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a distância perspetividada e real, no salto horizontal

RESUMO aBStRact

São os processos de crescimento e maturação que influem diretamente a evolução do desempe- nho motor na infância e na adolescência. Cumulativamente, a capacidade de perceber a compe- tência motora evolui com esses processos. Dentro desta temática, a literatura existente refere que as crianças apresentam níveis inferiores de competência percebida em relação à competência motora real, existindo assim uma relação com a incapacidade de distinguir a competência real e o esforço. Ou seja, uma criança mais nova sobrestima, ou subestima, as suas capacidades devido à pouca, ou nenhuma experiência aquando da necessidade de realizar apreciações independentes. As suas apreciações terão de se basear no feedback que obtém das pessoas que a rodeiam, nome- adamente, familiares, professores, pares.

Segundo Harter e Pike (1) e Harter (2), é possível verificar que crianças que se encontram no seu processo de conhecimento de competências motoras, apresentam níveis superiores de compe- tência percebida relativamente à competência motora real, embora que inconscientes. Estudos anteriores reforçam esta ideia apontando que a maturação influi positivamente no aprimoramento da competência percebida. Ademais, crianças com elevada competência percebida apresentam uma maior ligação com a atividade motora, criando condições favoráveis para o aumento do seu reportório psicomotor (3). Numa era de inatividade e sedentarismo, este pode ser um positivo ciclo vicioso para incremento da aptidão motora das crianças.

O salto horizontal é uma habilidade motora fundamental, com um reduzido nível de complexidade e bastante utilizado nas atividades desportivas. Efetuado de forma isolada ou associado com outras habilidades, o salto horizontal pode ser avaliado com facilidade, bastando recorrer à distância obti- da. Assim, o presente estudo pretendeu verificar possíveis diferenças entre a distância perspetivada e a distância real numa tarefa motora (salto horizontal) em crianças, e comparar essa competência com adolescentes.

A amostra utilizada para o estudo foi constituída por 18 crianças, 9 rapazes e 9 raparigas (8,8±0,7 anos de idade) e por 18 adolescentes, 8 rapazes e 10 raparigas (16,6±0,6 anos de idade), que se voluntariaram para o presente estudo. Foi obtida autorização pelos pais dos sujeitos e todos os procedimentos estão de acordo com a declaração de Helsínquia de 1975 no que diz respeito aos estudos com seres humanos. O Comité de Ética da instituição de investigação aprovou todos os procedimentos experimentais.

Para a realização dos testes, foi marcada uma linha com fita adesiva a que se chamou de ponto zero. De seguida, com o sujeito que iria efetuar o teste colocado imediatamente atrás do ponto zero, dois membros da equipa de investigação seguravam uma corda que iam afastando do ponto zero. O sujeito dizia então “aí” quando a corda atravessava aquela que o sujeito entendia ser a sua distância máxima de salto horizontal. Procedeu-se à medição (em cm) da distância perpendicular entre o ponto zero e a corda. Foi utilizado um chão sem marcas e uma rotação em torno do eixo longitudinal após a indicação.

Retirada a corda, era pedido ao sujeito que realizasse o salto horizontal tentando alcançar a maior distância possível. Procedia-se à medição (em cm) da distância perpendicular entre o ponto zero e o ponto de colocação do terço anterior do pé; era solicitado que realizassem o salto com os pés paralelos. Foi indicado aos participantes que poderiam utilizar, da forma que achassem convenien- te, os membros superiores.

Posteriormente, colocou-se a corda no local que representava a distância perspetivada pelo sujeito e repetia-se o procedimento descrito anteriormente. Cada tarefa foi realizada 3 vezes, de modo a obter um valor médio para as distâncias perspetivada e alcançada, com e sem referencial. Os dados foram armazenados no software Office – Excel (Microsoft®), sendo calculado o erro absoluto (dife- rença em cm entre a distância perspetivada e as distâncias alcançadas) e o erro relativo (diferença em percentagem entre a distância perspetivada e as distâncias alcançadas).

intRODUÇÃO

MEtODOLOGia

AMOSTRA

A assunção de normalidade dos dados foi verificada com o teste de Shapiro-Wilk, antecedendo a análise descritiva. A estatística descritiva (média ± DP) foi calculada recorrendo aos métodos standard. Foram realizados os testes t de medidas independentes (comparação inter-grupos). Foi adotado o nível de significância estatística para p ≤ 0,05.

Na tabela 1 são apresentados os valores médios ± DP e nível de significância para as variáveis estudadas, tendo em consideração a faixa etária. Entre crianças e adolescentes, foram visíveis diferenças significativas ao nível da distância perspetivada e dos saltos efetuados, com supremacia para os mais velhos. Quanto às diferenças entre a distância perspetivada e as distâncias alcançadas, as crianças apresentaram um menor erro absoluto na condição sem referencial. No entanto, essas diferenças não foram visíveis quando analisados os erros relativas entre a distância perspetivada e as distâncias de salto.

O objetivo do presente estudo foi comparar o erro entre a distância perspetivada e a distância alcançada, no salto horizontal pretendendo verificar possíveis diferenças entre a distância pers- petivada e a distância real numa tarefa motora em crianças, e comparar essa competência com adolescentes. Os resultados demonstraram que a análise dos dados recorrendo ao erro absoluto compromete a interpretação escalar das distâncias saltadas. I.e., tendo em consideração o erro absoluto, poderia afirmar-se que as crianças apresentaram maior competência percebida do que os adolescentes. No entanto, eliminando o efeito do espectro escalar ser superior, essas diferen- ças já não se verificaram na análise da competência percebida por erro relativo, verificando-se apenas uma tendência para superioridade de competência percebida nos adolescentes quando saltam com referencial.

Como expectável, as crianças apresentaram uma menor distância perspetivada, assim como menores distâncias obtidas nos saltos efetuados. O facto de se tratarem de grupos pré vs. pós- púberes, justifica os valores encontrados não só pelo aumento evidente da massa muscular (4), mas também por melhorias ao nível da coordenação motora (5). Adicionalmente, verificou-se que 15 das 18 crianças subestimaram a sua distância de salto. Sendo o desenvolvimento de com- petências motoras durante a infância um desenvolvimento multifatorial (e.g. fatores neuromus- culares, morfológicos), a perceção construída em torno de uma habilidade motora como o salto horizontal será reflexo do processo individual. Logo, o “medo” de errar parece ter dominado este grupo de crianças, levando-as a indicar uma menor distância do que aquela que efetivamente

DiScUSSÃO RESULtaDOS ANáLISE ESTATíSTICA Tabela 1 Valores médios ± DP e nível de significância para as variáveis estudadas, tendo em consideração o grupo etário.

a) Valores de 12 a 48 b) Valores de 6 a 24

conseguiriam saltar. De facto, na condição com referencial, verificou-se uma elevada satisfação ao perceberem que conseguiram superar aquela que tinha sido a sua indicação, indiciando uma constante busca pela superação. Esta assunção é coerente com as premissas de Stodden et al. (3) uma vez que, para o presente estudo, as crianças apresentavam um baixo nível de envolvi- mento em atividade motora.

Por forma a conseguir analisar a competência percebida, foram identificados os erros entre as distâncias perspetivadas e as reais, após retificação do sinal. Assim, numa primeira análise, os resultados parecem sugerir que as crianças apresentam uma maior perceção de competência do que os adolescentes. Contudo, tendo os adolescentes apresentado uma magnitude bastante superior, estes tendem a ser prejudicados nessa análise. Relativizando esses erros (erro relativo) à magnitude, confirma-se que a sugestão de que as crianças apresentam maior competência percebida não se verifica. Já na década de 70, se afirmava que é devido à maturação cognitiva, motivação intrínseca e às experiências sociais que as áreas de competência aumentam desde a infância até à adolescência (6). Também Vilwock e Valentini (7) referem que, devido à crescente experiência para realizar apreciações independentes, crianças mais velhas tendem a não sobres- timar as suas competências pois vão adquirindo mais conhecimento, entendendo melhor o am- biente que as circunda, o que as ajuda a julgar de modo mais adequado as suas habilidades (8). Apesar de, como expectável, se verificar uma supremacia dos adolescentes nas distâncias de saltos, as crianças apresentaram similar competência percebida para a tarefa motora utilizada no presente estudo. Este trata-se de um estudo piloto que requer a aplicação desta metodologia a uma amos- tra de maior dimensão, de forma a permitir a generalização das interpretações efetuadas.

cOncLUSÃO

1- Harter S, Pike R. The pictorial of perceived competence and social acceptance of young children. Child develop. 1984;55:87-97.

2- Harter S. The construction of the self. A developmental perspective. The Gilford Press: New York; 1999. 3- Stodden DF, Goodway JD, Langendorfer SJ, et al. A developmental perspective on the role of motor skill compe- tence in physical activity: An emergent relationship. Quest. 2008;60(2):290-306.

4- McCarthy HD, Samani‐Radia D, Jebb SA, Prentice AM. Ske- letal muscle mass reference curves for children and adolescents. Ped obesity. 2014;9(4):249-259.

5- Lopes VP, Rodrigues LP, Maia JA, Malina RM. Motor coor- dination as predictor of physical activity in childhood. Scand J Med Sport. 2011;21(5):663-669.

6- Harter S. Effectance motivation reconsidered. Toward a developmental model. Human development. 1978;21(1):34-64. 7- Villwock G, Valentini NC. Percepção de competência atléti- ca, orientação motivacional e competência motora em crianças de escolas públicas: estudo desenvolvimentista e correlacional. Revista Brasileira de Educação Física. 2007;21(4):245-257. 8- Rudisill ME, Mahar MT, Meaney KS. The relationship between children’s perceived and actual motor competence. Perceptual and Motor Skills. 1993;76(3):895-906.

REfERÊnciaS BiBLiOGRÁficaS

As crianças com uma coordenação motora fraca têm dificuldades em realizar habilidades manipulativas, tais como a escrita. Os instrumen- tos de avaliação motora valorizam bastante as habilidades manipulativas para que seja possível o diagnóstico de Perturbação do Desenvolvimen- to da Coordenação (PDC). Contudo, o conjunto de tarefas manuais requer mais investigações. O objetivo principal deste estudo é compreender as relações entre a coordenação motora (global e mão-olho) e a qualidade de escrita, usando dois instrumentos, nomeadamente, a bateria Move- ment Assessment Battery for Children-2 (MABC-2, Banda de idade 2) e a Echelle d’évaluation rapide de l’écriture chez l’enfant (BHK).

No que se refere aos resultados, não foi encontra- da qualquer associação entre as variáveis acima mencionadas. Contudo, foi encontrada uma diferença no desempenho entre sexos na tarefa de colocar os pinos, com as raparigas a revelar melhores resultados.

Palavras-chave:

Escrita; Coordenação Motora; MABC-2; BHK; Sexo.

Children with poor motor coordination have difficulties in performing manipulative skills such as writing. The motor assessment tools greatly enhance the manipulative skills for the diagnosis of Developmental Coordination Disorder (PDC). However, the number of human tasks requires further investigations.

The aim of this study is to understand the rela- tionship between motor coordination (global and hand-eye) and the quality of writing, using two instruments, namely, the Movement Assessment Battery for Children-2 (MABC-2, AB 2 ) and the Echelle d’évaluation rapide de l’écriture chez l’enfant (BHK).

With regard to the results, it was found no asso- ciation between the aforementioned variables. However, a difference in performance between genders in the task of turning pegs found with the girls to reveal better results.

Keywords:

Handwriting; Motor Coordination; MABC-2: BHK; Gender.

Ana Rita Matias (1); Rui Roque Martins (1); Ana Isabel Carita (1); Olga Vasconcelos (2).

(1) Faculdade de Motricidade Humana da Univesidade Técnica de Lisboa [PT]

(2) Laboratório de Aprendizagem e Controlo Motor, CIFI2D, Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (PT]

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