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COMO ENRIQUECER A LINGUAGEM DO FORO

A HORA DO ESPANTO AS “PÉROLAS” DO PORTUGUÊS

VOCABULÁRIO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA

5 COMO ENRIQUECER A LINGUAGEM DO FORO

Este capítulo traz as principais ferramentas para a construção do texto jurídico, analisado em uma perspectiva essencialmente prática. O leitor poderá se aproximar das principais questões que incomodam o operador do Direito no momento da elaboração da petição, da sentença, do parecer, enfim, dos mais diversos textos jurídicos.

Nesse ínterim, procuramos enfrentar a problemática afeta aos defeitos das petições, clichês, arcaísmos, pronomes demonstrativos

inadequados, sem embargo de indicar o melhor caminho a seguir – o que ocorre, sobretudo ao término do Capítulo, com

as dezenas de fórmulas (composições frásticas) as quais recomendamos serem usadas no texto jurídico. Passemos, então, a esse importante estudo.

1. Evite a expressão “através de” usada sem adequação.

Essa locução preposicional significa “de um para o outro lado”, na acepção de transpor obstáculo. A locução traz ínsita a ideia de “passar por”, “de lado a lado”. Não deve reger situações relacionadas com pessoa, pois, parafraseando Nascimento (1992: 144), “constitui emprego desconhecido na boa linguagem a locução preposicional ‘através de’ regendo nome de pessoa fora do sentido físico; bem como seu uso para indicar ‘instrumento’, ‘meio’ ou ‘veículo’ não é correto”. Portanto, é erronia usar a expressão como indicadora de meio. Em português, as preposições que indicam relações de “meio” são: por meio de, por intermédio de, mediante, graças a, mercê de, entre outras.

A locução somente deve ser usada para travessia de algo ou para representar o deslocamento de algo “através” de alguma coisa (no sentido de atravessar). Exemplos: • Irei ao outro lado do rio através da ponte.

• A bala passou através da parede. • Vejo o hospital através da janela.

• “Laços que se prolongam através das eras” (Alexandre Herculano). • A vida prossegue através das vicissitudes.

• Através dos tempos, os conceitos mudam. • Passou através de campos e matas (ou seja: lado a lado). • Andou através da multidão na Rua da Consolação (= por entre). • Conservou a fé através do tempo (ou seja: no decurso do tempo).

• O conceito de elegância mudou através dos tempos (frase correta, uma vez que mostra que o conceito atravessou o tempo, ao longo dos anos).

Jamais, então:

“ ... pr ov a do a t r a v é s de t e s t e m unha s i dône a s ...”. “ ... f oi r e s ol v i do a t r a v é s de a c or do”. “ C he ga r a m a um bom t e r m o a t r a v é s do a c or do”.

Há “remédios” para a “enfermidade” demonstrada: prefira o uso de “por meio de”, “por intermédio de”, “mediante”, “graças a”, “servindo-se de”.

2. Evite, também, o uso indiscriminado do pronome onde, que equivale a “em que”, referindo-se a lugar físico. Deve ser usado apenas para “local”, e não para outras situações. Vejamos o uso correto: • A estrada onde ocorreu o acidente.

• O prédio onde ele trabalha. O uso inadequado apresenta-se nas orações a seguir:

“ A l e i v i ol a o a r t . 5º , onde e s t á c ons a gr a do ...”. “ Es t e é o i ns t i t ut o da Pr e s c r i ç ã o, onde há o pr a z o...”. “ Es t e s s ã o os a ut os onde e s t ã o a s pr ov a s ”.

Procedendo à correção: “A lei viola o art. 5º, no qual (em que) está consagrado...”. “Este é o instituto da Prescrição, no qual (em que) há o prazo...”.

“Estes são os autos, nos quais (em que) estão as provas”.

Importante: existe uma praxe condenável de se usar a forma “onde” em excesso nos textos escritos. Costumamos denominar o fenômeno de “ondismo”. Como pronome relativo, “onde” deve conter sempre um antecedente que se refira a lugar, podendo ser substituído por “em que”, “no(a) qual” ou “nos(as) quais”.

Exemplo: Minha terra tem palmeiras. O sabiá canta nas palmeiras.

Portanto, “Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá” (verso da poesia Canção do Exílio, de Gonçalves Dias). 3. Evite expressões clichês (frases feitas e preciosismos ou arcaísmos) usadas de modo corriqueiro, porém irrefletido,

pelos operadores do Direito menos avisados. É fato inequívoco da Língua atual do Brasil o uso inadequado de tais expressões – os famosos chavões, lugares-comuns ou hipérboles desnecessárias, que denotam uma pobreza de estilo e tornam a leitura cansativa.

Nesse passo, Damião e Henriques (2000: 58) afirmam que palavras, expressões e tipos de construção sintática caem em desuso, saem de circulação. A essas formas que cumprem sua missão em determinada fase da história e, depois, desaparecem na escuridão dos tempos, dá-se o nome de arcaísmos. Costumam ser divididos em “léxicos”, “morfológicos” e “sintáticos”; o presente trabalho interessa-se pelos primeiros (arcaísmos léxicos).

ter bom senso. Como pretende convencer os juízes, cidadãos comuns49, com uma linguagem obsoleta e, às vezes, denotadora de pedantismo? São exemplos: • “... vem, com espeque no art. ..., ajuizar a presente ...”.

• “Argumentos baldos de maior razão”.

• “A exordial ministerial apresentou uma miríade de falsas afirmações, que não passam de bazófias que devem ser

repelidas por esse Douto Areópago”.

• “O autor procura aproveitar-se da indústria do dano moral, partindo para uma aventura jurídica sem fundamento”. • “O réu pretende acobertar-se com o manto da impunidade”.

Damião e Henriques (2000: 24) referem-se à linguagem culta como sendo aquela que em latim, era o “sermo urbanus” ou “sermo eruditus”. Utilizam-na as classes intelectuais da sociedade, mais na forma escrita e, menos, na oral. É de uso nos meios diplomáticos e científicos; nos discursos e sermões; nos tratados jurídicos e nas sessões do tribunal. O vocabulário é rico e são observadas as normas gramaticais em sua plenitude.

Esta linguagem, usam-na os juristas quando nos diferentes misteres de sua profissão. Não é mais a linguagem de Rui Barbosa, mas dela se aproxima.

Portanto, nota-se que a linguagem culta deve dispor de vocabulário selecionado e ritualizado, sendo exemplos corriqueiros vocábulos, como outrossim, estribar, militar (verbo), supedâneo, incontinenti, dessarte, tutela, arguir, acoimar. Alguns termos fruem predileção especial por parte de certos autores: incontinenti50 e supedâneo (Miguel Reale) ou dessarte (Magalhães Noronha).

Nesse rumo, segue o escritor e pensador extraordinariamente fecundo Mário Ferreira dos Santos (1954: 29), versando sobre a linguagem do Direito: “Deve-se escrever com as palavras que usamos na linguagem comum. Por isso convém evitar-se os arcaísmos, expressões raras e obsoletas. Quando o discurso, a palestra ou o relato refiram-se a temas científicos e filosóficos deve ser empregada a terminologia em uso nessas ciências. A finalidade dessa regra é garantir a clareza, que é uma das qualidades principais de um bom estilo”.

Evite elementos arcaicos, tais como: • Lídimo: De Plácido e Silva (1978) registra o termo com o sentido de legítimo, em se tratando do filho procedente do legítimo casamento. Artur de Almeida Torres (1959: 163) considera que, hoje, ninguém mais diria “filho lídimo, prole lídima, sucessão lídima”.

• Pertenças: substantivo usado no plural cujo sentido é de benfeitorias.

• Avença: com o significado de acordo, contrato, ajuste; o termo aparece em Jaime Barros (1967: 110). • Usança: equivale a uso; é termo frequente no Direito Comercial.

• Defeso: significa proibido; representa forma arcaica e acepção usada até o século XVI e mantida no Direito. O preciosismo, na definição de Napoleão Mendes de Almeida (1999: 517), é o “uso de palavras, expressões e construções ou antigas (mais propriamente o vício se denomina, então, ‘arcaísmo’) ou inusitadas, esquisitas, rebuscadas, de forma que o pensamento se torne de difícil compreensão”.

É sobremodo importante assinalar que, no ambiente forense, subsistem os jargões e os arcaísmos, realidades léxicas distintas, que merecem consideração. Com efeito, o jargão é termo usual na linguagem do operador do Direito, que recebe a chancela do usuário da linguagem forense, como se fosse uma “gíria profissional”. Por outro lado, o arcaísmo é despido dessa “naturalidade” no uso, na medida em que representa o “preciosismo” – conjunto de expressões raras e obscuras,

despidas de clareza, que acabam por traduzir certa dose de rebuscamento indesejável e pedantismo no emissor. Evidencia-se o preciosismo no uso de expressões como “aferro”, “pertinácia”, “com espeque em”, ou verbos de raro uso, como “apropinquar-se”, “obsecrar”, “soer”, entre outros. Sempre insistimos: a utilização de vocábulos desse porte somente seria considerada tolerável, caso o texto o “sustentasse”, isto é, na hipótese de o eixo temático do fragmento vir permeado de linguagem burilada, denotando, sim, que o redator é exímio conhecedor do idioma. Caso contrário, se o termo raro vier solto, perdido e em total desarmonia com o conjunto vocabular demonstrado, afirmamos tratar-se de “plantio de palavras”, na tentativa de provocar uma falsa sensação de erudição. Esse “plantio vocabular” indesejável coloca em perigo a unidade e concatenação do texto, provocando uma inevitável desconfiança no leitor, que tende a se afastar do foco apresentado. Uma linguagem clássica somente se sustenta se outras passagens do texto denotarem erudição e sapiência. É inadmissível que o redator empregue o verbo “obsecrar” e, por exemplo, titubeie nos “pilares gramaticais”, como a crase, a concordância ou a regência. Portanto, entendemos que a seleção adequada de palavras se pauta pela simplicidade, despida de arcaísmos, excetuado o uso de termos que, de fato, encontrarão sustentabilidade no conjunto apresentado. Afinal, o arcaísmo e o jargão são como uma “estrada de mão dupla”: em uma “faixa de rolamento”, vai o arcaísmo, seguido da incompreensão; na via contrária, vem o jargão, trazendo a reboque a fácil assimilabilidade.

É comum, outrossim, um problema de estilo nos petitórios: a hipérbole – figura de linguagem que consiste no exagero no modo de enunciar uma ideia, com efeito falsamente persuasivo. A linguagem hiperbólica nada acrescenta à persuasão do destinatário da mensagem, além de conter, dependendo da intensidade, uma carga hilariante em seu conteúdo. Observe o exemplo:

“ É pr e f e r í v e l de s pe nc a r e m os c é us s obr e m i m a que o M e r i t í s s i m o Juí z o a c a t e o t e r a t ol ógi c o pe di do do A ut or, que pr e t e nde f a z e r de s t e s a ut os um a v e r da de i r a c om é di a , um a s á t i r a c om t odos os e nv ol v i dos ne s t a pi t or e s c a de m a nda ! ”

4. Ao se referir às partes do processo, procure evitar insinuações hierárquicas, que denotem uma falta de paralelismo entre as partes. O tratamento deve ser polido, em um processo de “equivalência de funções”, que liga o advogado ao juiz ou ao promotor, e estes àquele, sem dessemelhanças vãs.

Rodríguez (2000: 65-67), ao tecer comentários sobre a hierarquia entre os operadores do Direito no processo, preleciona: Sabe-se, no entanto, que, entre juiz, promotor e advogado, não há, na demanda, relação hierárquica, por força de dispositivo legal, como abaixo se lê: LEI N. 8.906, DE 4-7-1994 – DOU 5-7-1994

Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil – OAB. Dispõe sobre o Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil – OAB. Título I – Da advocacia (artigos 1º a 43) Capítulo II – Dos Direitos do Advogado (artigos 6º e 7º) Art. 6º Não há hierarquia nem subordinação entre advogados, magistrados e membros do Ministério Público, devendo todos tratar-se com consideração e respeito recíprocos.

Parágrafo único. As autoridades, os servidores públicos e os serventuários da justiça devem dispensar ao advogado, no exercício da profissão, tratamento compatível com a dignidade, a advocacia e condições adequadas a seu desempenho.

demandam um funcionamento harmônico das partes do processo. As atitudes de respeito e consideração, mais encontradiças nos eventos orais do foro – audiências, júris, entre outros –, que traduzem o rito solene que caracteriza o ambiente forense, devem ser estendidas aos petitórios e sentenças. Essa é a razão por que devemos enaltecer as felizes construções de lúcidos magistrados que, em sentenças, mostram deferência ao patrono da causa, da mesma forma que o fazem com relação ao promotor de justiça. Não se pode admitir, mesmo que não se queira, qualquer indício de desigualdade ou subordinação nas formas de referência, sob pena de transformarmos o processo em “parte”, e não em “partes”, exaltando uma em detrimento de outra.

4.1. O paralelismo entre as partes processuais e o uso das iniciais maiúsculas Devem-se utilizar as iniciais maiúsculas em sinal de respeito e paridade entre os cargos e funções. Ademais, há a necessidade de paralelismo em toda a petição. Assim, utilize as iniciais maiúsculas em “Autor e Réu”, “Impetrante e Impetrado”, “Reclamante e Reclamado”, “Embargante e Embargado” etc.

A cordialidade na escrita é tão identificável quanto na linguagem falada. Uma forma, visualmente recomendável, de denotar polidez no redigir está no emprego da letra maiúscula, hábil a revelar, entre outros atributos, o respeito a cargos e funções. Essa é a razão para que se escrevam na petição “Juiz” (com -j maiúsculo), “Promotor” (com -p maiúsculo), “Autor” (com -a maiúsculo), “Réu” (com -r maiúsculo), “Patrono” (com -p maiúsculo), entre outras expressões.

O uso linear das formas, em abono de um adequado paralelismo, vem ao encontro da harmonia na construção do texto. Nessa esteira, não se deve “desequilibrar” o tratamento, quando se faz menção a órgão e a seus cargos. Exemplo: evite referir-se, no mesmo texto, à Ordem dos Advogados do Brasil, com iniciais maiúsculas – o que, por óbvio, sabemos ser correto – e, simultaneamente, fazer referência a “advogado”, com -a inicial, minúsculo, sob pena de ferir a harmonia das relações.

Posto isso, não é prudente utilizar um tratamento a uma parte sem o dar à outra, sob pena de chancelar um desnivelamento infausto, exceto se houver uma intenção clara de empreender a fatídica dessemelhança.

5. Evite a utilização do verbo restar como verbo de ligação. Ele não o é. Nenhum dicionário da Língua Portuguesa o registra como verbo de ligação. Assim, há equívoco quando se escrevem as expressões estereotipadas “resta provado”, “resta demonstrado” ou “resta claro”. O verbo “restar” deve ser utilizado para indicar “sobras” e só. Exemplo: Comi dois

chocolates dos três que ganhei. Restou um.

O mesmo raciocínio vale para o verbo resultar, que tem sido utilizado impropriamente como verbo de ligação, sinônimo de “ficar”. A construção é fruto de espanholismo. Registre-se que o Dicionário Gramatical de Verbos do Português

Contemporâneo do Brasil, editado pela UNESP, admite tal uso: “Foi um belo momento que resultou triste, mas passou”. No

entanto, insistimos, concessa venia, em rechaçar seu uso. “Resultar” significa “dar em resultado, seguir-se, originar-se, ser a consequência lógica, redundar”. Não se deve usá-lo como verbo de ligação, criando orações como “a prova resultou irrelevante”, em vez de “a prova resultou em completa irrelevância” ou, também admissível, “a prova não deu resultado”. Júlio Nogueira assevera que “a nossa imprensa51 parece disposta a dar ao verbo ‘resultar’ um emprego que ele só tem no espanhol: ‘os esforços resultaram improfícuos’; ‘a diligência resultou inútil’”.

Nesse sentido, seguem Francisco Fernandes, em seu Dicionário de Verbos e Regimes52, acompanhado de Napoleão Mendes de Almeida (Dicionário de Questões Vernáculas) e Cândido Jucá Filho (Dicionário Escolar das Dificuldades da Língua

Portuguesa). Portanto, devemos evitar dar vazão ao estrangeirismo inoportuno, escrevendo à castelhana. Aprecie, pois, a

Troque por: Os trabalhos foram improfícuos. 2. As palavras resultaram proveitosas para mim.

Troque por: As palavras resultaram em proveito para mim.

3. “A operação, porém – e os seus efeitos eram implacáveis –, resultou inútil” (Euclides da Cunha, Os Sertões, p. 316). Troque por: “A operação, porém – e os seus efeitos eram implacáveis –, foi inútil”.

É imperioso frisar que escritores de nomeada, dicionaristas e até gramáticos cometeram pequenos deslizes no vernáculo. Desacertos, todos os podem cometer; o importante é enfrentá-los e, sobretudo, proceder à eventual correção deles. 6. É sobremodo elegante na linguagem forense a omissão de termos nas orações53. Trata-se de elipse – supressão de um

ou mais vocábulos, facilmente identificáveis pelo contexto. Exemplo: “No mar (há) tanta tormenta, (há) tanto engano.

Tantas vezes a morte (é) apercebida” (Camões). Um exemplo retumbante na linguagem do foro é a omissão do verbo “ser”.

Exemplos: • A sentença merece confirmada. • O recurso merece lido. • A petição merece anexada. • A opinião do promotor precisa ouvida.

Na mesma esteira, vale mencionar a elegância da expressão “sobre”, indicando “além de”: • Sobre exagerada, a afirmação é

leviana.

7. Evite a utilização do advérbio “eis”, cujo significado, consoante o Grande Dicionário Etimológico Prosódico da Língua

Portuguesa, de Francisco da Silveira Bueno, é “aqui está”. Com efeito, a expressão “eis a luz” equivale a verbo, na 2ª

pessoa do plural “vós”, significando “vós tendes a luz” ou “vós vedes a luz”. Deve-se repudiar a locução igualmente condenável eis que, haja vista nenhum gramático ou dicionário autorizar o seu uso, na função de conjunção causal, como reiteradamente vem sendo usada na linguagem forense. Edmundo Dantes Nascimento (1992: 131) assevera que “de fato observa-se o equívoco em arrazoados, petições, sentenças e acórdãos, porém constitui erro que não cometem os que atentam mais para a pureza da língua”.

No entanto, vale mencionar que é correto e castiço o uso de “eis que” como advérbio, significando “de repente”, “de supetão”, “de inopino”. Exemplo: Estávamos de partida, mas eis que veio a chuva.

Note que na frase acima descrita o “eis que” não poderia ser conjunção causal, até porque sucede à conjunção adversativa “mas”. Assim, “eis que” é vício de linguagem que deve ser substituído no texto por expressões como: “porquanto”, “uma vez que”, ou outras que aprouverem ao cultor da boa linguagem. Observe a errônea construção:

“ ... de v e s e r c onde na do e m honor á r i os , e i s que a a ç ã o f oi jul ga da i m pr oc e de nt e ...”.

Prefira:

“... deve ser condenado em honorários, uma vez que a ação foi julgada improcedente...”.

vernáculas já consagradas, quais sejam: “não obstante” ou “nada obstante”.

Há, ainda, outras expressões esdrúxulas, que devem ser evitadas, tais como: “fragilizar”, em vez de “enfraquecer”; “heliponto”, em vez de “heliporto”; ou “reverter55 uma situação”, em vez de “mudar a situação”.

Da mesma forma, deve-se rechaçar o uso inadequado de invencionices, como “inacolher o pedido” ou “verbas impagas”. Com efeito, “in-” é prefixo latino de valor negativo que se deve ligar a advérbio (inadvertidamente), a adjetivo (inapto) e a substantivo (inexatidão). Dessa forma, a combinação do prefixo em comento com verbos é condenável. São, portanto, exemplos de erronia: “inocorrer”, “inacolher”, “impagar” ou “inaplicar”. Todavia, há exceções, designativas de verbos dotados de vernaculidade, com a chancela do VOLP, verbi gratia, inabilitar, inadimplir, inadmitir, inalienar, inexistir, inobservar, inutilizar, impermeabilizar, impossibilitar, improceder, impronunciar, impunir, incapacitar, entre outros. 9. Pronomes demonstrativos: ESSE, ESSA, ISSO e ESTE, ESTA, ISTO

Na petição, é comum a utilização de expressões formadas com os pronomes demonstrativos esse, essa ou isso, tais como “dessa forma”, “nesse rumo”, “a esse propósito”, “nesse diapasão”, “isso posto” e “nesses termos”.

A dúvida é singela: devo usar o pronome com dois -ss ou com -ste, preferindo-se “esse” a “este” ou “isso” a “isto”? Para obtermos a resposta, é necessário conhecer o emprego dos pronomes demonstrativos. Vejamos: É sabido que uma das funções do pronome grafado com dois -ss (isso) é referir-se a algo já dito. Exemplos: • Liberdade, igualdade e fraternidade:

esse é o lema da Revolução Francesa.

• “A vida é a melhor faculdade”. Esse dito popular é de todo verdadeiro. • “Saddam Hussein: estadista ou louco?” Essa é uma pergunta difícil de responder. • Nesse passo, reitero meus argumentos.

• Isso posto, julgo procedente o pedido. • Nesses termos, pede deferimento.

• “A estrada do mar, larga e oscilante, essa, sim, o tentava56”.

• “Os operários, esses nunca apareciam ali57”.

Por outro lado, os pronomes demonstrativos “este”, “esta” e “isto” podem indicar aquilo que ainda vai ser falado. Exemplos: • Espero de fato isto: que se façam as pazes.

• Estes são alguns problemas difíceis: o trinta e um e o vinte e dois.

Portanto, entendemos que devem prevalecer nas petições as formas “isso posto” e “posto isso” àquelas grafadas com o emprego do pronome “isto” (“isto posto” ou “posto isto”). Ainda, perscrutando a máxima correção na utilização das duas formas admitidas, somos da opinião que se deve preferir posto isso a “isso posto”, em virtude da58 com-posição participial da primeira expressão. Com efeito, as orações reduzidas de particípio são formadas com o “verbo + sujeito”, e não o contrário. Exemplos: • Tomadas as providências, aceitei o pedido. (Sujeito da oração em destaque: as providências.) • Feitos os cálculos, apurou-se o débito. (Sujeito da oração em destaque: os cálculos.) Então, há que se dizer: Posto isso,

chegou-se à conclusão ... (na acepção de Postas essas considerações, chegou-se à conclusão...).

A corroborar a postura acima expendida, Nascimento (1992:24) preconiza que “é comum nos requerimentos a expressão final ‘posto isto’; ora, este e isto denotam o que vem a seguir, ao passo que esse e isso, o que já foi exposto (...)”.

Vamos assimilar com o quadro abaixo:

Pronomes Demonstrativos

Este, Esta, Isto x Esse, Essa, Isso

ESTE59 ESSE

1) O objeto está perto da pessoa que fala. Exemplo: • Este livro que tenho em mão.

1) O objeto está perto da pessoa com quem se fala. Exemplo: • Esse livro que tens em mão.

2) O tempo está próximo da pessoa que fala. Refere-