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Atividade física e aptidão física em crianças de etnia cigana e não cigana:

um estudo em crianças de ambos

os géneros

RESUMO aBStRact

Os tempos mudam, e com eles têm mudado os hábitos de vida. No final do século passado já as crianças passavam grande parte do seu tempo livre a brincar com jogos eletrónicos, computador e a ver TV, contribuindo para um aumento do sedentarismo na infância. Mas não só as crianças passam mais tempo em casa, como quando estão na rua, optam por atividades pouco intensas. Diversos estudos revelam que é fora de casa que as crianças atingem níveis mais elevados de intensidade (1, 2).

A existência de carros, elevadores, tapetes rolantes são potenciadores da redução da sua mobili- dade e as crianças são menos autónomas Estudos levados a cabo por Arez (3) e Almeida e Neto (4) demonstram que crianças com menor supervisão dos adultos (como em meios rurais) apresentam uma maior mobilidade, percorrem maiores distâncias, saem mais sozinhas ou com os amigos, são mais autónomas, e têm maior possibilidade de ação.

As recomendações americanas sobre AF publicadas em 2008 (5) para crianças e adolescentes entre 6 e 17 anos de idade, aconselham a que (1) participem todos os dias em AF de intensidade moderada a vigorosa pelo menos uma hora, e incluam AF de intensidade vigorosa pelo menos três vezes por semana; (2) pelo menos três vezes por semana, as atividades físicas apoiem e reforcem a manutenção da força muscular e promovam o desenvolvimento da densidade mineral óssea. Todas as crianças em idade escolar deveriam ter, pelo menos, 60 minutos de AF diária de mode- rada a vigorosa e que esta fosse estimulante, cativante e variada. As atividades aeróbias devem ser dominantes na sua rotina de AF (6).

Com a passagem para a adolescência, a aptidão física diminui e é necessário fidelizar os jovens à prática desportiva, para poderem ser adultos ativos e saudáveis (7). Torna-se por isso fundamental um controlo efetivo sobre os indicadores de saúde como seja uma boa aptidão aeróbia, que está diretamente relacionada com a redução da %MG nas crianças com excesso de peso ou obesidade (8). A %MG é influenciada pelo estilo de vida da criança, e fatores como alimentação desequilibrada ou inatividade física, promovem o seu aumento, com mais incidência nas meninas (2). A escola e a família assumem então um papel preponderante na aquisição de um estilo de vida ativo por parte das crianças. Particularmente, a escola permite o acesso equitativo à AF através da Educação Física (EF), independentemente do estatuto socioeconómico (ESE) das famílias, que é sabido que tem uma relação inversa com a AF (2, 9).

Ainda associado a esta temática surge outro fator influenciador – etnicidade/ grupos minoritários. Estudos realizados com adolescentes revelaram que 80% dos que tinham excesso de peso eram pertencentes a grupos minoritários. Por outro lado, as crianças de grupos étnicos minoritários são também quem mais brinca com os pais (10). No nosso estudo, é feita uma avaliação destes fatores, associados ao povo cigano.

Um estudo sobre a educação cigana (11) refere que estas crianças tendencialmente não estão sujeitas a supervisão, desenvolvendo competências relacionais e estratégias de (sobrevivência) que lhes permitem uma maior adaptabilidade às circunstâncias adversas com que se defrontam. A par- tir dos quatro anos elas brincam livremente, desenvolvendo autonomia e responsabilidade. O povo cigano é conhecido como sendo um povo habilidoso e ritmado, muito ligado à cultura circense e flamenga, embora também associado a um ESE mais baixo (12). Dada a ausência de estudos no contexto nacional que abranjam a etnia cigana, surge a oportunidade de tentar verificar alguns fac- tores de aptidão física e hábitos de vida relativamente ao tempo, qualidade e características da AF, para uma população cigana. Uma população que, pelo senso comum, se enquadra num ESE baixo, de características semelhantes às populações rurais, na medida em que vive com maior liberdade, com menos regras, e com maior espaço para exploração e consequente autonomia. Mas até que ponto isto será efectivamente real? Assim, com este estudo pretendemos perceber se a EC apre- senta um perfil de atividade física mais ativo; se tem os valores de aptidão aeróbia mais elevados e se os valores de composição corporal são mais saudáveis, que os seus pares de etnia diferente.

Os dados foram recolhidos no ano letivo de 2009/2010, tendo-se selecionado aleatoriamente 36 crianças de EC (23 meninos e 13 meninas) e 59 NC (25 meninos e 34 meninas), numa escola publica do ensino basico em Lisboa. As suas idades estavam compreendidas entre 6 e 10 anos.

A AF foi avaliada pela recolha de DAF, este dividido em dois momentos: o processo de treino de recolha de dados e o preenchimento do DAF propriamente dito. No primeiro momento, através de uma sessão lúdica com as crianças, foram explorados conceitos de intensidade de esforço, bem como a diferenciação entre atividades de força, flexibilidade, exercício aeróbio, AFD e repouso. Foi- lhes também dado a conhecer figuras e imagens para facilitar a interiorização dos conceitos apren- didos. Toda esta terminologia foi explicada aos professores de EF que colaboraram na recolha do DAF. Aquando do preenchimento do DAF propriamente dito, a recolha foi feita com dois alunos de cada vez, num espaço isolado e sem constrangimentos temporais para a realização da entrevista. Ao entrevistador competia, simplesmente, apontar a atividade para, posteriormente, a classificação ser feita pela mesma pessoa,no software do fitnessgram, de acordo com o protocolo deste mesmo manual (11).

Para a avaliação da aptidão física foi aplicado o teste do Vaivém (VO2). Para o cálculo da composi- ção corporal foram feitas medições relativas à altura, peso, pregas tricipital e geminal.

A significância dos fatores etnia e género sobre o tempo diário de AF (dia não escolar (DNE), dia escolar (DE)) foi avaliada com uma MANOVA dupla, depois de avaliados os respetivos pressupostos. Como se registaram moderados desvios à normalidade, optou-se por reportar a estatística traço de Pillai. Dado a MANOVA ter detetado efeitos significativos, procedeu-se à ANOVA para cada uma das variáveis dependentes. Os efeitos que a etnia e o género têm no consumo de oxigénio (VO2) foram analisados recorrendo à ANOVA dupla. A comparação da %MG entre os dois níveis de etnia foi realizada, separadamente para cada género, pelo teste de Mann-Whitney-Wilcoxon, por não se verificar a normalidade das populações. Salvo indicação em contrário, os valores são reportados na forma média ± DP. O nível de significância foi fixado em 0,05. O tratamento estatístico foi realizado recorrendo ao programa estatístico SPSS (Statistical Package for Social Sciences, versão 17.0 for Windows, SPSS Inc, Chicago, USA).

Na Tabela 1 é reportado o tempo diário (em min) de AF realizada pelas crianças, em função da etnia, género e tipo de dia. As crianças de EC apresentam os valores mais elevados quer em dia escolar DE, quer em dia não escolar DNE. Ao contrário das crianças de EC, as NC registam valores mais elevados em DE. A MANOVA para avaliar os efeitos dos factores etnia e género sobre o tempo diário de AF (DNE, DE) revelou que a interação entre os fatores não foi significativa (Traço de Pillai = 0,001; F(2,90) = 0,045; p = 0,956), o fator etnia teve efeito significativo (Traço de Pillai = 0,140; F(2,90) = 7,324; p < 0,001) e o fator género também (traço de Pillai = 0,220; F(2,90) = 12,698; p < 0,001). Procedeu-se, em seguida, à ANOVA para cada uma das variáveis dependentes. A interação entre os fatores não revelou efeito significativo sobre o tempo diário em DNE (F(1,91) = 0,091; p = 0,764), nem sobre o tempo diário em DE (F(1,91) = 0,008; p = 0,931). Para o fator etnia, o efeito sobre o tempo diário de AF em DE não foi significativo (F(1,91) = 0,320; p = 0,573), mas foi significativo o efeito em DNE (F(1,91) = 14,239; p < 0,001). Para o fator género, ambos os efeitos sobre o tempo diário de AF em DE e em DNE foram significativos (F(1,91) = 9,417; p = 0,003 e F(1,91) = 23,358; p < 0,001, respetivamente). PROCEDIMENTOS DE RECOLHA DE DADOS ANáLISE ESTATíSTICA PARTICIPANTES MEtODOLOGia RESULtaDOS

Relativamente à caracterização da AF, os resultados (Tabela 2) sugerem que realizar exercícios de força não depende da etnia. Realizar exercícios de flexibilidade é uma capacidade que ainda não é percecionada nos hábitos de AF. Contrariamente, o exercício aeróbio é realizado pela quase totalidade das crianças, independentemente da etnia. No que respeita à AFD, verifica-se que esta faz parte do quotidiano de AF de crianças de EC e NC.

Os valores de VO2 (ml/min/kg) encontram-se dentro do esperado para estas idades (Crianças EC masculino 48,0±2,9 e Feminino 47,3±3,4; Crianças NC masculino 49,1±3,9 e feminino 47,6±3,7). A ANOVA dupla utilizada para explorar o impacto no VO2 da etnia e do género, não revelou intera- ção significativa entre os fatores (F (1, 94) = 0,001; p = 0,9), nem efeito da etnia (F (1, 94) = 2,1; p = 0,2), sendo significativo apenas o efeito do fator género (F (1, 94) = 4,3; p = 0,04).

As crianças de EC apresentam valores de %MG inferiores (masculino 14,4±3,4 e feminino 22,1±7,1) quando comparadas com as NC (masculino 21,1±12,6 e feminino 24,7±8,7). E é no género mascu- lino que se torna mais evidente essa diferença, tendo o teste de Mann-Whitney-Wilcoxon revelado efeito significativo da etnia (U = 191,5; p= 0,047). Para o género feminino, a etnia não revelou esse efeito (U = 168,5; p= 0,217).

O mínimo recomendando de AF diária para crianças é de 60 minutos, independentemente da idade ou do género. No nosso estudo, foi possível verificar que a maioria das crianças atinge o valor recomendado pois a média é superior aos 60 minutos (ver Tabela 1). As crianças de EC apresentam valores superiores de AF em DNE, ao contrário das NC que apresentam os valores mais elevados em DE. A literatura indica-nos que é nos DNE que as crianças são mais ativas e que são os meninos quem realiza mais AF durante a semana (1, 7). As crianças de EC apresentam valores significativa- mente superiores de minutos de AF nos DNE, quando comparados com as NC. Quanto aos DE, embora a diferença seja não significativa, também são as crianças de EC que apresentam valores médios superiores. O que nos leva a concluir que as crianças de EC apresentam perfil de AF mais ativo que as NC.

Relativamente ao género, a situação é semelhante, sendo que inclusive, em média a AF realizada em DNE pelas meninas de EC, ultrapassa a dos meninos NC (o que não seria de esperar). Em DE, os meninos são mais ativos que as meninas (independentemente da etnia).

No quadro de caracterização do tipo de AF praticada pela criança, e de acordo com a literatura (6), os resultados do nosso estudo mostram que as crianças não fazem atividades de flexibilidade e uma percentagem elevada não faz atividades de força, indo contra ao que seria esperado. Relativa- mente a atividade aeróbia, não conseguimos determinar se é a sua escolha preferencial, contudo

Tabela 1

Tempo diário (em min) de AF, em função da etnia, do género e do tipo de dia.

Tabela 2 Caracterização das componentes de ApF, em função da etnia.

a grande maioria faz. Com a realização de AFD sucede-se o mesmo. A EC apresenta valores de aptidão aeróbia mais elevados que os seus pares de etnia diferente, contudo os valores entre etnia não são estatisticamente significativos.

Todas as crianças apresentaram valores de composição corporal dentro dos considerados normais para a sua idade (13, 14). Contudo, os nossos resultados revelaram que as crianças de EC têm propensão para ter valores mais baixos de %MG, mas apenas no caso dos meninos a diferença é significativa.

As crianças de EC apresentam perfil de AF mais ativo que as crianças NC. No entanto, as crianças de EC não apresentam valores de aptidão aeróbia mais elevados que os seus pares de etnia diferente. Todas as crianças estão dentro dos valores saudáveis de composição corporal.

1- Serrano J. Mudanças Sociais e Estilos de Vida no Desen- volvimento da Criança. Estudo do nível e independência de mobilidade e da actividade física nas rotinas de vida quotidiana em crianças de 8, 10 e 12 anos de idade no meio urbano [Tese de Doutoramento]. Lisboa: UTL – FMH; 2004.

2- Bronzeado M. Maturação e Obesidade – Associação entre obesidade, maturação e actividades de rotina das crianças de Lisboa [Tese de Mestrado]. Lisboa: UTL – FMH; 2009. 3- Arez A. Desenvolvimento da Criança e Espaço Físico: estudo das rotinas de vida, percepção do espaço físico e independência de mobilidade em crianças do meio rural e urbano [Tese de Mestrado]. Lisboa: UTL – FMH; 1999.

4- Almeida K, Neto C. Jogo de actividade física e a independên- cia de mobilidade em crianças de contextos sociais diferencia- dos. Desenvolvimento Motor da Criança. 2007; p.71-81. 5- U.S. Department of Health and Human Services. Physical Activity Guidelines for Americans, 2008. U.S. Government Printing Office, October 2008.

6- Janssen I, LeBlanc A. Systematic review of the health benefits of physical activity and fitness in school-aged children and youth. Journal of Behavioral Nutrition and Physical Activity. 2010; 7:40.

7- Barnett L, Morgan P, Beurden E, Beard J. Perceived sports competence mediates the relationship between childhood mo- tor skill proficiency and adolescent physical activity and fitness: a longitudinal assessment. International Journal of Behavioral Notrition and Physical Activity. 2008; 5:40.

8- Santa-Clara H, Palma S, Ferreira P, Oliveira C. Aptidão aeróbia, índice de massa corporal e percentagem de massa gorda de alunos dos 5 aos 18 anos de idade. Desenvolvimento Motor da Criança. 2007; p.187-192.

9- Zahner L, Puder JJ, Schmid M, et al. A school based physical activity program to improve health and fitness in children aged 6-13 years (“Kinder SportStudie KISS”): study design of a rando- mized controlled trial. BMC Public Health. 2006; 6:147. 10- Neiderer I, Kriemler S, Zahner L, et al. Influence of a lifestyle intervention in preschool children on physiological and psychological parameters (Ballabeina): study design of a cluster randomizes controlled trial. BMC Public Health. 2009; 9:94. 11- Casa-Nova M. Etnicidade e educação familiar – o caso dos ciganos. Actas dos Ateliers do V Congresso Português de Sociologia. 2005; p.94-102.

12- Costa M. Ciganos: Histórias de Vida. Coimbra. Minerva Coimbra; 2006.

13- The Cooper Institute for Aerobics Researsh. Fitnessgram. Manual de aplicação de testes. Lisboa: Faculdade de Motricidade Humana; 2002.

14- Neves A. Níveis de Actividade Física e de Composição Corporal em crianças dos 3 aos 10 anos na Região Autónoma da Madeira: Associação com variáveis demográficas e factores de risco [Tese de Mestrado]. Universidade da Madeira; 2007.

REfEREnciaS BiBLiOGRÁficaS

Defendemos que o conhecimento do espaço pela criança se faz por experiências significantes nos locais de aprendizagem. A capacidade da criança imaginar espaços e viver experiências de “faz de conta”, torna-a mais conhecedora do espaço através das atividades físicas.

As atividades físicas tornam-se não apenas um elemento essencial ao desenvolvimento motor, mas também ao crescimento harmonioso da criança.

A partir de atividades realizados por alunas de Educação Básica no pré-escolar, confirmámos que os jogos, com uma componente física adequada à classe etária, em espaços de apren- dizagem variados, facilitam aprendizagens. As tarefas lúdicas sugeridas às alunas tinham como objetivo a introdução de conceitos geográfi- cos e interiorização do espaço onde decorre a atividade. Para poderem compreender e ajudar a superar as dificuldades das crianças, as próprias alunas realizaram os jogos, antecipadamente. Apresentamos algumas dessas atividades e jogos, a forma como foram planeados, postos em prática e os resultados obtidos no final.

Palavras-chave:

Atividade física; Espaço; Pré-Escolar; Geografia.

We state that for children to know the space they move in, they have to experience meaningful situations in those learning contexts. The child’s ability to imagine spaces and live experiences of “making-believe” makes it easier for them to get to know the places, if there are corporal actions. Physical activities become not only an essential element for motor development, but also to the child’s harmonious growth.

Activities performed by students of Basic Educa- tion in preschool confirmed that games with a physical component adequate to the age group, in different learning spaces, facilitates knowledge. The playful tasks suggested to the students aimed at the introduction of geographical concepts and internalization of the space where the team acti- vity took place. In order to overcome the children’s difficulties, the students held the games before, assuming their roles.

We present some of those activities and games, as well as the way the students planned and put them into practice and their final results.

Keywords:

Physical activity; Space; Kindergarten; Geography.

Miguel Castro (1).

(1) Instituto Politécnico de Portalegre [PT]

A atividade física e o desenvolvimento

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