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1958. Invasão de espécies

9. Impactos antrópicos

As matas da região sul da Bahia ainda sofrem os efeitos do corte seletivo de árvores de interesse econômico. A retirada das espécies arbóreas de grande porte causa a descontinuidade do dossel, permitindo a penetração de luminosidade e a mudança na estrutura do ambiente. A complexidade estrutural tende a diminuir, ocasionando o decréscimo no número de microhabitats disponíveis e, conseqüentemente, da riqueza de espécies florestais.

O Cerrado é um dos biomas brasileiros mais modificados pelo homem. Extensas áreas têm sido substituídas por pastagens, campos de agricultura ou monoculturas florestais exóticas. Isto gera um mosaico de fragmentos de vegetação de Cerrado de diferentes tamanhos e graus de conservação. Além da redução do habitat natural, a herpetofauna rema-nescente nos fragmentos é ainda ameaçada pela introdução de espécies exóticas e pelo fogo. Em fragmentos onde o gado se faz presente, ocorre substancial alteração no estrato graminoso devido à substituição de espécies nativas por exóticas, que provocam o sombreamento do solo e o desaparecimento de diversas espécies de répteis e anfíbios associadas ao folhiço. Além disso, cachorros e gatos predam diversas espécies de répteis e anfíbios. Em áreas antropizadas o regime natural de queima-das é substancialmente alterado, podendo o fogo ocorrer anualmente. Além da morte de espécies durante a sua passagem, o fogo provoca ainda a remoção de abrigos contra predadores, variação de temperatura, redução na disponibilidade de alimento (artrópodes) e na densidade do estrato arbóreo-arbustivo, o que desfavorece espécies arborícolas e de folhiço.

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10. Considerações finais

a. As diferenças encontradas na composição das espécies nos diversos fragmentos devem-se, principalmente, às características rela-cionadas à estrutura da vegetação, disponibilidade de microhabitats e à diversidade de ambientes encontrados em cada fragmento. A hete-rogeneidade do ambiente é um fator importante na determinação do número de espécies que podem explorar uma área (Projeto Corredor Sul da Bahia).

b. Blocos de mata mais bem conservados, ou seja, com menor comprometimento da estrutura original da vegetação, apresentaram em geral, maiores índices de riqueza de espécies florestais de anuros do que matas com maior grau de perturbação antrópica (Projeto Corre-dor Sul da Bahia). No entanto, formações secundárias ainda preservam expressivo número de espécies florestais, sendo também importantes na conservação da diversidade de sapos e lagartos (projetos RestaUna e Corredor Sul da Bahia).

c. Fragmentos de Cerrado com extensas porções homogêneas de habitat podem abrigar uma riqueza maior de espécies de lagartos do que aqueles onde as porções de habitat são menores e em maior número.

d. Em todos os estudos realizados não foram encontradas relações entre o tamanho (área) dos fragmentos e a riqueza de espécies, seja na Floresta Atlântica ou no Cerrado.

e. A riqueza de espécies variou mais entre localidades do que entre fragmentos de Cerrado de diferentes fitofisionomias dentro da mesma localidade.

f. Não foi observada qualquer associação entre o grau de recor-tamento dos fragmentos (efeito de borda) e a riqueza de espécies de anfíbios e répteis.

g. A manutenção das comunidades em ambientes florestais parece estar diretamente relacionada à conectividade entre estes. Considerando todas as características da região sul da Bahia, as cabrucas e capoeiras aparecem como matrizes permeáveis que podem ser utilizadas para facilitar o deslocamento das espécies entre fragmentos de matas, man-tendo assim, a diversidade local. Quando os fragmentos encontram-se isolados por paisagens de pouca permeabilidade à propagação de espécies, a riqueza encontrada é menor. Entretanto, no Cerrado não foi observada qualquer associação entre a conectividade e a riqueza de espécies de lagartos.

h. No Cerrado, a riqueza de espécies de lagartos nos fragmentos naturais é menor que nos fragmentos antrópicos. Entretanto, é esperado que a riqueza de espécies nos fragmentos antrópicos continue decres-cendo devido aos efeitos demográficos, genéticos e estocásticos. Desta forma, estimativas dos efeitos da fragmentação baseadas somente em parâmetros espaciais podem ser pouco acuradas.

i. Além da redução do habitat natural ocasionada principalmente pelo desmatamento, a herpetofauna remanescente nos fragmentos é ainda ameaçada pelos efeitos da retirada seletiva de madeira e pelo fogo.

j. Os efeitos da fragmentação sobre a herpetofauna podem variar de acordo com o bioma estudado.

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11. Recomendações

a. Para a efetiva conservação da herpetofauna, não se deve privile-giar apenas as áreas em estado avançado de regeneração ou aquelas de maior tamanho, mas também observar outras características tais como a heterogeneidade espacial, existência de feições ecogeográficas únicas e a permeabilidade do entorno.

b. Diferentes estratégias para a conservação da herpetofauna devem ser adotadas em diferentes regiões do Cerrado. No caso de frag-mentos antrópicos recentes, é preferível preservar grandes áreas; no de fragmentos naturais antigos na periferia do Cerrado, é preferível privile-giar um grande número de áreas menores.

c. A atividade cacaueira na região sul da Bahia é importante para a manutenção da alta conectividade entre as matas locais e permite a permanência da fauna existente na região. Sendo assim, é necessário incentivar e auxiliar a manutenção do sistema de cabrucas e investir nos produtos provenientes do cacau.

d. A existência de espécies endêmicas em fragmentos naturais, como aqueles de Cerrado em Rondônia, justifica a criação de Unidades de Conservação.

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Agradecimentos

Ao Center for Applied Biodiversity Science/Conservation Interna-tional (CABS/CI) e Banco Mundial, pelo financiamento; ao Instituto de Estudos Sócio-Ambientais do Sul da Bahia (IESB), pela coordenação e apoio; à Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), pela bolsa de mestrado e reserva técnica (processo 99/12357-9) e à Universidade de São Paulo, Departamento de Ecologia.

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