• Nenhum resultado encontrado

3. RESULTADOS, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

3.1. O Universo dos trabalhos encontrados

3.1.11. A distribuição dos trabalhos por orientação política-administrativa dos

Em uma investigação mais minuciosa sobre os conteúdos dos trabalhos, buscamos identificar quais relatavam vinculação a políticas públicas e que orientação administrativa desvelavam, uma vez que se entende que a delimitação da abrangência desses termos trazem implicações sobre os princípios norteadores de ação do poder público, bem como as relações entre poder público e sociedade civil.

Embora se acredite na pesquisa como um instrumento para o atendimento de demandas sociais (DEMO, 2009), podendo isso se dar em várias instâncias como a avaliação ou mesmo criação de políticas públicas, nota-se que essa temática, ao menos no que tange ao público adolescente e/ou jovem, não constituiu grande interesse entre os pesquisadores da área da saúde. Apenas 43 trabalhos articularam algum nível de reflexão sobre políticas públicas, desses, 31 abordaram as políticas de saúde, exclusivamente, constituindo 72% das pesquisas desse reduzido universo. Em contrapartida, encontrou-se 3 trabalhos compondo uma interface entre as áreas de Saúde e Educação, 8 trabalhos, ou 18,60%, de pesquisas voltadas às políticas sociais e, apenas, 1 trabalho sobre as Políticas de Cultura.

Nessa observação, o que primeiro nos chama atenção é a lacuna existente em torno da Política Nacional da Juventude (PNJ) (NOVAES et al., 2006), não mencionada em nenhum dos trabalhos que constituíram o corpo dessa pesquisa. Embora relativamente recente, desde sua criação, em 2005, teríamos 5 anos em comum com o recorte histórico preconizado nessa pesquisa: o período de 2005-2010. Apesar da PNJ ser um marco legal com o reconhecido papel social de fomentar, no Brasil, a

consolidação da política juvenil como uma política de Estado (NOVAES et al., 2006), nenhum trabalho apresentou interesse sobre essa inovação política.

Embora em um número menor, se comparado ao uso dos unitermos “adolescente” e “adolescência”, os jovens e as juventudes apareceram como pauta em 133 trabalhos que utilizaram com exclusividade esses descritores, afora os trabalhos que apareceram na listagem do uso de mais de um descritor. Ou seja, se já temos produção que se proponha à discutir essa temática, a questão é: como temos feito? Como é possível negligenciar um dos maiores adventos legais já produzidos no sentido de incrementar os preceitos jurídicos e seus desdobramentos sobre esse grupo populacional?

Um apontamento dessa pesquisa é, a partir dos próximos anos, ver se, e como, a área da saúde incorpora o Estatuto da Juventude (BRASIL, 2013) e as disposições dele decorrentes sobre os direitos dos jovens e os princípios e diretrizes das políticas públicas de juventude. Acredita-se que seja esse, futuramente, um dos principais marcos legais no que tange ao trato aos jovens, talvez não uma inovação com as mesmas proporções do ECA, mas, de qualquer forma, algo que vá trazer muitos desdobramentos ao debate do qual, participando a saúde, certamente terá que, no mínimo, produzir reflexões sobre esses desdobramentos, avanços e retrocessos advindos do Estatuto referentes ao cuidado, à organização de serviços e à criação de políticas públicas de saúde destinadas a esse público.

Fazendo uma correlação com a política de cultura encontramos um único trabalho, “A contribuição de Mario de Andrade para a saúde pública no estabelecimento de um projeto de educação destinado a crianças e jovens no Departamento Municipal de Cultura da cidade de São Paulo (1935-1938)”, que analisou as ações da Seção de Educação e Recreio do Departamento Municipal de Cultura da cidade de São Paulo, entre os anos 1935 e 1938, visando ao estabelecimento de uma política na qual a cultura constituiu-se em uma marca distinta da saúde pública.

Encontramos apenas três trabalhos voltados à articulação da área da saúde com políticas públicas na área da Educação, são eles: o trabalho “Programa de assistência

integral à saúde do escolar - leitura de uma prática. Porto Velho/RO”, que buscou identificar as percepções dos diferentes atores sociais envolvidos no cotidiano de um serviço e compará-las como as políticas públicas sociais dos setores educação e saúde; a pesquisa “A adolescente e sua sexualidade no contexto das políticas públicas” que investiga a adolescente e sua sexualidade no contexto das políticas públicas; e o trabalho “O conhecimento transversal da sexualidade: o pensamento e a tradução do discurso” que voltou-se a analisar como o tema da sexualidade vem sendo incorporado nas práticas pedagógicas das escolas da cidade de Natal - RN, utilizando, entre outras estratégias, a análise dos documentos oficiais referentes à política educacional da Orientação Sexual na Escola. Sobretudo nesse último trabalho, nota-se um movimento da saúde que avança sobre outros espaços sociais, transformando sua dinâmica em favor do cumprimento de seus objetivos. Temos, assim, o espaço escolar organizado em prol de discussões propostas pela área. As interfaces entre espaços públicos, diferentes políticas e produtores de conhecimento são bastante desejáveis enquanto constituintes de um campo interdisciplinar, sem um embate de forças sociais que se comportem tão distintamente de forma a se sobrepujarem ao invés de cooperarem mutuamente.

Foram encontrados 8 trabalhos que se debruçaram sobre as Políticas Sociais. Algo que nos chama a atenção é a proporção de trabalhos que se lançam ao conhecimento e análise da efetividade dessas políticas, não as deixando como mero viés, antes, tratando-as como um instrumental ao conhecimento de outras realidades que se deseja descobrir. Dessa forma, temos 4 pesquisas, a saber: “A Inserção de Crianças e Adolescentes em Abrigos Cieps-residência: a experiência do conselho tutelar de São Gonçalo” que se ocupou de analisar os limites e potencialidades inscritos na política de abrigos proposta pelo ECA; o trabalho “Crianças e adolescentes pobres (de direitos) - a trajetória da política social dirigida à infância e à adolescência no Brasil” que estudou a trajetória da política social dirigida à infância e à adolescência no Brasil; “Políticas e Prioridades Políticas: a experiência de Ribeirão Preto no atendimento à criança e ao adolescente vítimas de violência doméstica” que se propôs a avaliar as Políticas e Prioridades Políticas no atendimento à criança e ao adolescente vítimas de violência doméstica em Ribeirão Preto e “A tessitura da rede: entre pontos e

espaços. Políticas e programas sociais de atenção à juventude – a situação de rua em Campinas, SP” que estudou as políticas e programas sociais de atenção à juventude em situação de rua na cidade de Campinas, SP.

Os outros 4 trabalhos, em direção diferente, operaram com realidades pré- estabelecidas e nelas as políticas sociais constituíram-se em suporte para intervenção e compreensão de área de interfaces. Assim, podemos citar os trabalhos “A vila olímpica da Verde e Rosa” que pretendeu discutir a trajetória das escolas de samba da cidade do Rio de Janeiro, RJ, em direção às políticas sociais; o trabalho “A integralidade numa rede de proteção social ao adolescente: um olhar fenomenológico”, cujos sujeitos pesquisados eram reconhecidos articuladores da política municipal de atenção ao adolescente; a pesquisa de “Olhando a lua pelo mundo da rua: representações sociais da experiência de vida de meninos em situação de rua” que buscou traçar um panorama sobre a temática das crianças e dos adolescentes em situação de rua no âmbito das relações na família e das políticas sociais voltadas à assistência deste grupo. E, por último, apresenta-se o trabalho “O "público-alvo" nos bastidores e nas cenas da política: um estudo sobre a participação de crianças e adolescentes nos projetos sociais esportivos” que toma a participação de crianças e adolescentes em projetos sociais esportivos e nas cenas políticas.

Dentre os 31 trabalhos que se voltam às políticas de saúde, 5 apontam para as políticas em saúde mental. Como exemplo, temos os trabalhos de “Serviços de saúde mental para crianças e adolescentes: recomendações para o planejamento de políticas públicas de saúde mental” (2010) que, ao estudar os serviços de saúde mental para crianças e adolescentes, buscou recomendações para o planejamento de Políticas Públicas de Saúde Mental; e “A saúde mental do adolescente entre duas políticas públicas: o Programa Saúde do Adolescente (PROSAD) e a política de saúde mental” (2009) que, em seu estudo sobre a saúde mental do adolescente, debruçou-se sobre duas políticas públicas: o PROSAD e a Política Nacional de Saúde Mental; e “Novas Politícas na Area de Saúde Mental da Infância e Adolescencia: Práticas e Concepções Teóricas na Reinserção Psicossocial” (2003) que busca compreender quais as novas politicas na área de Saúde Mental da Infância e Adolescência.

Sete resumos buscam identificar os paradigmas que subsidiam a elaboração de políticas públicas e, a partir disso, avaliá-las. Entre eles o trabalho “Ilhas de Invenções e Solidão: um estudo da atenção à saúde mental para a infância e adolescência em Unidades Básicas de Saúde em Vitória” que o faz partindo de uma recuperação histórica da construção social da infância e da adolescência; nessa mesma direção, “O direito à saúde do adolescente uma avaliação das políticas” empreitou uma avaliação das políticas no que tange ao direito à saúde do adolescente, mas, não apresentou nenhum dado sobre sua pesquisa, apenas repetiu o título do trabalho no campo do resumo. Ainda, encontra-se o trabalho “Saúde do adolescente: atenção integral no plano da utopia” que buscou compreender como uma política ou programa é implementada; a pesquisa “O adolescente e sua vivência hospitalar: um estudo na ótica da atenção integrada”, que investiga o adolescente e sua vivência hospitalar, procurando discutir a inter-relação das políticas públicas direcionada ao adolescente; a pesquisa “Juventude no SUS: as práticas de atenção à saúde no Butantã” que analisa as práticas de saúde específicas para a juventude na rede básica de serviços de saúde da região Centro-Oeste do município de São Paulo e o trabalho “Política de atenção ao adolescente em São Carlos: os limites e as possibilidades institucionais” que busca reconhecer os limites e as possibilidades institucionais através da política de atenção ao adolescente em São Carlos. Nesse debate, ainda, encontra-se a pesquisa “Juventude, violência e ação coletiva” que analisou e comparou os processos que orientam as ações coletivas visando contribuir para a construção de uma cultura de paz e implementação de políticas públicas para a juventude local.

Três trabalhos se colocaram a tarefa de se debruçar sobre as questões de violência, como “Violência intrafamiliar contra crianças e adolescentes na perspectiva dos profissionais da saúde da família: contribuições para uma política pública de prevenção” que, em 2007, ao pesquisar a violência intrafamiliar contra crianças e adolescentes na perspectiva dos profissionais da saúde da família objetivou contribuir para uma política pública de prevenção. Já, o trabalho “A experiência com a violência urbana entre adolescentes de Botucatu – SP” (2005) embora não mencione nenhuma política pública como objeto de estudo, apresenta sua inserção em um outro projeto maior, cujo norte se dá pelas Políticas de Saúde Pública, com financiamento da

Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (FAPESP). Enquanto “Atenção ao adolescente vítima de violência: participação de gestores municipais de saúde” buscava identificar as políticas públicas de atenção ao adolescente implantadas no sistema municipal de saúde de Itabuna - BA.

Há, ainda, um trabalho que se voltou às políticas de saúde focadas nas questões sociais, como a pesquisa “Sexualidade adolescente como direito? A visão de formuladores de políticas públicas”. Já “Vulnerabilidade às DST em adolescentes infratoras” (2009), volta-se à redução da vulnerabilidade da população jovem às DSTs, fazendo evidente que os estudos e as políticas de saúde são bastante amplos e diversificados no que tange às várias instâncias da vida. Por fim, entre as múltiplas possibilidades de abordagem da temática das políticas sociais, observou-se sua presença em somente 1,09% do total das pesquisas.

Para que essa dispersão se paute pelas amplas possibilidades de escolha, não pelo limite de repertório ou pelo desconhecimento das temáticas, destaca-se a necessidade de fomentar esse debate entre os coletivos acadêmicos-científicos como estratégia para o fortalecimento da discussão das políticas públicas no âmbito das pesquisas em saúde. Nessa direção, trabalhos como o intitulado “Desvendando o conhecimento construído em busca de novos saberes sobre a adolescência - uma análise quali-quantitativa de teses de doutoramento em enfermagem sobre saúde do adolescente produzidas ao longo dos anos 90 no Brasil”; “Adolescentes em conflito com a lei: o discurso dos operadores sociais sobre a efetividade das medidas sócio- educativas”; “Atividades de lazer de jovens estudantes das escolas de Ensino Médio do município de Eldorado do Sul/RS: um estudo descritivo”; “Instituições sociais e operacionalização de políticas públicas: análise crítica das ações voltadas para jovens no município de Santo André”; “Percepção do risco e perfil socioeconômico de jovens vítimas de trauma e usuários de álcool”; “A esportivização das políticas públicas: análise de programas para a infância e a juventude no estado de Santa Catarina”, são exemplos da possibilidade de ampliação desse debate, à medida que incluíram os aspectos sociais dos processos de vida, ressaltando a necessidade e possibilidade da

constituição de políticas públicas intersetoriais para a juventude, envolvendo o esporte e o lazer, por exemplo.

A partir da leitura dos resumos, nos parece que esses trabalhos podem ser acessados com vistas a terem reconhecidas as interfaces que propõem, servindo de modelos para novos investimentos nessa direção e, como exemplos, quanto à viabilidade e potência da proposta, uma vez que se trata de algo pouco comum em nosso meio.

Nessa produção tão variada, ainda é possível apontar os trabalhos de mestrado (2001) e doutorado (2008) de um mesmo autor: “Saúde e nutrição na adolescência: o discurso sobre dietas na Revista Capricho” e “Comer com os olhos: discursos televisivos e produção de sentidos na promoção da saúde nutricional de adolescentes”, respectivamente, que se ocuparam de políticas de alimentação e nutrição. Embora um interesse bem pontual entre os demais trabalhos apresentados, é importante destacar a permanência da pesquisadora no desenvolvimento de investigações que se correlacionam, frente a uma dinâmica de flagrantes descontinuidades e fragmentações.

Embora os trabalhos se sobrepujem no estudo das políticas públicas mais voltadas ao cuidado e manutenção da saúde, encontrou-se, entre os 31 trabalhos, 2 que se debruçaram sobre a interface entre as políticas públicas e a promoção da saúde, o trabalho “Políticas públicas e promoção da saúde dos adolescentes e jovens do sexo masculino: saúde sexual e reprodutiva, masculinidades e violências” que contextualiza o debate em torno da formulação das políticas de juventude no Brasil, através do levantamento de estudos e da literatura produzida, pautados pela perspectiva das ciências sociais. Algo diferente nesse trabalho é o esforço da autora em problematizar a condição juvenil na sociedade contemporânea e, a partir disso, pensar estratégias e interfaces que a instrumentalizem na busca por respostas. Esse também foi um direcionamento proposto no trabalho “Bebidas alcoólicas no contexto universitário: investigação fundamentada na teoria da ação racional”, pensado no campo das políticas de prevenção ao uso abusivo de álcool e outras drogas, sobretudo entre os universitários.

Finalizando, podemos ainda citar os trabalhos “O processo de cuidar do adolescente: percepções de enfermeiras do PSF” e “Políticas públicas e programas de saúde para o adolescente latino-americano: a enfermagem nos casos de Brasil e Colômbia” que utilizaram a políticas públicas como referencial teórico à análise de serviços e programas, como o PROSAD e o Programa de Saúde da Família (PSF) e a enfermagem latino-americana, respectivamente, por exemplo.

Pensando a pesquisa como instrumento à resposta de demandas sociais, capaz de promover modificações na vida na sociedade, grupos e sujeitos reais, apontam-se as políticas públicas como uma das materializações desse objetivo. Caberia aos pesquisadores olharem não só para as proposições de suas pesquisas, mas, também, para os resultados e desdobramentos dessas. Como efetivamente, temos conquistado repercussões sobre as vidas dos jovens? Uma maior interface dos estudos tendo as políticas públicas como objeto pode nos revelar caminhos interessantes, desvelando modificações orçamentárias e outros investimentos estatais que reverberam, por exemplo, na oferta e qualidade de serviços para as juventudes, concentrando

informações pertinentes à avaliação das práticas de saúde, à implementação e à formulação de políticas públicas.

Para os trabalhos apresentados nesse subitem, a importância do conhecimento das políticas públicas de saúde parece estar relacionada ao conhecimento e reconhecimento de espaços ao exercício profissional, como garantia de melhor qualidade da assistência em saúde. A dispersão do debate, no entanto, nos leva a refletir sobre as razões pelas quais este conteúdo não tenha constituído alvo de interesse de um maior número de trabalhos entre os pares, por vezes, podendo acarretar em um efeito contrário: em entraves para a efetivação do Sistema Único de Saúde (SUS), no que diz respeito a avanços no plano real.

3.1.12. A distribuição dos trabalhos por princípios norteadores das ações e