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Neto C Jogo na criança & Desenvolvimento Psicomotor Faculdade de Motricidade Humana, Universidade Técnica de

Relação entre o perfil de supervisão parental e o desenvolvimento motor

14- Neto C Jogo na criança & Desenvolvimento Psicomotor Faculdade de Motricidade Humana, Universidade Técnica de

Lisboa. s/d.

REfEREnciaS BiBLiOGRÁficaS

Tendo em conta Neto (1992) que afirma que no recreio as crianças ocupam o tempo nas atividades possíveis em função da estimulação do meio, pedimos a 83 crianças dos 4 aos 7 anos (44 meninos e 39 meninas) para identificarem os amigos, os locais e as brincadeiras preferidas no recreio da escola.

O baloiço (33,8%) é o local preferido, seguido do espaço envolvente à estrutura (19,3%) e do escorrega (15,7%). A brincadeira preferida é andar de baloiço (33,7%), seguida dos jogos de faz de conta (19,3%) e subir e descer o escorrega (14,5%). Ambos os géneros elegem o baloiço e baloiçar em primeiro lugar mas em segundo lugar os meninos preferem brincar em volta da estrutura enquanto as meninas preferem brincar nas barras. As crianças de 2º ano preferem jogar ao faz de conta (39,3%) e às corridas e apanhada (34,8%) que implicam aceitar regras do grupo. As crianças com mais amigos (duas ou mais nome- ações) preferem os jogos em grupo enquanto as crianças sem amigos (zero nomeações) preferem brincar de forma solitária (baloiço, escorrega).

Palavras-chave:

Recreio; Affordance; Brincar; Sociometria.

Taking into account Neto (1992) which states that children occupy time on the playground with the activities possible due to the stimulation of the medium, we asked 83 children from 4 to 7 years (44 boys and 39 girls) to identify friends, local and preferred play in the school playground. The swing (33.8%) is the preferred location, followed by the surroundings to the structure (19.3%) and the slide (15.7%). The preferred play is riding a swing (33.7%), followed by make- believe games (19.3%) and up and down the slide (14.5%). Both genders elect the swing and swinging at first but secondly the boys prefer to play around the structure while girls prefer to play in bars. Children from 2th grade prefer to play make-believe (39.3%) and the catching games (34.8%) involving to accept group rules. Children with more friends (two or more nominations) preferred play in groups, children without friends (zero nominations) preferred to play alone.

Keywords:

Playground; Affordance; Play; Sociometry.

Amália Rebolo (1)(2); Ana Cláudia Baião (3).

(1) Instituto Superior de Estudos Interculturais e Transdisciplinares (Instituto Piaget, Campus de Almada) [PT]

(2) Research in Education and Community Intervention (RECI) [PT]

(3) Escola Superior de Educação Jean Piaget (Instituto Piaget, Campus de Almada) [PT]

No recreio da escola gosto de brincar

(onde e como)

RESUMO aBStRact

O recreio escolar promove o desenvolvimento motor e social, permite à criança mostrar as suas emoções e sentimentos, partilhar experiências, vivenciar aventuras, escolher os amigos, agir e interagir em situações diferenciadas.

O tempo de recreio como tempo livre do controlo dos adultos, representa uma parte fundamen- tal do dia na escola (1)e é fundamental para a integração das crianças, existindo liberdade para interagir com os pares e o envolvimento. Tal como a sala de aula, a casa ou a vizinhança, o recreio é um dos espaços de vida importantes da criança (2). Os comportamentos das crianças no seu recreio são diferentes dos apresentados na sala de aula, são imprevisíveis e dependem de fatores como as caraterísticas do espaço, a arquitetura da escola, o número de crianças ou as caraterísti- cas de cada criança.

Sobral Leal (3) em 1975 referia-se ao recreio como o espaço/tempo de desolação contado a minutos escassos e estéreis num espaço sem possibilidades de descoberta e aventura, mas anos mais tarde, Neto (4) afirma que neste espaço as crianças ocupam o tempo nas atividades possíveis em função da estimulação do meio. As crianças percebem o que é possível tendo em conta as suas caraterísticas individuais (altura, peso, idade, género, desenvolvimento motor) e as caraterísticas do recreio (dimensões, superfícies, equipamentos fixos e materiais soltos. Quando Gibson (5) introduz o conceito de affordance para referir a complementaridade entre o animal e o seu envolvimento, refere-se a mais do que a soma das propriedades do meio e das caraterísticas do animal. Identificar uma affordance não significa classificar o objeto ou o espaço pois poderá permitir diferentes perceções a indivíduos ou em situações diferentes.

Os espaços de jogo e recreio escolares permitem às crianças a realização de atividades diferentes das previstas pelos arquitetos e designers dos edifícios e equipamentos. As novas atividades dependem da forma como as crianças observam e interagem com o espaço, os equipamentos e com os outros utilizadores, assim o mesmo espaço pode ser utilizado de forma diferente de acordo com as caraterísticas das crianças e dos grupos.

Tendo em conta Newell (6) é importante perceber os constrangimentos – do ambiente, da pessoa e da tarefa – que se refletem nos comportamentos das crianças no seu espaço de recreio. Provavelmente os constrangimentos da pessoa serão os principais promotores da diferenciação de comportamentos no recreio. O mesmo espaço é frequentado por crianças de ambos os géne- ros, de diferentes idades com diferentes estruturas físicas, vivências e níveis de desenvolvimento que vão por isso realizar jogos/brincadeiras diferentes (1, 7).

De acordo com Gallahue e Ozmun (8) cerca dos 6 anos as crianças deveriam estar no nível maturo em quase todos os movimentos fundamentais, nesse sentido poderia esperar-se que os compor- tamentos no recreio fossem semelhantes entre crianças da mesma idade.

Piaget considera a existência de estádios durante os quais a criança se envolve em atividades de jogo de acordo com o seu nível de desenvolvimento: jogos de exercício (associados a ganho de competência motora e aumento de autoestima), jogos simbólicos (simbologia associada à criação imagens mentais), jogos de regras (permitem o desenvolvimento de estratégias e a tomada de decisões, permitem fazer parte do grupo).

O jogo de atividade física caracterizado pelo grande vigor físico apresentado nos jogos de apa- nhada e de luta e perseguição (10), implica a tomada de decisões e o assumir regras em grupo. Este tipo de jogo representa uma elevada percentagem dos jogos realizados no recreio, “a ativida- de motora parece ser importante para maioria das crianças em especial quando se relacionam e interagem com os outros através dessa mesma atividade ou jogo” (7, pp.194).

A interação com o grupo de pares através do jogo promove o desenvolvimento de relações sociais por seu lado os grupos de amigos facilitam a integração na escola e a identificação de grupos de pertença. Para identificar os grupos de amigos, quem é esquecido e quem é excluído os questionários de tipo sociométrico são um excelente instrumento (7). Mesmo em crianças de idade pré-escolar é possível utilizar o teste sociométrico como ferramenta de identificação das

relações entre as crianças e do seu estatuto sociométrico (11). As escolhas positivas em relação ao recreio permitem identificar os grupos de amigos e simultaneamente por falta de nomeações identificar as crianças negligenciadas e excluídas pelos pares. Este é um aspeto fundamental a ter em conta na prevenção de situações de bullying tendo em conta que as crianças excluídas correm maior risco de agressão e vitimização (7).

O presente estudo tem como objetivos: Identificação dos espaços preferidos no recreio da escola tendo em conta o género, a idade e o número de nomeações; Identificação das brincadeiras pre- feridas tendo em conta o género, a idade e o número de nomeações como amigo de brincadeira. Para identificar os amigos, os locais e as brincadeiras preferidas no recreio questionámos direta- mente as crianças de quatro turmas de pré-escolar e 1º ciclo num colégio situado no concelho do Seixal. A cada criança individualmente foram colocadas as questões: Com quem gostas de brincar no recreio? Em que local do recreio gostas mais de brincar? Qual é a tua brincadeira preferida? As respostas à primeira questão permitiram a construção da matriz sociométrica e a identificação da relações de atração ou de negligência entre as crianças de cada turma tendo em conta as nomeações para brincar no espaço de recreio. As respostas às questões dois e três permitiram a identificação dos espaços de jogo e brincadeiras favoritas.

A amostra foi constituída por 83 crianças (44 meninos e 39 meninas) entre os 4 e os 7 anos de idade de duas turmas (A e R) de pré-escolar (n=41), uma turma de 1º ano (n=19) e uma turma de 2º ano (n=22) num colégio situado no concelho do seixal.

As crianças foram entrevistadas individualmente durante o recreio tendo sido registadas as no- meações assim como os locais e as brincadeiras favoritas, não tendo sido limitadas em relação ao número de escolhas. Na matriz sociométrica à primeira escolha foi atribuído o valor 5, à segunda o valor 4 e assim por diante. Para caraterizar as brincadeiras em função das nomeações como amigo de brincadeira a amostra foi dividida em três grupos: crianças sem nomeações; crianças com uma nomeação e crianças com duas ou mais nomeações e analisámos os dois grupos extremos – zero nomeações e duas ou mais nomeações.

O espaço de recreio desta escola tem uma estrutura sobre base sintética incluída num espaço empedrado onde é possível correr, jogar e utilizar a estrutura conforme a vontade e busca de prazer. A supervisão é realizada pelas educadoras e por auxiliares que fazem o apoio às atividdes do recreio, intervêm quando solicitadas ou quando se verificam situações de risco ou conflito. O questionário de tipo sociométrico permitiu a identificação das relações entre as crianças sendo possível destacar que apenas 48% das crianças da amostra são nomeados por duas ou mais crian- ças e quase 23% das crianças são completamente esquecidas não obtendo qualquer nomeação. Esta ausência de nomeações verifica-se de forma decrescente à medida que avança o nível de ensino (5 em média nas turmas de pré-escolar, 4 no 1º ano e 2 no segundo ano). Esta situação poderá ser explicada pelo menor tempo de relação entre as crianças de pré-escolar que se co- nheceram no presente ano letivo enquanto as crianças dos outros níveis já se relacionam desde à dois anos atrás. As crianças sem qualquer nomeação deverão ser alvo da atenção dos educadores, professores e pessoal não docente visto que o risco de agressão e vitimização é mais elevado neste grupo do que nas crianças nomeadas para brincar.

Verificámos que as crianças escolheram como espaços preferidos o baloiço (33,8%), o espaço envolvente à estrutura (19,3%) e o escorrega (15,7%).

Quanto às brincadeiras (figura 1), as mais referidas são andar de baloiço (33,7%), os jogos de faz de conta (19,3%) e subir e descer o escorrega (14,5%). Ambos os géneros elegem o baloiço e

MEtODOLOGia PROCEDIMENTOS ESPAÇO DiScUSSÃO DE RESULtaDOS AMOSTRA

baloiçar em primeiro lugar mas em depois os meninos preferem usar o escorrega e brincar em volta da estrutura (realizam corrida, jogos de faz de conta e jogos de apanhada) enquanto as meninas preferem os jogos de faz de conta e brincar nas barras (realizam suspensões, balanços e usam para jogar voleibol). Os meninos são mais ativos tal como foi verificado por Rebolo Marques (7) e Pellegrini e Smith (10) entre outros. O baloiço e baloiçar têm a preferência das crianças de pré-escolar e 1º ano (4 a 6 anos) enquanto as crianças de 2º ano (7 anos) preferem jogar ao faz de conta (39,3%) e às corridas e apanhada (34,8%). Enquanto as crianças mais novas preferem jogos que podem realizar individualmente as brincadeiras preferidas pelas crianças de 2ºano implicam brincar com o grupo e aceitação de regras de jogo definidas pelos participantes. As brincadeiras das crianças de 2º ano são enquadráveis na fase de jogo de luta e perseguição (jogo de atividade física) (10) e na fase de jogo de regras (9).

Tendo em conta a preocupação já referida com o risco de exclusão, vitimização, agressão das crianças sem nomeações para amigo de brincadeira investigámos as brincadeiras favoritas das crianças com zero nomeações e das crianças com duas ou mais nomeações (figura 2). Verificámos que a brincadeira favorita das crianças sem nomeações é andar de baloiço (47,4%), também referiram subir e descer o escorrega e faz de conta (20%) e por fim fazem referência às corridas escolhida por cerca de 10% das crianças. Todas estas brincadeiras podem ser realizadas de forma solitária e sem qualquer interação com os outros alunos.

Figura 1

Brincadeiras favoritas:total, género e turma (%)

Figura 2

Brincadeiras preferidas tendo em conta o número de nomeações para brincar (%)

As crianças nomeadas por dois ou mais amigos apresentam maior diversidade na resposta, sendo de destacar que também gostam de andar de baloiço (25%), subir e descer o escorrega (20%), Jogos de faz-de-conta (20%) e suspender na barra (15%); jogar à apanhada e jogar voleibol são escolhidos por 7,5 das crianças e por fim surge o trepar às cordas e as corridas com 2,5% das escolhas. As crianças com 2 ou mais amigos realizam mais atividades de grupo como apanhada e voleibol e utilizam a estrutura nos jogos de faz de conta com os amigos o que implica aceitação das regras para continuar a brincar com o grupo.

Podemos afirmar que mesmo crianças de nível pré-escolar conseguem identificar os seus espaços de jogo e brincadeiras favoritos e ainda responder a questões acerca dos seus pares identificando aqueles com quem gostam de brincar. Esta nomeação permite aos educadores a identificação das crianças em risco de exclusão e consequentemente em maior risco de envolvimento em situações de agressão como vítima, agressor ou ambos.

Através das respostas das crianças identificámos os espaços preferidos no recreio da escola tendo em conta:

• Género – o baloiço e baloiçar tem a maior percentagem das esolhas mas depois os meninos

preferem usar o escorrega e brincar em volta da estrutura para corrida, jogos de faz de conta e jogos de apanhada, e as meninas escolhem os jogos de faz de conta e brincar nas barras (suspen- sões, balanços e jogar voleibol).

• Idade – o baloiço e baloiçar são os preferidos das crianças de pré-escolar e 1º ano mas as crian-

ças de 2º ano preferem jogar ao faz de conta (39,3%) e às corridas e apanhada (34,8%).

• Nomeações – quase 50% crianças sem nomeações prefere andar de baloiço (47,4%) enquanto

as crianças com duas ou mais nomeações apresentam maior diversidade na resposta, apenas 25% refere andar de baloiço, surgem depois subir e descer o escorrega e os jogos de faz-de-conta (20%), suspender na barra (15%); jogar à apanhada e jogar voleibol (7,5%) e por fim trepar às cordas e corridas (2,5%).

Verificámos que as brincadeiras e os espaços preferidos dependem da idade, do género e tam- bém do número de amigos. Este é um estudo que merece ser replicado com uma amostra maior e em escolas diferentes. A identifcação das crianças em risco de exclusão e o seu isolamento na brincadeira vai permitir aos educadores e professores a intervenção no sentido da integração nas brincadeiras dos colegas. Reconhecendo que o recreio é o espaço de decisão da criança e que não deve ser imposto com quem brinca, o adulto deverá ajudar a integração dos excluidos sem que as crianças se sintam obrigadas a fazê-lo mas porque a comunicação entre elas se torna possivel e positiva.

1- Pellegrini AD. School recess and playground behavior - Edu-

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