espécies, na lagoa Carioca, a 28 na lagoa Águas Claras (Tabela 5). Os
índi-ces de diversidade (índice de Shannon) foram mais elevados em mas de menor estado trófico. A riqueza de espécies foi maior nos siste-mas menos eutrofizados, corroborando a teoria vigente de redução da diversidade com o aumento do estado trófico, relação contrária àquela observada nos reservatórios do Médio e Baixo rio Tietê.
Tabela 5 . Riqueza máxima de espécies do zooplâncton registrada em lagoas do Vale do rio Doce (MG)
Lagos Riqueza de espécies diversidadeÍndice de Índice de estado trófico Classificação
Carioca 15 1,76 60,1 Eutrófico
Águas Claras 28 2,45 43,3 Mesotrófico
Aguapé 19 2,26 49,3 Mesotrófico
Ariranha 27 1,71 45,6 Mesotrófico
Amarela 23 2,28 48,0 Mesotrófico
B.Verde 17 1,10 44,2 Mesotrófico
Procurando correlacionar diversidade de espécies e estado trófico, efetuou-se um primeiro inventário taxonômico do zooplâncton de 16 lagoas e de um trecho do Rio Doce. As informações obtidas mostraram uma tendência de maior diversidade de espécies em lagos oligotróficos,
o contrário ocorrendo em lagos eutróficos (Tabela 6 e Figura 19).
Tabela 6. Riqueza (número de espécies), índice de diversidade de Shannon, Índice de Estado Trófico (IET) e o grau de trofia em lagos do Vale do rio Doce.
Lagos Riqueza I.E.T. Classificação
Carioca 29 56,2 Eutrófico
Aníbal 31 42,3 Mesotrófico
Azul 22 5,06 Ultra-oligotrófico
Dom Helvécio 14 46,0 Mesotrófico
Aguapé 38 47,8 Mesotrófico
Águas Claras 44 42,8 Mesotrófico
Ariranha 43 49,8 Mesotrófico
Amarela 44 46,0 Mesotrófico
Jacaré 21 43,3 Mesotrófico
Almécega 30 47,6 Mesotrófico
Carvão com Azeite 9 45,6 Mesotrófico
Redondo 23 -
-Ferrugem 30 52,3 Eutrófico
Palmeirinha 18 49,7 Mesotrófico
Remualda 23 -
224
Organismos aquáticos
Regressão linear entre índice de estado trófico (segundo Salas & Martino, 1990)27 e índice de diversidade de Shannon para o zooplâncton.
Fig.19
7.3. Macrófitas (plantas superiores aquáticas)
A comunidade de macrófitas é constituída por organismos de grande capacidade de adaptação, podendo ocorrer emersas, submer-sas, enraizadas ou flutuantes. A sequência de imagens a seguir mostra algumas destas macrófitas aquáticas registradas nos lagos do Vale do rio Doce e nos reservatórios do Médio e Baixo rio Tietê.
Katia Sendra Tavares
Magno Botelho Castelo Branco
Katia Sendra Tavares
Katia Sendra Tavares
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Magno Botelho Castelo Branco Katia Sendra Tavares
Katia Sendra Tavares Katia Sendra Tavares
Katia Sendra Tavares Magno Botelho Castelo Branco
Magno Botelho Castelo Branco Katia Sendra Tavares
No caso das macrófitas aquáticas, não houve um padrão relacionan-do a riqueza de espécies e ao estarelacionan-do trófico relacionan-dos reservatórios estudarelacionan-dos, onde foram encontradas entre 12 (represa de Bariri) e 22 espécies
(repre-sa de Nova Avanhandava) de macrófitas (Tabela 7). Para os lagos do Vale
do rio Doce (Tabela 8), o número de espécies variou entre 7 (lagoa Carvão
com Azeite) e 22 (lagoas Aguapé e da Barra) espécies. Os dados obti-dos para este grupo não evidenciaram nenhuma relação com as teorias vigentes para a diversidade de organismos aquáticos. Parece, no entan-to, haver uma relação com a disponibilidade de habitats colonizáveis pelas macrófitas, fornecida pela combinação de uma verdadeira região litorânea e índices de desenvolvimento de margem nos sistemas nat-urais. Verificou-se ainda, uma relação entre a transparência da água e a
226
Organismos aquáticos
diversidade de macrófitas submersas, enraizadas flutuantes e flutuantes. Neste caso, nos primeiros reservatórios, com menor transparência da água (do reservatório de Barra Bonita ao de Ibitinga), existe uma maior contribuição de macrófitas flutuantes (como por exemplo, Eichhornia
crassipes), sendo que com o aumento da transparência da água ocorreu
a maior contribuição das macrófitas emersas (como Egeria densa, abun-dante nos reservatórios de Nova Avanhandava e Três Irmãos).
Tabela 7. Riqueza de espécies de macrófitas aquáticas encontradas nos reservatórios do rio Tietê (SP) e lagos do Vale do rio Doce (MG) em 2001.
RIO TIETÊ (SP) RIO DOCE (MG)
Reservatórios No de espécies Vale Rio DoceLagos No de espécies
Nova Avanhandava 22 Lagoa da Barra 22
Ibitinga 17 Aguapé 22
Barra Bonita 15 Lagoa Verde 20
Promissão 13 Dom Helvécio 19
Três Irmãos 13 Almécega 15 Bariri 12 Jacaré 13 Águas Claras 12 Carioca 11 Ariranha 10 Palmeirinha 10 Amarela 08
Carvão com Azeite 07
Tabela 8. Estado trófico dos reservatórios do rio Tietê (SP) e dos lagos do Vale do rio Doce (MG) em 2001.
RIO TIETÊ (SP) RIO DOCE (MG)
Reservatórios Estado trófico Lagos Estado trófico
Barra Bonita Eutrófico Aguapé Mesotrófico
Bariri Hiper-eutrófico Baixa Verde Mesotrófico
Ibitinga Eutrófico Dom Helvécio Mesotrófico
Promissão Mesotrófico Almecega Mesotrófico
Nova Avanhandava Mesotrófico Jacaré Mesotrófico
Três Irmãos Eutrófico Águas Claras Mesotrófico
Carioca Eutrófico
Ariranha Mesotrófico
Palmeirinha Mesotrófico
Amarela Mesotrófico
Carvão com Azeite Mesotrófico
7.4. Peixes
O ciclo de vida dos peixes engloba características como desova, incubação, crescimento e o uso do ambiente para realizar os diversos
ciclos28. Cada fase do desenvolvimento dos peixes ocorre em
determina-dos habitats como corredeiras, remansos, lagoas marginais, etc., sendo que o conjunto destes compreende um mosaico de sistemas. Devido aos vários estágios de vida, os peixes requerem diferentes habitats e a cone-xão entre estes pode ser um fator importante no seu ciclo de vida. Além disso, a presença de diferentes fragmentos ambientais é fator determi-nante da biomassa de peixes, diversidade de espécies e composição da
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comunidade29. Algumas comunidades de peixes podem ser compostas
por grupos móveis ou sedentários, dependendo da disponibilidade de habitats.
A fragmentação de rios, através da construção de reservatórios, causa diversos impactos na ictiofauna, devido à perda significativa das áreas de várzea e o impedimento da migração. Alguns impactos da frag-mentação de rios relacionados à ictiofauna são relacionados a seguir:
Impactos a montante dos barramentos Impactos a jusante dos barramentos Impactos nos fragmentos
A maior ameaça à diversidade biológica de comunidades natu-rais relativamente intactas dentro e em volta de áreas urbanas, é a
destruição de habitats e sua conversão para outros usos30. Exemplo
dessa conversão é a construção de reservatórios que leva à fragmen-tação dos rios. Em particular no sistema Tietê, a conseqüência desses empreendimentos é a perda da diversidade e a redução da riqueza nos reservatórios.
A fragmentação do rio Tietê impediu a migração de determina-das espécies, como o pintado (Pseudoplatystoma corruscans), o pacu (Piaractus mesopotamicus), o dourado (Salminus maxillosus) e a taba-rana (Salminus hilarii), entre outras. Estas espécies não conseguem subir o rio e migrar para as áreas de reprodução. Com isso, a abundância
de muitas espécies foi reduzida, tornando-as espécies raras. A Figura 20
mostra o resultado da fragmentação de rios sobre Salminus hilarii (tabarana) espécie migradora que prefere ambientes lóticos, tendo suas populações reduzidas a poucos locais, principalmente nos tributários. Em contrapartida Astyanax altiparanae (tambiú), apesar de ser uma espécie amplamente distribuída, permaneceu abundante nos ambientes fragmentados, por ser uma espécie que prefere ambientes lênticos. A
Tabela 9 mostra as espécies de peixes mais vulneráveis à fragmentação
do rio Tietê e a outros impactos.
Tabela 9. Espécies de peixes mais vulneráveis aos represamentos e a outros tipos de impactos no Alto rio Paraná.
Espécie Nome vulgar
Myleus tiete Pacu-prata
Brycon orbignyanus Piracanjuba
Salminus hilarii Tabarana
Salminus maxillosus Dourado
Piaractus mesopotamicus Pacu
Prochilodus lineatus Curimbatá
Paulicea luetkeni Jaú
Pseudoplatystoma corruscans Pintado
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Organismos aquáticos
A Figura 21 mostra claramente a redução da captura de espécies
migradoras pela pesca profissional na área onde está situado o reser-vatório de Barra Bonita. Em 1951, antes dos represamentos, pescava-se grande quantidade de curimbatás, dourados, jaús e pintados. Em 1989, após a construção, as espécies praticamente desapareceram, restrin-gindo-se a alguns tributários.
As espécies que tiveram maior redução em suas populações foram
Brycon orbignyanus (piracanjuba), Pseudoplatystoma corruscans
(pin-tado) e Salminus maxillosus (dourado). Estas espécies são migradoras e não realizam a migração pela existência do barramento do rio, o que aumenta ainda mais o impacto do represamento em série (cascata). Mui-tas espécies migradoras tiveram suas populações reduzidas e são raras no trecho Médio e Baixo do rio Tietê.
Fig.20 Distribuição espacial de Salminus hilarii (Tabarana) e Astyanax altiparanae (Tambiú) no trecho médio e baixo do rio Tietê (Fonte: Smith, em preparação).
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Fig.21 Comparação da frequência absoluta das espécies de peixes capturadas em relação ao peso total em 1951 antes do represamento e em 1989 depois do represamento de Barra Bonita, segundo Monteiro (1953)31 e Torloni et al. (1993)32.
Além dos represamentos, outros impactos contribuem para reduzir a riqueza e diversidade de peixes como a perda da vegetação ripária, despejo de esgotos doméstico e industrial, aterramentos de lagoas marginais, entre outros. Estes impactos alteram os ambientes naturais ocasionando a redução da abundância de determinadas espécies.
Por outro lado, a matriz de entorno dos reservatórios é composta basicamente por cana-de-açúcar nos reservatórios de Barra Bonita, Bariri e Ibitinga, e por pastagem nos reservatórios de Promissão, Nova Avanhandava e Três Irmãos. Esta caracterização mostra claramente a redução da mata ciliar, que foi substituída pela vegetação citada acima e por outras atividades, em função da falta de planejamento do uso e ocupação do solo na bacia hidrográfica. Para a ictiofauna isto acarretou profundas modificações na composição das espécies, fazendo com que muitas espécies que dependem da mata ciliar para alimentação, tives-sem a abundância reduzida e, até mesmo, pudestives-sem ser consideradas extintas em alguns trechos. Além da espécie Brycon orbygnianus, as espécies Piaractus mesopotamicus (pacu) e Myleus tiete (pacuzinho) são espécies que praticamente já desapareceram de alguns tributários e tre-chos do rio Tietê, o que representa não somente alterações ambientais, mas mudanças significativas nas atividades econômicas de pescadores da região, tornando-se, portanto, um problema social.
A fragmentação de rios, no entanto, não traz prejuízos para todas as espécies. Algumas espécies são beneficiadas com o represamento, a maior parte delas são de pequeno porte, adaptadas aos ambientes lênticos, pois apresentam desova parcelada, não são migradoras e estão adaptadas a utilizar os recursos mais abundantes nos reservatórios, incluindo detritos, vegetais superiores, algas e peixes. No Alto Paraná podem ser citados os sagüirus (Cyphocharax modestus e Steindachnerina insculpta), lambaris (Astyanax altiparanae e Astyanax fasciatus) e Moenkhausia intermedia
(Tabela 10). Para estas espécies ocorreu o efeito inverso, com aumento na
abundância devido à transformação do ambiente lótico em lêntico, com condições mais favoráveis. No entanto, muitas das espécies não são comercializadas pelas populações riberinhas, o que demonstra, ainda, a
230
Organismos aquáticos
falta de um incentivo à utilização e valoração do pescado atual. Algumas
destas espécies são mostradas na Figura 22.
Tabela 10. Alto rio Paraná.
Espécie Nome vulgar Origem
Cyphocharax modestus Sagüiru Nativa
Steindachnerina insculpta Sagüiru Nativa
Astyanax altiparanae Tambiú Nativa
Astyanax fasciatus Lambari Nativa
Moenkhausia intermedia Lambari-corinthiano Nativa
Cichla sp Tucunaré Amazônica
Plagioscion squamosissimus Corvina Amazônica
Geophagus brasiliensis Cará Nativa
Hoplias malabaricus Traíra Nativa
Tilapia rendalli Tilápia Africana
Serrassalmus spilopleura Pirambeba Nativa
Satanoperca jurupari Cará Amazônica
Iheringichthys labrosus Mandi-beiçudo Nativa
Acestrorhynchus lacustris Cadela Nativa
* Informações baseadas em Castro & Arcifa (1987)33, S. Santos & Formagio (2000)34, Smith & Petrere Jr. (2000)35 e Smith (2002)36. 7.5. Aves aquáticas
Welber Senteio Smith
Espécies de peixes nativas do Médio e Baixo rio Tietê (SP)
Fig.22
A América do Sul é o continente onde se registra o maior número de espécies de aves, com cerca de 3.200 espécies. No Brasil, 1.677 espécies já foram registradas, representando 54% da riqueza do continente
sul-ameri-cano e 17% do total mundial37. Destas, aproximadamente 120 espécies
possuem hábitos aquáticos, vivendo às margens de corpos de água de tamanhos variados, utilizando os recursos de formas diversas e também interagindo e contribuindo para o metabolismo dos ecossistemas.
Nas represas do Médio e Baixo Tietê foram visualizadas 35 espécies,