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3.3. O contexto da pesquisa

3.3.1. A proposta pedagógica do colégio

3.3.1.4. A disciplina de Leitura e Letramento

Consta do rol das disciplinas ofertadas no Ensino Médio do colégio, a disciplina Leitura e Letramento, com duas aulas semanais no currículo, à qual nos atemos mais especificamente nesta pesquisa. A opção por inserir essa disciplina na matriz curricular ocorreu após a equipe pedagógica e ensinantes constatarem que os aprendentes, de um modo geral, apresentavam dificuldades para ler e interpretar textos, argumentar em avaliações das disciplinas do currículo escolar e, por consequência, obtinham desempenho insatisfatório nas avaliações do ENEN (Exame Nacional do Ensino Médio) e em vestibulares.

Essa disciplina foi, inicialmente, proposta, em 2009, por uma professora de Língua Portuguesa do colégio, respeitando-se o previsto no Art. 6º da Resolução CEB 3/1998, no qual é mencionado que os sistemas de ensino têm autonomia para construir propostas pedagógicas próprias, de forma diversificada, sem abrir mão das diretrizes nacionais que garantam uma mesma base para o conjunto do país.

A disciplina Leitura e Letramento compõe a matriz curricular do Ensino Médio, é independente da disciplina de Língua Portuguesa e está relacionada à área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Realizamos um levantamento, porém não identificamos disciplina com essa nomenclatura na matriz curricular de outros colégios da rede particular.

Em razão do desligamento da professora dessa disciplina ao final de 2011, passamos a ministrá-la a partir de 2012 até a presente data. Assim que tivemos contato com o plano de ensino da disciplina, percebemos a necessidade de realizarmos algumas adaptações de caráter teórico e metodológico, tais como a inserção da abordagem de gêneros textuais, porém consideramos importante ouvir os aprendentes dos 2º e 3º anos que já conheciam a disciplina para termos conhecimento de suas expectativas em relação aos conteúdos trabalhados e à metodologia adotada até então. Após essa sondagem inicial, identificamos que os aprendentes, de um modo geral, gostavam e reconheciam a importância da disciplina na matriz curricular do Ensino Médio, porém consideravam que a disciplina tinha um viés sociológico muito acentuado, esbarrando-se, às vezes, em conteúdos da disciplina de Sociologia. Por outro lado, percebemos também que eles temiam que a disciplina se transformasse em uma disciplina complementar a de Língua Portuguesa, com abordagem de conteúdos de gramática ou períodos literários.

Após essa nossa sondagem inicial, realizamos algumas reformulações de caráter teórico e metodológico e optamos por transformá-la em uma disciplina baseada no desenvolvimento de projetos temáticos, denominados projetos de letramento, partindo sempre da leitura de gêneros textuais, conforme apresentamos o seguinte plano de ensino:

PLANO DE ENSINO DA DISCIPLINA LEITURA E LETRAMENTO I. CONCEPÇÃO DO ENSINO DE LEITURA E LETRAMENTO

Consideramos o ensino e a aprendizagem de Leitura e Letramento na escola como resultantes da articulação de três variáveis: o aprendente, o texto e o ensino:

 Aprendente: é o sujeito da ação de aprender, aquele que age sobre o objeto de conhecimento.

 Texto: é o objeto de conhecimento, entendido como o produto de uma atividade discursiva oral ou escrita formando um todo significativo, independente de sua extensão.

 Ensino: concebido como a prática educacional que organiza a mediação entre sujeito e objeto do conhecimento. Para que essa mediação aconteça, planejaremos, implementaremos e dirigiremos as atividades didáticas, com o objetivo de desencadear, apoiar e orientar o esforço de ação e de reflexão do aprendente.

II. OBJETIVOS GERAIS

 Reconhecer a linguagem como uma atividade humana, dar a ela a devida dimensão na nossa relação com o mundo - é a palavra que nos faz

humanos, que nos diferencia dos outros animais.

 Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização do mundo e da própria integridade.

 Aplicar as tecnologias de comunicação e de informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes da vida.

 Analisar os recursos expressivos da linguagem verbal, relacionando textos/contextos, mediante a natureza, função, organização, estrutura, de acordo com as condições de produção, recepção (intenção, época, local, interlocutores participantes da criação e propagação das ideias e escolhas, tecnologias disponíveis).

 Recuperar, pelo estudo do texto literário, as formas instituídas de construção do imaginário coletivo, o patrimônio representativo, a cultura e as classificações preservadas e divulgadas, no eixo temporal e espacial.

 Articular as redes de diferenças e semelhanças entre a língua oral e escrita e seus códigos sociais, contextuais e linguísticos.

 Considerar a língua portuguesa como fonte de legitimação de acordos e condutas sociais e como representação simbólica de experiências humanas manifestas nas formas de sentir, pensar e agir na vida social.

 Entender os impactos das tecnologias de comunicação, em especial da língua escrita, na vida, nos processos de produção, no desenvolvimento do conhecimento e na vida social.

Utilizar-se de ferramentas computacionais (softwares) como meio de expressão, controle e fluxo das informações.

 Desenvolver competências de obtenção e utilização de informações, por meio do computador, e sensibilizar os aprendentes para a presença de novas tecnologias no cotidiano.

III. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Dominar os usos da linguagem nas várias situações sociais, ou seja, desenvolver a competência comunicativa nas diversas formas de interação.  Formar competentes leitores de textos orais e escritos.

 Propiciar que o aprendente amplie o domínio ativo do discurso nas diversas situações comunicativas, de modo a utilizar a linguagem adequadamente para atender às múltiplas demandas.

 Aprimorar o senso crítico, estabelecendo relações entre os textos analisados e o contexto histórico-social em que estão inseridos.

 Desenvolver a habilidade argumentativa – oral e escrita.

 Ativar conhecimentos prévios que os aprendentes possuem sobre os aspectos envolvidos na leitura para selecionar as informações que possam criar o contexto de produção, garantindo, assim, sua fluência.

 Antecipar informações, ou seja, antever o que pode estar contido no texto a ser lido.

 Selecionar informações, tal estratégia permite ao leitor focalizar a sua atenção apenas nos índices de leitura que lhe serão úteis, desprezando outros, para realizar previsões e conferir outras já realizadas.

 Verificar informações, permitindo o controle da leitura, podendo, assim, validar ou não as previsões e inferências realizadas inicialmente.

 Praticar a escuta ativa dos diferentes textos ouvidos em situações de comunicação direta ou mediada por telefone, internet, rádio ou televisão: inferência sobre alguns elementos de intencionalidade implícita (sentido figurado, humor etc.), reconhecimento do significado contextual e do papel complementar de alguns elementos não-linguísticos para conferir significação aos textos (gesto, postura corporal, expressão facial, tom de voz, entonação).  Reconhecer as particularidades de diferentes gêneros textuais aos quais os

 Compreender os textos orais e escritos com os quais os aprendentes se defrontam em diferentes situações de participação social, interpretando-os corretamente e inferindo as intenções de quem os produz.

 Valer-se da linguagem para melhorar a qualidade de suas relações pessoais, sendo capazes de expressar seus sentimentos, experiências, ideias e opiniões, bem como de acolher, interpretar e considerar os dos outros, contrapondo-os quando necessário.

 Ampliar as possibilidades de uso da linguagem e a capacidade de análise crítica.

 Conhecer e analisar criticamente os usos da língua como veículo de valores e preconceitos de classe, credo, gênero ou etnia.

 Compreender o sentido nas mensagens orais e escritas de que é destinatário direto ou indireto, desenvolvendo sensibilidade para reconhecer a intencionalidade implícita e conteúdos discriminatórios ou persuasivos, especialmente nas mensagens veiculadas pelos meios de comunicação.

IV. VALORES, NORMAS E ATITUDES INTRÍNSECOS AO ENSINO DE LEITURA E LETRAMENTO

 Interesse por ouvir e manifestar sentimentos, experiências, ideias e opiniões.

 Compreensão das diferenças socioculturais que permeiam a nossa sociedade.

 Postura crítica diante de diversos textos com os quais nos deparamos em situações cotidianas.

 Valorização da leitura como mecanismo de compreensão da sociedade e como prática transformada da realidade.

 Interesse por analisar as diversas produções textuais como manifestações ideológicas.

 Rejeição a ideias e doutrinas preconceituosas, sem respaldo científico ou social.

 Preocupação com a comunicação nos intercâmbios: fazer-se entender e procurar entender os outros.

 Segurança na defesa de argumentos próprios e flexibilidade para modificá- los, quando for o caso.

 Respeito diante de comentários de outras pessoas, no que se refere tanto às ideias quanto ao modo de falar.

 Valorização da cooperação como forma de dar qualidade aos intercâmbios comunicativos.

 Reconhecimento do valor da língua escrita como meio de informação e transmissão da cultura.

 Sensibilidade para reconhecer e capacidade de questionar, com ajuda do ensinante, conteúdos discriminatórios, veiculados por intermédio da linguagem.

 Atitude crítica diante de textos persuasivos dos quais é destinatário direto ou indireto.

V. CONTEÚDO

Considerando que se trata de uma disciplina dinâmica, o conteúdo é estipulado trimestralmente a depender do tema do projeto de letramento.

VI. METODOLOGIA

A metodologia da disciplina tem como norte a construção permanente de conhecimento. O planejamento das atividades que estão relacionadas ao ensino, à aprendizagem e ao processo avaliativo da disciplina é realizado considerando-se a duração de um trimestre. No início de cada trimestre é proposto aos aprendentes um tema que norteará o desenvolvimento de todas as atividades, tendo como ponto de partida a leitura de gêneros textuais.

Para a nossa prática pedagógica utilizamos a metodologia ativa baseada em projeto, pois consideramos que essa metodologia possibilita aprendizagem significativa, com ensino baseado em contextualização em que o aprendente passa a ser protagonista de sua aprendizagem. Tendo como pressuposto a pedagogia inaciana, as aulas são estruturadas em práticas que procuram abordar os conteúdos por meio das seguintes etapas:

Contextualização: situar a realidade em seu contexto.

Experiência: experimentar vivencialmente.

Reflexão: refletir sobre a experiência.

Ação: agir consequentemente.

VII. AVALIAÇÃO

Os critérios de avaliação são compreendidos: por um lado, como aprendizagens indispensáveis ao final de um período; por outro, como referências que permitem — se comparados aos objetivos do ensino e ao conhecimento prévio com que o aprendente iniciou a aprendizagem — a análise dos seus avanços ao longo do processo, considerando que as manifestações desses avanços não são lineares, nem idênticas.

Assim, a avaliação é tratada como um processo constante, dinamicamente inserida no contexto de estudo, sendo considerados meios para as avaliações:

interpretações e análises de textos;

produções de textos;

debates e seminários;

trabalhos de pesquisa;

participação no projeto de letrmento.

Observações:

1. As tarefas avaliadas serão contextualizadas.

2. Serão consideradas as estratégias cognitivas e metacognitivas utilizadas pelo aprendente.

3. A avaliação deverá contribuir para que o aprendente desenvolva ainda mais sua capacidade.

4. O olhar para a avaliação será mais sensível do que técnico, pois serão avaliados o progresso e a evolução do aprendente ao longo do período.

3.4. Os participantes da pesquisa