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A DISSERTA ÇÃ O – DEDUÇÃ O E INDUÇÃ O

A HORA DO ESPANTO AS “PÉROLAS” DO PORTUGUÊS

VOCABULÁRIO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA

4 DA PETIÇÃO INICIAL

4.2. A DISSERTA ÇÃ O – DEDUÇÃ O E INDUÇÃ O

Podemos desenvolver uma dissertação, encaminhando nosso raciocínio “indutivamente”, ou seja, partindo de um fato particular para uma generalização, ou “dedutivamente”, tomando um princípio geral para chegar a uma conclusão particularizante.

Pelo método dedutivo, opera-se o raciocínio silogístico: parte-se de uma premissa de caráter geral para se chegar a uma conclusão particular.

A dedução leva-nos a tomar fatos ou ideias gerais para alcançar uma conclusão singularizada.Portanto, deduz-se quando se parte da generalização em direção à particularização.

A linguagem deve ter a clareza de um pensamento disciplinado, visando à concatenação e ordenação de ideias. Concatenar ideias é buscar seu encadeamento, formando a tessitura redacional, à medida que se empregam termos adequados. A linguagem adequada formará o repertório linguístico que se espera de um advogado.

Uma dissertação bem redigida apresenta perfeita articulação de ideias. Para obtê-la, é necessário promover o encadeamento semântico (significado ou ideias) e o encadeamento sintático (mecanismos que ligam uma oração à outra). Tal coesão é obtida por meio de elementos de ligação – conectivos de integração harmoniosa de orações e parágrafos em torno de um mesmo assunto –, que se traduzem no eixo temático. Esses elementos de ligação podem ser advérbios, conjunções, preposições, pronomes etc. Há elementos ou conectores:

a) de adição, continuação: outrossim, ademais, vale ressaltar também; b) de resumo, recapitulação, conclusão: em suma, em resumo; c) de causa e consequência: por isso, de fato, com efeito. Nesse passo, Rodríguez (2000: 263) preleciona que

para cada tese se traceja um percurso argumentativo, uma linha de raciocínio que deve ser transmitida ao leitor. No desenvolver dos argumentos, é necessário que se observe um fator de textualidade denominado coerência. Não basta selecionar, entre os vários tipos de argumentos, os mais persuasivos e adequados ao caso concreto, mas é necessário ver se esses argumentos se coadunam, se pertencem a uma linha de raciocínio único. Se os argumentos não pertencerem a essa linha única de raciocínio, está-se diante da falta de coerência, que, em seu grau máximo, se denomina contradição.

A estratégia argumentativa ou percurso argumentativo que melhor contribui para tornar o texto persuasivo e convincente é a “exemplificação”, que ilustra e fundamenta as ideias-núcleo. Sem a exemplificação correspondente a cada ideia-núcleo citada, a argumentação fica inócua. Daí o peticionário se valer de argumentos doutrinários e jurisprudenciais. Um dos objetivos da dissertação é convencer alguém de que determinado ponto de vista é praticamente inquestionável. Portanto, “dissertar” é expor ideias a respeito de um determinado assunto, apresentando provas que justifiquem e convençam o leitor da validade do ponto de vista de quem as defende.

A título de revisão, veja o quadro abaixo:

Estrutura Sinóptica da Dissertação

a) introdução: parágrafo introdutório – ideia central, ideia-núcleo – tese;

b) desenvolvimento: vários parágrafos – reforçar o primeiro parágrafo – argumentação;

c) conclusão: condensa a essência do conteúdo desenvolvido, reafirmando a tese – retomada da tese.

Tomaremos, a título de ilustração, dissertações elogiáveis, elaboradas em provas de vestibulares e concursos de renome, que merecem a transcrição, na íntegra – ainda que fora do contexto da petição –, por preencherem os requisitos acima expostos com total fidelidade. Vamos aos exemplos.

Dissertação nota 10, em exame no vestibular para ingresso na Universidade de São Paulo (Fuvest), publicada no

Jornal do Brasil, em 10 de outubro de 1990 (Oliveira, 2001: 57-58):

Tema: Terra de Cegos: há um conto de H. G. Wells, chamado “A Terra dos Cegos”, que narra o esforço de um homem com visão normal para persuadir uma população cega de que ele possui um sentido do qual ela é destituída; fracassa, e afinal a população decide arrancar-lhe os olhos para curá-lo de sua ilusão. Discuta a ideia central do conto de Wells, comparando-a com a do ditado popular “Em terra de cego quem tem um olho é rei”. Em sua opinião, essas ideias são antagônicas ou você vê um modo

de conciliá-las?

A audácia de se enxergar à frente

A c a pa c i da de de e s t a r à f r e nt e de s e u t e m po qua s e nunc a c onf e r e a o s e u pos s ui dor a l gum a v a nt a ge m . A dur e z a da s s oc i e da de s hum a na s e m a c e i t a r c e r t a s noç õe s de s m e nt e , nã o r a r o, o di t a do popul a r que di z que “ Em t e r r a de c e go que m t e m um ol ho é r e i ”.

Ex e m pl os , a Hi s t ór i a é pr ódi ga e m nos a pr e s e nt a r. Sóc r a t e s f oi obr i ga do, pe l a s oc i e da de a t e ni e ns e , a t om a r c i c ut a , e m r a z ã o de s ua s i de i a s . Gi or da nno B r uno, que c onc e be u a Te r r a c om o um s i m pl e s pl a ne t a , t a l qua l s a be m os hoje , f oi c ha m a do he r e ge e que i m a do. Da r w i n de ba t e u- s e c ont r a a i nc om pr e e ns ã o e c onde na ç ã o de s ua s i de i a s , m a i s t a r de a c e i t a s .

A i nda hoje , t e m os e x e m pl os de pr oc e di m e nt os s i m i l a r e s . O s c a r A r i a s , pr e s i de nt e da C os t a R i c a e pr ê m i o Nobe l da Pa z , a i nda há pouc o t e m po s e de ba t i a c ont r a a s oc i e da de de s e u pa í s , que t e i m a v a e m c ol oc a r obs t á c ul os à s ua a t ua ç ã o. Em t e m po: o m é r i t o de O s c a r A r i a s ne m e r a o de e s t a r à f r e nt e de s e u t e m po, m a s s i m pl e s m e nt e o de a na l i s a r os pr obl e m a s do pr e s e nt e .

Es s e m a l nã o s e r á c ur a do t ã o c e do. I s s o por que a s pe s s oa s que c ons e gue m e nx e r ga r à f r e nt e a pr e s e nt a m a o hom e m o que e l e ode i a de s de os t e m pos i m e m or i a i s : a ne c e s s i da de de r e v e r a s pr ópr i a s c onv i c ç õe s . Enqua nt o e s s e ódi o – ou s e r á m e do? – nã o f or s upe r a do, a hum a ni da de c ont i nua r á c e ga pa r a o f ut ur o e pa r a s i m e s m a .

A redação anterior, é bom frisar, acha-se em um parâmetro de exigência de nível médio.

A propósito, aproveita o Autor36 o momento para trazer à baila algumas redações de sua autoria, algumas mais antigas, outras mais recentes.

1ª Proposta de Redação:

Um quadro: tela e moldura (o Autor, 1991)

O hom e m é um s e r e m i ne nt e m e nt e s oc i a l e , c om o c ons e quê nc i a de s s a na t ur e z a , e s t á s uje i t o à s i m pos i ç õe s ou de t e r m i na ç õe s da s oc i e da de que o a br i ga . I ne ga v e l m e nt e di s c r i m i na dor a s , t a i s de t e r m i na ç õe s v i s a m a o be ne f í c i o de um pe que no gr upo, que de nom i na m os “ e l i t e ”, e m de t r i m e nt o da gr a nde pa r t e r e s t a nt e , e s s e nc i a l m e nt e i nc ons c i e nt e , que c ha m a m os de “ m a s s a ”.

Toda t e l a pr e c i s a de um a m ol dur a pa r a s e c ons t i t ui r num v e r da de i r o qua dr o. Es s a r e a l i da de e m pe da ç os v e m l e v a r - nos a r e f l e t i r s obr e o gr upo m i nor i t á r i o, por é m pode r os o, que v i v e à c us t a da m a s s a opr i m i da , c ons t i t ui ndo o v e r da de i r o s i s t e m a c a pi t a l i s t a , que , m e di a nt e r e f l e x ã o r a di c a l , s e r i a um “ e gos s i s t e m a ”.

Há a ne c e s s i da de de t e r a m a s s a e nv ol v i da , e nl a ç a da nos e f e i t os pa r a l i s a nt e s do e f i c i e nt e m e c a ni s m o us a do pe l a e l i t e – o di s c ur s o i de ol ógi c o. Es s e e nv ol v i m e nt o ge r a pa s s i v i da de , e e s t a , l e gi t i m a ç ã o dos v a l or e s . Há a ne c e s s i da de de t odos s e e nv ol v e r e m c om o s i s t e m a m a ni pul a dor a m e nt e

pa t e r na l i s t a , e o nã o e nv ol v i m e nt o pode c a us a r a m a r ga s c ons e quê nc i a s a o a r r oja do i ndi v í duo que o t e nt a r. Nã o s e r á “ e s t e pe r t ur ba dor da or de m ” pe r s e gui do pe l a e l i t e c om o s ubv e r s i v o, a s s i m c om o o a l v o o é pe l o c a r t uc ho? Nã o o s e r i a , s e t odos nã o “ t i r a s s e m s e m pr e o c ha pé u” e “ c om e s s e m s ó o que ‘ e l e s ’ dã o”, s e m s a be r s e o que e s t á i nge r i ndo é bom ou r ui m , be né f i c o ou m a l é f i c o.

A s s i m , r e s t a - nos c onc l ui r que t oda s a s di r e t r i z e s que s e gui m os s ã o a m ol dur a da t e l a que o “ pi nt or ”, o s i s t e m a c a pi t a l i s t a , de s e ja r e t r a t a r – a m a ni pul a ç ã o i de ol ógi c a . E m e di a nt e o de s e nho e m que nos ba s e a m os , e nt e nde - s e que t a l m a ni pul a ç ã o e s t á pa r a o s i s t e m a a s s i m c om o a t e l a , pa r a a m ol dur a .

2ª Proposta de Redação:

A enxada e a caneta ( o A ut or, 1991)

A c a ne t a e a e nx a da s ã o i ns t r um e nt os út e i s a o hom e m . Jus t i f i c a m , a pa r e nt e m e nt e , um a r e l a ç ã o de opos i ç ã o e nt r e o e nga ja m e nt o e a a l i e na ç ã o que , s e gundo He ge l , t e nde m a um a a pr ox i m a ç ã o. M a s e m que m e di da a e nx a da c a r a c t e r i z a o s e r dom i na do di a nt e da c a ne t a , c om o s e r dom i na dor ? O s i s t e m a c a pi t a l i s t a a que s om os s ubm e t i dos é e s t r ut ur a do, f unda m e nt a l m e nt e , pe l a e x pl or a ç ã o do hom e m pe l o hom e m , no qua l o “ pode r ” é a ná l ogo a o “ t e r ”. Um a m i nor i a e l i t i z a da dom i na um a m a s s a a l i e na da , s e gundo os i nt e r e s s e s e goi s t i c a m e nt e uni l a t e r a i s da c l a s s e dom i na nt e .

Em bor a a c a ne t a e a e nx a da m os t r e m i nt e r e s s e s opos t os e c onf l i t a nt e s , há pr of unda i de nt i f i c a ç ã o, na m e di da e m que a m bos os i ns t r um e nt os c oe x i s t e m , i s t o é , nã o há dom i na dor s e m dom i na do e ne m e l i t e s e m m a s s a , e m nos s a s oc i e da de . Enqua nt o a c a ne t a s i m bol i z a r a c ons c i ê nc i a e a e nx a da , a i gnor â nc i a , o pr i m e i r o pr e v a l e c e r á s obr e o s e gundo, poi s o c onhe c i m e nt o ge r a dom i na ç ã o, e e s t a , pa s s i v i da de .

A s s i m , a m bos s ã o a a nt í t e s e que s e s i nt e t i z a m na e s t r ut ur a s oc i a l c a pi t a l i s t a .

3ª Proposta de Redação:

Com base na letra de Lenine e nas três frases para reflexão, escreva o que significa, para você, “estar vivo”:

Canção: VIVO (Lenine / Carlos Rennó) Precário, provisório, perecível;Falível, transitório, transitivo;Efêmero, fugaz e passageiro Eis aqui um vivo, eis aqui um vivo!

Impuro, imperfeito,

impermanente;Incerto, incompleto, inconstante;Instável, variável, defectivo Eis aqui um vivo, eis aqui...

Do tóxico, do trânsito nocivo;Da droga, do indigesto digestivo;Do câncer vil, do servo e do servil;Da mente o mal doente coletivo;Do sangue o mal do soro positivo;E apesar dessas e outras...O vivo afirma firme afirmativo O que mais vale a pena é estar vivo! É estar vivo / Vivo / É estar vivo

Não feito, não perfeito, não completo;Não satisfeito nunca, não contente;Não acabado, não definitivo Eis aqui um vivo, eis-me aqui.

E apesar...Do tráfico, do tráfego equívoco;

Frases:

1. “A arrogância é o reino – sem a coroa” (provérbio judaico).

2. “Quanto maiores somos em humildade, tanto mais próximos estamos da grandeza” (Rabindranath Tagore: poeta e escritor índio).

3. “Creio que não valho tudo isso” (observação: frase proferida por Zinedine Zidane, ao ser contratado pelo Real Madri por US$ 65 milhões).

A felicidade no estar vivo ( o A ut or, 2011)

A a s s oc i a ç ã o da f e l i c i da de à m e r a c ondi ç ã o de “ e s t a r v i v o” é t a r e f a á r dua pa r a o s e r hum a no. Pe ns a - s e : nã o há f e l i c i da de por que s e e s t á v i v o, m a s pe l a pos s i bi l i da de de c ons um i r e nqua nt o s e r v i v o. C i e nt e de s ua i nc om pl e t ude e i m pe r f e i ç ã o, o s e r hum a no t e nde a bus c a r, a r r oga nt e m e nt e , a pl e ni t ude da v i da pe l a l ógi c a do pr a z e r i m e di a t o, e m que o a t o de c om pr a r s e r v e c om o “ t e r m ôm e t r o” de f e l i c i da de . C om pr a m - s e be ns m a t e r i a i s , e o di nhe i r o, no i m a gi ná r i o do s e r a l i e na do, s e r á t a m bé m c a pa z de c om pr a r os be ns i m a t e r i a i s – a t é a f e l i c i da de . Tudo i s s o l he dá um a s e ns a ç ã o de m e nor pr e c a r i e da de , e m bor a s ua de pe ndê nc i a do c ons um o – a “ t r a ns i t i v i da de ” que o m a r c a – pr e nda - o a o “ c om pl e m e nt o” de um a f a l s a noç ã o de f e l i c i da de .

O “ v i v o” m a ni pul á v e l s e r á obje t o do s i s t e m a no qua l s e i ns e r e , que o l e v a r á a l i e na da m e nt e à c ondi ç ã o de v í t i m a de s e u pr ópr i o e r r o. A doe nç a , o v í c i o, a di f i c ul da de de s e i m por c om o s e r s oc i a l m e nt e e m a nc i pa do, t udo i s s o t r a duz - s e no pr odut o de e s c ol ha s e qui v oc a da s , que l he f or a m of e r t a da s pe l o s i s t e m a a o qua l s e l i ga . O s e r r os c om e t i dos r e c r ude s c e m a s l a c una s e m s e u â m a go, t or na ndo- o “ de f e c t i v o” e , c ons e que nt e m e nt e , m a i s pr ope ns o à dom i na ç ã o.

“ Es t a r v i v o” s e r á s e m pr e ba s t a nt e pa r a que m , c ons c i e nt e m e nt e , c ons om e pa r a v i v e r, e nã o pa r a a que l e s que , a l i e na da m e nt e , v i v e m pa r a c ons um i r.

4ª Proposta de Redação:

Leia o artigo a seguir, retirado do Editorial da Folha de S. Paulo (de 6-12-1995) e elabore um texto dissertativo a seu respeito:

“A preocupação da comitiva presidencial com o vestuário durante a visita de Fernando Henrique Cardoso à Ásia trata diretamente do conceito de leis suntuárias.

Na sua origem, essas leis tinham uma inspiração moral e visavam a impor limites aos impulsos humanos. Assim, na sóbria Esparta, eram proibidos o álcool, o uso de móveis feitos com ferramentas sofisticadas e a possessão de ouro e prata. Essas leis passaram a afetar também o vestuário. Na Roma republicana, em 215 a.C., a Lex Oppia proibia as mulheres de usar mais de meia onça de ouro. No judaísmo, a lei mosaica condena o uso de linho e lã no mesmo artigo, prática condenável no

Ocidente até hoje.

Na Europa, as leis suntuárias deixaram um pouco de lado a preocupação moralizante para passar a diferenciar as classes sociais. Em 1337 o rei Eduardo 3º, da Inglaterra, proibiu qualquer um com título inferior a cavaleiro de usar peles.

A partir do século 17, as leis suntuárias acabaram perdendo também um pouco do sentido de diferenciação social para converter- se num instrumento de guerra comercial. A Inglaterra, por exemplo, proibia a importação de seda francesa e a França, a de lã inglesa. Essa prática rapidamente evoluiu para os impostos sobre a importação.

Seria tolice, entretanto, acreditar que as leis suntuárias morreram. Elas apenas deixaram de ser leis positivas e foram transferidas para o mercado. As grifes continuam aí, indicando quem pertence a que classe. A tirania é a mesma, mas a eficiência é maior. Mesmo um pobre sempre poderá sonhar em vestir um Giorgio Armani”.

Vocabulário:

Lei suntuária: lei que, em caráter excepcional, o governo promulga em época de crise, para restringir o luxo e os gastos imoderados.

Suntuosidade: grande luxo, magnificência, aparato, pompa (Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa).

As leis suntuárias continuam legítimas ( o A ut or, 2010)

No pl a no hi s t ór i c o, a s s oc i e da de s s e m pr e t e nde r a m a s e or ga ni z a r por m e i o de e s t a m e nt os ou c l a s s e s , i ndi c a ndo a di f e r e nç a na t ur a l e nt r e os gr upos , be m c om o a dom i na ç ã o de um s obr e o out r o. É na t ur a l que a dom i na ç ã o ge r a pa s s i v i da de , um a v e z que há de pr e v a l e c e r a é t i c a do dom i na dor, por m e i o da i m pos i ç ã o de v a l or e s e s i m bol ogi a pr ópr i a , há be i s a de m a r c a r a pos i ç ã o oc upa da por a que l e que pe r t e nc e à s oc i e da de e s t r a t i f i c a da .

Ne s s e c ont e x t o, i ns e r e m - s e a s l e i s s unt uá r i a s . No pa s s a do r e m ot o, a s l e i s s unt uá r i a s , pos i t i v a s e e s c r i t a s , t i nha m um v i é s i ni bi t ór i o de c ons um o, pa s s a ndo, c om o t e m po, a s e r v i r à di f e r e nc i a ç ã o de c l a s s e s s oc i a i s . A pa r t i r do s é c ul o X V I I , t r a ns f or m a r a m - s e e m i ns t r um e nt os de pr ot e ç ã o do m e r c a do i nt e r no, a s s um i ndo o pa pe l que é hoje r e a l i z a do pe l a t r i but a ç ã o e x t r a f i s c a l . Na a t ua l i da de , a s l e i s s unt uá r i a s , nã o m a i s e s c r i t a s , pe r m a ne c e m c om o m e i os de r e s t r i ç ã o de l i be r da de , e nt r e t a nt o a ul t r a pa s s a da l ógi c a m or a l i z a nt e , or i gi na r i a m e nt e jus t i f i c a dor a de s s a s nor m a s , c e de u pa s s o a out r o t i po de c oi bi ç ã o, di a nt e da t i r a ni a da s l e i s do m e r c a do: “ a c oi bi ç ã o da c oi bi ç ã o”.

V i v e m os e m um a s oc i e da de e m que a a s c e ns ã o s oc i a l l i ga - s e à i de i a de pos s e de obje t os , c a pa z e s de l e gi t i m a r o i ndi v í duo c om o um s e r s upe r i or. Som os i ns t a dos a c ons um i r, de s e nf r e a da m e nt e , e m um i nc e nt i v o à a qui s i ç ã o do que nã o é ne c e s s á r i o, s ob a opr e s s ã o i m pos t a pe l a s pr á t i c a s t i da s c om o “ da m oda ”. Da í o de s e jo de a dqui r i r r oupa s de “ gr i f e ”, c a r r os de l ux o, obje t os de v a l or, e nt r e t a nt os be ns s unt uos os e s upé r f l uos .

Na pe r s pe c t i v a da l e i de m e r c a do, f om e nt a r o c ons um o, a s s oc i a ndo- o à e l e v a ç ã o s oc i a l do a dqui r e nt e do be m , é pr á t i c a na t ur a l . O de s e jo de c ons um i r i ndi c a a pos s i bi l i da de de a l t e r a ç ã o do “ s t a t us quo” do i ndi v í duo nos e s t a m e nt os da s oc i e da de , pr om ov e ndo- s e a m obi l i da de s oc i a l t ã o de s e ja da . C ur i os a m e nt e , a o m e s m o t e m po e m que o c ons um o s e f a z ne c e s s á r i o, a di f e r e nc i a ç ã o de c l a s s e s s e m os t r a v i t a l e m um a e s t r ut ur a s oc i a l m e nt e e s t r a t i f i c a da , um a v e z que é de s t a que i r r a di a o de s e jo

no i ndi v í duo de a s c e ns ã o s oc i a l , l e v a ndo- o à pr á t i c a c ons um i s t a .

A s s i m , a s l e i s s unt uá r i a s pe r m a ne c e m a t ua i s . A di f e r e nç a é que o “ nã o f a ç a ” do pa s s a do de u l uga r a o “ us e ”, “ c ons um a ”, “ v i s t a - s e ” do pr e s e nt e , de not a dor e s de um f a l s o e nga ja m e nt o, e , s i m , de um a i nduv i dos a a l i e na ç ã o. Nã o há dúv i da de que a l i be r da de do i ndi v í duo v a i a t é onde s e u c ons um o c he ga .

A redação seguinte foi extraída do concurso público de admissão à carreira de diplomata do Instituto Rio Branco, em Brasília, para o qual é necessário possuir nível universitário; daí a elaboração maior, tanto no estilo quanto no conteúdo desenvolvido, assim como nas ilustrações.

O trabalho apresentado – citado por Oliveira (2001: 59-61) – é de autoria da concursanda Giuliana Sampaio Ciccu, que conquistou 49 pontos de 60 possíveis.

Nacionalismo e globalização: o papel da cultura e política do idioma

A c ul t ur a é o pr i nc i pa l e l e m e nt o e m que s e ba s e i a o c onc e i t o de na ç ã o. Pr of unda m e nt e a r r a i ga da na s di v e r s a s s oc i e da de s , c a da c ul t ur a t e m c ondi ç õe s de m a nt e r s ua i ndi v i dua l i da de , a de s pe i t o do i nt e r c â m bi o pr ogr e s s i v a m e nt e m a i or e nt r e os pa í s e s , de c or r e nt e do pr oc e s s o de gl oba l i z a ç ã o. O Es t a do t e m um pa pe l a c um pr i r pa r a a s s e gur a r e s t a pe r m a nê nc i a : c a be a e l e pr ov i de nc i a r a c e s s o à e duc a ç ã o e i nc e nt i v a r m a ni f e s t a ç õe s c ul t ur a i s ge nuí na s do pov o.

De s de a s uni f i c a ç õe s i t a l i a na e a l e m ã , a l guns f a t or e s t ê m s i do c ons i de r a dos f unda m e nt a i s pa r a que um Es t a do pos s a s e r pr opr i a m e nt e c ons i de r a do c om o t a l . Som e nt e qua ndo há e nt r e o pov o um ní v e l m í ni m o de hom oge ne i da de pode r á ha v e r e s t a bi l i da de s uf i c i e nt e pa r a que a uni da de pol í t i c a s e m a nt e nha . A s s i m , hi s t ór i a , r e l i gi ã o, r a ç a e , e m e s pe c i a l , l í ngua c om uns s ã o i ndi s pe ns á v e i s pa r a que s ur ja um s e nt i m e nt o de i de nt i da de que c a r a c t e r i z e e pa r t i c ul a r i z e um a na ç ã o.

A hi s t ór i a f or ne c e v á r i a s e v i dê nc i a s da f r a gi l i da de de um Es t a do c ons t i t uí do na a us ê nc i a de um s ubs t r a t o c ul t ur a l c om um . A a nt i ga I ugos l á v i a , por e x e m pl o, e s f a c e l ou- s e l ogo a pós o f i m do r e gi m e c om uni s t a do M a r e c ha l T i t o, que m a nt i nha o pa í s uni do por m e i o da f or ç a . A f r a gm e nt a ç ã o obs e r v a da oc or r e u, s obr e t udo, e m v i r t ude da s di f e r e nç a s r e l i gi os a s e c ul t ur a i s e nt r e os pov os que ha bi t a v a m a que l e t e r r i t ór i o.

A i de nt i da de c ul t ur a l é , por t a nt o, e s s e nc i a l pa r a a v i da do Es t a do. C om o f i m da Gue r r a F r i a , a c e l e r ou- s e o pr oc e s s o de gl oba l i z a ç ã o, t a nt o nos pl a nos e c onôm i c o e pol í t i c o qua nt o no â m bi t o c ul t ur a l . No B r a s i l , a i nf l uê nc i a e s t r a nge i r a c om e ç ou a e v i de nc i a r - s e de m a ne i r a m a i s pr onunc i a da , pr i nc i pa l m e nt e no que di z r e s pe i t o à pr e s e nç a da l í ngua i ngl e s a .

V oc á bul os i ngl e s e s pa s s a r a m a s e r ut i l i z a dos , m e s m o qua ndo há t e r m os c or r e s ponde nt e s na l í ngua na c i ona l .

Ta l i nf l uê nc i a , e m bor a nã o c onf i gur e a m e a ç a à c ul t ur a br a s i l e i r a , nã o pode t a m pouc o s e r c ons i de r a da pos i t i v a . A l guns pa í s e s , c om o a F r a nç a , a dot a r a m m é t odos l e ga i s pa r a pôr f i m à t e ndê nc i a , e l a bor a ndo l e i que pr oí be o us o do i ngl ê s e m di v e r s a s oc a s i õe s . Es t a , por é m , nã o pa r e c e s e r a s ol uç ã o m a i s a de qua da pa r a o pr obl e m a .

O m e l hor c a m i nho pa r a ga r a nt i r a uni da de c ul t ur a l é a e duc a ç ã o. Um pov o que c onhe ç a s ua s t r a di ç õe s e s ua hi s t ór i a c e r t a m e nt e e nc ont r a r á m ot i v os pa r a s e or gul ha r do pa t r i m ôni o que he r dou e nã o s e nt i r á ne c e s s i da de de a dot a r ou i m i t a r out r a s c ul t ur a s . Pe r m i t i r á s om e nt e o i nt e r c â m bi o na t ur a l , c om m út ua s i nf l uê nc i a s , que c a r a c t e r i z a um a c ul t ur a v i v a .

Es t a be l e c e r c ont a t os pe r m a ne nt e s c om pov os de c ul t ur a s e m e l ha nt e é i gua l m e nt e i m por t a nt e pa r a e s t i m ul a r a c ons c i ê nc i a c ul t ur a l de c a da pov o. De s s e m odo, a c r i a ç ã o da C om uni da de dos Pa í s e s de L í ngua Por t ugue s a , r e uni ndo os s e t e pa í s e s l us óf onos do m undo, r e pr e s e nt a i ni c i a t i v a de gr a nde r e l e v â nc i a e de v e s e r pr i or i t á r i a no pl a no da pol í t i c a do i di om a . Nã o s e t r a t a de a nul a r o que há de e s pe c í f i c o no por t uguê s f a l a do na Eur opa , A m é r i c a e Á f r i c a , m a s de r e s s a l t a r s i gni f i c a t i v o t r a ç o c ul t ur a l que a pr ox i m a os di v e r s os pa í s e s .

Nã o há m ot i v os , por t a nt o, pa r a t e m e r os e f e i t os da gl oba l i z a ç ã o s obr e a c ul t ur a na c i ona l . De s de que o Es t a do c ont r i bua de m odo e f i c a z pa r a e s t i m ul a r a c ons c i ê nc i a c ul t ur a l do pov o, e s t a t e nde a m a nt e r - s e , a i nda que ha ja i nt e ns os c ont a t os c om out r a s c ul t ur a s .

4.2.1. A petição à luz da dissertação

Observemos, agora, a sequência de articulados que devem compor a linha argumentativa de um petitório:

DO DIREITO

De acordo com o art. 150, I, da CF, é vedado aos Entes tributantes, entre eles os Municípios, aumentar tributo sem lei que o estabeleça.

A corroborar o exposto acima, impende destacar a dicção dos §§ 1º e 2º do art. 97 do CTN, que destacam a necessidade de lei para atualização em bases de cálculo de impostos, com índices acima da correção monetária do período.

O Decreto, na realidade, não atualizou apenas a base de cálculo do imposto, mas, sim, estabeleceu um aumento real, portanto