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223Nos lagos do Vale do rio Doce, a riqueza de espécies variou de 17

espécies, na lagoa Carioca, a 28 na lagoa Águas Claras (Tabela 5). Os

índi-ces de diversidade (índice de Shannon) foram mais elevados em mas de menor estado trófico. A riqueza de espécies foi maior nos siste-mas menos eutrofizados, corroborando a teoria vigente de redução da diversidade com o aumento do estado trófico, relação contrária àquela observada nos reservatórios do Médio e Baixo rio Tietê.

Tabela 5 . Riqueza máxima de espécies do zooplâncton registrada em lagoas do Vale do rio Doce (MG)

Lagos Riqueza de espécies diversidadeÍndice de Índice de estado trófico Classificação

Carioca 15 1,76 60,1 Eutrófico

Águas Claras 28 2,45 43,3 Mesotrófico

Aguapé 19 2,26 49,3 Mesotrófico

Ariranha 27 1,71 45,6 Mesotrófico

Amarela 23 2,28 48,0 Mesotrófico

B.Verde 17 1,10 44,2 Mesotrófico

Procurando correlacionar diversidade de espécies e estado trófico, efetuou-se um primeiro inventário taxonômico do zooplâncton de 16 lagoas e de um trecho do Rio Doce. As informações obtidas mostraram uma tendência de maior diversidade de espécies em lagos oligotróficos,

o contrário ocorrendo em lagos eutróficos (Tabela 6 e Figura 19).

Tabela 6. Riqueza (número de espécies), índice de diversidade de Shannon, Índice de Estado Trófico (IET) e o grau de trofia em lagos do Vale do rio Doce.

Lagos Riqueza I.E.T. Classificação

Carioca 29 56,2 Eutrófico

Aníbal 31 42,3 Mesotrófico

Azul 22 5,06 Ultra-oligotrófico

Dom Helvécio 14 46,0 Mesotrófico

Aguapé 38 47,8 Mesotrófico

Águas Claras 44 42,8 Mesotrófico

Ariranha 43 49,8 Mesotrófico

Amarela 44 46,0 Mesotrófico

Jacaré 21 43,3 Mesotrófico

Almécega 30 47,6 Mesotrófico

Carvão com Azeite 9 45,6 Mesotrófico

Redondo 23 -

-Ferrugem 30 52,3 Eutrófico

Palmeirinha 18 49,7 Mesotrófico

Remualda 23 -

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Organismos aquáticos

Regressão linear entre índice de estado trófico (segundo Salas & Martino, 1990)27 e índice de diversidade de Shannon para o zooplâncton.

Fig.19

7.3. Macrófitas (plantas superiores aquáticas)

A comunidade de macrófitas é constituída por organismos de grande capacidade de adaptação, podendo ocorrer emersas, submer-sas, enraizadas ou flutuantes. A sequência de imagens a seguir mostra algumas destas macrófitas aquáticas registradas nos lagos do Vale do rio Doce e nos reservatórios do Médio e Baixo rio Tietê.

Katia Sendra Tavares

Magno Botelho Castelo Branco

Katia Sendra Tavares

Katia Sendra Tavares

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Magno Botelho Castelo Branco Katia Sendra Tavares

Katia Sendra Tavares Katia Sendra Tavares

Katia Sendra Tavares Magno Botelho Castelo Branco

Magno Botelho Castelo Branco Katia Sendra Tavares

No caso das macrófitas aquáticas, não houve um padrão relacionan-do a riqueza de espécies e ao estarelacionan-do trófico relacionan-dos reservatórios estudarelacionan-dos, onde foram encontradas entre 12 (represa de Bariri) e 22 espécies

(repre-sa de Nova Avanhandava) de macrófitas (Tabela 7). Para os lagos do Vale

do rio Doce (Tabela 8), o número de espécies variou entre 7 (lagoa Carvão

com Azeite) e 22 (lagoas Aguapé e da Barra) espécies. Os dados obti-dos para este grupo não evidenciaram nenhuma relação com as teorias vigentes para a diversidade de organismos aquáticos. Parece, no entan-to, haver uma relação com a disponibilidade de habitats colonizáveis pelas macrófitas, fornecida pela combinação de uma verdadeira região litorânea e índices de desenvolvimento de margem nos sistemas nat-urais. Verificou-se ainda, uma relação entre a transparência da água e a

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Organismos aquáticos

diversidade de macrófitas submersas, enraizadas flutuantes e flutuantes. Neste caso, nos primeiros reservatórios, com menor transparência da água (do reservatório de Barra Bonita ao de Ibitinga), existe uma maior contribuição de macrófitas flutuantes (como por exemplo, Eichhornia

crassipes), sendo que com o aumento da transparência da água ocorreu

a maior contribuição das macrófitas emersas (como Egeria densa, abun-dante nos reservatórios de Nova Avanhandava e Três Irmãos).

Tabela 7. Riqueza de espécies de macrófitas aquáticas encontradas nos reservatórios do rio Tietê (SP) e lagos do Vale do rio Doce (MG) em 2001.

RIO TIETÊ (SP) RIO DOCE (MG)

Reservatórios No de espécies Vale Rio DoceLagos No de espécies

Nova Avanhandava 22 Lagoa da Barra 22

Ibitinga 17 Aguapé 22

Barra Bonita 15 Lagoa Verde 20

Promissão 13 Dom Helvécio 19

Três Irmãos 13 Almécega 15 Bariri 12 Jacaré 13 Águas Claras 12 Carioca 11 Ariranha 10 Palmeirinha 10 Amarela 08

Carvão com Azeite 07

Tabela 8. Estado trófico dos reservatórios do rio Tietê (SP) e dos lagos do Vale do rio Doce (MG) em 2001.

RIO TIETÊ (SP) RIO DOCE (MG)

Reservatórios Estado trófico Lagos Estado trófico

Barra Bonita Eutrófico Aguapé Mesotrófico

Bariri Hiper-eutrófico Baixa Verde Mesotrófico

Ibitinga Eutrófico Dom Helvécio Mesotrófico

Promissão Mesotrófico Almecega Mesotrófico

Nova Avanhandava Mesotrófico Jacaré Mesotrófico

Três Irmãos Eutrófico Águas Claras Mesotrófico

Carioca Eutrófico

Ariranha Mesotrófico

Palmeirinha Mesotrófico

Amarela Mesotrófico

Carvão com Azeite Mesotrófico

7.4. Peixes

O ciclo de vida dos peixes engloba características como desova, incubação, crescimento e o uso do ambiente para realizar os diversos

ciclos28. Cada fase do desenvolvimento dos peixes ocorre em

determina-dos habitats como corredeiras, remansos, lagoas marginais, etc., sendo que o conjunto destes compreende um mosaico de sistemas. Devido aos vários estágios de vida, os peixes requerem diferentes habitats e a cone-xão entre estes pode ser um fator importante no seu ciclo de vida. Além disso, a presença de diferentes fragmentos ambientais é fator determi-nante da biomassa de peixes, diversidade de espécies e composição da

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comunidade29. Algumas comunidades de peixes podem ser compostas

por grupos móveis ou sedentários, dependendo da disponibilidade de habitats.

A fragmentação de rios, através da construção de reservatórios, causa diversos impactos na ictiofauna, devido à perda significativa das áreas de várzea e o impedimento da migração. Alguns impactos da frag-mentação de rios relacionados à ictiofauna são relacionados a seguir:

Impactos a montante dos barramentos Impactos a jusante dos barramentos Impactos nos fragmentos

A maior ameaça à diversidade biológica de comunidades natu-rais relativamente intactas dentro e em volta de áreas urbanas, é a

destruição de habitats e sua conversão para outros usos30. Exemplo

dessa conversão é a construção de reservatórios que leva à fragmen-tação dos rios. Em particular no sistema Tietê, a conseqüência desses empreendimentos é a perda da diversidade e a redução da riqueza nos reservatórios.

A fragmentação do rio Tietê impediu a migração de determina-das espécies, como o pintado (Pseudoplatystoma corruscans), o pacu (Piaractus mesopotamicus), o dourado (Salminus maxillosus) e a taba-rana (Salminus hilarii), entre outras. Estas espécies não conseguem subir o rio e migrar para as áreas de reprodução. Com isso, a abundância

de muitas espécies foi reduzida, tornando-as espécies raras. A Figura 20

mostra o resultado da fragmentação de rios sobre Salminus hilarii (tabarana) espécie migradora que prefere ambientes lóticos, tendo suas populações reduzidas a poucos locais, principalmente nos tributários. Em contrapartida Astyanax altiparanae (tambiú), apesar de ser uma espécie amplamente distribuída, permaneceu abundante nos ambientes fragmentados, por ser uma espécie que prefere ambientes lênticos. A

Tabela 9 mostra as espécies de peixes mais vulneráveis à fragmentação

do rio Tietê e a outros impactos.

Tabela 9. Espécies de peixes mais vulneráveis aos represamentos e a outros tipos de impactos no Alto rio Paraná.

Espécie Nome vulgar

Myleus tiete Pacu-prata

Brycon orbignyanus Piracanjuba

Salminus hilarii Tabarana

Salminus maxillosus Dourado

Piaractus mesopotamicus Pacu

Prochilodus lineatus Curimbatá

Paulicea luetkeni Jaú

Pseudoplatystoma corruscans Pintado

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Organismos aquáticos

A Figura 21 mostra claramente a redução da captura de espécies

migradoras pela pesca profissional na área onde está situado o reser-vatório de Barra Bonita. Em 1951, antes dos represamentos, pescava-se grande quantidade de curimbatás, dourados, jaús e pintados. Em 1989, após a construção, as espécies praticamente desapareceram, restrin-gindo-se a alguns tributários.

As espécies que tiveram maior redução em suas populações foram

Brycon orbignyanus (piracanjuba), Pseudoplatystoma corruscans

(pin-tado) e Salminus maxillosus (dourado). Estas espécies são migradoras e não realizam a migração pela existência do barramento do rio, o que aumenta ainda mais o impacto do represamento em série (cascata). Mui-tas espécies migradoras tiveram suas populações reduzidas e são raras no trecho Médio e Baixo do rio Tietê.

Fig.20 Distribuição espacial de Salminus hilarii (Tabarana) e Astyanax altiparanae (Tambiú) no trecho médio e baixo do rio Tietê (Fonte: Smith, em preparação).

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Fig.21 Comparação da frequência absoluta das espécies de peixes capturadas em relação ao peso total em 1951 antes do represamento e em 1989 depois do represamento de Barra Bonita, segundo Monteiro (1953)31 e Torloni et al. (1993)32.

Além dos represamentos, outros impactos contribuem para reduzir a riqueza e diversidade de peixes como a perda da vegetação ripária, despejo de esgotos doméstico e industrial, aterramentos de lagoas marginais, entre outros. Estes impactos alteram os ambientes naturais ocasionando a redução da abundância de determinadas espécies.

Por outro lado, a matriz de entorno dos reservatórios é composta basicamente por cana-de-açúcar nos reservatórios de Barra Bonita, Bariri e Ibitinga, e por pastagem nos reservatórios de Promissão, Nova Avanhandava e Três Irmãos. Esta caracterização mostra claramente a redução da mata ciliar, que foi substituída pela vegetação citada acima e por outras atividades, em função da falta de planejamento do uso e ocupação do solo na bacia hidrográfica. Para a ictiofauna isto acarretou profundas modificações na composição das espécies, fazendo com que muitas espécies que dependem da mata ciliar para alimentação, tives-sem a abundância reduzida e, até mesmo, pudestives-sem ser consideradas extintas em alguns trechos. Além da espécie Brycon orbygnianus, as espécies Piaractus mesopotamicus (pacu) e Myleus tiete (pacuzinho) são espécies que praticamente já desapareceram de alguns tributários e tre-chos do rio Tietê, o que representa não somente alterações ambientais, mas mudanças significativas nas atividades econômicas de pescadores da região, tornando-se, portanto, um problema social.

A fragmentação de rios, no entanto, não traz prejuízos para todas as espécies. Algumas espécies são beneficiadas com o represamento, a maior parte delas são de pequeno porte, adaptadas aos ambientes lênticos, pois apresentam desova parcelada, não são migradoras e estão adaptadas a utilizar os recursos mais abundantes nos reservatórios, incluindo detritos, vegetais superiores, algas e peixes. No Alto Paraná podem ser citados os sagüirus (Cyphocharax modestus e Steindachnerina insculpta), lambaris (Astyanax altiparanae e Astyanax fasciatus) e Moenkhausia intermedia

(Tabela 10). Para estas espécies ocorreu o efeito inverso, com aumento na

abundância devido à transformação do ambiente lótico em lêntico, com condições mais favoráveis. No entanto, muitas das espécies não são comercializadas pelas populações riberinhas, o que demonstra, ainda, a

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Organismos aquáticos

falta de um incentivo à utilização e valoração do pescado atual. Algumas

destas espécies são mostradas na Figura 22.

Tabela 10. Alto rio Paraná.

Espécie Nome vulgar Origem

Cyphocharax modestus Sagüiru Nativa

Steindachnerina insculpta Sagüiru Nativa

Astyanax altiparanae Tambiú Nativa

Astyanax fasciatus Lambari Nativa

Moenkhausia intermedia Lambari-corinthiano Nativa

Cichla sp Tucunaré Amazônica

Plagioscion squamosissimus Corvina Amazônica

Geophagus brasiliensis Cará Nativa

Hoplias malabaricus Traíra Nativa

Tilapia rendalli Tilápia Africana

Serrassalmus spilopleura Pirambeba Nativa

Satanoperca jurupari Cará Amazônica

Iheringichthys labrosus Mandi-beiçudo Nativa

Acestrorhynchus lacustris Cadela Nativa

* Informações baseadas em Castro & Arcifa (1987)33, S. Santos & Formagio (2000)34, Smith & Petrere Jr. (2000)35 e Smith (2002)36. 7.5. Aves aquáticas

Welber Senteio Smith

Espécies de peixes nativas do Médio e Baixo rio Tietê (SP)

Fig.22

A América do Sul é o continente onde se registra o maior número de espécies de aves, com cerca de 3.200 espécies. No Brasil, 1.677 espécies já foram registradas, representando 54% da riqueza do continente

sul-ameri-cano e 17% do total mundial37. Destas, aproximadamente 120 espécies

possuem hábitos aquáticos, vivendo às margens de corpos de água de tamanhos variados, utilizando os recursos de formas diversas e também interagindo e contribuindo para o metabolismo dos ecossistemas.

Nas represas do Médio e Baixo Tietê foram visualizadas 35 espécies,

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