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Iniciou-se esse estudo buscando compreender a trajetória histórica dos conceitos de adolescência e juventude ao longo do tempo, no cenário social e, a partir disso, desvelar os caminhos que esses conceitos foram trilhando na área da saúde, como se modificaram, que atores envolveram ao longo desse processo, bem como que desdobramentos, reflexões e inflexões produziram.

Como instrumental a essa busca propôs-se o relato de uma das vertentes dessa história, através da produção acadêmico-científica na área da saúde, sob a delimitação dos resumos. Mas, como salientou Sposito (2009), faz-se necessário pensar que, ao escolher um recorte dessa produção, consequentemente, se traça um delineamento a essa história.

Frutos de uma história recente, os conceitos de adolescência e juventude têm, aos poucos, conquistado certa relevância política e social. Apesar de que, como afirma Sposito (2009), essa prerrogativa não constitui garantia suficiente para sua legitimidade acadêmica. Apesar do desejo e interpretação partilhada por autores como Bourdieu (1983) e Demo (2009), a pesquisa científica nem sempre se coloca a serviço de investigar necessidades sociais.

O mapeamento e análise por nós produzidos através deste trabalho nos leva a um quadro da produção na pós-graduação em saúde ainda bastante recente e inicial, quer centrado na adolescência e no adolescente, quer centrado nas questões dos jovens e das juventudes, em face aos números absolutos projetados pela área, uma vez que se tem a informação que, composta por 11 áreas de conhecimento e 807 Programas de pós-graduação e, que somente no biênio de 2007-2009, segundo a Avaliação Trienal da CAPES, a grande área da saúde atingiu uma produção de 20.892 trabalhos30.

30 A Avaliação Trienal dos Programas de Pós-Graduação compreende o acompanhamento do desempenho de todos os programas e cursos que já integram o Sistema Nacional de Pós-graduação. Assim, quanto à Avaliação Trienal de 2010, constam dados relativos às Áreas de Educação Física (que engloba também as Áreas de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, e Fonoaudiologia); Enfermagem; Farmácia; Medicina (I, II, III); Odontologia e Saúde Coletiva. Não constam dados da Nutrição que, até

Apesar da aparente fragilidade do tema na composição da área, nota-se que há um interesse crescente movimentando as discussões, sob os múltiplos olhares dos diversos atores envolvidos. Ressalta-se a importância e a riqueza dessa variedade em torno da temática no sentido de promover uma maior visibilidade e possibilidades de trocas de conteúdos críticos-reflexivos sobre ela. Porém, há de se destacar e problematizar a possiblidade dessa multiplicidade ser negativa nesse processo de reconhecimento e legitimação das juventudes e as questões a elas relacionadas, na área da saúde, nos casos em que os negue como sujeitos de direitos. Pois, diante da complexidade e da constituição sócio-histórica do fenômeno da juventude (MELUCCI, 1997), destaca-se a validade de tomá-la como uma categoria repleta de interfaces e, por isso, uma estação da vida, a qual demanda ação conjunta de vários núcleos do saber.

Nesse processo de legitimação teórica, a partir desta pesquisa, tem-se a percepção de que os conceitos de adolescência e adolescente já se fazem mais reconhecidos, quer pelo volume de produção que envolve o uso desses termos, quer numa aparente socialização dos termos por um maior número de áreas do conhecimento, por exemplo. Assim, trazendo à luz a incipiência da área frente esses conceitos, nos parece que são ainda mais frágeis e recentes, na área da saúde, abordagens às questões dos jovens e das juventudes.

A área da saúde associa, fortemente, a figura do adolescente e do jovem à figura do paciente, organismo detentor de problemas físicos ou de questões que levem a eles, em uma dimensão mais individual que coletiva desse processo. Pouco se fala na subjetividade ou nas dimensões da vida dos jovens que perpassem essa dimensão biológica, também pouco se toma a juventude sobre o viés de suas pluralidades e coletividade. Sob essa perspectiva, aponta-se para a existência de questões intangíveis pelo uso exclusivo de abordagens epidemiológicas e/ou clínico

essa época, não compunham o SNPG. http://www.capes.gov.br/component/content/article/44- avaliacao/4355-planilhas-comparativas-da-avaliacao-trienal-2010. Também, não constam dados da subárea Terapia Ocupacional, pois o primeiro programa específico de pós-graduação data de 2010.

ambulatoriais e, para essas, explicita-se a demanda para criação e ampliação de novas metodologias e abordagens de compreensão e de ação.

Ainda, tomando a juventude por esse delineamento sócio-histórico, destaca-se a necessidade de se operar com conceitos que respeitem essa dimensão da categoria. Assim, evidencia-se a importância que a área da saúde busque, cada vez mais, interfaces com a área das ciências humanas, na tentativa de superar as leituras biologizantes, e a abordagem individualizante e culpabilizante nas questões sociais de interface com a saúde, incorporando incrementos que reforcem a legitimidade do público jovem na vertente do espaço social, em constante processo de conquista de reconhecimento e legitimação sociais. Acredita-se que a discussão sobre os conceitos de juventude estão indissociavelmente voltados às questões sociais contemporâneas e, portanto, da produção de conhecimento socialmente engajado, em auxílio à tomada de decisões e à orientação técnica acerca de possibilidades de implementação de medidas políticas que permitam a expansão da cidadania dos jovens. Dessa forma, uma vez que os trabalhos e discussões encontradas não se voltaram para produzir subsídios para as políticas públicas, destaca-se essa possibilidade como algo a ser desenvolvido no interior da área da saúde.

No entanto, merece destaque a problematização que, no anseio de ampliação da área e seu escopo de reflexão e ação, não se negligencie aquilo que o próprio setor saúde e área de conhecimento se colocam enquanto tarefa, como o cuidado a doenças e aos agravos à saúde, pois, ao tornar-se problema para a saúde, a juventude não se faz, exclusivamente, como um problema dessa área, como se todas as questões tivessem, nesse núcleo de saberes e práticas, que encontrar respostas. Portanto, a problematização aqui colocada não se refere a presença e preponderância de estudos clínicos e epidemiológicos, conforme encontrados, mas sim a não justificativa de sua proporcionalidade, quando olhado para o universo total dos trabalhos de acordo com a participação de cada subárea, assim como, e, com ênfase, a questão da preponderância de aspectos individuais para o estudo de fenômenos coletivos, conforme destacado em vários exemplos acima.

No que tange ao adensamento da temática em questão, ressalta-se a necessidade de conhecer fenômenos ainda pouco explorados como os intercursos entre saúde, juventude e religião/espiritualidade, bem como as correlações feitas entre as juventudes e as subjetividades; notou-se, ainda, que a produção que se volta às juventudes em espaços não urbanos são bastante limitadas em números, sendo importante, em nossa percepção, conhecer os meandros desses espaços sociais tão pouco explorados acadêmico-cientificamente. As relações étnico-raciais, encontram-se, da mesma forma, renegadas a um outro plano que, muitas vezes, não ultrapassam as questões de diferenças fisiológicas e genéticas, desconsiderando que as origens de muitos problemas sociais assentam-se nessa e em outras questões estruturais, tais como a iniquidade entre os gêneros.

Como fomento a esse processo de difusão informacional, recomenda-se que o mesmo processo metodológico adotado nessa pesquisa seja estendido à área multidisciplinar. Não foi objeto dessa pesquisa o levantamento da produção dessa área de conhecimento que, embora adstrito à Grande Área Multidisciplinar, possui 74 Programas que estão classificadas, pela CAPES, como sendo da área básica da Saúde, em interface com as Ciências Biológicas. A lista de trabalhos encontra-se no ANEXO 5 31.

Embora este trabalho apresente defasagens reconhecidas, como a falta da análise do descritor “menoridade” e a necessidade de atualização em relação ao recorte temporal, uma vez que a Base CAPES atualiza, anualmente, seu Banco de Teses e Dissertações, ele aponta para rumos ainda desconhecidos, caminhos a serem trilhados, em continuidade às discussões acerca do inventário sobre juventude e saúde. A atualização dessa pesquisa é um importante segmento a ser mantido na busca pelo conhecimento de um retrato mais atual da produção sobre juventude em saúde e, como tal, viabilizadora de diálogos entre aqueles que se interessam sobre o

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A listagem foi feita através do acesso à Relação de Cursos Recomendados e Reconhecidos pela CAPES

http://conteudoweb.capes.gov.br/conteudoweb/ProjetoRelacaoCursosServlet?acao=pesquisarIes&codigoArea=9010 0000&descricaoArea=&descricaoAreaConhecimento=INTERDISCIPLINAR&descricaoAreaAvaliacao=INTERDIS CIPLINAR#, na Área Multidisciplinar. Cada um dos Programas foi investigado individualmente; abertos um a um, buscou-se a informação de que Área Básica pertenciam e selecionados somente aqueles que estavam atrelada á área da saúde, compondo a tabela disponibilizada no Anexo 5.

tema. Espera-se que o levantamento realizado torne exequível explorações futuras de maior fôlego analítico.

Como estímulo a esses processos, buscar-se-á, em continuidade a essa pesquisa, a recuperação dos trabalhos na íntegra, pelo reconhecimento das fragilidades no preenchimento junto à base de dados utilizada como fonte primária das buscas, para promover não só o acesso facilitado a esses estudos, mas, também, promover a formulação de uma base organizada que permita a divulgação dos conteúdos em sua totalidade, possibilitando, assim, outros diálogos e recortes às mais variadas perspectivas dessa história que ainda pode ser contada em diversas versões.

Em suma, através do que se propôs nesta pesquisa, acredita-se na possibilidade de contribuição para o debate social em saúde àquilo que concerne à população adolescente e jovem brasileira.