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A HORA DO ESPANTO AS “PÉROLAS” DO PORTUGUÊS

VOCABULÁRIO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA

5. VENIA CONCESSA

Na linguagem forense, quando se pretende exteriorizar o pensamento com polidez em sinal de respeito à opinião daquele com quem se fala, pode se valer o peticionário de expressões estereotipadas, que, como um “abre-alas”, permitem a passagem da ideia contraposta com elegância e respeito84. Portanto, é fórmula de cortesia com que se começa uma argumentação para discordar do interlocutor. Tais expressões são demasiado encontradiças no ambiente forense. Vamos conhecê-las: data venia;

data maxima venia (pronuncie “mákssima”); concessa venia;

permissa venia; venia concessa.

Exemplos:

“Data venia” seu posicionamento, discordamos em gênero, número e grau.

O Autor, Excelência, “permissa venia”, não logrou trazer aos autos depoimentos convincentes.

A respeitável sentença de fls., “concessa venia”, merece ser reformada por esse meritíssimo Juízo “ad quem”, a fim de que se alcance o desiderato da justiça.

Na verdade, “venia concessa”, revela-se descabida a prova.

Observações: note que as expressões latinas não são grafadas com acento. Portanto, o termo latino “venia” não recebe o acento diacrítico. No entanto, caso o estudioso queira se valer da Língua Portuguesa, poderá empregar “vênia” (palavra com acento circunflexo), na acepção de “licença”, que representa uma paroxítona terminada em ditongo crescente. Exemplo: A

parte pede vênia para demonstrar que, durante o convívio conjugal, a Ré se comportava como moça solteira, cultivando hábitos levianos e promíscuos, mais parecendo uma rapariga de lupanar.

6. IN VERBIS

A expressão latina, que pode se encontrada na forma resumida verbis, tem a acepção de “literalmente, fielmente, de acordo com a literalidade ou ‘nas palavras’”. Muito usual na linguagem forense, que requer autenticidade da informação transmitida, essa forma pode ser expressa por termos sinônimos, como “ipsis litteris”, “ipsis verbis”, “ad litteram” ou “verbo ad verbum”.

Vejamos alguns exemplos:

O artigo dispõe, “in verbis”, que a exceção existe para incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio socioeconômico entre as diferentes regiões do País.

O art. 5º, “caput”, da Constituição Federal, disciplina, “ad litteram”: “Todos são iguais perante a lei”.

7. EX POSITIS

Essa expressão representa um elemento de ligação de articulados em petição, dando a ideia de fecho de pensamento. Sabe-se que é de todo louvável que o peticionário se valha de elementos de ligação nos arrazoados, a fim de conferir a concatenação aos articulados do texto. No momento em que se pretende arrematar o raciocínio empreendido, encerrando-o, desponta oportuna a expressão em análise, como se pode notar nos exemplos a seguir: “Ex positis”, merece o Autor a concessão da tutela

antecipada, uma vez cristalina a presença dos pressupostos autorizadores do provimento emergencial.

Não resta dúvida, “ex positis”, que se valeu a parte de expediente antiético, a fim de lograr trazer aos autos provas sobejas. Observe que a pronúncia correta da expressão latina é “eks-pó-sitis”, e não “eKsposí-tis”. Tal expressão pode ser substituída por “do exposto”, “ante o exposto”, “perante o exposto”, “em face do exposto”, entre outras.

8. EX VI

Com o sentido de “por força de”, a expressão imprime destacada elegância ao texto jurídico. Deve ser usada ao lado de artigos, incisos ou disposições legais. Os exemplos são oportunos. Confira-os: “Ex vi” do art. 150, I, da CF, o princípio da

legalidade tributária é aquele segundo o qual o tributo deve ser instituído ou majorado por meio de lei.

A lei, “ex vi” do art. 5º, XXXVI, da CF, não atingirá o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. A violência é presumida “ex vi legis”.

“Ex vi” do Decreto n. ..., há que se notar ... .

A não discriminação em razão de idade, sexo ou cor subsiste, “ex vi” da Constituição, no inciso VI do art. 3º. “Ex vi” de imposição constitucional extraída do art. 145 da CF, são tributos no Brasil: impostos, taxas e contribuições de

melhoria.

Por fim, ressalte-se que há duas importantes expressões decorrentes do termo latino ora estudado: “ex vi legis” (ou seja, por força da lei) e “ex auctoritate legis” (ou seja, por autoridade da lei). Observe alguns exemplos: A violência é presumida “ex vi

legis”.

Não deve haver, “ex auctoritate legis”, empecilhos ao livre acesso da autoridade fiscal no estabelecimento comercial. Observação: a pronúncia deve ser feita com cautela. A sílaba tônica não se encontra em “vi”, mas em “ex”, devendo-se falar “éks-vi”, e não “eks-ví”.

9. IN A LBIS

O vocábulo latino tem a acepção de “em branco”, isto é, refere-se a transcurso de prazo sem a tomada de providências pertinentes, do que resulta a conhecida expressão. Exemplos: “O prazo transcorreu ‘in albis’”.

A perda do prazo foi inevitável: houve o transcurso “in albis”. O prazo transcorreu “in albis”, ficando nítida a revelia do interessado. Houve o esgotamento “in albis” do prazo.

10. IN PA RI CA USA

A expressão tem a acepção de “igualmente, no mesmo caso”. Exemplos: O Tribunal decidiu “in pari causa” de modo favorável à tese ora ventilada nos autos. O STJ “in pari causa” decidiu diversamente.

Os julgados proferidos pelo egrégio STF, “in pari causa”, têm sido no sentido de que há crime preterdoloso na situação em comento.

11. IN FINE

Com a acepção de “no fim”, tal expressão é comum na citação de artigos, quando se quer enfatizar a parte final do comando normativo. Acreditamos que a grafia da expressão não apresenta problemas maiores, no entanto, a pronúncia tem dado vazão a “assassinatos prosódicos” no ambiente forense. Queremos enfatizar que se deve pronunciar “in fine” como se falam /fino/, fineza. Jamais, portanto, pode-se emitir o terrível /fáine/, como se inglês fosse. Portanto, muita cautela!

12. V.G. E E.G.

É interessante observar que o acadêmico de Direito permanece cerca de meia dúzia de anos em bancos da faculdade, a fim de que assimile as letras jurídicas, no entanto, a informação rasa, menor, mais simples lhe falta às escâncaras. Não obstante encontrar o leitor as expressões abreviadas “v.g.” e “e.g.” nos vários livros jurídicos pelos quais passou os olhos, desconhece- as, acreditando, talvez, que representem sinais gráficos desimportantes, quem sabe, talvez, um “erro de digitação”! Percebe-se, pois, que o acadêmico de Direito, como regra, não recebe dos docentes das faculdades a tradução simples de tais vocábulos, embora aqueles acabem por exigir sapiência jurídica de quem nem sequer85 captou o sentido semântico do que pretende assimilar.

Portanto, feita a observação, passemos a traduzir as fatídicas expressões.

Ambas são formas latinas, que ora se apresentam abreviadas, ora escritas por extenso. Logo, “v.g.” representa “verbi gratia”, na acepção de “por exemplo”. Destaque-se que “e.g.” indica “exempli gratia” (pronuncie “eczêmpli”), com o mesmo sentido de “por exemplo”. Portanto são expressões latinas sinônimas. Vamos às frases: A Constituição Federal, “verbi gratia”,

apresenta-se com erros de ortografia.

Os tributos, “e.g.”, impostos, taxas e contribuições de melhoria, têm previsão no art. 145 da CF.

Ressalte-se, por derradeiro, que existem outras expressões que vêm a calhar. São elas: “ad exemplum”, “exempli causa” e “verbi causa”, todas com sentido de enumeração, isto é, no sentido de “por exemplo”.

13. I.E.

A forma i.e. se encaixa na observação crítica retrocitada. Costuma ser igualmente desconhecida por acadêmicos de Direito, embora se revele expressão corrente em textos escritos. No sentido de “isto é”, a forma latina abreviada de “id est” (pronuncie “idést”) – “i.e.” – deve ser usada com tranquilidade, haja vista marcar elegância no texto. Vamos ao exemplo: O

laudo vem corroborar, “i.e.”, confirmar o ocorrido.

14. A PUD

O termo latino apud possui a acepção de “junto de, em, citado por, conforme ou segundo”. Indica a fonte de uma citação indireta, quase sempre fazendo menção ao nome do autor a que se refere a obra. É a indicação de um documento ao qual não se teve acesso, mas do qual se tomou conhecimento apenas por citação em outro trabalho. Apenas deve ser usada na total impossibilidade de acesso ao documento original. A palavra “apud” deve vir sempre em itálico. Também pode ser substituída pela expressão “citado por”. Exemplos: (Anderson, 1981 apud Arévalo, 1997, p. 73).

Estudos de Zapeda (apud Melo, 1995, p. 5) mostram ... .

A Teoria Especial da Relatividade foi publicada no início do século (Einstein, 1905 apud Brody, 1999). A palavra “avô”, apud Antônio Houaiss, segundo José Pedro Machado in Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa,

foi empregada pela primeira vez em português no ano de 1024.

“Segundo Neuman (apud Heller, 1999, p. 127): ‘A dominação não tem poder, como tal, não inclui a dominação de outros seres humanos’”.

“De acordo com Neuman, ‘a dominação não tem poder, como tal, não inclui a dominação de outros seres humanos’” (apud Heller, 1999, p. 127).

“A dominação não tem poder, como tal, não inclui a dominação de outros seres humanos” (Neuman apud Heller, 1999, p. 127).

Portanto, memorize: quando se transcrevem palavras textuais ou conceitos de um autor, dito por um segundo autor, utiliza- se a expressão apud (citado por). Por exemplo, eu leio, no livro de Teixeira, algo que Oliveira havia dito, em 1999. Então, quem está dizendo é Oliveira apud Teixeira (1999). Exemplo: Segundo Oliveira apud (ou citado por) Teixeira (1999), “toda criança deve ser muito bem cuidada principalmente nos primeiros anos de vida...”.

É importante lembrar que a referência que vai ao final do trabalho é de Teixeira, e não Oliveira.

Destaque-se, ademais, que, segundo as normas oriundas da Associação Brasileira de Normas Técnicas, NBR 10520, Rio de Janeiro, 2002, a indicação bibliográfica deve obedecer à seguinte sequência:

I ndi c a r o a ut or da c i t a ç ã o, s e gui do da da t a da obr a or i gi na l , a e x pr e s s ã o l a t i na “ a pud”, o nom e do a ut or c ons ul t a do, a da t a da obr a c ons ul t a da e a pá gi na onde c ons t a a c i t a ç ã o.

Exemplos:

“O homem é precisamente o que ainda não é. O homem não se define pelo que é, mas pelo que deseja ser” (Ortega Y Gasset, 1963, apud Salvador, 1977, p. 160).

Segundo Silva (1983, apud Abreu, 1999, p. 3) diz ser ... . Vamos conhecer outras expressões latinas úteis em citação:

1. Idem ou id.