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3. RESULTADOS, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

3.1. O Universo dos trabalhos encontrados

3.1.12. A distribuição dos trabalhos por princípios norteadores das ações e serviços

Na década de 1990, como desdobramento da Lei Orgânica da Saúde, que instituía a descentralização político-administrativa dos serviços de saúde, impulsionou- se mudanças na organização e funcionamento dos governos locais, no que diz respeito à adoção de diretrizes e estabelecimento de prioridades de ação e distribuição de renda entre os serviços e instâncias do governo, por exemplo.

A incorporação desses novos princípios organizativos demandaram e demandam intensas alterações na concepção e na forma de gestar as políticas de saúde. Com base nisso, buscou-se inventariar se as pesquisas se voltam à análise de algum serviço de saúde, bem como sua orientação-político administrativa, no que tange aos desdobramentos que podem advir na oferta de cuidado à saúde do jovem.

Nesse debate, foram encontrados 244 trabalhos que, em alguma medida, se ativeram a essa questão. Fazendo distinção entre as diferentes instâncias de governabilidade, encontrou-se uma prevalência nos estudos que se ativeram à programas e/ou serviços de nível federal (133 pesquisas), seguido daqueles de nível municipal, somando esses, 130 pesquisas. As pesquisas voltadas à esfera estadual, embora em um número relativamente menor, com 102 trabalhos, apresenta da mesma forma, um número significativo de pesquisas. A única exceção são os trabalhos que se voltam ao terceiro setor, ou Organizações não governamentais, que compuseram apenas 12 trabalhos, revelando o quanto se poderia incrementar o estudo desse setor, suas interfaces e os desdobramentos que disso possam advir.

Dos 130 que citaram serviços municipais, 81,53% se encontravam adstritos ao universo das escolas municipais e redes municipais de ensino; esse foi um recorte bastante utilizado nos trabalhos que tomaram as escolas como campo de estudo, talvez o local de maior concentração de adolescentes e jovens na atualidade, viabilizando, por isso, a pesquisa com esse grupo populacional. Todavia, nisto reside também uma incongruência: se, como já apontado pelos dados e discutido anteriormente, a área da saúde tem produzido prioritariamente estudos com enfoque

em sinais e sintomas de agravos à saúde e/ou nos tratamentos deles, podemos supor que a escola tem se constituído como um espaço de reprodução dessa lógica de saúde? Destaca-se aqui a importância de estudos que se debrucem sobre essa questão, no sentido de romper com a lógica de uma saúde normalizadora que coloca a seu serviço equipamentos de outras origens e essências subvertendo seus objetivos. Como transformar esses limites em possibilidades de agregar à discussão e à constituição de redes intersetoriais? Como utilizar o repertório e expertise da área sem, no entanto, promover modelos de leitura para formas de vida, empregando um escopo específico às questões da vida social?

Os outros 18% dos trabalhos se ocuparam da Rede Municipal de Saúde, incluindo pesquisas com os gestores da mesma, totalizando 47 trabalhos, e 1 trabalho que se debruçou sobre o Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, o trabalho “A integralidade numa rede de proteção social ao adolescente: um olhar fenomenológico” que se ateve a caracterizar e problematizar o lugar da integralidade no interior dessa rede de proteção. Já, o trabalho “Esporte de competição para crianças e adolescentes: saúde ou exploração” tomou como objeto de pesquisa os atletas da Fundação Municipal de Esporte de uma cidade do interior do estado de Santa Catarina.

É importante se destacar que, no âmbito dos serviços municipais, o primeiro trabalho constituiu-se em uma exceção, uma vez que o serviço foi tomado como objeto de análise e não como mero provedor de objetos de estudo. Todavia, através da leitura do resumo, não foi possível depreender se a orientação político-administrativa tornou- se alvo de análise por parte do pesquisador.

Foram, ainda, encontrados outros 102 trabalhos que se ocuparam de serviços de orientação político-administrativa estadual. Embora os dados se apresentem em uma distribuição bem próxima à apresentada acima, com mais de 80% das ocorrências classificando uma escola, destaca-se 11 trabalhos que se ocuparam se serviços de saúde associados a IES públicas estaduais, 7 trabalhos voltados à Rede Estadual de Saúde e os serviços nele contidos. Há de se destacar os trabalho “Educação Física na

Fundação Estadual do Bem-Estar dos Menor-FEBEM/SP: Uma análise da proposta de 1992 a 1994 segundo o discurso dos professores”, que teve como objetivo avaliar a proposta de Educação Física implantada na Fundação do Bem-Estar do Menor em São Paulo - FEBEM/SP, e “A primeira experiência do uso de drogas e o ato infracional entre os adolescentes em conflito com a lei” que buscou identificar a primeira experiência do uso de drogas e de ato infracional entre os adolescentes dessa mesma Fundação. Embora esses trabalhos tenham utilizado a unidade como um modo de encontrar sujeitos de pesquisa, constituíram-se um diferencial: a proposição da discussão de elementos discursivos da saúde para além do local onde se propõem, exclusivamente, o cuidado e a atenção à saúde. Salienta-se a importância e a relevância desses trabalhos na busca de diálogos intersetoriais, lembrando que se faz necessária uma abordagem atenta que não se reverta ao olhar centralizado da saúde para demais questões, ou seja, à medicalização dos problemas sociais.

Quanto aos serviços e/ou programas federais, encontrou-se 133 trabalhos abordando, de alguma forma, a questão. Nota-se que não há uma distribuição muito desigual entre as várias articulações político-administrativa do Estado brasileiro. A autonomia política, administrativa, tributária, orçamentária e institucional conquistada pela Constituição Federal de 1988 e pela Lei Orgânica da Saúde podem estar refletidas nas pesquisas, uma vez que, com maior autonomia e poder de decisão, inclusive monetário, os serviços podem ter mais e maiores desdobramentos advindo do processo de descentralização, proporcionando um maior repertório de possibilidade de escolhas sobre os quais se debruçar.

Doze trabalhos foram encontrados no universo das ações e serviços não governamentais e/ou filantrópicos. Embora em números reduzidos frente às outras esferas de poder, quando alocados no universo total, destacam-se as pesquisas “Atendimento às crianças e adolescentes vítimas de violência doméstica: impasses e desafios”; “Avaliação de Programas de Prevenção de DST/AIDS para Jovens: um estudo de caso numa Organização Governamental e não Governamental do Rio de Janeiro” e “Vivendo e Crescendo com HIV-AIDS”, como inovadores no sentido de

incorporarem o terceiro setor enquanto um espaço legítimo de reflexão e produção de saúde, apesar de um terreno de debate bastante arenoso.