, até 78 praticamente, era uma família, e era uma verdade, porque eles davam uns bilhetes pra gente levar as famílias pra assistir ópera, balé. Então, o que acontece? As esposas ficavam todo mundo juntas, na plateia ou a geral, e acabavam, tem amizade que vai até hoje com esposas de colegas que foi dessa época. Então você via, era um por todos e todos por um. O cara que fazia alguma porcaria na orquestra, ela se levantava logo em cima. (JB: 180/567 a 577)

A relação física entre a regência e os instrumentistas é ressaltada por Odette.

Maestros como Leonard Bernstein (1918 – 1990), Igor Markevitch (1912 -1983), Charles Munch (1891 – 1968), Erich Kleiber (1890 – 1986) são marcantes para Odette por sua capacidade artística, mas, sobretudo, pela forma como se comunicavam com os músicos da orquestra.

[...] o Leonard Bernstein, foi incrível, o homem, Leonard Bernstein. Fiz uma temporada de quinze dias com ele no Rio, em São Paulo. Ele tocou o Concerto de Mozart, ele mesmo regendo. Tocamos obras dele, sabe? Como compositor, como regente, como pianista, amigo das pessoas, conversando para na hora exigir. Edoard vom Beinum. Eu me lembro assim, a gente tocava coisa de Ravel e tudo, ele vinha no naipe explicava para cada um. Tem outro maestro, o Igor Markevitch, tocando Schubert, Mozart. O homem parecia um Lorde, Príncipe, assim magrinho, maravilhoso. Então eu tenho uma lembrança de ter tocado esse Schubert. [...] Agora tem uns que são bailarinos, né [risos]. [...] Então você pode tocar sozinho, ele está lá fazendo o número dele e tudo. Agora, tem uns assim que eu tenho boas lembranças. [...] Porque quando você toca é tão físico, entende? Se o maestro prende você, pra respiração, se você está com medo do cara que vai te humilhar ou falar uma coisa assim, você não toca. [...] porque você toca com o corpo, o emocional. Então, os melhores maestros, mais conhecidos, são aqueles que mais se comunicam com a orquestra. Agora, teve outros mais ou menos. Mas teve grandes maestros, gente muito boa que veio reger. (OED: 229/1492 a 1542)

Mas a orquestra também é ambiente de disputas e relacionamentos conflituosos. Há situações em que músicos desafetos trabalham lado a lado durante anos sem sequer se cumprimentarem, mas se relacionam musicalmente no exercício de sua atividade. Odette, em sua narrativa, demonstra que o ambiente de trabalho do

músico pode ser carregado e turbulento, ainda mais quando se trata de problemas com músico do mesmo naipe, onde a proximidade física é grande e não há como subverter o posicionamento tradicionalmente estabelecido dos músicos na orquestra.

E tinha um oboísta que viajou com a gente que era mais velho, [omissão]51, tocava, mas esse homem tinha sido repudiado na França porque ele foi colaboracionista com os alemães. Mas ele tocava tudo, sabe, mas eu não suportava aquele cara. Ele era mais velho, eu achava asqueroso, sabe, bem, ele não era do nosso,[...]. (OED: 223/1149 a 1155)

[...] ele52 tinha uma dificuldade, era uma pessoa, no início me tratou bem, depois começava cheio de problemas assim. Acabou que a história da Sinfônica, a OSB, pra mim, foi uma história muito triste. Porque, depois de dezessete anos, o problema lá muito grande assim. (OED: 224/ 1229 a 1234)

A relação do corpo orquestral com o maestro é outro ponto sensível. A figura do maestro é emblemática e mitificada. Para alguns, mais uma peça da orquestra, um músico que exerce a função de reger e interagir com os demais músicos para a realização de música em conjunto. Para outros, verdadeiro semideus a quem se admitem desmandos e muito poder, tornando os músicos da orquestra apenas peças para a realização de sua arte pessoal. Para James Galway, ex-flautista da Filarmônica de Berlim, “boa parte desses sujeitos são mestres da encenação” e para o violinista Carl Flesh “não há profissão em que um impostor possa entrar com mais facilidade”53 .

A figura ambígua do maestro é apresentada por Norman Lebrecht em livro que tem o sugestivo título O mito do maestro – grandes regentes em busca do poder. A mítica em torno da figura do “grande regente”, para Lebrecht, é uma criação artificial

“para um propósito não musical e fomentado por necessidade comercial” (2002, p. 10), uma ficção para preservar a atividade musical numa era de múltiplos entretenimentos.

Invejados por seu absolutismo, os maestros são “a encarnação do poder aos olhos dos todo-poderosos” (2002, p. 11). Cortejados, recebem presentes, condecorações e honrarias da elite mundial e de chefes de Estado que, em troca, “esperam compartilhar de parte da magia indefinível do maestro, os aspectos lendários de seu mito” (2002, p.

51 Omiti o nome do músico, por considerar irrelevante na análise do segmento.

52 Odette refere-se a um flautista.

53 LEBRECHT, 2002: 10.

12). Entre os aspectos lendários estão a posse da “chave da vida e do vigor eterno” e

“rumores de voracidade sexual” (2002, p. 11).

A necessidade de um profissional habilitado responsável pela execução das partituras sedimentou-se em meados do século XIX quando os compositores passaram a escrever de maneira mais complexa e para orquestras cada vez maiores. A relação maestro/orquestra é, ela própria, bastante complexa e ainda envolve interesses além dos musicais. Os músicos de orquestra reconhecem rapidamente o bom regente e o medíocre. “Quando trabalho com um regente medíocre, fico pensando: temos de enfrentar dois dias disto, e eu tenho de criar uma atmosfera agradável para a orquestra...” (2002, p. 16), disse a Lebrecht um spalla de orquestra. No entanto, nenhum músico é imprudente a ponto de denegrir regentes e pôr em risco sua orquestra sabendo que sua subsistência e a da instituição dependem da venda de ingressos e de subvenções. É uma relação que tem todos os ingredientes para ser tumultuada, um misto de amor e ódio, que pode tornar demasiado tenso o trabalho na orquestra. A utilização de betabloqueadores por parte dos músicos para suportarem a pressão do dia a dia em algumas orquestras, é um fato54.

Um mau regente é a maldição da vida cotidiana de um músico; e um bom regente não é muito melhor. Ele dá ordens que são redundantes e ofensivas, exige um nível de obediência desconhecido fora do exército e pode ganhar num concerto tanto quanto todo o resto de sua orquestra. [...] O mito começa com a muda submissão deles próprios. Músicos de orquestra são uma espécie calejada que se derrete ao brandir de uma varinha de condão (2002, p. 10).

Circulam no meio artístico, e às vezes na imprensa, as tensões existentes entre os músicos e a direção da orquestra, leia-se, o maestro55. Atualmente considerada a principal orquestra do país, a OSESP demitiu importantes e competentes músicos de seus quadros por discordarem da forma autoritária que seu regente titular, John Neschling, os tratava durante os ensaios. Uma matéria publicada no jornal O Estado

54 Semibreves – “A respeito das audições na OSB”, em http://semibreves.wordpress.com/2011/01/21/a-respeito-das-audicoes-na-osb/. Acesso em 21/08/2011.

55 Como exemplos recentes: “A rebelião da orquestra – músicos da OSB pedem o afastamento do maestro Roberto Minczuk”, em: http://vejabrasil.abril.com.br/rio-de-janeiro/editorial/m856/a-rebeliao-da-orquestra.“Músicos querem Minczuk fora da Orquestra Sinfônica Brasileira”, em

http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,musicos-querem-minczuk-fora-da-orquestra-sinfonica-brasileira,264532,0.htm. “OSESP, em crise, lembra cem anos da morte de Verdi”, em

http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u17260.shtml. Acessos em 06/02/2011

de São Paulo56 sobre a demissão de sete músicos da OSESP traz a público, com a contribuição de Fabio Cury, fagotista brasileiro reconhecido internacionalmente e ex-presidente da associação de músicos desta orquestra, a relação pouco harmoniosa que pode se estabelecer entre maestro e o corpo orquestral.

Em 10 de julho, foi encaminhado à direção da orquestra um abaixo-assinado feito por 70 músicos, quase 90% do quadro da orquestra, reclamando de ‘gritos, humilhações e palavras de baixo calão’ ditas pelo maestro. O documento também afirmava que tal atitude havia ‘desestimulado, frustrado e até intimidado os músicos, causando-lhes insegurança, inibindo-lhes a criatividade artística’.

A associação teria procurado, então, o maestro John Neschling. Ainda segundo Cury, o regente teria respondido que a associação não tinha nada a ver com a questão. ‘Ele também disse que, se fosse preciso, tinha respaldo da Secretaria de Cultura e do governo do Estado para mandar a orquestra toda embora e contratar outra no lugar. Que tinha liberdade para fazer o que bem entendesse’.

Anos depois, após publicação de entrevista que o indispôs com a direção da orquestra, o próprio maestro John Neschling foi demitido pelo presidente do Conselho de Administração da Fundação OSESP, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso57. O documento de demissão afirma que “a manifestação pública de Vossa Senhoria deixa poucas dúvidas quanto à possibilidade – como era nossa intenção – de uma convivência harmoniosa, no processo de sucessão, evidenciando conduta indesejável e inconciliável com o desempenho das atribuições contratuais”.

Em 2008, músicos da OSB pediram, sem êxito, a saída do maestro titular, Roberto Minczuk. No início de 2011, em resposta, a direção da OSB e seu maestro titular impuseram uma “avaliação de desempenho” a todos os músicos de seus quadros sob o argumento de moldar a orquestra a um padrão “internacional”. Essa forma de avaliação, em moldes semelhantes ao realizado em concurso de seleção para ingresso no corpo orquestral, além de não valorizar a história e a memória da orquestra e de

56 “Músicos demitidos criticam maestro da Osesp”, em

http://www.estadao.com.br/arquivo/arteelazer/2001/not20010821p6011.htm. Acesso em 14/10/2011.

57“John Neschling é demitido da OSESP”, em http://veja.abril.com.br/noticia/variedade/john-neschling-demitido-osesp-416541.shtml. Acesso em 06/02/2011.

E, ''O risco para a Osesp seria maior sem a substituição''

http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,o-risco-para-a-osesp-seria-maior-sem-a-substituicao,315869,0.htm. Acesso em 14/10/2011.

seus músicos, não encontra antecedente ou respaldo na prática mundial, pois não se avalia a totalidade de uma orquestra em audições individuais depois do conjunto já estar estabelecido (a avaliação é pontual e direcionada, normalmente, a um músico que demonstra desnível técnico e/ou artístico em relação ao conjunto).

Para impor as novas diretrizes e apoiar seu diretor artístico e maestro, Roberto Minczuk, a direção da Fundação (FOSB) demitiu sumariamente 33 músicos de seus quadros, alguns com mais de duas dezenas de anos em atividade na orquestra58, e buscou músicos no exterior para substituí-los. Este capítulo da história recente da OSB gerou a reação da comunidade internacional dos músicos e de pessoas interessadas na música sinfônica, produzindo interessante debate nas redes sociais (Facebook).

Entre a contribuição e a adesão de dezenas de músicos e entidades de classe, está a da presidente da Associação dos Músicos do Theatro Municipal, Jesuína Noronha Passaroto, que me permitiu a publicação do trecho abaixo. Jesuína se manifestou após o incidente do dia 9 de abril de 201159, no Theatro Municipal, no qual os músicos da OSB Jovem se negaram a substituir os músicos profissionais da OSB e se retiraram do palco, deixando o maestro Roberto Minczuk sem orquestra para reger. De forma sensível e simples, Jesuína fala sobre a contribuição dos colegas mais experientes na formação pessoal e profissional dos músicos mais jovens, opinião que compartilho.

Fico imaginando se estes músicos maravilhosos com quem trabalhei durante anos, que sabiam tudo sobre as partituras e me ensinaram tanto, se também teriam que passar por esta avaliação imposta cruelmente pela direção da OSB?

Fatalmente eu ficaria privada destas preciosas informações se estivesse entrando na OSB agora. Não consigo imaginar o Vovô Niremberg tendo que provar alguma coisa para alguém, porque simplesmente ele era o Vovô Niremberg no auge da sua sabedoria. Numa orquestra existem muitos ensinamentos que nenhuma avaliação de desempenho pode demonstrar. Às vezes pequenos conselhos de nossos companheiros de estante que já trilharam uma longa estrada musical fazem toda a diferença na hora da execução das partituras. Aliás, talvez seja esta a melhor forma de fazer uma orquestra melhorar. A experiência da vida musical de seus músicos é a melhor conselheira, a oportunidade de aprender com quem já fez, é assim que se chega à excelência buscada. A mensagem passada aos novos músicos que

58 Ver “Descompasso na OSB”, Segundo Caderno de O Globo, dia 23 de fevereiro de 2011.

Último Segundo: “OSB inicia nova fase dividida em duas e com músicos recontratados”, em http://ultimosegundo.ig.com.br/cultura/musica/osb+inicia+nova+fase+dividida+em+duas+e+com+musicos +recontratados/n1597194836461.html. Acesso em 13/10/2011.

59 “Músicos da OSB Jovem protestam contra Minczuk e abandonam o palco do Theatro Municipal”, em

http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2011/04/09/musicos-da-osb-jovem-protestam-contra-minczuk-abandonam-palco-no-theatro-municipal-924199407.asp. Acesso em 18/10/2011.

estão chegando na OSB jovem é inversa àquela que aprendi. Obrigando-os a substituir a programação da OSB se passa a mensagem de que não precisa se respeitar absolutamente nada, não precisa respeitar os mais experientes, não precisa respeitar a história, basta obedecerem que ficaremos bem.

Um acordo coletivo de trabalho (Anexo 9) encerrou a crise na OSB. Os músicos demitidos foram reintegrados aos quadros da FOSB em um novo conjunto orquestral que será mantido até, no mínimo, 31.08.2013. Entre as exigências dos músicos, o novo conjunto não será regido pelo atual maestro titular da FOSB, Roberto Minczuk.

Fama, poder, vaidade e dinheiro estão intimamente associados ao cargo de maestro. Em artigo intitulado “Fogueira das Verdades”60, John Neschling expõe a situação comum, mas pouco conhecida, da disputa pelo posto de maestro de uma grande orquestra.

A saída de Roberto Minczuk da Osesp foi bastante polêmica, e por anos carreguei a “pecha” de ter sido injusto com ele. Ainda ontem, um leitor deste blog lembrou-me de uma matéria que saiu no Estadão em que um jornalista me chamava de “tiranete da batuta”, como se eu estivesse prejudicando o desenvolvimento artístico e profissional do meu regente assistente. [...]. Quando um membro da comissão dos músicos da OSESP me chamou para contar que a então Secretária de Estado de Cultura, Cláudia Costin (atual membro do conselho de administração da OSB), durante uma de minhas viagens, havia convocado a comissão de músicos da OSESP para dizer que meu contrato estava expirando e abrindo espaço à discussão de uma sucessão, as coisas começaram a ficar preocupantes. Soube logo depois, por fonte idônea, que Cláudia Costin e Roberto já haviam inclusive acertado o salário para que ele me substituísse. Não havia mais sentido em trabalhar com uma pessoa em que eu não confiasse. [...] Em seguida, sofri uma intensa campanha de difamação, alimentada por amigos e familiares de Roberto. Antes ainda, eu já havia pago um preço alto pela demissão de sete músicos da OSESP, cuja responsabilidade

A saída de Roberto Minczuk da Osesp foi bastante polêmica, e por anos carreguei a “pecha” de ter sido injusto com ele. Ainda ontem, um leitor deste blog lembrou-me de uma matéria que saiu no Estadão em que um jornalista me chamava de “tiranete da batuta”, como se eu estivesse prejudicando o desenvolvimento artístico e profissional do meu regente assistente. [...]. Quando um membro da comissão dos músicos da OSESP me chamou para contar que a então Secretária de Estado de Cultura, Cláudia Costin (atual membro do conselho de administração da OSB), durante uma de minhas viagens, havia convocado a comissão de músicos da OSESP para dizer que meu contrato estava expirando e abrindo espaço à discussão de uma sucessão, as coisas começaram a ficar preocupantes. Soube logo depois, por fonte idônea, que Cláudia Costin e Roberto já haviam inclusive acertado o salário para que ele me substituísse. Não havia mais sentido em trabalhar com uma pessoa em que eu não confiasse. [...] Em seguida, sofri uma intensa campanha de difamação, alimentada por amigos e familiares de Roberto. Antes ainda, eu já havia pago um preço alto pela demissão de sete músicos da OSESP, cuja responsabilidade

No documento O MÚSICO E SUA ÓPERA (páginas 53-62)