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Para citar doutrina, os elementos de ligação podem ser:

A HORA DO ESPANTO AS “PÉROLAS” DO PORTUGUÊS

VOCABULÁRIO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA

4 DA PETIÇÃO INICIAL

4.3. A REDA ÇÃ O DE PETIÇÕES

4.3.2. Sugestões de melhoria

4.3.2.3. Para citar doutrina, os elementos de ligação podem ser:

• Nesse sentido, necessário se faz mencionar o entendimento do ilustre Fulano que preconiza, “in verbis”: (citar a

doutrina).

• A esse propósito, faz-se mister trazer à colação o entendimento do eminente Fulano que assevera, “ipsis litteris”: (citar

a doutrina).

• Nesse diapasão, impende destacar o entendimento do ínclito Fulano, que aduz, “verbis”: (citar a doutrina). • A corroborar o exposto acima, insta transcrever o entendimento do renomado Fulano, que preleciona, “ad litteram”:

• Nesse passo, é de todo oportuno trazer à baila o entendimento do preclaro mestre, que obtempera, “verbo ad verbum”:

(citar a doutrina).

Observe que os enunciados supracitados vêm ao encontro do que objetiva o modesto trabalho literário a que agora se dedica, nobre amigo leitor: municiá-lo com linguagem técnica e múltipla.

Note que os exemplos trazem a lume o mesmo contexto, com modos diversos de expressão. Confira na tabela a seguir a variedade de expressões utilizadas, confrontando-as com os modelos anteriormente mencionados:

Elemento de ligação

I Elemento de ligação II Qualificativo Verbo Latim*

Nesse sentido ⇒ necessário se faz mencionar ⇒ Ilustre Fulano ⇒ Preconiza ⇒ In verbis

A esse propósito ⇒ faz-se mister trazer à colação ⇒ Eminente Fulano ⇒ Assevera ⇒ Ipsis litteris

Nesse diapasão ⇒ impende destacar o ⇒ Renomado Fulano

⇒ Aduz ⇒ Verbis

A corroborar o exposto acima

⇒ insta transcrever ⇒ Ínclito Fulano ⇒ Preleciona ⇒ Ad litteram

Nesse passo ⇒ é de todo oportuno trazer à baila**

⇒ Preclaro Fulano ⇒

Obtempera ⇒

Verbo ad

verbum

* As expressões latinas utilizadas (in verbis, ipsis litteris, verbis, ad litteram e verbo ad verbum) têm a acepção de “sem alteração” ou “literalmente”, de modo que devem transitar com tranquilidade nos textos jurídicos, à medida que, inexoravelmente, valer-se-á o nobre causídico de fiéis citações de doutrina, jurisprudência, entre outros argumentos ab auctoritatem. Ressalte-se que há, ainda, a forma ad litteris et verbis, na acepção de “literalmente”.

** A forma “vir à baila” pode ser grafada como “vir à balha”. Primitivamente, a expressão significava “vir à dança”, “vir ao baile”, “aparecer” ou “ser visto”. Desse modo semanticamente restrito, a expressão evoluiu para um sentido genérico, aplicando- se também ao campo das ideias.

Dessa forma, na elaboração da peça prático-profissional, deve o aplicador da redação jurídica demonstrar domínio da linguagem simples, porém técnica, peculiar ao estilo forense. Para tanto, faz-se mister que utilize expressões tradutoras de uma desenvoltura adequada na elaboração de parágrafos componentes do trabalho escrito.

Nesse raciocínio, o douto (Autor) assevera

Nessa esteira, o ínclito (...) ministra

Nesse passo, o ilustre (...) preleciona

Nesse rumo, o culto (...) aduz

Nesse diapasão, o eminente (...) entende

A esse propósito, o renomado (...) leciona

Na mesma toada, o preclaro (...) obtempera

Ou, ainda:

• Outrossim, merece ser trazido à baila o entendimento do ilustre doutrinador ... . • Ademais, merece ser trazido a lume o magistério do renomado catedrático ... . • Além disso, imperioso se faz trazer à colação os dizeres do renomado escritor ... . • À guisa de corroboração, necessário se faz trazer à baila o entendimento do eminente professor ... . • A ratificar o acima expendido, é de todo oportuno gizar (= delinear) o magistério do ínclito autor ... . Veja, em tempo, outras “fórmulas” a serem usadas na petição para citar doutrina:

• Nesse raciocínio, o festejado Autor preleciona, de modo esclarecedor, no sentido de que ... . • Nos respeitáveis dizeres do eminente Autor ... .

• Com muita propriedade, o douto Fulano traça as seguintes explanações sobre o assunto ... . • Em consonância com o magistério do Fulano... .

• Sobre tal aspecto, merece ser trazido (ou necessário se faz trazer) à baila o excelente magistério do Fulano ... . • Também por este prisma é o entendimento do respeitável Autor, que perfilha o mesmo pensar, ao asseverar que ... . • Nesse rumo, ainda, as Impetrantes pedem vênia para transcrever as lapidares explanações tecidas pelo ilustre Fulano

sobre o tema ora analisado ... .

• Escudado nesse sólido embasamento doutrinário, a Autora entende que ... . • É de todo oportuno gizar as palavras do ilustre Autor, que assevera ... .

• Em consonância com os dizeres do douto Autor, há que se notar o posicionamento do Fulano, em total corroboração

ao acima expendido, que preconiza ... .

.

• Empós as clarividentes lições do renomado Autor ... . • No dizer sempre expressivo do preclaro Fulano ... . • Em assonância com a lição sempre precisa do Autor ... .

Ressalte-se que, para a citação de doutrinas, é necessário demasiada atenção, pois se trata de “argumentos de autoridade” (ab

auctoritatem), que visam imprimir vigor na argumentação expendida. A esse propósito, Rodríguez (2000: 231-232) aduz que

argumento de autoridade é aquele que usa da lição de pessoa conhecida e reconhecida em determinada área do saber para corroborar a afirmação do autor sobre certa matéria. (...) São argumentos de autoridade, via de regra, as citações de doutrina nas petições. Esse tipo de argumento traz duplo efeito. O primeiro deles é a presunção de acerto no raciocínio que o argumentante toma de empréstimo. Como a autoridade cujo pronunciamento é citado é (ou ao menos deve ser) pessoa conhecida (ou seja, cujo nome o leitor conheça) e reconhecida (o leitor deve conhecer a pessoa citada e reconhecê-la como autoridade em determinado assunto), o leitor passa a presumir que seu raciocínio tenha bons fundamentos (...).

E cita o autor um exemplo:

“Como assenta Joel de Figueiredo Dias, professor catedrático da Universidade de Coimbra e presidente do Instituto de Direito Penal Econômico Europeu (...)”.

Essa apresentação, ainda que o leitor não conheça o professor citado, passa-lhe o status de autoridade, dando maior força ao argumento (destaque nosso).

Damião e Henriques (2000: 162) asseveram, acerca do argumento de autoridade, que sua

intenção é mais confirmatória do que comprobatória. O argumento apoia-se na validade das declarações de um especialista da questão (que partilha da opinião do redator). É largamente explorado no discurso jurídico com o emprego de fórmulas estereotipadas como “estribando-se na autoridade de ...”.

No mesmo diapasão, Ferraz Jr. (1991: 309) preconiza que “tal argumento domina a argumentação jurídica. Na esfera religiosa, a palavra de Deus é o argumento mais forte”.

Assim, deve o anunciante observar as importantes regras abaixo para citação de doutrina: 1. utilize aspas (começo e fim);

2. se for destacar algo, indique com a expressão “grifos nossos”, “destaques nossos” ou “sublinhas nossas”;

3. utilize recurso que dê destaque ao trecho de citação: geralmente, quando a citação é um tanto extensa, procura-se mudar a fonte (o tipo de letra), ou a paragrafação, impondo uma margem bem maior para o texto citado. Assim, a própria estética da petição demonstra que aquele trecho é recorte de outra obra;

4. se for pular um trecho, use reticências entre parêntesis ou colchetes (...)/[...], ou utilize a expressão latina “omissis”; 5. quando houver erro do doutrinador, jamais corrija. Insira apenas o termo sic (“assim”, em latim), entre parêntesis, “debitando na conta” de outrem o erro de que não é dono. Exemplo: O título foi enviado à (sic) Cartório;

6. ao final (ou no início), deve detalhar a fonte, indicando autor, nome da obra, edição, cidade, editora, volume, ano e página. É interessante observar que o causídico, quando depara com um argumento de autoridade, deve proceder de modo adequado, preocupando-se em combatê-lo, tendo em conta, em primeiro lugar, que, ao lado do argumento de autoridade mencionado, deve haver a fundamentação da tese, sob pena de esvaziar a força persuasiva da citação. Nesse passo, Rodríguez (2000: 234-236) leciona que

um dos modos de desconstituir a força persuasiva de um argumento de autoridade é expor que não é a autoridade que, por si, constitui a tese, mas sim os argumentos que usa para fundamentá-la. Isso é muito bem expresso no aforismo latino “Amicus Platus, sedi magia mica veritas” (“Gosto de Platão, mas prefiro a verdade”). A expressão indica que, ainda que Platão tenha um conjunto de ideias que representaram conhecimento fabuloso para os de sua época, muitas vezes pode-se dele discordar.

E prossegue o autor:

O segundo modo de combater o argumento de autoridade não é desconstituir-lhe a fundamentação, mas encontrar outra autoridade que defenda a tese contrária. Para nosso bem, o Direito permite doutrinas com entendimentos mais variados, portanto não é raro que aquele que cita a lição de renomado autor para fundamentar sua tese depare, em contestação, com citação da lição de outro renomado autor, defendendo a tese contrária. Vale a pena pesquisar.