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Em nosso cotidiano, ao circularmos pelas ruas, pelos meios de transporte, pelos bancos, pelos supermercados, enfim pelos mais diversos ambientes, deparamo-nos com bilhetes, cartões magnéticos, catracas, caixas e painéis

eletrônicos; aparelhos, máquinas, computadores e outros meios eletrônicos. Tendo em vista que estamos diante de uma nova realidade social e cultural, com a evolução acelerada de novas tecnologias da informação e comunicação, torna- se evidente a necessidade de superação dos desafios impostos pelas demandas sociais de uma sociedade altamente tecnologizada.

Conhecer características da linguagem digital pode ser decisivo para o sujeito participar ativamente na sociedade globalizada. Entendemos que as dificuldades daqueles que não dominam os processos de leitura e escrita estão aumentando cada vez mais, pois “clicar”, “teclar”, “navegar” parecem ser condições indispensáveis para se comunicar na sociedade digital.

Letramento digital pode ser compreendido como o conjunto de competências necessárias para o indivíduo entender e usar a informação de maneira crítica e estratégica, vinda de variadas fontes apresentadas por meio do computador. Buzato apresenta a seguinte definição de letramento digital:

Letramentos digitais são conjuntos de letramentos (práticas sociais) que se apoiam, entrelaçam e apropriam mútua e continuamente por meio de dispositivos digitais para finalidades específicas, tanto em contextos socioculturais geograficamente e temporalmente limitados, quanto naqueles construídos pela interação mediada eletronicamente. (2006, p. 16)

Conforme exposto anteriormente, letramento digital pode ser compreendido como o conjunto de competências necessárias para um indivíduo entender e usar a informação de maneira crítica e estratégica, em formatos múltiplos, vinda de variadas fontes e apresentada por meio do computador- internet, sendo capaz de atingir seus objetivos, muitas vezes compartilhados social e culturalmente.

Sendo assim, indagamos qual deve ser o papel da escola nesse contexto? Segundo Belloni (2005, p. 27),

Do livro e do quadro de giz à sala de aula informatizada e online a escola vem dando saltos qualitativos, sofrendo transformações que levam de roldão um professorado mais ou menos perplexo, que se sente muitas vezes despreparado e inseguro frente ao

enorme desafio que representa a incorporação das TIC´s ao cotidiano escolar.

De acordo com a autora, a integração das TIC aos processos educacionais ultrapassa as questões puramente técnicas e passa a se situar no nível de definição das grandes finalidades sociais da educação. Diante desse contexto, paramos para refletir sobre qual perfil de aprendente procura-se construir? Qual deve ser o papel do ensinante? Qual a metodologia mais adequada? Essas e outras indagações precisam ser consideradas na elaboração de uma proposta pedagógica. Acreditamos que os computadores não vieram para excluir ou assumir o papel do ensinante, mas para agregar valores e funções. Os aprendentes podem aprender, de forma prazerosa, resolvendo situações, negociando questões e significados, criando amizades a partir das tecnologias.

Segundo Cristóvão et al (2006, p. 73), “o ensino de linguagem em sala de aula pode e deve fazer o aprendente-leitor questionar e produzir novos sentidos para os discursos que nos rodeiam”. Esse caráter de questionamento e produção poderiam permear as práticas educacionais em geral, quer em sala de aula, quer em outros contextos de ensino e aprendizagem.

Para Soares (2002), a leitura e a escrita no computador, por exemplo, acarretam mudanças não apenas entre escritor e leitor, mas entre leitor e texto, possibilitando novas formas de conhecimento, novas habilidades de leitura e escrita, apontando para a necessidade de surgimento de um novo paradigma ou modalidade de letramento, denominado letramento digital, que pode ser definido como conhecimentos que permitem que as pessoas participem de práticas letradas mediadas por computadores e outros dispositivos eletrônicos no mundo contemporâneo.

A forma digital de apropriação do conhecimento ocorre no âmbito das novas tecnologias da informação e comunicação. A linguagem digital rompe com a narrativa contínua e sequenciada dos textos escritos, uma vez que se apresenta como um fenômeno revolucionário na maneira de pensar e de compreender do homem. Seu tempo e espaço são expressos em imagens e textos nas telas e relacionam-se diretamente com o momento de sua exposição.

Segundo Lévy (2006), a forma digital prolifera-se de maneira acelerada através do mundo da comunicação. A cultura audiovisual – tv, rádio, cinema, Internet, os jogos eletrônicos e outros – envolve e seduz crianças, jovens e adultos, por meio de imagens, sons, cores, movimentos e textos provocativos, gerando novas formas de linguagem, em que se fazem presentes o pensar e o sentir.

As novas práticas sociais de letramento demandam interlocutores ainda mais críticos e conscientes dos processos discursivos de significação, o que pode conduzir o ensinante a repensar as suas metodologias bem como os seus objetos de aprendizagem. Nesse sentido, o espaço dado aos gêneros verbais, bem como aos elementos que os constituem e os caracterizam, pode ser ampliado para outros gêneros textuais midiáticos, compostos por outras formas de expressão e estrutura composicional.

Na sociedade tecnologizada, há questões muito mais complexas do que aprender a lidar com os desafios operacionais que se impõem no cotidiano. Estamos diante de uma nova forma de pensar o mundo, por essa razão é necessário formar indivíduos para uma nova cidadania, que possam ser capazes de participar efetivamente da vida social e política, assumindo tarefas e responsabilidades de um cidadão com condições de se comunicar nos mais diferentes contextos.

No que diz respeito ao uso das novas tecnologias de informação, há certa resistência, pois há quem considere que a única função dos computadores é auxiliar o ensinante no ensino de conteúdos tradicionais do currículo, ou até mesmo desumanizar a educação formal. Em contrapartida, há alguns pesquisadores que consideram que a introdução das Novas Tecnologias de Informação na educação pode estar associada à mudança do modo como se aprende, à mudança de interação entre quem aprende e quem ensina, além do modo como se reflete sobre a natureza do conhecimento.

Quanto ao entendimento sobre letramento digital, há algumas concepções ingênuas, sendo definido como um conhecimento técnico, por meio do qual é possível realizar tarefas como utilizar o mouse, o teclado, instalar programas de computador, realizar um download e outros, entretanto letramento digital envolve

outras habilidades além das mencionadas, tais como avaliar criticamente um material a que se tem acesso nos meios tecnológicos.

Para Soares (2002, p. 145), “letramento é o estado ou condição de indivíduos ou de grupos sociais de sociedades letradas que exercem efetivamente as práticas sociais de leitura e de escrita, participam competentemente de eventos de letramento”. Ainda, para a autora, é importante destacar a dimensão múltipla do termo letramento, enfatizando-se a ideia de que

(...) diferentes tecnologias de escrita geram diferentes estados ou condições naqueles que fazem uso dessas tecnologias, em suas práticas de leitura e de escrita: diferentes espaços de escrita e diferentes mecanismos de produção, reprodução e difusão da escrita resultam em diferentes letramentos. (SOARES, 2002, p. 156)

Nesse sentido, a autora aborda a noção de letramento digital como estado ou condição dos indivíduos que conseguem se adaptar às novas tecnologias digitais, bem como praticar leitura e escrita em novos suportes, considerando também os desafios existentes no ciberespaço.

Rojo (2012) reconhece que a presença das tecnologias digitais em nossa cultura contemporânea cria novas possibilidades de expressão e comunicação. A escola deve incorporar cada vez mais o uso das tecnologias digitais para que os aprendentes e os ensinantes possam aprender a ler, escrever e expressar-se por meio delas. Para a autora,

(...) as tecnologias digitais estão introduzindo novos modos de comunicação, como a criação e o uso de imagens, de som, de animação e a combinação dessas modalidades. Tais facilidades passam a exigir o desenvolvimento de diferentes habilidades, de acordo com as diferentes modalidades utilizadas, criando uma nova área de estudo, relacionada com os diferentes tipos de letramento - digital (uso das tecnologias digitais), visual (uso das imagens), sonoro (uso de sons), informacional (busca crítica da informação) - ou os múltiplos letramentos, como têm sido tratados na literatura. (ROJO, 2012, p. 37)

Há várias maneiras de inserir as práticas digitais no mundo escolar. A nosso ver, é necessário levar para dentro da escola as práticas existentes na

sociedade, desenvolver o senso crítico dos aprendentes, trabalhando com textos de circulação social, bem como lê-los em diversos suportes. Se imaginarmos uma aula de leitura de uma pintura, por exemplo, o aprendente pode navegar por sites de museus e conhecer, em detalhes, obras de grandes artistas. Nesse contexto, o ensinante passa a ter o papel de mediador e estimulador das atividades. O aprendente, por sua vez, deixar de ter papel passivo para ser agente de seu processo de pesquisa na medida em que traça suas estratégias de aprendizagem.

Diante do exposto, entendemos ser essencial que a escola, por ser uma das agências de letramento, insira em suas práticas as novas configurações de uso da linguagem por meio digital. Conforme Araújo (2007, p. 81), “a escola configura-se como lugar propício em que se pode forjar um novo intelectual letrado que poderá se inserir criticamente em uma sociedade que exige práticas múltiplas de letramento, inclusive digitais”.

A nosso ver, o uso dos recursos multimidiáticos, em especial da internet, permitirá que as escolas rompam com paradigmas e possibilitem que ensinantes e aprendentes assumam novas posturas, tornem-se pesquisadores, interajam, independentemente do tempo e do espaço, sem excluir o diálogo pessoal e o contato humano durante a aula presencial.

Considerando o papel da escola em relação à formação de cidadãos do futuro, é importante repensar as práticas de ensino, introduzindo uma proposta pedagógica que busque atender às demandas da sociedade tecnológica, tendo em vista que

A educação escolar precisa compreender e incorporar mais as novas linguagens, desvendar os seus códigos, dominar as possibilidades de expressão e as possíveis manipulações. É importante educar para usos democráticos, mais progressistas e participativos das tecnologias, que facilitem a evolução dos indivíduos. (MORAN, 2006, p. 36)

O ambiente virtual, como já dito, é uma realidade para grande parte das pessoas hoje em dia. Nesse ambiente encontram-se animações, fotografias, hipertextos, imagens, sons etc. O aprendente, por sua vez, tem de saber como

navegar entre tantas opções e formas diferentes de texto, selecionando o que for relevante para sua pesquisa e analisando com um senso crítico as informações disponíveis a ele, pois é importante que não se aceite com passividade tudo o que está exposto. Nesse sentido, o letramento digital torna-se essencial atualmente.