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3. RESULTADOS, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

3.1. O Universo dos trabalhos encontrados

3.1.5. A distribuição dos trabalhos por Áreas e Subáreas

Ajustando as lentes para um olhar mais minucioso sobre a produção encontrada, sob a ótica da distribuição da produção por áreas de conhecimento, em números absolutos, indica-se a prevalência de estudos produzidos pela Medicina, Saúde

Coletiva e Enfermagem, respectivamente. Juntas, essas subáreas corresponderam a mais de 78% dos trabalhos. Ao relativizar essa informação, olhando para a produção (número de trabalhos) em relação ao número de programas de cada uma das áreas, tem-se a Saúde Coletiva, seguida da Nutrição; Medicinas (I, II, III); Enfermagem e Educação Física como os maiores produtores na temática, respectivamente.

TABELA 6– Concentração da Produção por Áreas.

ÁREA de CONHECIMENTO N. de TRABALHOS N. de PROGRAMAS na Grande Área Proporção e % dos trabalhos encontrados % dos programas da Área de Conhecimento na Grande Área MEDICINA (I, II e III) 1.466 200 7,67 = 49.65% 39,25% SAÚDE COLETIVA 486 65 11,18 = 16.45% 8,88% ENFERMAGEM 365 56 7,58 = 12.36% 9,91% EDUCAÇÃO FÍSICA 215 30 7,16 = 7.28% 6,19% NUTRIÇÃO 170 20 8,94 = 5.76% 3,92% ODONTOLOGIA 194 98 2,45 = 6.57% 16,32% FONOAUDIOLOGIA 25 9 2,77 = 0.85% 1,85% FARMÁCIA 17 49 0,31 = 0.57% 11,15% FISIOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL 15 12 1,08 = 0.51% 2,47% TOTAL 2.953 539 100% 100%

Tal dado é consoante com a informação que essas são algumas das áreas de maior tradição em relação ao tempo de existência e número de cursos de pós- graduação em relação aos demais componentes da Grande Área de Saúde. Conforme documentos da CAPES (Documento de Área: Avaliação Trienal de 2013) 23,24, essas três subáreas existem, cada uma, com uma média de 40 anos25 enquanto Programas de pós-graduação. No entanto, outras áreas têm seus Programas stricto sensu mais antigos fundados somente na década de 1990, como é o caso da Fisioterapia que, de

23 SAÚDE COLETIVA: https://docs.google.com/viewer?a=v&pid=sites&srcid=Y2FwZXMuZ292LmJyfHRyaWVuYWwtMjAxM3xne DpjZGY4ZmU1OWE4MmQyYzQ 24ENFERMAGEM: https://docs.google.com/viewer?a=v&pid=sites&srcid=Y2FwZXMuZ292LmJyfHRyaWVuYWwtMjAxM3xne Do2OGRjMzM2ODhlNTQwMmNj

25 Tendo os primeiros programas surgido em 1970 na Medicina e em 1972 Saúde Coletiva e na Enfermagem.

acordo com dados disponibilizados por Costa (2007), tem seu curso mais antigo datado em 1997. Portanto, seria bastante iníquo comparar a produção de áreas, sem relativizar as informações, como a já citada Fisioterapia com seus 12 programas de pós-graduação e a Medicina, no auge de seus 190 programas (ANEXO 1– Tabela com as Áreas da Pesquisa propostas pela CAPES).

Nessa direção, preconizou-se a relativização dessas informações, buscando verificar a concentração dos trabalhos nos programas, e sua representatividade nesse contexto. Assim, foi criada a quarta coluna na tabela 6, onde é possível visualizar que a Saúde Coletiva é a área que mais produz em relação a seu universo de programas; pode-se dizer que essa área produziu 11,18 trabalhos por programas.

Cabe aqui uma reflexão acerca da produção da Saúde Coletiva em maior concentração em relação a outras áreas. Sendo esta a área que mais fortemente faz a interface entre as Ciências Sociais e a Área da Saúde, um campo prático de aplicação dessas ciências humanas, não é surpreendente que seja ela quem se debruce mais frequentemente sobre fenômenos sócio-históricos como as juventudes. Apesar da aparente consolidação dessa parceria, aponta-se a necessidade de amadurecimento desse diálogo e interlocução entre as ciências sociais e humanas e a saúde, para que essa interface seja cada vez mais possível, conhecida, reconhecida, legitimada e, em decorrência disso, aperfeiçoada.

A figura que se segue apresenta a ordem das áreas e conhecimento a partir dessa distribuição. Nessa proporcionalidade, outra área que ganha destaque é a Nutrição, que aparece como a segunda área de conhecimento com maior produção em relação ao número de programas, em uma proporção de 8.94 trabalhos para cada programa; essa informação destaca-se ainda mais quando consideramos que, apesar de iniciar com 18 programas migrados da Medicina II, a Nutrição foi criada, enquanto área específica, em meados de 2011, apenas26.

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http://www.capes.gov.br/images/stories/download/avaliacaotrienal/Docs_de_area/Nutri%C3%A7%C3%A 3o_doc_area_e_comiss%C3%A3o_att08deoutubro.pdf

FIGURA 12 – Apresentação das Áreas de conhecimento por ordem decrescente de produção, relativizando o número de teses e dissertações produzidas pelo número de programas.

ÁREA de CONHECIMENTO SAÚDE COLETIVA NUTRIÇÃO MEDICINA (I, II e III) ENFERMAGEM EDUCAÇÃO FÍSICA FONOAUDIOLOGIA ODONTOLOGIA FISIOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL FARMÁCIA

Ainda nesse debate acerca da concentração dos trabalhos por áreas e subáreas, nota-se que há, ainda, um predomínio bastante significativo da área médica em relação às demais produções de conhecimento, em números absolutos. O surgimento dessa categoria, às vezes bem anterior em relação às outras áreas aqui postas, talvez tenha viabilizado uma maior consolidação e/ou reconhecimento da medicina pela sociedade, o que contribui estreitamente com a formação de um maior número de profissionais (inclusive não médicos), aumentando o substrato e a probabilidade de se formar pesquisadores na área.

A partir dessa nova organização dos dados, disponibilizados através da tabela 8, também é possível verificar que as áreas que apareciam como dominantes da produção, em termos de volume de trabalhos produzidos, têm sua representatividade diminuída no universo comparativo dessa produção com o número de programas que possui. As áreas de Medicina e Enfermagem, por exemplo, embora com uma produção elevada que as coloca dentre as três principais áreas em números absolutos de trabalhos produzidos, perdem representatividade de produção frente ao universo de seus programas.

Outro aspecto que chama a atenção diz respeito à distribuição dessas pesquisas em subáreas de conhecimento. Através da referida tabela, é possível circunscrever

essas nove subáreas às suas respectivas áreas de conhecimento, ficando distribuídos em cinco diferentes áreas, a saber: Enfermagem, Medicina, Saúde Coletiva, Educação Física e Nutrição, Odontologia e Farmácia.

Acredita-se que uma difusão tão grande da produção pode não colaborar para o fortalecimento do debate sobre a temática. Destaca-se que muitos programas produziram apenas um trabalho, dentro dos critérios estabelecidos por essa pesquisa no recorte temporal em estudo, cerca de 2% do total geral. No entanto, conforme fica exposto pela Tabela 8, elencando as subáreas por ordem decrescente de produção, encontramos oito programas sendo responsáveis por mais de 53% da produção, a saber: Enfermagem, Ciências da Saúde, Saúde Pública, Medicina (Pediatria); Saúde Coletiva; Educação Física; Saúde da Criança e do Adolescente e Nutrição, respectivamente (o quadro completo encontra-se em ANEXO 3).

TABELA 7 – Distribuição dos trabalhos entre as Subáreas de Pós-graduação segundo a concentração do volume de produção.

SUBÁREAS CONHECIMENTO ÁREA do TRABALHOS N. de

ENFERMAGEM Enfermagem 279

CIÊNCIAS DA SAÚDE Medicina 251

SAÚDE PÚBLICA Saúde coletiva 243

MEDICINA (PEDIATRIA) Medicina 215

SAÚDE COLETIVA Saúde Coletiva 198

EDUCAÇÃO FÍSICA Educação Física 166

SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE Medicina 126

NUTRIÇÃO Nutrição 112

Em continuidade a essa discussão, elencou-se a produção das subáreas destacadas, nos principais programas, segundo a concentração da produção. Apontando, também para uma dispersão dessa produção. Os programas são as subáreas alocadas nas IES, segundo oferta de cursos de pós-graduação, conforme a Tabela 8.

Uma das hipóteses para a dispersão da produção pode estar relacionada à lógica econômica. Para Barros (2007), o processo de globalização da economia apontava para a dispersão da produção do conhecimento como uma de suas consequências. Segundo o autor, as desigualdades econômicas impactam diretamente a configuração da produção do conhecimento, que deixa de estar centralizada; informação que vem ao encontro dos achados apresentados na tabela 10.

TABELA 8 – Apresentação da produção das principais subáreas, conforme distribuição nos programas de pós-graduação. PROGRAMA N° de trabalhos SUBÁREA UNIVERSIDADE SAÚDE PÚBLICA USP 122 FIOCRUZ 68 CIÊNCIAS DA SAÚDE UFMG 110 UNB 30 EDUCAÇÃO FÍSICA UNICAMP 37 UFSC 35 ENFERMAGEM USP 39 UFRJ 32 UFC 29 UFSC 27 UNIFESP 25 MEDICINA (PEDIATRIA) USP 63 UNIFESP 47 UFMG 44 NUTRIÇÃO UNIFESP 57 UFRJ 34 SAÚDE COLETIVA UERJ 43 UFBA 31 ULBRA 26

SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

UNICAMP 47

UFPE 27

Entretanto, a essa compreensão impõe-se o desafio de fomentar diálogos interdisciplinares, articuladores de leituras que dimensionem a juventude para além dos

aspectos biológicos, fisiológicos e psicológicos. Não se trata, com isso, de negar os aspectos epidemiológicos ou clínicos, antes, de reconhecer seu valor, porém colocando em diálogo e proporção com os demais conhecimentos do campo.

Endossando essa discussão, partilhamos a opinião de Sposito (2009) acerca da importância de que a lente analítica utilizada na compreensão do grupo juvenil seja multifocada, uma vez que o domínio de análise, estando atrelada a uma única perspectiva, pode trazer prejuízos à visibilidade de nuances desse objeto em tela.

Dando continuidade a esse debate, parece-nos, entretanto, que em termos de enriquecimento de repertório e acúmulo conceitual e metodológico que compor e articular com a perspectiva de outros domínios do conhecimento é um desafio constante, uma vez que a articulação da análise nas dimensões cotidianas das vidas dos sujeitos e seus atravessamentos ainda passam fortemente pela análise do comportamento enquanto produtor de riscos à saúde e/ou à vida sem, muitas vezes, interrogar o alcance da regulação social sobre os indivíduos. Como exemplo, temos o trabalho de “Problematização do Comportamento Alimentar como Estratégia de Educação Nutricional: Uma Experiência com Adolescentes Obesos”, de 2003, que estudou a problematização do comportamento alimentar por adolescentes obesos no contexto do aconselhamento dietético.

Para Batistella (2007) a responsabilização das pessoas frente à adoção (ou não) de condutas e comportamentos socialmente reprovados, tenderia a deslocar a discussão de fatores mais amplos, como os sociais e econômicos, por exemplo, para questões mais individuais, descontextualizadas histórica e culturalmente.

“Ora, ao descontextualizar os fenômenos de saúde e doença do desenvolvimento histórico e cultural da sociedade, isenta-se o poder público e culpabiliza-se a vítima. Entre outras consequências, essa concepção tem sustentado a tese do focalismo em saúde que, diante de um cenário de recursos limitados, preconiza a definição de prioridades para a oferta de serviços de saúde, em detrimento da oferta universal, defendida como direito inalienável do cidadão e dever do Estado

Vale ressaltar, nesse cenário de recursos limitados que é a saúde, que, quando falamos no cuidado à saúde, mal elaboramos respostas de cuidados à doença. Frente a isso, surge diante de nós o desafio de não reduzir o público alvo de nossas pesquisas em objetos de intervenção; visto que, muitas vezes, deparou-se com trabalhos que incorporam às pesquisas os jovens como mero suporte para a exploração da temática escolhida pelo autor.

Diante dessa perspectiva, colocamos como necessária não só a atenção à juventude como objeto de análise como a própria área da saúde sobre essa mesma leitura. Assim, destacamos aqui, não só as pesquisas que sejam viabilizadas por/para a área da saúde, como ressaltamos a importância e necessidade de maior enfoque a pesquisas e temáticas associadas à saúde como objeto investigativo. Embora passível da própria análise - o objeto saúde pode ser estudado pela área da saúde, bem como a incorporação de outras perspectivas pode trazer à luz desigualdades e conflitos.

Ainda no debate sobre a viabilização na troca de saberes, retoma-se a discussão sob a perspectiva de intercâmbio entre os conhecimentos produzidos da/na academia e as demais instâncias da sociedade. Entendendo as limitações das pesquisas no que tange ao diálogo com as necessidades sociais reais, nos questionamos o quão possível é, à sociedade civil, participar dessa produção em seu benefício. Diante das dificuldades que encontramos ao longo do processo de levantamento dos dados, nos questionamos se seria possível, a alguém com menor preparo acadêmico, sem essa experiência ou expertise, acessar os conteúdos em questão.

Acredita-se na relevância de se estimular o aumento no número de trabalhos

que se voltem à temática, fomentando a conquista de incrementos para que as juventudes e as temáticas a ela associadas alcancem maior visibilidade, em um ciclo virtuoso e, frente a isso, se promova alterações reais na sociedade. Contudo, o prejuízo desse canal de trocas e comunicação entre produtores de saber acadêmico científico e consumidores dessas inovações técnico científicas podem trazer prejuízos históricos à instituição de mudanças estruturais e conjunturais.

Como desdobramento desse trabalho, pode-se dizer do contato estabelecido com a CAPES na fase de finalização do texto dissertativo, visando ao pedido de esclarecimentos, bem como a oferta de sugestões para maiores facilidades de acesso ao seu conteúdo. O contato foi realizado via mensagem eletrônica, através do endereço disponibilizado no sítio oficial e, até o presente momento, aguarda-se um retorno.

Ainda, na busca por possíveis desdobramentos dessa dissertação, aponta-se a pesquisa como instrumento para a produção de inovações tecnológicas, sociais e, consequentemente, para a oferta de resposta às demandas da população com quem se intervém. Pensando em um dos interlocutores que a nós se faz mais próximo, a Terapia Ocupacional, se aposta na viabilização dessa pesquisa enquanto um dos possíveis canais de fomento à consolidação da Terapia Ocupacional como um campo de produção discursiva e da institucionalização de pesquisa entre nós, profissionais e pesquisadores da área.

Espera-se que a pesquisa ajude a estabelecer um suporte, um modelo aos trabalhos que ainda serão desenvolvidos e/ou estão em desenvolvimento ficando, minimamente, com a proposta de como se fazer pesquisa, uma vez que, nem na área da saúde, nem na Terapia Ocupacional, há tradição em se fazer pesquisa nos moldes de “Estado da Arte”. Acreditando na importância dos trabalhos de caráter cartográfico, aponta-se, ainda, para a validade em se intercambiar os cenários mapeados de forma a divulgar e aprimorar os resultados de sua exposição externa (ALFONSO- GOLDFARB, SOUZA, 2009).