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de conhecimento e apropriação do espaço na educação pré-escolar

RESUMO aBStRact

Pela observação das práticas pedagógicas no pré-escolar, enquanto supervisores e orientadores, constatámos que existe uma divisão entre desenvolvimento cognitivo e motor. Por um lado, trabalha-se os aspetos do saber e conteúdos considerados importantes para preparar as crianças para um mundo complexo. Por outro, trabalha-se o corpo, no sentido de criar condições de saúde para que o ser Humano esteja capaz de receber os conhecimentos com facilidade e capacidade de compreensão. Este tipo de prática “inferioriza” a atividade física, considerando-a muitas vezes como catarse para a libertação da energia infantil, facilitando posteriormente a atenção das crianças para a “verdadeira” aprendizagem.

Este tipo de discussão é interessante e põe problemas éticos e deontológicos; no entanto, não é esta abordagem que queremos evidenciar. O que pretendemos salientar não é a importância de uma ou outra perspetiva; antes pelo contrário, defendemos que o conhecimento se faz de forma integral, sendo a divisão entre cognitivo e motor incorreta. O espaço é complexo e o seu conhecimento só é possível à criança se for apresentado de forma integrada. Ela conhece o es- paço pela atividade física, que lhe permite compreender a função, a história, os aspetos naturais e sociais presentes numa determinada área ou local.

As teorias do desenvolvimento cognitivo, ligadas à educação, privilegiam os aspetos lógico-de- dutivos, capacidade de compreensão dos fenómenos e manipulação de conceitos concretos e abstratos. Piaget enfatiza a capacidade lógico-matemática e a capacidade de abstração, estabe- lecendo, ainda que com flexibilidade, grupos etários para compreender e manipular conceitos, mais abstratos ou mais concretos.

Embora não pondo em causa Piaget, Kieran Egan advoga que a criança, desde cedo, consegue manipular conceitos abstratos e interpretar a realidade, se esta lhe for introduzida de acordo com a sua “cosmologia e cosmogonia mítica“. Por exemplo, o bem e o mal ou o amor e o ódio. Na Geografia, o espaço, sendo uma realidade concreta, para a criança é algo abstrato. Se o pai está em Paris e a Mãe em Berlim, a criança - para além do azar de estar ao cuidado de outras pes- soas - sabe apenas que estão longe. O pai não está mais perto do que a mãe, nem o contrário. A distância é completamente incompreensível; ou seja uma realidade concreta pode afigurar-se para a criança como algo separado de si mesmo, e por isso, abstrato.

O espaço conhece-se pelo contacto físico; sente-se, ouve-se, cheira-se. Assim, sem atividade físi- ca não podemos ter a perceção da distância, do relevo, da organização espacial, nem perceber a história, as relações sociais ou o funcionamento das inter-relações económicas e culturais que o homem estabelece com o ambiente.

O que apresentamos foi uma experiência onde se integrou o desenvolvimento de aspetos cog- nitivos e motores através da atividade física. A integração destes dois tipos de desenvolvimento representa a forma mais correta de abordar a criança, tornando concreto o aparentemente, ou realmente, abstrato, indo de encontro ao imaginário infantil, e apresentando conceitos passíveis de ser interiorizados pelas crianças, quando realizados em contextos significativos e com uma componente lúdica e física.

No âmbito da unidade curricular de História e Geografia para a Infância, abordámos com os alunos a forma de introduzir conceitos geográficos. Concluímos que as atividades lúdicas com uma componente física que estimulasse o desenvolvimento motor da criança seriam uma forma eficaz de conseguir que atingissem o objetivo principal desta etapa do processo educativo – o desenvolvimento integral e harmonioso.

intRODUÇÃO

Para complementar este raciocínio, o conhecimento do espaço só é conseguido pela relação que o indivíduo estabelece com o mesmo. Assim, o conhecimento e apropriação do espaço pela criança só são atingidos através da vivência de experiências significativas que ocorram no local. Se esse local for um contexto de aprendizagem, conseguimos que a criança o entenda e o interiorize, bem como as aprendizagens que nele decorrem.

A abordagem a este projeto foi realizada numa postura de investigação/ação. Não se pretendia realizar uma investigação extensiva, mas apenas um Caso de Estudo Pensámos que esta meto- dologia seria a mais adequada para conseguir testar o nosso objetivo principal: verificar se existe uma maior facilidade de apreensão de conceitos e conteúdos, pela criança, quando apresenta- dos através de jogos que integrem capacidades cognitivas e motoras, num contexto espacial onde ocorram experiências significativas.

Embora com resultados que não podem ser imediatamente extrapolados, as conclusões per- mitem apontar caminhos e pistas de reflexão e intervenção em contexto de jardim-de-infância. Também o aperfeiçoamento de práticas específicas relativas à introdução de conceitos geográfi- cos no pré-escolar poderiam ser enriquecidos e refletidos.

Com dois pares pedagógicos (conjunto de duas alunas em estágio) em duas salas de jardins-de- infância de Portalegre, com 21 e 19 crianças, prepararam-se dois jogos com conceitos de História, Geografia, coordenação motora e atividade física. A comparação e validação dos resultados fo- ram efetuadas com outros dois grupos de controlo, constituídos por dois pares pedagógicos co- locados noutro jardim-de-infância, introduzindo os mesmos conceitos de forma mais tradicional. Os conceitos estavam relacionados com a vida quotidiana no tempo do Império Romano e na Idade Média. Estes temas são tratados com frequência em Portalegre, devido ao património regional muito rico em vestígios destas épocas, em concreto a cidade Romana da Ammaia e a vila de Marvão, com um castelo medieval com potencialidades educativas inesgotáveis. Neste castelo, encenou-se um torneio medieval; na Ammaia, a partir de algumas caraterísticas do pró- prio espaço, realizou-se um jogo que simulava o apagar de um incêndio numa cidade romana. Previamente, prepararam-se as crianças para os temas. Através de histórias, lendas locais, livros com ilustrações e pequenos excertos de vídeos, sobre as realidades que iriam visitar, incutiu-se o espírito de aventura que as personagens das histórias e dos filmes viviam nessas épocas. Os fortes e corajosos cavaleiros, que se preparavam para as liças e outros jogos de guerra, foram vistos em filmes da Disney - Robin Hood e A Espada era a Lei - e as aventuras de Astérix e Obélix. Esta preparação criou ambiente e expectativa nas crianças, relativamente à visita de estudo aos locais onde, no seu imaginário infantil, tinham ocorrido cenas semelhantes às apresentadas na sala de atividades.

A par deste trabalho, as alunas construíram alguns adereços baratos e seguros para a manipula- ção infantil - roupas e utensílios, cavalos de pau, espadas de plástico e escudos de cartão. O grupo de crianças que visitou a cidade da Ammaia, depois de ter realizado uma visita às ruínas, executou o jogo: “Apagar o fogo no tempo dos Romanos”. A excitação das crianças começou logo no vestir dos adereços. Os capacetes de cartão e os fatos feitos com sacos de plástico de grandes dimensões, cintados com uma corda, levaram as crianças a assumir os seus papéis de romanos e outras personagens marcantes que tinham ‘conhecido’ nos filmes apresentados na sala do Jardim de Infância.

Separadas em duas filas, a primeira criança de cada grupo estava perto de uma levada de água e a última ao lado de um balde. Todas mantinham o posto (desde a água até ao balde) e cada uma tinha um copo de plástico na mão. O objetivo final era encher o balde e despejá-lo num de- terminado ponto nas ruínas da cidade, onde ‘ardia’ um suposto fogo. A primeira criança enchia o copo e recebia do colega mais próximo um já vazio. O copo teria que se manter cheio, passando por todas elas, até à última que o despejava no balde. Finda esta tarefa, em equipa tinham que transportar o balde para ‘exterminar’ o ’fogo’.

No castelo de Marvão, a atividade consistiu na simulação de um torneio. Num dos espaços mais amplos do exterior do castelo dividiram-se as crianças em vários grupos. De espada e escudo, duas crianças posicionavam-se em dois extremos de um terreno marcado. No centro desse espaço, uma outra criança ficava em pé, com argolas penduradas nos braços abertos. O objetivo era retirar as argolas com a espada de plástico, indo a correr de uma extremidade à outra. O pri- meiro que conseguisse retirar todas as argolas do seu lado, ganhava e passava-se a outro grupo de crianças. Para além de desenvolver a coordenação motora, estes jogos fomentam o espírito de equipa, entreajuda e organização do grupo, bem como o cumprimento de regras, como requisitos imprescindíveis para atingir um objetivo/bem comum.

No pré-escolar a obtenção de resultados quantificáveis e objetivamente mensuráveis é algo que suscita muitas dúvidas. A grelha de avaliação dos resultados obtidos pelas crianças foi de índole qualitativa, construída a partir das opiniões das crianças, do que ficaram a saber sobre as épocas focadas, da observação da Educadora, da sua experiência e conhecimento do grupo, e também das opiniões das alunas em estágio. Para além destes dados, a comparação com os grupos de controlo sobre os mesmos itens permitiu uma melhor validação dos resultados. Não obstante as dificuldades de quantificação, possíveis noutro tipo de abordagem, os resultados foram po- sitivos. O empenho e participação entusiástica das crianças foi o principal indicador. As crianças ‘transportaram-se’ para as épocas, interiorizando o estilo de vida há muito vivido naquelas ruínas. A comparação do desempenho do grupo de crianças implicado neste projeto com o grupo de controlo evidenciou que no primeiro as crianças não só apreenderam os conceitos básicos com maior facilidade e de forma mais eficaz, como também desenvolveram competências a nível social e de relação interpares e com os adultos. A forma como se tentou medir o cumprimento dos objetivos baseou-se em posteriores trabalhos na sala de atividades de desenho e ilustração, e também em pequenos “role-plays” relativos aos conceitos. A interação com as estagiárias tornou-se não só mais simples, natural e acessível, mas, principalmente, mais próxima, facilitando a relação pedagógica.

O projeto tentou evidenciar que no pré-escolar as abordagens devem ser integradas para permitir o desenvolvimento harmonioso das crianças. Independentemente da postura teórica que os educadores partilhem, não tem sentido fazer a desagregação dos currículos em áreas de conhecimento; muito menos se justifica uma separação entre o desenvolvimento motor e desenvolvimento cognitivo – um não é possível sem o outro e vice-versa. A ideia é promover práticas integradoras e não, como acontece na maioria dos jardins-de-infância, direcionar as atividades e jogos para o cognitivo, ficando a atividade física, ou a música, relegadas para um limbo, que entra em funcionamento quando o professor de educação física/música se apresenta semanalmente, ou bissemanalmente, na instituição.

Mesmo sendo muito positivos, os resultados não permitem generalizações imediatas. A dimen- são da amostra, uma melhor quantificação e avaliação dos resultados teriam que ser pensadas

RESULtaDOS

no contexto de uma experiência de outra envergadura e com maior participação de especialistas em desenvolvimento motor; no entanto, as pistas de reflexão e algumas orientações permitem que num futuro próximo se possam estabelecer práticas pedagógicas mais integradas, baseadas em boas práticas sustentadas em resultados mais suportados.

As notas finais prendem-se com o papel da Geografia e da atividade física no pré-escolar. A Geografia e o espaço são, nas Orientações Curriculares, algo acessório, não se individualizando, ficando com exíguo espaço para a introdução de conceitos próprios.

Sabendo que o entendimento da realidade passa por uma concretização do real, os jogos nos espaços históricos permitem à criança captar o abstrato, lidando com o concreto. Permitem-lhe também perceber a importância do suporte físico para as atividades humanas. Através destas vivências marcantes, as crianças ligam-se afetivamente aos espaços, humanizam-nos, compre- endem-nos e apropriam-se deles, transformando-os em lugares com significado e entendendo conceitos e conteúdos essenciais para a sua educação. Para se conseguir este desiderato é essen- cial que haja atividades físicas, lúdicas, que permitam encarar o desenvolvimento motor como parte do crescimento infantil, e não um departamento à parte, relacionado apenas (não sendo de pouca importância) com a saúde e bem-estar futuros.

1- Egan, Kieran. Estádios da Compreensão Histórica. ESEP. 1990. 2- Egan, Kieran. O Uso da Narrativa como Técnica de Ensino. D. Quixote. 1994.

3- Silva, Maria Isabel. Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar. Ministério da Educação. 1997.

REfERÊnciaS BiBLiOGRÁficaS

Todos observamos a entrada ou saída das crianças de uma escola, Com o tempo vamo-nos habituando a esta imagem, mas qualquer adulto que ainda não esteja familiarizado com esta situ- ação nota de imediato que muitas das crianças devem transportar “demasiado peso” na mochila e que esta “sobrecarga” deverá prejudicar a saúde da criança a médio e longo prazo.

A termografia é ainda uma técnica pouco usada para analisar a marcha e o transporte de mo- chilas escolares. Pretendeu-se com este trabalho dar uma contribuição para a divulgação deste tipo de técnica de análise. Esta técnica terá um previsível aumento de utilizadores, não só para a análise da marcha, mas também para a análise das várias condições de exercício físico. Este estudo foi realizado com 5 crianças, uma do sexo feminino e 4 do sexo masculino com idades entre os 6 e os 9 anos e altura entre 1,19 m e 1,40 m. Caminharam em tapete rolante 3 minutos, a velocidade auto selecionada, as cargas foram relativizadas à massa corporal (0%, 10% e 20%). Para a velocidade analisada a temperatura aumentou com a carga.

Palavras-chave:

Termografia; Biomecânica; Carga; Criança; Mochila.

Looking at the entry or exit of children in a school, any adult who is not familiar with this note immediately that many of the children must carry “too much weight” in the backpack and that “overload” will harm the child’s health in the medium and long term. Thermography is an unusual technique used to analyze the gait and carrying school backpacks. It was intended with this work make a contribution to the dissemi- nation of this type of analysis technique. This technique will take a predictable increase in users, not only for gait analysis, but also for the analysis of the various conditions of exercise.

This study was conducted with five children, one female and four male aged 6 to 9 years and hei- ght between 1.19 and 1.40 meters. They walked in the treadmill for 3 minutes, self-selected speed; the charges were made relative to body weight (0%, 10% and 20%).

For speed analyzed the temperature increased with the load.

Keywords:

Thermography; Biomechanics; Load; Children; Backpack.

João Rocha (1); Luís Queijo (1); Jorge Santos.

(1) Escola Superior de Tecnologia, informática e Gestão do Instituto Politécnico de Bragança [PT]

Termografia: Técnica usada

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