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293A diversidade e abundância de aves frugívoras decrescem com a

diminuição do tamanho do fragmento, com o aumento do isolamento, com a perturbação do sub-bosque e com o corte seletivo de árvores. Desta forma, para a conservação dos frugívoros e das plantas por eles dispersadas, é importante proteger áreas contínuas de vegetação, con-servar fragmentos grandes e conectá-los a outros próximos, sejam estes grandes ou não. É importante também recuperar os fragmentos que tiveram o dossel e(ou) sub-bosque degradados pela ação antrópica.

Apenas o estudo de herbivoria por insetos indicou que as diferen-ças nos padrões de folivoria podem ocorrer em função de mudandiferen-ças ambientais provocadas pela fragmentação. O aumento do consumo de folhas por insetos nas bordas dos fragmentos pode estar relacionado à alta ocorrência de plantas pioneiras neste ambiente. Isso pode significar que a fragmentação florestal está afetando a composição florística nas bordas de fragmentos, acarretando uma predominância de espécies vegetais de estágios sucessionais iniciais que possuem baixas

quanti-dades de defesas quantitativas19.

No Projeto Bugios, embora o teor de taninos condensados tenha sido maior nos fragmentos menores, as plantas consumidas pelos bugios-ruivos nestes fragmentos não produziram maior quantidade de taninos condensados do que as plantas consumidas nos fragmentos maiores. De forma geral, dados sobre o tempo gasto pelos bugios com alimentação em diferentes espécies de plantas não caracterizaram os taninos condensados e os fenóis totais como defesa química contra a folivoria pelos bugios-ruivos. Contudo, talvez os bugios possam estar selecionando as espécies menos tóxicas em fragmentos pequenos, pois foram verificadas diferenças marcantes na estrutura química dos taninos condensados de duas plantas que continham teores semelhantes desses metabólitos (Buchenavia kleinii e Diatenopteryx sorbifolia) e diferentes porcentagens de tempo de alimentação no Morro Geisler. Esse resultado mostra, em parte, uma preferência alimentar do bugio-ruivo, já que é sabido que diferenças na estrutura dos taninos condensados podem implicar em palatabilidade diferenciada para os herbívoros e também em velocidades diferentes de quebra e degradação dessas substâncias no estômago do animal, causando efeitos tóxicos diferentes.

6. Recomendações

Com base nos resultados dos diversos estudos analisados neste capítulo, os efeitos da fragmentação de habitats sobre as interações existentes entre animais e plantas, pode ser minimizado, ou mesmo eliminado, com a adoção das seguintes recomendações:

a. Realizar estudos sobre as interações entre os animais e plantas que permitam considerações para a conservação de plantas, poliniza-dores, frugívoros dispersores ou não de sementes, folívoros e outros.

b. Evitar fragmentação, conservar áreas contínuas e grandes frag-mentos com áreas centrais maiores e mais bem preservadas favore-cendo a sobrevivência de polinizadores, dispersores, folívoros mais sen-síveis à fragmentação, como as espécies que ocorrem em sub-bosque, os polinizadores especialistas, raros ou endêmicos.

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Interações entre animais e plantas

c. Preservar maior número de fragmentos pequenos, tão próximos entre si e entre fragmentos grandes e áreas contínuas quanto possível para facilitar o fluxo gênico entre subpopulações de fragmentos diferen-tes.

d. Estabelecer corredores ecológicos e florestais para a preser-vação de plantas cujos polinizadores e dispersores não atravessam as matrizes abertas.

e. Estabelecer trampolins ecológicos através da plantação de árvores nativas na matriz para facilitar o trânsito de polinizadores e frugívoros entre fragmentos.

f. Evitar o bosqueamento (limpeza ou raleamento do sub-bosque) e corte seletivo de plantas que eliminam fontes de alimento e locais de nidificação para polinizadores e dispersores de sementes sensíveis à fragmentação.

g. Coibir a caça de animais polinizadores ou dispersores de sementes. h. Reintroduzir plantas que estejam em baixa abundância no frag-mento e que sejam importantes para a manutenção de polinizadores, frugívoros e folívoros sensíveis à fragmentação.

i. Reintroduzir ninhos de abelhas em fragmentos onde foram extintas ou estão em baixa freqüência.

j. Manejar mais intensamente os fragmentos pequenos do que os grandes para garantir a sobrevivência de suas plantas, polinizadores, dispersores e folívoros.

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GENÉTICA DE

POPULAÇÕES